30.6.05
Emídio Guerreiro (RPS)
Nada escrevi sobre Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves, Eugénio de Andrade e, há mais algum tempo, Jorge Perestrelo na hora das suas mortes. Em todos os casos pela mesma razão: se sobre qualquer um deles escrevesse ainda em vida, seria, seguramente, crítico. Sobre Eugénio cheguei, por acaso, a escrever aqui, algumas semanas antes da sua morte.
A honestidade impede-me, nestes casos, de escrever coisas que não sinto. O respeito pela memória dos mortos e pela dor dos próximos impede-me de falar de assuntos que, naquele momento, não fazem sentido.
O caso de Emídio Guerreiro é diferente. Não que seja para mim uma especial referência, mas tratava-se de um homem sério, com uma vida repleta de episódios fascinantes, e que sempre mereceu a minha admiração.
Vi-o e falei com ele pela última vez em Março de 2002, num jantar da campanha de Ferro Rodrigues para as Legislativas, em Braga. Era impressionante a lucidez daquele homem de 102 anos. Só isso - idade e lucidez - bastava para uma pessoa o admirar. Ninguém aparenta 102 anos. Se o visse na rua e não o conhecesse diria tratar-se de um homem de 80.
Observei-o durante o jantar - comeu, bebeu, riu e conversou como qualquer outro dos presentes. Ouviu aqueles discursos... Bem mais velhos e corroídos mostravam-se o então líder do PS, Ferro, e António José Seguro.
Sempre me fascinou em Emídio Guerreiro o facto de ter lutado de livre vontade nas trincheiras da Guerra Civil de Espanha, ainda que no pior dos lados dessa guerra sem lado certo. Sabia da sua passagem pela Resistência Francesa, durante a Segunda Guerra, esse confronto com lado certo e lado errado.
Sabia, também, da sua amizade por Humberto Delgado. Guerreiro era amigo do seu amigo. Foi dos poucos amigos e correligionários de Delgado que não abandonou o General, depois deste cumprir o seu papel de idiota útil e começar a dar sinais de desiquilíbrio psíquico. Aconselhou-o até ao último momento a não se deslocar a Badajoz, naquele mês de Fevereiro de 1965. Louco, Delgado não quis saber.
Emídio Guerreiro ajudou a fundar e liderou o PPD, depois PSD. Alguma esquerda encaixou mal. A esquerda que propalava que de meio do PS para lá era tudo fascista. Não era. E foi Emídio Guerreiro que rompeu com Vasco Gonçalves. Li hoje no JN que chegou a dizer, nesse tempo escaldante, que, se fosse necessário, o PSD armaria 50 mil homens. Ele adorava trincheiras.
Aliás, vale a pena ler o JN de hoje por várias histórias que lá se contam.
Conhecia umas, outras não, como aquela do comunicado que, no início dos anos 30, Guerreiro escreveu, exortando o povo do Porto a receber o presidente Carmona "com merda às mãos cheias". Foi preso por isso.
No plano ideológico, não me sinto propriamente identificado com Emídio Guerreiro, mas identifico-me com o seu amor pela liberdade. E admiro a sua coragem física e política, a sua honestidade. É, aliás, foi um homem sério.
Como costuma dizer um amigo meu: é um tipo decente e não há muitos.
A honestidade impede-me, nestes casos, de escrever coisas que não sinto. O respeito pela memória dos mortos e pela dor dos próximos impede-me de falar de assuntos que, naquele momento, não fazem sentido.
O caso de Emídio Guerreiro é diferente. Não que seja para mim uma especial referência, mas tratava-se de um homem sério, com uma vida repleta de episódios fascinantes, e que sempre mereceu a minha admiração.
Vi-o e falei com ele pela última vez em Março de 2002, num jantar da campanha de Ferro Rodrigues para as Legislativas, em Braga. Era impressionante a lucidez daquele homem de 102 anos. Só isso - idade e lucidez - bastava para uma pessoa o admirar. Ninguém aparenta 102 anos. Se o visse na rua e não o conhecesse diria tratar-se de um homem de 80.
Observei-o durante o jantar - comeu, bebeu, riu e conversou como qualquer outro dos presentes. Ouviu aqueles discursos... Bem mais velhos e corroídos mostravam-se o então líder do PS, Ferro, e António José Seguro.
Sempre me fascinou em Emídio Guerreiro o facto de ter lutado de livre vontade nas trincheiras da Guerra Civil de Espanha, ainda que no pior dos lados dessa guerra sem lado certo. Sabia da sua passagem pela Resistência Francesa, durante a Segunda Guerra, esse confronto com lado certo e lado errado.
Sabia, também, da sua amizade por Humberto Delgado. Guerreiro era amigo do seu amigo. Foi dos poucos amigos e correligionários de Delgado que não abandonou o General, depois deste cumprir o seu papel de idiota útil e começar a dar sinais de desiquilíbrio psíquico. Aconselhou-o até ao último momento a não se deslocar a Badajoz, naquele mês de Fevereiro de 1965. Louco, Delgado não quis saber.
Emídio Guerreiro ajudou a fundar e liderou o PPD, depois PSD. Alguma esquerda encaixou mal. A esquerda que propalava que de meio do PS para lá era tudo fascista. Não era. E foi Emídio Guerreiro que rompeu com Vasco Gonçalves. Li hoje no JN que chegou a dizer, nesse tempo escaldante, que, se fosse necessário, o PSD armaria 50 mil homens. Ele adorava trincheiras.
Aliás, vale a pena ler o JN de hoje por várias histórias que lá se contam.
Conhecia umas, outras não, como aquela do comunicado que, no início dos anos 30, Guerreiro escreveu, exortando o povo do Porto a receber o presidente Carmona "com merda às mãos cheias". Foi preso por isso.
No plano ideológico, não me sinto propriamente identificado com Emídio Guerreiro, mas identifico-me com o seu amor pela liberdade. E admiro a sua coragem física e política, a sua honestidade. É, aliás, foi um homem sério.
Como costuma dizer um amigo meu: é um tipo decente e não há muitos.
29.6.05
A. da Silva O. (RPS)
Dobro a esquina de Júlio Dinis para a Rotunda e deparo com o Oliveira! O A.
da Siva O.!
Ao longo de anos, encontrei-o com frequência. Muito pela baixa, também pela Boavista, em cafés... Por aí, por vários cantos da mais linda cidade do mundo. Mas já não o encontrava há muito tempo: 5-6 anos, talvez até mais...
A conversa foi rápida, mas fiquei a saber algumas coisas e uma novidade: que A. da Silva O. continua a escrever e a publicar, que as Edições Mortas continuam vivas e que - a grande novidade para mim - o A. da Silva O. tem uma livraria. Chama-se Pulga. Fica ali mesmo no primeiro piso do Parque Itália, ao lado do Swing, em frente à Petúlia.
Senti uma enorme saudade dos meus "early twenties" e, ao mesmo tempo, ficou a sensação de que tinha estado com ele há meia dúzia de dias. "Aparece", disse ele... "mas aparece mesmo"...
E apareci, dois dias depois, a meio da tarde de uma sexta-feira de temperaturas elevadas, inicialmente destinada ao sono até ao cair da noite.
Foi bom rever o A. da Silva O. que conheci nos idos de 85 ou 86 na Rádio Caos. Na magnífica Caos, a melhor rádio do espectro, no saudoso tempo das piratas ou rádios-livres. Só não digo que é a melhor rádio da História por dever de ofício, mas, vá lá: a segunda melhor rádio da História.
Verifiquei, para minha alegria, que o A. da Silva O. continua igual. Com a mesma saudável loucura. Saudável e enorme, do mesmo tamanho do seu coração.
Folheei livros: os dele - dos quais recordava alguns - e os de outros, editados pelas Edições Mortas e vendidos na Pulga. Li textos, falamos da Caos, da vida... Comprei "Punhetas de Wagner", a mais recente edição assinada por A. da Silva O., lançada - soube então - por alturas e a propósito do Euro-2004. Deixo-vos um excerto das Punhetas de Wagner e uma
sugestão/conselho: visitem a Pulga. De segunda a sábado, entre as 15 e as 20, é garantido que o próprio A. da Silva O. vos recebe.
(...)
Camões leva a moeda ao ar
E escolhe a bola, engolindo a moeda. Chuta a bola Que Fernando Pessoa agarra com grande frescura e leitura de jogo Fodendo a cabeça a Fernando Assis Pacheco que se vê obrigado a rasteirá-lo e numa desenfreada corrida contra o tempo Coloca a bola na terra de ninguém onde Florbela Espanca se masturba.
(...)
Cerca-se as quatro linhas
Com arame farpado: ide ó bestas misericordiosas Comei a relva A concentração é tudo Estamos todos fartos de vitórias morais Que corra a cerveja Por essas gargantas sedentas E que o circo arda
(...)
Vejam mais aqui
da Siva O.!
Ao longo de anos, encontrei-o com frequência. Muito pela baixa, também pela Boavista, em cafés... Por aí, por vários cantos da mais linda cidade do mundo. Mas já não o encontrava há muito tempo: 5-6 anos, talvez até mais...
A conversa foi rápida, mas fiquei a saber algumas coisas e uma novidade: que A. da Silva O. continua a escrever e a publicar, que as Edições Mortas continuam vivas e que - a grande novidade para mim - o A. da Silva O. tem uma livraria. Chama-se Pulga. Fica ali mesmo no primeiro piso do Parque Itália, ao lado do Swing, em frente à Petúlia.
Senti uma enorme saudade dos meus "early twenties" e, ao mesmo tempo, ficou a sensação de que tinha estado com ele há meia dúzia de dias. "Aparece", disse ele... "mas aparece mesmo"...
E apareci, dois dias depois, a meio da tarde de uma sexta-feira de temperaturas elevadas, inicialmente destinada ao sono até ao cair da noite.
Foi bom rever o A. da Silva O. que conheci nos idos de 85 ou 86 na Rádio Caos. Na magnífica Caos, a melhor rádio do espectro, no saudoso tempo das piratas ou rádios-livres. Só não digo que é a melhor rádio da História por dever de ofício, mas, vá lá: a segunda melhor rádio da História.
Verifiquei, para minha alegria, que o A. da Silva O. continua igual. Com a mesma saudável loucura. Saudável e enorme, do mesmo tamanho do seu coração.
Folheei livros: os dele - dos quais recordava alguns - e os de outros, editados pelas Edições Mortas e vendidos na Pulga. Li textos, falamos da Caos, da vida... Comprei "Punhetas de Wagner", a mais recente edição assinada por A. da Silva O., lançada - soube então - por alturas e a propósito do Euro-2004. Deixo-vos um excerto das Punhetas de Wagner e uma
sugestão/conselho: visitem a Pulga. De segunda a sábado, entre as 15 e as 20, é garantido que o próprio A. da Silva O. vos recebe.
(...)
Camões leva a moeda ao ar
E escolhe a bola, engolindo a moeda. Chuta a bola Que Fernando Pessoa agarra com grande frescura e leitura de jogo Fodendo a cabeça a Fernando Assis Pacheco que se vê obrigado a rasteirá-lo e numa desenfreada corrida contra o tempo Coloca a bola na terra de ninguém onde Florbela Espanca se masturba.
(...)
Cerca-se as quatro linhas
Com arame farpado: ide ó bestas misericordiosas Comei a relva A concentração é tudo Estamos todos fartos de vitórias morais Que corra a cerveja Por essas gargantas sedentas E que o circo arda
(...)
Vejam mais aqui
28.6.05
Vasco - mais uma lança nossa na Russia
Португальский партнер Ракурса в лице Vasco Palmeirim, менеджера фирмы Geobit (г.Амадора) подробно остановился на вопросах, каким образом используется ЦФС PHOTOMOD в составлении карт. Описав полный технологический цикл от первичных коррекций до передачи данных и ведения проекта в фалах покрытий ArcInfo, он высоко оценил возможности версии 3.0, выделив наличие многочисленных новых опций в модуле DTM и появление новых модулей: Менеджер проектов, Монтажный стол и Мозаика.
P.S. Ainda bem que gostas de JellyJah...
P.S. Ainda bem que gostas de JellyJah...
Pedimos desculpa por esta explosão...
Regressamos dentro de momentos para a constituição de um grupo de trabalho para estudar o que ainda não sabemos estar na base do que não conseguimos estudar a tempo de evitar.
Esses olhos que me fazem sorrir (JCS)
Há uma coisa em comum nos olhos dos mais velhos e no das crianças: O indecifrável.
Sem olhar a mais; sem olhar para a boca, rugas, expressões; os olhos são puros de tudo e de nada.
São o espelho da alma, alguém escreveu, e nas crianças de mais tenra idade a verdade não podia ser maior.
É essa pureza que eu não me canso de ver todos os dias. Buscam tudo, e não procuram nem o mais bonito nem o mais feio, nem o mais barato nem o mais caro, apenas procuram saber “o quê”.
São esses olhos que faz agora um ano, me fizeram renascer para este velho mundo. São a recompensa pelos dias mais tristes, ou a cereja em cima do bolo nos momentos mais felizes. São estes olhos que me fazem agradecer. Obrigado L. por tudo o que me deste ao longo dos últimos 365 dias.
P.S: a lamechice também faz este escriba.
Sem olhar a mais; sem olhar para a boca, rugas, expressões; os olhos são puros de tudo e de nada.
São o espelho da alma, alguém escreveu, e nas crianças de mais tenra idade a verdade não podia ser maior.
É essa pureza que eu não me canso de ver todos os dias. Buscam tudo, e não procuram nem o mais bonito nem o mais feio, nem o mais barato nem o mais caro, apenas procuram saber “o quê”.
São esses olhos que faz agora um ano, me fizeram renascer para este velho mundo. São a recompensa pelos dias mais tristes, ou a cereja em cima do bolo nos momentos mais felizes. São estes olhos que me fazem agradecer. Obrigado L. por tudo o que me deste ao longo dos últimos 365 dias.
P.S: a lamechice também faz este escriba.
26.6.05
Secas II-A (RPS)
Uma das maiores secas com que podemos levar nesta vida é termos que ver o video do casamento de um "amigo". Amigo entre aspas, ou seja, de alguém a cujo casamento não nos apetecia nada ir, mas fomos porque sim, porque fomos convidados e pronto.
Amigo é, claro, diferente de "amigo". As aspas fazem a diferença. Com aspas pode ser, por exemplo, alguém que mal conhecemos, mas que é colega de trabalho do nosso conjuge - ou andaram no liceu juntos(as) - e temos que ir. Ou o(a) filho(a) chato de um casal amigo dos nossos pais que nada tem em comum connosco. Ou, então, alguém de quem estamos afastados há anos, mas que, em nome do passado, nos convida para o casamento. Para a seca do casamento, porque seca é também a maioria dos casamentos a que vamos.
Nestes casos e similares, os videos de casamento nunca têm menos de duas horas e meia. Começam, manhã cedo, em casa da noiva e, em muitos casos, terminam com a lua-de-mel (expressão horrível).
E à video-seca segue-se, claro, a foto-seca: centenas de fotos de gente que não conhecemos de lado nenhum. No caso de casamentos de verdadeiros amigos, onde fomos com gosto e ao lado de muita gente conhecida, já as fotos despertam evidente interesse.
Com as fotos do casamento, levamos também com o capítulo da viagem de núpcias. Há uns anos, um colega da minha empresa (de outro sector) andava a exibir as fotos da viagem de núpcias, realizada numa qualquer ilha tropical main-stream. O portfólio incluía fotos da mulher sentada na cama, de vestes reduzidas, com o tabuleiro do pequeno almoço no colo. Talvez por temer a cobiça alheia (que não se justificava de todo...) ele chamava muito a atenção para o belo aspecto do tabuleiro, das quantidades e da variedade de fruta tropical que o hotel disponibilizava.
Outro tipo de foto-seca é típica das mães. As mães obrigam-nos a ver as fotos dos filhos. Que são, claro, os mais lindos e inteligentes do mundo. Alguns pais - homens - têm a mesma mania. Um dia entrei na sede da minha empresa e um colega - que eu conhecia mal, de quem não sabia o nome da mulher e de quem não sabia ao certo se era pai de uma ou duas crianças - espetou-me um maço de fotos à frente dos olhos e exclamou, feliz: queres ver as fotos do Ludgero??? (o nome é fictício). Vi, seguramente, mais de cinquenta fotos, mas não desejei mal à criança.
Mas também os verdadeiros amigos nos dão foto-secas. Fica para um dia destes, para o Secas II-B.
Amigo é, claro, diferente de "amigo". As aspas fazem a diferença. Com aspas pode ser, por exemplo, alguém que mal conhecemos, mas que é colega de trabalho do nosso conjuge - ou andaram no liceu juntos(as) - e temos que ir. Ou o(a) filho(a) chato de um casal amigo dos nossos pais que nada tem em comum connosco. Ou, então, alguém de quem estamos afastados há anos, mas que, em nome do passado, nos convida para o casamento. Para a seca do casamento, porque seca é também a maioria dos casamentos a que vamos.
Nestes casos e similares, os videos de casamento nunca têm menos de duas horas e meia. Começam, manhã cedo, em casa da noiva e, em muitos casos, terminam com a lua-de-mel (expressão horrível).
E à video-seca segue-se, claro, a foto-seca: centenas de fotos de gente que não conhecemos de lado nenhum. No caso de casamentos de verdadeiros amigos, onde fomos com gosto e ao lado de muita gente conhecida, já as fotos despertam evidente interesse.
Com as fotos do casamento, levamos também com o capítulo da viagem de núpcias. Há uns anos, um colega da minha empresa (de outro sector) andava a exibir as fotos da viagem de núpcias, realizada numa qualquer ilha tropical main-stream. O portfólio incluía fotos da mulher sentada na cama, de vestes reduzidas, com o tabuleiro do pequeno almoço no colo. Talvez por temer a cobiça alheia (que não se justificava de todo...) ele chamava muito a atenção para o belo aspecto do tabuleiro, das quantidades e da variedade de fruta tropical que o hotel disponibilizava.
Outro tipo de foto-seca é típica das mães. As mães obrigam-nos a ver as fotos dos filhos. Que são, claro, os mais lindos e inteligentes do mundo. Alguns pais - homens - têm a mesma mania. Um dia entrei na sede da minha empresa e um colega - que eu conhecia mal, de quem não sabia o nome da mulher e de quem não sabia ao certo se era pai de uma ou duas crianças - espetou-me um maço de fotos à frente dos olhos e exclamou, feliz: queres ver as fotos do Ludgero??? (o nome é fictício). Vi, seguramente, mais de cinquenta fotos, mas não desejei mal à criança.
Mas também os verdadeiros amigos nos dão foto-secas. Fica para um dia destes, para o Secas II-B.
Volta tudo ao normal...
Devido a uma semana muito trabalhosa, a escrita esteve um pouco mais perra aqui no FF. As nossas desculpas... Retomamos aqui uma certa normalidade...
23.6.05
Outro talhante
Este por interesse nacional. E sempre é mais fino.
A Agência Europeia de Segurança Alimentar foi para Parma, aparentemente com o empenhamento pessoalíssimo de Berlusconi, junto da Presidente finlandesa.
Para citações:
"When you seek a result, it’s necessary to use all available weapons and therefore I brushed up all my playboy skills, now from the distant past, and I used a series of tender pleas to the president"
"I've been to Finland and I had to endure the Finnish diet so I am in a position to make a comparison, Barroso today will be able to taste our 'culatello' as opposed to smoked herrings from Finland."
Pormenor importante:
O Barroso foi apanhado no meio,ehehehe...
Para distender (RPS)
Para o caso do meu último post suscistar estados de espírito tétricos (embora não tenha sido essa a intenção) deixo aqui um diálogo, roubado a Funes, el memorioso:
- Nome?
- António Nobre.
- Só?
- Não, esse era o irmão da minha bisavó.
- Nome?
- António Nobre.
- Só?
- Não, esse era o irmão da minha bisavó.
Palmas nos enterros (RPS)
A série recente de mortes de figuras públicas mostrou definitivamente, se necessário ainda fosse, que a moda dos aplausos nos enterros pegou de vez.
Não é necessário recuar trinta anos. Basta dez, doze, não mais de quinze
anos: os apalusos nos cemitérios ouviam-se nos funerais dos actores e actrizes de teatro. Tratava-se de um tradição exclusiva do mundo do Teatro, um mundo repleto de rituais próprios, exclusivos.
Conheço mal, não me fascina esse mundo, nem sequer sou muito de estar numa plateia, frente ao palco... Mas sei, por exemplo, que no Teatro não se deseja "boa sorte". Numa ocasional visita aos bastidores de uma peça, soube que os actores e outros envolvidos dizem uns aos outros "muita merda".
Presumo que os ingleses dizem "break a leg". Lá como cá, por superstição.
Houve palmas no funeral de Laura Alves, mas não houve no de Sá Carneiro.
Houve palmas no funeral de Ivone Silva, mas não houve no de Pedro Homem de Melo. Estou certo de que houve palmas nos funerais de Vasco Santana, António Silva ou Maria Matos, mas estou certo de que não houve nos do Comandante Gago Coutinho, no de Oliveira Salazar ou no de Calouste Gulbenkian.
Agora não é assim. Há palmas para todo o morto que, em vida, tenha alcançado o estatuto de "figura pública".
É uma moda de terrível mau gosto. Já ouvi ou li que é assim porque hoje o maior espectáculo do mundo já não é o circo, mas a morte. Faz algum sentido, mas a explicação parece-me "curta".
Na morte, a Igreja Católica propõe aos que ficam a esperança na Ressureição.
É, aliás, uma mensagem central da Fé dos católicos, por isso sempre repetida. A par de outra: mais do que chorar a morte, "dêmos Graças ao Senhor pela vida que este irmão teve e partilhou connosco".
Porque a influência do catolicismo na nossa sociedade atinge todos - crentes, não crentes, bons e maus praticantes, ateus, agnósticos, beatos e mata-frades - podem as palmas nos enterros ser explicadas por esta ideia-força de celebrar a vida em alternativa a chorar a morte. É uma proposta que, independente do sentido mais profundo que possa ter à luz da Fé católica, vem ao encontro das necessidades de uma sociedade - e de um tempo - que lida mal com a morte. Muito mal, cada vez pior.
Num tempo de apelo constante e permanente ao sucesso e ao êxito, a morte é a prova inexorável do falhanço, do insucesso a que estamos todos condenados.
Bater palmas, no enterro, à figura pública é uma forma das pessoas fingirem que não está ali um morto, mas um vencedor. É uma estratégia para o homem de hoje, que não quer aceitar a inevitabilidade do seu próprio falhanço, se convencer de que não há derrota.
Não é necessário recuar trinta anos. Basta dez, doze, não mais de quinze
anos: os apalusos nos cemitérios ouviam-se nos funerais dos actores e actrizes de teatro. Tratava-se de um tradição exclusiva do mundo do Teatro, um mundo repleto de rituais próprios, exclusivos.
Conheço mal, não me fascina esse mundo, nem sequer sou muito de estar numa plateia, frente ao palco... Mas sei, por exemplo, que no Teatro não se deseja "boa sorte". Numa ocasional visita aos bastidores de uma peça, soube que os actores e outros envolvidos dizem uns aos outros "muita merda".
Presumo que os ingleses dizem "break a leg". Lá como cá, por superstição.
Houve palmas no funeral de Laura Alves, mas não houve no de Sá Carneiro.
Houve palmas no funeral de Ivone Silva, mas não houve no de Pedro Homem de Melo. Estou certo de que houve palmas nos funerais de Vasco Santana, António Silva ou Maria Matos, mas estou certo de que não houve nos do Comandante Gago Coutinho, no de Oliveira Salazar ou no de Calouste Gulbenkian.
Agora não é assim. Há palmas para todo o morto que, em vida, tenha alcançado o estatuto de "figura pública".
É uma moda de terrível mau gosto. Já ouvi ou li que é assim porque hoje o maior espectáculo do mundo já não é o circo, mas a morte. Faz algum sentido, mas a explicação parece-me "curta".
Na morte, a Igreja Católica propõe aos que ficam a esperança na Ressureição.
É, aliás, uma mensagem central da Fé dos católicos, por isso sempre repetida. A par de outra: mais do que chorar a morte, "dêmos Graças ao Senhor pela vida que este irmão teve e partilhou connosco".
Porque a influência do catolicismo na nossa sociedade atinge todos - crentes, não crentes, bons e maus praticantes, ateus, agnósticos, beatos e mata-frades - podem as palmas nos enterros ser explicadas por esta ideia-força de celebrar a vida em alternativa a chorar a morte. É uma proposta que, independente do sentido mais profundo que possa ter à luz da Fé católica, vem ao encontro das necessidades de uma sociedade - e de um tempo - que lida mal com a morte. Muito mal, cada vez pior.
Num tempo de apelo constante e permanente ao sucesso e ao êxito, a morte é a prova inexorável do falhanço, do insucesso a que estamos todos condenados.
Bater palmas, no enterro, à figura pública é uma forma das pessoas fingirem que não está ali um morto, mas um vencedor. É uma estratégia para o homem de hoje, que não quer aceitar a inevitabilidade do seu próprio falhanço, se convencer de que não há derrota.
38 760 ideias sobre carácter
Assoberbado é uma palavra soberba ? Não sei, mas é assim que ando, de trabalho.
Está por isso atrasada uma palavra - ainda que repetindo um destaque a figura não mereça - ao talhante Carrilho. A última entrevista ao Expresso vai morder-lhe as sondagens. Óptimo. É o que merece um homem que tem 38 mil 760 ideias de "carácter".
Está por isso atrasada uma palavra - ainda que repetindo um destaque a figura não mereça - ao talhante Carrilho. A última entrevista ao Expresso vai morder-lhe as sondagens. Óptimo. É o que merece um homem que tem 38 mil 760 ideias de "carácter".
20.6.05
Soluções
As meninas do Festival da Canção eram:
- Manuela Moura Guedes - esta percebia-se bem....
- Maria José Azevedo - que hoje se apresentou como candidata PS a Valongo.
- Maria Elisa - de facto irreconhecível na foto. Ainda estará em Londres ?
- Manuela Moura Guedes - esta percebia-se bem....
- Maria José Azevedo - que hoje se apresentou como candidata PS a Valongo.
- Maria Elisa - de facto irreconhecível na foto. Ainda estará em Londres ?
Generosidade (RPS)
NOTA PRÉVIA: este post é sobre a condição humana, não sobre futebol.
As minhas primeiras memórias do José Torres são simpáticas: já veterano, jogava na equipa maravilha que, então, José Maria Pedroto construiu em Setúbal, a partir do lastro deixado por Fernando Vaz.
Ainda me lembro: na baliza Vaz (ou Joaquim Torres). Conceição (mais tarde, Rebelo) Carlos Cardoso, José Mendes e Carriço (mais tarde, João Cardoso). Octávio, José Maria e Matine... Duda, José Torres e Jacinto João. Jogavam, ainda, um Arcanjo e um Câmpora.
A memória seguinte já é antipática. É a dele ser, aos 40 anos, jogador-treinador do detestável Estoril-Praia, na primeira divisão. E de ser incensado por A Bola: era o Bom Gigante para lá, o Bom Gigante para cá, o passado glorioso no Benfica, enfim, tudo aquilo quanto a Redacção mais estrábica do país gostava e gosta ainda de enaltecer.
Acresce outro dado: a cada referência era exaltada a paixão do Bom Gigante pela columbofilia. Nada mais me afastará de um semelhante que a paixão por pombos ou rolas ou qualquer espécie de animais com penas e que passam o tempo – vou usar o termo – a cagar e a fazer esterco.
Uma terceira memória é a de uma reportagem da RTP, em Saltillo, no México, em vésperas do início do Mundial de 86. De tronco nu, papo para o ar, junto a uma piscina, o seleccionador José Torres, rodeado de vários jogadores nos mesmos propósitos, contava histórias e anedotas sobre Eusébio, ridicularizando uma pessoa de quem dizia ser amigo. Os jogadores riam, alarves. Sabemos o que se passou a seguir.
Há uns meses soube pelo Ribeiro Cristóvão que o José Torres estava gravemente doente. Padecia de Alzheimer ou de outro qualquer tipo de doença degenerativa.
De que valem, para que interessam as nossas antipatias numa hora destas?... Pobre Zé Torres.
Pobre mesmo. Li, em A Bola de 10 de Junho passado, que, durante um jantar-convívio no Algarve, promovido pela Casa do Benfica em Albufeira, foi lançado um peditório para recolher fundos de ajuda a José Torres. Custa entender como é que uma estrela da selecção nacional, um ídolo de multidões, um atleta de primeira linha que, dentro dos valores da época, auferiu salários elevados chega a este ponto de necessidade. Mas não é o primeiro nem será o último.
O momento era propício, emocionalmente favorável, para o lançamento de uma recolha generosa de fundos: estavam 650 benfiquistas reunidos à mesa, em tempo de euforia pela conquista do título, com a presença do seu presidente, Vieira. Pois recolheu-se o dinheiro e fez-se as contas. 630 euros. Sim: 630 euros, 126 contos na moeda antiga. Em média, cada benfiquista presente contribuiu com mais de 90 cêntimos!!! Lê-se em A Bola que se tratou de “uma iniciativa que comoveu muita gente”.
As lágrimas não eram, com toda a certeza, de comoção, mas de riso. Espero que a família do José Torres tenha, neste momento difícil, a lucidez suficiente para devolver o dinheiro àqueles que quiseram gozar com ele.
As minhas primeiras memórias do José Torres são simpáticas: já veterano, jogava na equipa maravilha que, então, José Maria Pedroto construiu em Setúbal, a partir do lastro deixado por Fernando Vaz.
Ainda me lembro: na baliza Vaz (ou Joaquim Torres). Conceição (mais tarde, Rebelo) Carlos Cardoso, José Mendes e Carriço (mais tarde, João Cardoso). Octávio, José Maria e Matine... Duda, José Torres e Jacinto João. Jogavam, ainda, um Arcanjo e um Câmpora.
A memória seguinte já é antipática. É a dele ser, aos 40 anos, jogador-treinador do detestável Estoril-Praia, na primeira divisão. E de ser incensado por A Bola: era o Bom Gigante para lá, o Bom Gigante para cá, o passado glorioso no Benfica, enfim, tudo aquilo quanto a Redacção mais estrábica do país gostava e gosta ainda de enaltecer.
Acresce outro dado: a cada referência era exaltada a paixão do Bom Gigante pela columbofilia. Nada mais me afastará de um semelhante que a paixão por pombos ou rolas ou qualquer espécie de animais com penas e que passam o tempo – vou usar o termo – a cagar e a fazer esterco.
Uma terceira memória é a de uma reportagem da RTP, em Saltillo, no México, em vésperas do início do Mundial de 86. De tronco nu, papo para o ar, junto a uma piscina, o seleccionador José Torres, rodeado de vários jogadores nos mesmos propósitos, contava histórias e anedotas sobre Eusébio, ridicularizando uma pessoa de quem dizia ser amigo. Os jogadores riam, alarves. Sabemos o que se passou a seguir.
Há uns meses soube pelo Ribeiro Cristóvão que o José Torres estava gravemente doente. Padecia de Alzheimer ou de outro qualquer tipo de doença degenerativa.
De que valem, para que interessam as nossas antipatias numa hora destas?... Pobre Zé Torres.
Pobre mesmo. Li, em A Bola de 10 de Junho passado, que, durante um jantar-convívio no Algarve, promovido pela Casa do Benfica em Albufeira, foi lançado um peditório para recolher fundos de ajuda a José Torres. Custa entender como é que uma estrela da selecção nacional, um ídolo de multidões, um atleta de primeira linha que, dentro dos valores da época, auferiu salários elevados chega a este ponto de necessidade. Mas não é o primeiro nem será o último.
O momento era propício, emocionalmente favorável, para o lançamento de uma recolha generosa de fundos: estavam 650 benfiquistas reunidos à mesa, em tempo de euforia pela conquista do título, com a presença do seu presidente, Vieira. Pois recolheu-se o dinheiro e fez-se as contas. 630 euros. Sim: 630 euros, 126 contos na moeda antiga. Em média, cada benfiquista presente contribuiu com mais de 90 cêntimos!!! Lê-se em A Bola que se tratou de “uma iniciativa que comoveu muita gente”.
As lágrimas não eram, com toda a certeza, de comoção, mas de riso. Espero que a família do José Torres tenha, neste momento difícil, a lucidez suficiente para devolver o dinheiro àqueles que quiseram gozar com ele.
18.6.05
Obrigado
Dora Pê quer pausar depois da sua jornada árabe. Fico triste por não te ter por aqui. Fica o regsito de todos os teus textos nos nossos arquivos. Obrigado por estes meses que passaste aqui no bairro.
Para os leitores do Fado Falado, aqui fica o texto escrito pela Dora Pê no dia em que regressou a Portugal.
Para os leitores do Fado Falado, aqui fica o texto escrito pela Dora Pê no dia em que regressou a Portugal.
Passageira (dora pê)
Ir é o verbo perferido. O mundo, o melhor destino. Ignorância, a bagagem ideal. Do Iémen trouxe todas as dúvidas sobre o que achava que já sabia...e poucas certezas que já me faziam falta: de que ainda é grande, o mundo; e este é tão grande e denso que demorei uns dias a voltar. De que são perigosas as ideias feitas, têm como única vantagem desafiar-nos a desfazê-las. De que sair a sério do nosso quotidiano tem esse perigo fantástico de nunca voltarmos inteiros.
Ainda assim voltei hoje, longe de intacta mas à força de rotinas recuperadas, sobretudo de uma "overdose" de trabalho. Hoje deixei de ouvir a desgarrada de "muezin" a entrar-me pelos sonhos ao nascer do sol. Deixei de me espantar com a cor ostensiva da pele das mulheres. O colar de jasmin em botão está já seco atrás da porta, e o perfume já não enlouquece, é suavíssimo.
Liguei uma televisão. De repente parece inventada a ilha onde os portugueses estiveram há 500 anos..e em apenas 50 deixaram um enorme legado: Vacas de raça frízia e umas gentes que vivem nas grutas da montanha maior, de pele mais clara, cabelo mais liso e olhos claros, a quem chamam "portugalia"...que é meio laranja, meio portugês, em árabe. Falta-me a língua que me fez ricochete no cérebro, durante as primeiras semanas de aulas, e começou depois a fazer-me rir nos ensaios gerais que fazia nalgum dos dezassete "souks" de Saana velha...ou quando regateava o preço de uma viagem de taxi colectivo a exigir pagar mais do dobro do que me pediam por confundir "centenas" com "dezenas".
Sinto saudades, prova de que já parti. Gosto de acreditar que recomeço, a cada chegada. É altura de ir outra vez. Agora pregar noutra freguesia bloguista. A quem se sente aliviado, a minha compreensão, aos que nem terão essa hipótese porque cometem diariamente a proeza de me sobreviver, até amanhã.
Ainda assim voltei hoje, longe de intacta mas à força de rotinas recuperadas, sobretudo de uma "overdose" de trabalho. Hoje deixei de ouvir a desgarrada de "muezin" a entrar-me pelos sonhos ao nascer do sol. Deixei de me espantar com a cor ostensiva da pele das mulheres. O colar de jasmin em botão está já seco atrás da porta, e o perfume já não enlouquece, é suavíssimo.
Liguei uma televisão. De repente parece inventada a ilha onde os portugueses estiveram há 500 anos..e em apenas 50 deixaram um enorme legado: Vacas de raça frízia e umas gentes que vivem nas grutas da montanha maior, de pele mais clara, cabelo mais liso e olhos claros, a quem chamam "portugalia"...que é meio laranja, meio portugês, em árabe. Falta-me a língua que me fez ricochete no cérebro, durante as primeiras semanas de aulas, e começou depois a fazer-me rir nos ensaios gerais que fazia nalgum dos dezassete "souks" de Saana velha...ou quando regateava o preço de uma viagem de taxi colectivo a exigir pagar mais do dobro do que me pediam por confundir "centenas" com "dezenas".
Sinto saudades, prova de que já parti. Gosto de acreditar que recomeço, a cada chegada. É altura de ir outra vez. Agora pregar noutra freguesia bloguista. A quem se sente aliviado, a minha compreensão, aos que nem terão essa hipótese porque cometem diariamente a proeza de me sobreviver, até amanhã.
17.6.05
Quando não vale o esforço (RPS)
Um painel luminoso indicava aos passageiros do Concorde o momento em que o aparelho ultrapassava a velocidade do som.
Da primeira à penúltima viagem do "gigante dos ares" - da última, não ficou ninguém para contar - todos os passageiros, desiludidos, lamentavam que "vê-se no placard, mas, afinal, não se sente nada...".
Nada na construção do "gigante dos ares" deu mais trabalho, representou mais esforço, mais desgaste de massa cinzenta, mais custo em honorários pagos a altíssimos especialistas do que resolver esse "detalhe": fazer com que os passageiros fossem poupados ao incómodo de sentirem o impacto da ultrapassagem da barreira do som. Como vemos, não valeu o esforço.
Ocorre-me isto (que li algures, há algum tempo) a propósito do modo como certas mulheres lidam com as máquinas de lavar louça.
Como me fez notar um cunhado meu que é engenheiro, aquilo que mais trabalho deu a centenas ou milhares de engenheiros e outros especialistas, aquilo que mais dinheiro custou na concepção das máquinas de lavar louça foi conseguir que o aparelho limpasse os detritos de comida que forçosamente ficam agarrados à louça no final de um refeição.
Não se trata de triturar, por exemplo, ossos de frango ou carcaças semi-destruídas de leitão da Bairrada, mas de pequenos grãos de arroz, uma espinha de bacalhau, um montículo de puré, uma pevide de limão, restos de molhos e similares.
Pois o certo é que o Homem conseguiu mesmo que a máquina tivesse essa capacidade.
Pois diz-me a minha experiência que não valeu o esforço.
Diz-me a minha experiência que as mulheres não querem saber das reais potencialidades do aparelho, não valorizam esse prodígio da técnica. E no final da refeição, é vê-las a esfregar afanosamente a louça, como no tempo em que não havia máquinas.
E prato a prato, copo a copo, travessa a travessa, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, vão-se queixando da vida, do trabalho e dos homens que não fazem nada.
Da primeira à penúltima viagem do "gigante dos ares" - da última, não ficou ninguém para contar - todos os passageiros, desiludidos, lamentavam que "vê-se no placard, mas, afinal, não se sente nada...".
Nada na construção do "gigante dos ares" deu mais trabalho, representou mais esforço, mais desgaste de massa cinzenta, mais custo em honorários pagos a altíssimos especialistas do que resolver esse "detalhe": fazer com que os passageiros fossem poupados ao incómodo de sentirem o impacto da ultrapassagem da barreira do som. Como vemos, não valeu o esforço.
Ocorre-me isto (que li algures, há algum tempo) a propósito do modo como certas mulheres lidam com as máquinas de lavar louça.
Como me fez notar um cunhado meu que é engenheiro, aquilo que mais trabalho deu a centenas ou milhares de engenheiros e outros especialistas, aquilo que mais dinheiro custou na concepção das máquinas de lavar louça foi conseguir que o aparelho limpasse os detritos de comida que forçosamente ficam agarrados à louça no final de um refeição.
Não se trata de triturar, por exemplo, ossos de frango ou carcaças semi-destruídas de leitão da Bairrada, mas de pequenos grãos de arroz, uma espinha de bacalhau, um montículo de puré, uma pevide de limão, restos de molhos e similares.
Pois o certo é que o Homem conseguiu mesmo que a máquina tivesse essa capacidade.
Pois diz-me a minha experiência que não valeu o esforço.
Diz-me a minha experiência que as mulheres não querem saber das reais potencialidades do aparelho, não valorizam esse prodígio da técnica. E no final da refeição, é vê-las a esfregar afanosamente a louça, como no tempo em que não havia máquinas.
E prato a prato, copo a copo, travessa a travessa, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, vão-se queixando da vida, do trabalho e dos homens que não fazem nada.
16.6.05
Secas I (RPS)
Secas toda a gente apanha.
Seria fastidioso elencar as secas que já apanhamos ou estamos sujeitos a apanhar a qualquer momento. Desde estar à espera do autocarro debaixo de um sol inclemente (onde estão as boleias que os amigos tanto prometeram quando ficamos sem carta de condução?...) até esperar no Centro de Saúde que nos aviem uma receita, quando um primo-médico nos resolveria o assunto em cinco minutos, mas um gajo tambem não quer chatear muito e guarda-se para outra oportunidade em que esteja mesmo à rasca.
Seca tambem so aqueles jantares de aniversário marcados para as 21 horas.
Um gajo chega ás 21 horas e o restaurante está vazio. Ás 21.30 chega um tipo cinzento com a namorada desinteressante. "Olá... Tudo Bem?... Há que tempos..."
... Foda-se! Vou logo comprar tabaco ali á esquina.
Ás 21.50 chega o(a) aniversariante. Vem num grupo de sete ou oito pessoas, distribudos por dois carros. Vêm felizes, em gargalhadas, num estado de alguma excitação.
"Então?... Estás á espera há muito tempo?...", perguntam... Nem sequer ouvem a resposta. Já estão a falar para o lado porque, verdadeiramente, estão-se a cagar para quem esteve á espera. Se o palhaço esperou foi porque quis.
Senta, não senta... Até ás 22.30 - hora e meia depois da hora marcada - espera-se por aqueles que estão "um bocadinho atrasados". Como se sabe "a Goretti é demais, no chega a horas a lado nenhum, aquela rapariga...". E vive-se nesta exaltação da falta de respeito pelos outros. Entretanto, já todos eles pensam nas mamas e no traseiro da Goretti.
Ás 23 horas, toda a gente pediu a refeição a um empregado que cheira a suor.
Ás 23.05, os ultimos a chegar protestam porque "nunca mais servem o jantar e já passa das onze horas.". Graças a Deus, nunca me deu para andar armado.
A um canto da mesa, um casal de namorados troca festinhas, passando a mensagem que se ama, e ouve com sorriso amarelo a conversa dos outros. Estão noutra.
"Oh pá!... Estás muito calado!", vira-se um gajo bem disposto que chegou ás 22.30 para o palhaço que está lá há mais de duas horas, com a zona lombar dorida, depois de uma hora de pé, á porta, mais uma hora sentado numa cadeira desconfortavel pra burro...
"Ai o bolo, ai o bolo que é quase meia-noite!!!". Deu-lhes a pressa agora.
Ás 00.20, diz algum: vamos pedir a conta?...
Ás 00.35, diz outro: vamos pedir a conta?...
00.50 - vamos pedir a conta?...
01.05 - e se pedssemos a conta?...
01.10 - oh pá... temos que pedir a conta...
1.30, o gerente pede desculpa, mas tem que fechar... Ás duas da manhã, as contas estão finalmente certas.
São 2.15, toda a gente á porta do restaurante. "Onde vamos?...".
Bah!... Não vos vou contar a seca que durou até ás três da manhã.
Desculpem a seca.
Seria fastidioso elencar as secas que já apanhamos ou estamos sujeitos a apanhar a qualquer momento. Desde estar à espera do autocarro debaixo de um sol inclemente (onde estão as boleias que os amigos tanto prometeram quando ficamos sem carta de condução?...) até esperar no Centro de Saúde que nos aviem uma receita, quando um primo-médico nos resolveria o assunto em cinco minutos, mas um gajo tambem não quer chatear muito e guarda-se para outra oportunidade em que esteja mesmo à rasca.
Seca tambem so aqueles jantares de aniversário marcados para as 21 horas.
Um gajo chega ás 21 horas e o restaurante está vazio. Ás 21.30 chega um tipo cinzento com a namorada desinteressante. "Olá... Tudo Bem?... Há que tempos..."
... Foda-se! Vou logo comprar tabaco ali á esquina.
Ás 21.50 chega o(a) aniversariante. Vem num grupo de sete ou oito pessoas, distribudos por dois carros. Vêm felizes, em gargalhadas, num estado de alguma excitação.
"Então?... Estás á espera há muito tempo?...", perguntam... Nem sequer ouvem a resposta. Já estão a falar para o lado porque, verdadeiramente, estão-se a cagar para quem esteve á espera. Se o palhaço esperou foi porque quis.
Senta, não senta... Até ás 22.30 - hora e meia depois da hora marcada - espera-se por aqueles que estão "um bocadinho atrasados". Como se sabe "a Goretti é demais, no chega a horas a lado nenhum, aquela rapariga...". E vive-se nesta exaltação da falta de respeito pelos outros. Entretanto, já todos eles pensam nas mamas e no traseiro da Goretti.
Ás 23 horas, toda a gente pediu a refeição a um empregado que cheira a suor.
Ás 23.05, os ultimos a chegar protestam porque "nunca mais servem o jantar e já passa das onze horas.". Graças a Deus, nunca me deu para andar armado.
A um canto da mesa, um casal de namorados troca festinhas, passando a mensagem que se ama, e ouve com sorriso amarelo a conversa dos outros. Estão noutra.
"Oh pá!... Estás muito calado!", vira-se um gajo bem disposto que chegou ás 22.30 para o palhaço que está lá há mais de duas horas, com a zona lombar dorida, depois de uma hora de pé, á porta, mais uma hora sentado numa cadeira desconfortavel pra burro...
"Ai o bolo, ai o bolo que é quase meia-noite!!!". Deu-lhes a pressa agora.
Ás 00.20, diz algum: vamos pedir a conta?...
Ás 00.35, diz outro: vamos pedir a conta?...
00.50 - vamos pedir a conta?...
01.05 - e se pedssemos a conta?...
01.10 - oh pá... temos que pedir a conta...
1.30, o gerente pede desculpa, mas tem que fechar... Ás duas da manhã, as contas estão finalmente certas.
São 2.15, toda a gente á porta do restaurante. "Onde vamos?...".
Bah!... Não vos vou contar a seca que durou até ás três da manhã.
Desculpem a seca.
O que elas já fizeram ( em jeito de Quiz Show )
Com a devida vénia a este magnífico blog, roubamos estas três-fotos-três de distintas jornalistas no activo e no inactivo.
O ano é 1984.
Boa noite, eu sou a apresentadora do Festival da Canção !
e esta de 1978, alguém reconhece ?
e em 75, quem é a senhora ao lado de José Nuno Martins ?
O ano é 1984.
Boa noite, eu sou a apresentadora do Festival da Canção !
e esta de 1978, alguém reconhece ?
e em 75, quem é a senhora ao lado de José Nuno Martins ?
Faltam 9 dias para uma grande festa
Arraial JellyJah
Caixa Económica Operária (Graça)
25 de Junho, 23.01h
5 horas non-stop
com clássicos de sempre
e canções improváveis.
Confirmar presença aqui.
Voltamos a roubar
15.6.05
O que pode um olho azul
Maria José Nogueira Pinto estará a ser pressionada a avançar para a Câmara de Lisboa. Seria giro ver uma mulher na corrida. Quanto aos outdoors, os publicitários podem já preparar os flashes. E lá no Caldas sempre podem dizer que o olho azul pode conseguir milagres, cf. MJNP à Visão:
"-Percebi que a enfermaria era fora do campo e que se simulasse sentir-me mal seria levada. Fingi ter dores de estômago e uma enfermeira levou-me. Quando estava quase a chegar ao posto de enfermagem, comecei a correr, com a mulher atrás de mim. Entrei de supetão, no pré-fabricado onde estava um funcionário, e comecei a falar com ele. Foi aí que aprendi que era muito importante ter os olhos azuis e ser louro (... )
- E o que fizeram?
O meu marido ficou como tradutor de contratos.
- E você?
Candidatei-me para o coffee shop do Carlton , mas nunca lá cheguei a trabalhar. (...)
-Entretanto, veio à Europa buscar o seu filho, que tinha ficado com a sua família.
Ah, essa é que foi a grande aventura. Fui vender as minhas jóias. A entrada no Cartier foi qualquer coisa! Pensavam que as tinha roubado, porque nada provava que fossem minhas. Mas, ao mesmo tempo, o olho azul... ".
"-Percebi que a enfermaria era fora do campo e que se simulasse sentir-me mal seria levada. Fingi ter dores de estômago e uma enfermeira levou-me. Quando estava quase a chegar ao posto de enfermagem, comecei a correr, com a mulher atrás de mim. Entrei de supetão, no pré-fabricado onde estava um funcionário, e comecei a falar com ele. Foi aí que aprendi que era muito importante ter os olhos azuis e ser louro (... )
- E o que fizeram?
O meu marido ficou como tradutor de contratos.
- E você?
Candidatei-me para o coffee shop do Carlton , mas nunca lá cheguei a trabalhar. (...)
-Entretanto, veio à Europa buscar o seu filho, que tinha ficado com a sua família.
Ah, essa é que foi a grande aventura. Fui vender as minhas jóias. A entrada no Cartier foi qualquer coisa! Pensavam que as tinha roubado, porque nada provava que fossem minhas. Mas, ao mesmo tempo, o olho azul... ".
14.6.05
Há luto no pântano
O pântano continua.
O senhor Presidente da República decidiu prosseguir a tradição de Mário Soares e afagar peitos mil com condecorações da Pátria. Ao perorar sobre a credibilidade da classe política, Sua Excelência devia pensar primeiro no caminho que levam os usos a que se prestam alguns símbolos.
De tão massificadas, até já nem ligo às condecorações.
E se posso admitir que Pacheco Pereira leve a Ordem da Liberdade, já não percebo a Ordem de Mérito atribuída a Fátima Campos Ferreira, Catarina Furtado e Luis Represas.
Os portugueses não têm grande respeito pelos símbolos nacionais. Muito menos pelos oficiais. Percebo-os.
O hino é uma peça discutível. E a bandeira até adulterada nas janelas se tolera.
Mas a maior das palermices é a falta de critério no decreto do luto nacional.
Álvaro Cunhal vai ter o mesmo nº de dias de luto nacional que Sousa Franco, por exemplo. A Irmã Lucia teve direito a 3 dias. Isto numa Pátria que não guarda respeito oficial por antigos chefes de governo como Maria de Lurdes Pintassilgo ou o velho general Vasco Gonçalves.
Mas não serviram eles o país ?
Gostava de lembrar que por Alvaro Cunhal ou Sousa Franco foram guardados menos dias de luto que os decretados pela morte de Samora Machel em 86.
Foram 3 dias que Alberto João Jardim (esse bastardo) decidiu não cumprir na Madeira.
O senhor Jardim ainda aí anda. Vive do pântano que critica. E sobrevive por via das nossas retenções na fonte.
Por conta desse episódio temos hoje este parecer da PGR que tentou aclarar o regime do luto.
É de 1986, por causa do caso Samora Machel.
Vai uma versão parcial:
1 - Ao decretar luto nacional, o Governo pretende, por esse meio e no apelo a regras de cortesia tradicionalmente praticadas e aceites, manifestar o pesar sentido pelo falecimento de cidadãos, ou cidadãos, nacionais ou estrangeiros, que, pelo seu perfil e (ou) a sua projecção, se entenda deverem receber essa homenagem dos Portugueses;
2 - Atitude identica e observavel na sequencia de acidentes ou catastrofes, ocorridos em territorio nacional ou estrangeiro, quando a sua dimensão justifique a expressão nacional desse pesar;
3 - Não se encontrando codificadas as manifestações de luto, e uso içar a meia haste a Bandeira Nacional, simbolo nacional constitucionalmente reconhecido, exprimindo a vontade colectiva de um Povo, politicamente organizado, adaptando-se o cerimonial previsto no Regulamento de Continencias e Honras Militares, aprovado pelo Decreto-Lei n 331/80, de 28 de Agosto, alterado pelo Decreto-Lei n 214/81, de 16 de Julho;
4 - A declaração de luto radica em matriz politica, porquanto na sua genese e essencial a ponderação de componenetes funcionais politicas, mas o grau discricionario que lhe assiste e limitado pelos valores e parametros constitucionais impostos pela unidade e indivisibilidade da soberania nacional, pelo exercicio desta e pelo principio da constitucionalidade da acção do Estado, tomado este no seu conceito mais lato;
O senhor Presidente da República decidiu prosseguir a tradição de Mário Soares e afagar peitos mil com condecorações da Pátria. Ao perorar sobre a credibilidade da classe política, Sua Excelência devia pensar primeiro no caminho que levam os usos a que se prestam alguns símbolos.
De tão massificadas, até já nem ligo às condecorações.
E se posso admitir que Pacheco Pereira leve a Ordem da Liberdade, já não percebo a Ordem de Mérito atribuída a Fátima Campos Ferreira, Catarina Furtado e Luis Represas.
Os portugueses não têm grande respeito pelos símbolos nacionais. Muito menos pelos oficiais. Percebo-os.
O hino é uma peça discutível. E a bandeira até adulterada nas janelas se tolera.
Mas a maior das palermices é a falta de critério no decreto do luto nacional.
Álvaro Cunhal vai ter o mesmo nº de dias de luto nacional que Sousa Franco, por exemplo. A Irmã Lucia teve direito a 3 dias. Isto numa Pátria que não guarda respeito oficial por antigos chefes de governo como Maria de Lurdes Pintassilgo ou o velho general Vasco Gonçalves.
Mas não serviram eles o país ?
Gostava de lembrar que por Alvaro Cunhal ou Sousa Franco foram guardados menos dias de luto que os decretados pela morte de Samora Machel em 86.
Foram 3 dias que Alberto João Jardim (esse bastardo) decidiu não cumprir na Madeira.
O senhor Jardim ainda aí anda. Vive do pântano que critica. E sobrevive por via das nossas retenções na fonte.
Por conta desse episódio temos hoje este parecer da PGR que tentou aclarar o regime do luto.
É de 1986, por causa do caso Samora Machel.
Vai uma versão parcial:
1 - Ao decretar luto nacional, o Governo pretende, por esse meio e no apelo a regras de cortesia tradicionalmente praticadas e aceites, manifestar o pesar sentido pelo falecimento de cidadãos, ou cidadãos, nacionais ou estrangeiros, que, pelo seu perfil e (ou) a sua projecção, se entenda deverem receber essa homenagem dos Portugueses;
2 - Atitude identica e observavel na sequencia de acidentes ou catastrofes, ocorridos em territorio nacional ou estrangeiro, quando a sua dimensão justifique a expressão nacional desse pesar;
3 - Não se encontrando codificadas as manifestações de luto, e uso içar a meia haste a Bandeira Nacional, simbolo nacional constitucionalmente reconhecido, exprimindo a vontade colectiva de um Povo, politicamente organizado, adaptando-se o cerimonial previsto no Regulamento de Continencias e Honras Militares, aprovado pelo Decreto-Lei n 331/80, de 28 de Agosto, alterado pelo Decreto-Lei n 214/81, de 16 de Julho;
4 - A declaração de luto radica em matriz politica, porquanto na sua genese e essencial a ponderação de componenetes funcionais politicas, mas o grau discricionario que lhe assiste e limitado pelos valores e parametros constitucionais impostos pela unidade e indivisibilidade da soberania nacional, pelo exercicio desta e pelo principio da constitucionalidade da acção do Estado, tomado este no seu conceito mais lato;
Sagres valente, imortal... (RPS)
Fiz, há alguns dias, um post sobre os sentimentos que a selecção nacional de futebol me desperta ou pode despertar e demarquei-me do balofo discurso patrioteiro à volta da selecção. Os que foram comentar desataram a falar do Vítor Baía...
Pensei em recentrar a questão, mas desisti. Ninguém domina a blogosfera e o FadoFalado é um espaço de liberdade para quem “posta” e para quem comenta. Só que, entretanto, li num jornal uma notícia que pode ser muito elucidativa:
O deputado Manuel Alegre entregou um requerimento na A.R. protestando contra o facto de a RTP não ter transmitido o hino nacional no decorrer da transmissão do recente Estónia-Portugal. Já em directo a partir de Tallin, o principal canal da empresa pública de televisão interrompeu a transmissão para passar publicidade. Como se revê – e está no seu direito – orgulhosamente na selecção e nos símbolos pátrios, o deputado Alegre entende que a RTP faltou ao respeito da equipa nacional e ao respeito a todos nós porque deveria honrar os símbolos nacionais.
Os sentimentos de Manuel Alegre face à selecção obedecem a uma determinada lógica de pensamento. E são coerentes com essa lógica de pensamento.
Os meus sentimentos são diametralmente opostos, mas também obedecem a uma lógica própria de pensamento e são coerentes com ela.
Obviamente que tudo à volta do futebol e do futebol das selecções é comercial. Assim, não me choca nada o que se passou. Nem acho que faça muito sentido essa coisa de tocarem os hinos antes dos jogos.
A federação do ascoroso Madaíl poderia perfeitamente mandar passar, nesse momento, a música da campanha publicitária da Sagres. Ou, então, o hino brasileiro. O Deco, de olhos fechados, imaginava-se no escrete - as enormidades que não jogaria!... E era também uma forma de homenagear o seleccionador.
Pensei em recentrar a questão, mas desisti. Ninguém domina a blogosfera e o FadoFalado é um espaço de liberdade para quem “posta” e para quem comenta. Só que, entretanto, li num jornal uma notícia que pode ser muito elucidativa:
O deputado Manuel Alegre entregou um requerimento na A.R. protestando contra o facto de a RTP não ter transmitido o hino nacional no decorrer da transmissão do recente Estónia-Portugal. Já em directo a partir de Tallin, o principal canal da empresa pública de televisão interrompeu a transmissão para passar publicidade. Como se revê – e está no seu direito – orgulhosamente na selecção e nos símbolos pátrios, o deputado Alegre entende que a RTP faltou ao respeito da equipa nacional e ao respeito a todos nós porque deveria honrar os símbolos nacionais.
Os sentimentos de Manuel Alegre face à selecção obedecem a uma determinada lógica de pensamento. E são coerentes com essa lógica de pensamento.
Os meus sentimentos são diametralmente opostos, mas também obedecem a uma lógica própria de pensamento e são coerentes com ela.
Obviamente que tudo à volta do futebol e do futebol das selecções é comercial. Assim, não me choca nada o que se passou. Nem acho que faça muito sentido essa coisa de tocarem os hinos antes dos jogos.
A federação do ascoroso Madaíl poderia perfeitamente mandar passar, nesse momento, a música da campanha publicitária da Sagres. Ou, então, o hino brasileiro. O Deco, de olhos fechados, imaginava-se no escrete - as enormidades que não jogaria!... E era também uma forma de homenagear o seleccionador.
Bad. Not Bed, you bastards !
Post-humo
A colocação de um post sobre Eugénio de Andrade na véspera da morte do poeta obedece a uma lógica de antecipação.
Caso contrário, quem, nesta vertigem noticiosa, olharia para a poesia sem o desconforto da unanimidade fúnebre ?
Caso contrário, quem, nesta vertigem noticiosa, olharia para a poesia sem o desconforto da unanimidade fúnebre ?
13.6.05
Fana aqui, fana ali… e onde é que está o cão? (JCS)
Assaltaram o comboio, assaltaram a praia, e depois, como bons Portugueses, terão ido a banhos para o Algarve a em jeito de biscate lá limparam os banhistas de Quarteira.
Como a balança comercial, há muito anos anda desequilibrada, enviava-os todos para formação no Brasil (para alguns pontos do Brasil para ser mais preciso). E fazia-lhes desaparecer o passaporte.
Por cá, mandava pôr um cadeado à entrada de cada praia, juntamente com o aviso “Cuidado com o cão”.
Às associações anti-racistas, perguntava porque razão estão em silêncio? E de seguida perguntava se neste país a criminalidade tem ou não tem cor?
E enquanto as respostas de quem de direito não surgem está bem de ver que este Verão, no areal ao lado do chapéu de sol, do garrafão de tintol e das pataniscas no tuperware, poderá ainda repousar a bela pistola.
Como a balança comercial, há muito anos anda desequilibrada, enviava-os todos para formação no Brasil (para alguns pontos do Brasil para ser mais preciso). E fazia-lhes desaparecer o passaporte.
Por cá, mandava pôr um cadeado à entrada de cada praia, juntamente com o aviso “Cuidado com o cão”.
Às associações anti-racistas, perguntava porque razão estão em silêncio? E de seguida perguntava se neste país a criminalidade tem ou não tem cor?
E enquanto as respostas de quem de direito não surgem está bem de ver que este Verão, no areal ao lado do chapéu de sol, do garrafão de tintol e das pataniscas no tuperware, poderá ainda repousar a bela pistola.
Santo António de Pádua (RPS)
Confesso que não sou devoto de santos. Simpatizo, contudo, com a figura de Fernando Bulhões, mais tarde Santo António.
Na origem desta simpatia está a história do milagre em que ele pregava aos peixes. Em miúdo, achava a história fantástica. Lembro-me de uma imagem num livro – não tenho a certeza, mas talvez no catecismo que tinha quando frequentava a catequese no Mosteiro da Serra do Pilar. Nela, aparecia o Santo, junto a um riacho, com os braços abertos, elevados para o céu, e uma série de peixes boquiabertos, de olho arregalado, com a cabeça fora da água. A partir daí, fiquei a achar que os peixes fora de água tinham caras de parvos e passei a verificar a minha tese nas canastas das peixeiras e NAS bancas de peixe nos mercados.
A minha catequista chamava sempre a atenção para o facto do Santo António não ser propriamente de Lisboa. Tinha nascido lá, é certo, mas tinha vivido e morrido em Pádua, onde, aliás, era designado como Santo António de Pádua. Lembrava, ainda, à miudagem que o padroeiro de Lisboa é São Vicente e não Santo António.
Soava-me estranho aquela insistência, pelo facto de fugir à tónica do discurso oficial dominante, que enaltecia o facto de Bulhões ser português de Lisboa.
Até hoje, não entendi se era má vontade com o Santo (ela era solteirona), com Lisboa ou se a senhora se opunha ao Estado Novo e apostava em subverter as novas gerações.
Para lhe fazer a vontade, votos de bom dia de Santo António de Pádua para todos.
12.6.05
Amor, por Nick Cave
I found her on a night of fire and noise
Wild bells rang in a wild sky
I knew from that moment on
I'll love her till the day that I died
And I kissed away a thousand tears
She had a heartful of love and devotion
She had a mindful of tyranny and terror
Well, I try, I do, I really try
But I just err, baby, I do, I error
So come find me, my darling one
I'm down to the grounds, the very dregs
The bells from the chapel went jingle-jangle
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Like I love you
All things move toward their end
I knew before I met her that I would lose her
I swear I made every effort to be good to her
I made every effort not to abuse her
Crazy bracelets on her wrists and her ankles
And the bells from the chapel go jingle-jangle
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Like I love you
I've searched the holy books
I tried to unravel the mystery of Jesus Christ, the saviour
I've read the poets and the analysts
Searched through the books on human behaviour
I travelled this world around
For an answer that refused to be found
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
.
I loved her then and I guess I love her still
Hers is the face I see when a certain mood moves in
She lives in my blood and skin
Her wild feral stare, her dark hair
Her winter lips as cold as stone
Yeah, I was her man
But there are some things love won't allow
I held her hand but I don't hold it now
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
I was her cruel-hearted man
And though I've tried to lay her ghost down
She's moving through me, even now
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
(blogomontagem das canções "Do you love me" e "Nobody's baby" do grande Nick Cave, de regresso a Portugal no dia 18 de Agosto em Paredes de Coura)
Wild bells rang in a wild sky
I knew from that moment on
I'll love her till the day that I died
And I kissed away a thousand tears
She had a heartful of love and devotion
She had a mindful of tyranny and terror
Well, I try, I do, I really try
But I just err, baby, I do, I error
So come find me, my darling one
I'm down to the grounds, the very dregs
The bells from the chapel went jingle-jangle
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Like I love you
All things move toward their end
I knew before I met her that I would lose her
I swear I made every effort to be good to her
I made every effort not to abuse her
Crazy bracelets on her wrists and her ankles
And the bells from the chapel go jingle-jangle
Do you love me? Do you love me?
Do you love me? Like I love you
I've searched the holy books
I tried to unravel the mystery of Jesus Christ, the saviour
I've read the poets and the analysts
Searched through the books on human behaviour
I travelled this world around
For an answer that refused to be found
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
.
I loved her then and I guess I love her still
Hers is the face I see when a certain mood moves in
She lives in my blood and skin
Her wild feral stare, her dark hair
Her winter lips as cold as stone
Yeah, I was her man
But there are some things love won't allow
I held her hand but I don't hold it now
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
I was her cruel-hearted man
And though I've tried to lay her ghost down
She's moving through me, even now
I don't know why and I don't know how
But she's nobody's baby now
(blogomontagem das canções "Do you love me" e "Nobody's baby" do grande Nick Cave, de regresso a Portugal no dia 18 de Agosto em Paredes de Coura)
Outro canalha (RPS)
Eduardo Prado Coelho está chocado. A Comunicação Social fez um caso a partir de um pequeno acontecimento ocorrido no âmbito de um - esse sim - importante acontecimento. Pelo pasmo e indignação do pensador, deve tal ter acontecido pela primeira vez...
Vejam só que Manuel Maria Carrilho apresentou a sua candidatura à Câmara de Lisboa e os jornalistas, revelando um "preconceito lamentável" criticaram o facto do candidato exibir a família.
Alega Prado Coelho que todos os políticos o fazem e a Comunicação Social não se mostra crítica.
Esquece Prado Coelho que Carrilho fazia - e bem, penso eu - ponto de honra não exibir o filho.
Obviamente que é relevante o facto de Carrilho ter mudado de atitude. E é importante pensarmos porque o fez: porque entende que isso ajuda à sua imagem numa disputa eleitoral muito complicada.
Ignorar este facto, como o faz Prado Coelho, é, no mínimo, desonesto. Eu acho que é mesmo uma canalhice.
Vejam só que Manuel Maria Carrilho apresentou a sua candidatura à Câmara de Lisboa e os jornalistas, revelando um "preconceito lamentável" criticaram o facto do candidato exibir a família.
Alega Prado Coelho que todos os políticos o fazem e a Comunicação Social não se mostra crítica.
Esquece Prado Coelho que Carrilho fazia - e bem, penso eu - ponto de honra não exibir o filho.
Obviamente que é relevante o facto de Carrilho ter mudado de atitude. E é importante pensarmos porque o fez: porque entende que isso ajuda à sua imagem numa disputa eleitoral muito complicada.
Ignorar este facto, como o faz Prado Coelho, é, no mínimo, desonesto. Eu acho que é mesmo uma canalhice.
11.6.05
Um poema de Eugénio de Andrade - para quem gosta ou talvez não
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(o poema chama-se Adeus, in "Poemas 1945-1965", a foto é de Pedro Gomes/Escritacomluz.com)
10.6.05
Sócrates tem festarola na terra
Já repararam na promessa de fêveras, surrealidade e cerveja barata ?
Nada mau para não pensar no défice.
A marcha dos desalinhados
É muito fácil culpar a polícia. É certo.
Mas como é possível não haver um aviso prévio da acção de 400 rapazes para roubar uma praia inteira ?
Sem Cor nem Deus nem Fado.
Eles são Desalinhados.
Não espanta.
Mas como é possível não haver um aviso prévio da acção de 400 rapazes para roubar uma praia inteira ?
Sem Cor nem Deus nem Fado.
Eles são Desalinhados.
Não espanta.
As coisas que eles estudam
Um estudo britânico, publicado na edição de Junho da Biology Letters, indica que a capacidade das mulheres atingirem o orgasmo é em parte determinada pelos genes.
Os especialistas receberam respostas de mais de 3000 gémeas, metade das quais têm idêntico património genético. Ficamos a saber que nas gémeas verdadeiras, 31% atinge sempre ou muitas vezes o orgasmo durante as relações sexuais e 39% através de masturbação. Nas falsas, estes valores descem para 10% e 17% respectivamente.
Mais: 32 por cento do total de gémeas diz que nunca ou raramente atinge o orgasmo nas relações sexuais. E 21 % também não chegam lá por via...manual.
Os especialistas receberam respostas de mais de 3000 gémeas, metade das quais têm idêntico património genético. Ficamos a saber que nas gémeas verdadeiras, 31% atinge sempre ou muitas vezes o orgasmo durante as relações sexuais e 39% através de masturbação. Nas falsas, estes valores descem para 10% e 17% respectivamente.
Mais: 32 por cento do total de gémeas diz que nunca ou raramente atinge o orgasmo nas relações sexuais. E 21 % também não chegam lá por via...manual.
Um canalha (RPS)
Este post começou por ser um comentário ao post de JPF sobre Freitas do Amaral (FA) e ao comentário que Funes, el memorioso, lá deixou.
Freitas do Amaral fez um percurso da Direita para a esquerda. Não me choca, apesar de ser o percurso contrário ao mais habitual.
Esse percurso foi, contudo, relativamente curto. FA não está muito distante do “sítio político” onde estava em 74, 75 ou 76. O PS está bem mais.
Se lermos entrevistas, declarações, artigos de FA nessa época, verificamos que aquilo que alguns excitados do período revolucionário poderiam apelidar – sei lá... - de “perigosamente fascista” é hoje consensual no centrão em que isto caiu.
FA é um tipo muito inteligente. E tem um poder de argumentação e de exposição notáveis.Não tenho dúvidas de que, como diz JPF, fará o que quiser no Governo. Também irá embora quando lhe apetecer.
Ao contrário de Funes, el memorioso, nunca li a biografia de D. Afonso Henriques, apesar de a ter recebido num Natal. Mas li na diagonal e vi a representação da peça “O Magnífico Reitor”.Por ter visto isso e por saber, até por escritos e declarações do próprio FA, do relacionamento que ele manteve com Marcelo Caetano, que considero Diogo Freitas do Amaral um canalha.
Freitas do Amaral fez um percurso da Direita para a esquerda. Não me choca, apesar de ser o percurso contrário ao mais habitual.
Esse percurso foi, contudo, relativamente curto. FA não está muito distante do “sítio político” onde estava em 74, 75 ou 76. O PS está bem mais.
Se lermos entrevistas, declarações, artigos de FA nessa época, verificamos que aquilo que alguns excitados do período revolucionário poderiam apelidar – sei lá... - de “perigosamente fascista” é hoje consensual no centrão em que isto caiu.
FA é um tipo muito inteligente. E tem um poder de argumentação e de exposição notáveis.Não tenho dúvidas de que, como diz JPF, fará o que quiser no Governo. Também irá embora quando lhe apetecer.
Ao contrário de Funes, el memorioso, nunca li a biografia de D. Afonso Henriques, apesar de a ter recebido num Natal. Mas li na diagonal e vi a representação da peça “O Magnífico Reitor”.Por ter visto isso e por saber, até por escritos e declarações do próprio FA, do relacionamento que ele manteve com Marcelo Caetano, que considero Diogo Freitas do Amaral um canalha.
9.6.05
Carter The Unstoppable Sex Machine
Agora anda mais calmo, mas o rapaz tem arrasado sucessivas hordas de enfermeiras e médicas do County General de Chicago.
John Carter é o menino bonito de uma série antiga que voltou com o AXN. E.R. é a minha telenovela diária, lá pela meia-noite-uma da manhã. E este é o tipo mais interessante da série.
Avé Carter!
Os que vão entrar nas urgências te saudam !
Pantalha vermelha (JCS)
Há três ou quatro dias, foi inaugurada uma nova temporada na televisão. Depois do “flat”, do “black trinitron” do “plasma”, eis que nasce o ecrã encarnado.
Pois, encarnado do fogo e negro do fumo que nos noticiários televisivos fazem incendiar o país.
Agora sim, está aberta a época dos fogos, com os directos à procura da chama que vai comer a primeira casa este verão, da primeira família a chorar de cócoras no chão, por ver o seu passado material perdido na fogueira. Custa-me ver um noticiário abrir com a barbaridade, custa-me abrir cada noticiário com esta barbaridade.
Já ninguém acredita que os fogos são causados pelo vidrinho da garrafa partida na festa do ano anterior, que serviu de lupa ao sol e incendiou o pasto. Pontas de cigarro há muitas. Mas para mim, a maior parte das vezes, por detrás de cada fogo há um imbecil que se ri da obra feita, e que espera saber se bateu ou não o recorde do ano, se o seu fogo foi o maior do dia, do mês, do Verão.
E custa-me dizer isto, mas a culpa também é nossa. Pelo modo como muitas vezes empolamos a notícia do fogo.:“O primeiro do ano”, “o maior em 30 anos em Tomar”, o único a lavrar de momento”.
Tal como os suícidios se repetem cada vez que se divulga que alguém suicida, tal como os barricados se decidem barricar após ouvirem cada noticia de barricados… acredito que os fogos aumentam de intensidade, cada vez que a isso damos atenção noticiosa.
A pergunta é se há alguma volta a dar? Se entre o dever de informar e alertar, podemos de algum modo evitar estragos. Eu não sei.
Pois, encarnado do fogo e negro do fumo que nos noticiários televisivos fazem incendiar o país.
Agora sim, está aberta a época dos fogos, com os directos à procura da chama que vai comer a primeira casa este verão, da primeira família a chorar de cócoras no chão, por ver o seu passado material perdido na fogueira. Custa-me ver um noticiário abrir com a barbaridade, custa-me abrir cada noticiário com esta barbaridade.
Já ninguém acredita que os fogos são causados pelo vidrinho da garrafa partida na festa do ano anterior, que serviu de lupa ao sol e incendiou o pasto. Pontas de cigarro há muitas. Mas para mim, a maior parte das vezes, por detrás de cada fogo há um imbecil que se ri da obra feita, e que espera saber se bateu ou não o recorde do ano, se o seu fogo foi o maior do dia, do mês, do Verão.
E custa-me dizer isto, mas a culpa também é nossa. Pelo modo como muitas vezes empolamos a notícia do fogo.:“O primeiro do ano”, “o maior em 30 anos em Tomar”, o único a lavrar de momento”.
Tal como os suícidios se repetem cada vez que se divulga que alguém suicida, tal como os barricados se decidem barricar após ouvirem cada noticia de barricados… acredito que os fogos aumentam de intensidade, cada vez que a isso damos atenção noticiosa.
A pergunta é se há alguma volta a dar? Se entre o dever de informar e alertar, podemos de algum modo evitar estragos. Eu não sei.
A treta da Pátria (RPS)
Detesto esta selecção portuguesa de futebol.
Algumas pessoas - amigos, colegas de trabalho, conhecidos - mostram-se muito chocadas por eu "não estar com a selecção de todos nós". Chocam-se com, dizem alguns, "a minha falta de patriotismo". Outros não dizem nada, talvez porque pensam coisas piores.
Essas pessoas nunca me deram uma argumento sólido para que eu, em nome da Pátria, "puxasse" por uma equipa treinada por um brasileiro. Mesmo que se tratasse de uma pessoa decente e não de um refinado sacana.
Também nunca me conseguiram explicar porque devemos ter em conta o sítio onde nascemos no futebol inter-selecções e esqueçamos isso na questão dos clubes. Se assim fosse, como haveria portistas em Lisboa ou Góis, benfiquistas em Valongo ou Portalegre, sportinguistas no Porto ou em Silves?... Eu acho perfeitamente normal, como acho normal que uma pessoa possa preferir uma selecção estrangeira à do seu país. Sem dramas.
Esta coisa do patriotismo aliado à selecção de futebol é um dos mais antigos embustes que conheço e é um embuste que ganha maior dimensão com o passar do tempo, por força da cada vez mais forte industrialização do fenómeno futebolístico, para usar uma frase "à Gabriel Alves" ou "à Fernando Seara".
Em nome da Pátria, de muitas Pátrias, morreram milhões de homens ao longo da História. Em nome da Pátria, facturam os futebolistas somas avultadas de dinheiro.
Basta recordar sucessivos episódios, ao longo de anos, de "guerras" por causa dos prémios de jogo. Eles jogam na selecção não pela Pátria, mas porque isso lhes rende directa e indirectamente dinheiro. Nada tenho contra isso. O que não aceito é que se tente cobrir isso com o manto diáfano do patriotismo.
Um caso escandaloso é o de Deco. É um dos meus jogadores preferidos de sempre e eu já vi muitos. É um dos melhores jogadores do mundo, no início do século XXI. Foi o melhor jogador do mundo nas épocas 2002/2003 e 2003/2004. Deu-me muitas, muitas, muitas alegrias. A questão não é o ter nascido no Brasil. Ele tem dupla nacionalidade, está na selecção com todo o direito.
A questão é que ele só está na selecção porque não tinha lugar (erro do técnico ou da CBF...) na selecção do Brasil. Não é pela Pátria.
Do regresso de Figo - um dos melhores jogadores do mundo - à selecção não vou falar. Chega-me verificar o que balbucilam os que tentam justificar o injustificavel. Aqui, não é o dinheiro: a selecção serve apenas para afagar o ego humilhado em Madrid. Não é pela Pátria.
Da mesma forma que nunca me consegui identificar com uma selecção onde estivesse o João Vieira Pinto, como me posso rever numa selecção onde estão Ricardo e Petit?
A comparação é exagerada, mas recorro a ela face à dificuldade dos outros entenderem o meu ponto de vista: se a mulher que, há umas semanas, atirou a neta ao rio Douro for "representar Portugal lá fora" eu não serei por Portugal.
Há selecções portuguesas que eu gosto, outras que não gosto.
Muito mais que muitas das nossas selecções gostei eu de algumas selecções de Itália, da Inglaterra do Robson, em 86 e 90, de várias selecções da ex-Jugoslávia, da Alemanha de Karl-Heinz Rummennigge e Pierre Litbarski, do Brasil de 82, de algumas selecções de leste, como a Roménia do Hagi, o Maradona dos Cárpatos. E, acima de todas as outras, das selecções da Argentina, a Argentina, minha paixão futebolística.
A selecção representa formalmente o país.
DE FACTO representa os interesses dos que nela trabalham como profissionais (não apenas os jogadores) e representa, ainda, os interesses dos patrocinadores.
É por estas razões que não me sinto na obrigação de "estar com a selecção".
Com esta selecção isso não seria sequer possível.
Não seria possível com Scolari, com o interesseiro Deco, com o mais-que-interesseiro Figo, com Ricardo, com Petit e com esse Madaíl que me causa asco.
Patriotismo com esta gente? Tretas...
Algumas pessoas - amigos, colegas de trabalho, conhecidos - mostram-se muito chocadas por eu "não estar com a selecção de todos nós". Chocam-se com, dizem alguns, "a minha falta de patriotismo". Outros não dizem nada, talvez porque pensam coisas piores.
Essas pessoas nunca me deram uma argumento sólido para que eu, em nome da Pátria, "puxasse" por uma equipa treinada por um brasileiro. Mesmo que se tratasse de uma pessoa decente e não de um refinado sacana.
Também nunca me conseguiram explicar porque devemos ter em conta o sítio onde nascemos no futebol inter-selecções e esqueçamos isso na questão dos clubes. Se assim fosse, como haveria portistas em Lisboa ou Góis, benfiquistas em Valongo ou Portalegre, sportinguistas no Porto ou em Silves?... Eu acho perfeitamente normal, como acho normal que uma pessoa possa preferir uma selecção estrangeira à do seu país. Sem dramas.
Esta coisa do patriotismo aliado à selecção de futebol é um dos mais antigos embustes que conheço e é um embuste que ganha maior dimensão com o passar do tempo, por força da cada vez mais forte industrialização do fenómeno futebolístico, para usar uma frase "à Gabriel Alves" ou "à Fernando Seara".
Em nome da Pátria, de muitas Pátrias, morreram milhões de homens ao longo da História. Em nome da Pátria, facturam os futebolistas somas avultadas de dinheiro.
Basta recordar sucessivos episódios, ao longo de anos, de "guerras" por causa dos prémios de jogo. Eles jogam na selecção não pela Pátria, mas porque isso lhes rende directa e indirectamente dinheiro. Nada tenho contra isso. O que não aceito é que se tente cobrir isso com o manto diáfano do patriotismo.
Um caso escandaloso é o de Deco. É um dos meus jogadores preferidos de sempre e eu já vi muitos. É um dos melhores jogadores do mundo, no início do século XXI. Foi o melhor jogador do mundo nas épocas 2002/2003 e 2003/2004. Deu-me muitas, muitas, muitas alegrias. A questão não é o ter nascido no Brasil. Ele tem dupla nacionalidade, está na selecção com todo o direito.
A questão é que ele só está na selecção porque não tinha lugar (erro do técnico ou da CBF...) na selecção do Brasil. Não é pela Pátria.
Do regresso de Figo - um dos melhores jogadores do mundo - à selecção não vou falar. Chega-me verificar o que balbucilam os que tentam justificar o injustificavel. Aqui, não é o dinheiro: a selecção serve apenas para afagar o ego humilhado em Madrid. Não é pela Pátria.
Da mesma forma que nunca me consegui identificar com uma selecção onde estivesse o João Vieira Pinto, como me posso rever numa selecção onde estão Ricardo e Petit?
A comparação é exagerada, mas recorro a ela face à dificuldade dos outros entenderem o meu ponto de vista: se a mulher que, há umas semanas, atirou a neta ao rio Douro for "representar Portugal lá fora" eu não serei por Portugal.
Há selecções portuguesas que eu gosto, outras que não gosto.
Muito mais que muitas das nossas selecções gostei eu de algumas selecções de Itália, da Inglaterra do Robson, em 86 e 90, de várias selecções da ex-Jugoslávia, da Alemanha de Karl-Heinz Rummennigge e Pierre Litbarski, do Brasil de 82, de algumas selecções de leste, como a Roménia do Hagi, o Maradona dos Cárpatos. E, acima de todas as outras, das selecções da Argentina, a Argentina, minha paixão futebolística.
A selecção representa formalmente o país.
DE FACTO representa os interesses dos que nela trabalham como profissionais (não apenas os jogadores) e representa, ainda, os interesses dos patrocinadores.
É por estas razões que não me sinto na obrigação de "estar com a selecção".
Com esta selecção isso não seria sequer possível.
Não seria possível com Scolari, com o interesseiro Deco, com o mais-que-interesseiro Figo, com Ricardo, com Petit e com esse Madaíl que me causa asco.
Patriotismo com esta gente? Tretas...
8.6.05
Posições pessoais
Estava a pensar escrever algo sobre a trapalhada Freitas. Mas acho que ainda me reconheço no que disse a 21 de Março:
" Freitas fará no Governo o que quiser. Será incómodo se disser o que pensa, mesmo em circuito interno. É bom que o chefe saiba o caminho de Seteais."
" Freitas fará no Governo o que quiser. Será incómodo se disser o que pensa, mesmo em circuito interno. É bom que o chefe saiba o caminho de Seteais."
O político que veio do talho
Para ganhar eleições, este senhor decidiu expôr carne da sua carne - o filho- e a carne preferida do seu canhão - a sua esposa.
Que o faça em privado é lá com ele. Mas o senhor foi longe demais.Ainda havemos de ver a senhora na FHM, com o marido ao colo a cantar aquela velha canção dos Xutos - Papá deixa lá...
Carrilho procura o tacho, com técnicas de talho.
Já decidi o meu voto.
Notícia incompleta (RPS)
Ouvi a notícia na rádio, esta manhã, e notei que faltava o som:
- o Santa Mafalda está de novo connosco. Obrigado portugueses.
- o Santa Mafalda está de novo connosco. Obrigado portugueses.
7.6.05
Duas frases que ouvi ao acordar
- Luis Costa, na revista de imprensa da RTPN: "O DN fez hoje na manchete um frete ao Governo"
- Agricultor não identificado, na RR, durante uma marcha de agricultores: "Não há palha para enfardar".
- Agricultor não identificado, na RR, durante uma marcha de agricultores: "Não há palha para enfardar".
Povo que lavas no rio (RPS)
Foi em 91. Ou 90, ou 92.
Mário Soares montou Presidência Aberta em Viana doCastelo.
Coube-me acompanhar em full-time, depois da experiência de um dia ou dois,alguns anos antes, em Coimbra. Já era quase veterano, a coisa fez-se.
Recordo um domingo de programa diminuto, coisa rara.
O ponto principal do dia presidencial consistia de uma homenagem póstuma aPedro Homem de Melo, em Afife.Local: uma casa, não sumptuosa, mas com ar nobre. Bonita, pintada de branco,com portadas verdes, rodeada por árvores frondosas. Pertencia a uns sobrinhos do poeta e divulgador do folclore português. Presumo que fora pertença do próprio Homem de Melo. Pelo menos, era "a casa dele em Afife".
Aquele Setembro estava quente, mas nesse domingo arrefecera e chovera.À tarde, o sol lá se mostrou. Espreitava a custo, entre a densa folhagem das árvores, num espaço que já não era grande e se revelava acanhado para tanta gente, acumulada entre o portão da rua e a entrada principal da casa.A terra molhada poupava-nos à poeira.
Ouvia-se água a correr numa fonte. As pessoas faziam um silêncio quase sepulcral. Numas colunas de som passava, baixinho, "Povo que lavas no rio" e outros fados com letras do poeta e cantados por Amália. Ela também estava lá, de vestido escuro. Preto, salvo erro. Não sei porquê, mas achei que Pedro Homem de Melo também lá estava.
Para fazer o elogio do homenageado, Mário Soares convidou Eugénio deAndrade.Quando me lembro desse discurso, não me perdoo a minha desorganização: não sobrou um papel, um rascunho, uma gravação fanhosa que fosse. Se sobrou, não sei onde está ou se ficou pelo caminho, numa das muitas mudanças de casa.
Nunca ouvi discurso assim. Entre palavras aparentemente elogiosas, Eugénio - sibilino, cínico - desfazia o homenageado.
De modo magistral, tecia elogios a "outros poetas" que não identificava. Não eram outros poetas, era simplesmente ele próprio, Eugénio, egocêntrico e intratável.O incómodo de algumas pessoas era evidente. Mário Soares mexia-se, nervoso.Os jornalistas trocavam olhares... Só Amália mantinha o ar sorridente.A dado ponto, Eugénio não resiste à estocada final: "Pedro Homem de Melo, o maior dos poetas menores."...
À hora de jantar, no Hotel Santa Luzia, os assessores de imprensa do Presidente, com Estrela Serrano particularmente activa, procuram conversa com os jornalistas. Tinham a evidente preocupação de passar uma mensagem: o Presidente tinha sido surpreendido, nunca pensou que "o Eugénio fosse fazer uma coisa daquelas...".
Continuo convicto de que Pedro Homem de Melo estava lá de início.No final, procurei-o. Em vão. Mas entendi: um gentleman não iria estragar a festa e, por isso, saiu mais cedo, para não se cruzar com Eugénio.
PS: deste momento recordo ainda uma "grande" peça, no Público do dia seguinte. Assinada por José Alberto Lemos. Antes, claro, de ser ter aburguesado completamente. Um abraço, JAL, e desculpa ter roubado o título da tua peça, mas, como também o roubaste...
Mário Soares montou Presidência Aberta em Viana doCastelo.
Coube-me acompanhar em full-time, depois da experiência de um dia ou dois,alguns anos antes, em Coimbra. Já era quase veterano, a coisa fez-se.
Recordo um domingo de programa diminuto, coisa rara.
O ponto principal do dia presidencial consistia de uma homenagem póstuma aPedro Homem de Melo, em Afife.Local: uma casa, não sumptuosa, mas com ar nobre. Bonita, pintada de branco,com portadas verdes, rodeada por árvores frondosas. Pertencia a uns sobrinhos do poeta e divulgador do folclore português. Presumo que fora pertença do próprio Homem de Melo. Pelo menos, era "a casa dele em Afife".
Aquele Setembro estava quente, mas nesse domingo arrefecera e chovera.À tarde, o sol lá se mostrou. Espreitava a custo, entre a densa folhagem das árvores, num espaço que já não era grande e se revelava acanhado para tanta gente, acumulada entre o portão da rua e a entrada principal da casa.A terra molhada poupava-nos à poeira.
Ouvia-se água a correr numa fonte. As pessoas faziam um silêncio quase sepulcral. Numas colunas de som passava, baixinho, "Povo que lavas no rio" e outros fados com letras do poeta e cantados por Amália. Ela também estava lá, de vestido escuro. Preto, salvo erro. Não sei porquê, mas achei que Pedro Homem de Melo também lá estava.
Para fazer o elogio do homenageado, Mário Soares convidou Eugénio deAndrade.Quando me lembro desse discurso, não me perdoo a minha desorganização: não sobrou um papel, um rascunho, uma gravação fanhosa que fosse. Se sobrou, não sei onde está ou se ficou pelo caminho, numa das muitas mudanças de casa.
Nunca ouvi discurso assim. Entre palavras aparentemente elogiosas, Eugénio - sibilino, cínico - desfazia o homenageado.
De modo magistral, tecia elogios a "outros poetas" que não identificava. Não eram outros poetas, era simplesmente ele próprio, Eugénio, egocêntrico e intratável.O incómodo de algumas pessoas era evidente. Mário Soares mexia-se, nervoso.Os jornalistas trocavam olhares... Só Amália mantinha o ar sorridente.A dado ponto, Eugénio não resiste à estocada final: "Pedro Homem de Melo, o maior dos poetas menores."...
À hora de jantar, no Hotel Santa Luzia, os assessores de imprensa do Presidente, com Estrela Serrano particularmente activa, procuram conversa com os jornalistas. Tinham a evidente preocupação de passar uma mensagem: o Presidente tinha sido surpreendido, nunca pensou que "o Eugénio fosse fazer uma coisa daquelas...".
Continuo convicto de que Pedro Homem de Melo estava lá de início.No final, procurei-o. Em vão. Mas entendi: um gentleman não iria estragar a festa e, por isso, saiu mais cedo, para não se cruzar com Eugénio.
PS: deste momento recordo ainda uma "grande" peça, no Público do dia seguinte. Assinada por José Alberto Lemos. Antes, claro, de ser ter aburguesado completamente. Um abraço, JAL, e desculpa ter roubado o título da tua peça, mas, como também o roubaste...
6.6.05
A Grande Cruzada (por MV)
Estou naquela tarefa inglória de procurar casa.
Em Lisboa, encontrar uma casa boa e barata é como tentar descobrir bons jogadores no plantel do Benfica, eles existem, mas são poucos.
Qualquer quadradinho com 20 metros quadrados custa brutalidades. Exemplo: T0 no Saldanha, perto do Monumental, com 120 metros quadrados.
O anúncio estava na janela do prédio, com o respectivo número de telefone. Liguei. Do outro lado da linha, a pessoa encarregada de o vender (explicou-me que estava a fazer um favor a uns amigos que estavam no estrangeiro) deu-me mais algumas características do imóvel – prédio com três anos, mais garagem – e o preço: 500 mil euros (100 mil contos à moeda antiga).
Negociável, disse ele.
Eu assustei-me e desliguei imediatamente o telefone.
Outro anúncio interessante que aqui reproduzo na íntegra. O dito imóvel é um T3 na Avenida de Roma, com 100 metros quadrados, a 155 mil euros: “Apartamento OCUPADO com inquilina idosa, bom para investimento a longo prazo.”
Traduzido de imobiliarês para português será qualquer coisa como “Boa oportunidade, a velha está quase a morrer. Mais uns meses e a casa fica livre. Pode começar já a fazer as malas. Se demorar muito tempo e ela entretanto morre, o preço sobe para o dobro”.
P.S. – Tenho sido o menos activo de todos os ilustres elementos desta casa. O JPF já me ameaçou de expulsão, mas recomeço agora a minha prosa e irei fazê-lo com mais frequência, agora que não há futebol.
Em Lisboa, encontrar uma casa boa e barata é como tentar descobrir bons jogadores no plantel do Benfica, eles existem, mas são poucos.
Qualquer quadradinho com 20 metros quadrados custa brutalidades. Exemplo: T0 no Saldanha, perto do Monumental, com 120 metros quadrados.
O anúncio estava na janela do prédio, com o respectivo número de telefone. Liguei. Do outro lado da linha, a pessoa encarregada de o vender (explicou-me que estava a fazer um favor a uns amigos que estavam no estrangeiro) deu-me mais algumas características do imóvel – prédio com três anos, mais garagem – e o preço: 500 mil euros (100 mil contos à moeda antiga).
Negociável, disse ele.
Eu assustei-me e desliguei imediatamente o telefone.
Outro anúncio interessante que aqui reproduzo na íntegra. O dito imóvel é um T3 na Avenida de Roma, com 100 metros quadrados, a 155 mil euros: “Apartamento OCUPADO com inquilina idosa, bom para investimento a longo prazo.”
Traduzido de imobiliarês para português será qualquer coisa como “Boa oportunidade, a velha está quase a morrer. Mais uns meses e a casa fica livre. Pode começar já a fazer as malas. Se demorar muito tempo e ela entretanto morre, o preço sobe para o dobro”.
P.S. – Tenho sido o menos activo de todos os ilustres elementos desta casa. O JPF já me ameaçou de expulsão, mas recomeço agora a minha prosa e irei fazê-lo com mais frequência, agora que não há futebol.
Estertor na Relva
Hoje, em entrevista ao Público, o João diz-se "orgulhoso" pelo namoro com Marisa Cruz.
Percebo-o .
O homem acha que tem em mãos um troféu.
Toca de mostrar a loura ao povo para que os machos se roam.
Com o olhar de quem estava nos píncaros, João Vieira Pinto declarou um dia ao Sete:
"gosto de Bon Jovi e Valentim Loureiro".
Fiquei elucidado sobre o rapaz.
Só o talento na relva - que bastas vezes aplaudi de pé - o salvaria da mediocridade. Como a muitos.
Até chegar a este ocaso nada épico.
N`est Spa ?
Dia sim, dia não (RPS)
Li no JN de sábado que, esta semana, Luís Filipe Meneses vai começar a campanha “dia sim, dia não”. Consiste, diz o jornal, em proceder em dias alternados, até às Autárquicas, a uma inauguração em Gaia.
Não vou dissertar sobre a iniciativa em si. Nada tem de incomum.
Apenas faço notar que a designação da campanha se adequa na perfeição ao protagonista.
Meneses é “dia sim, dia não”. Às vezes, também “dia sim, dia sim, dia não, dia sim, dia não, dia não, dia não, dia sim...”... And so on...
Não por acaso, a sua alcunha no Contra-Informação é Luís Filipe Às Vezes. Às vezes é, outra vezes não é. É conforme.
Nos anos 90, por razões que se prendem com a minha profissão, conheci-o e mantive algum contacto.
Desde a primeira hora que se mostrou um indivíduo egocêntrico a ponto doentio, inseguro, depressivo, com a mania da perseguição. Meneses revela frequentemente comportamentos de tipo psicopata.
Um dia, tentou que lhe fizesse um frete. Não fiz. Telefonou-me, depois, a insultar-me, acusando-me de “andar a trabalhar” para os seus adversários. Nem me lembro de quem se tratava. Provavelmente, dos seus aliados do dia seguinte.
Desse “mergulho” por um certo PSD/Porto, ficou-me um desabafo de um militante sobre Meneses. “O gajo não é certo... Combina uma coisa hoje à noite, mas amanhã não toma a medicação e está tudo fodido...”.
Não vou dissertar sobre a iniciativa em si. Nada tem de incomum.
Apenas faço notar que a designação da campanha se adequa na perfeição ao protagonista.
Meneses é “dia sim, dia não”. Às vezes, também “dia sim, dia sim, dia não, dia sim, dia não, dia não, dia não, dia sim...”... And so on...
Não por acaso, a sua alcunha no Contra-Informação é Luís Filipe Às Vezes. Às vezes é, outra vezes não é. É conforme.
Nos anos 90, por razões que se prendem com a minha profissão, conheci-o e mantive algum contacto.
Desde a primeira hora que se mostrou um indivíduo egocêntrico a ponto doentio, inseguro, depressivo, com a mania da perseguição. Meneses revela frequentemente comportamentos de tipo psicopata.
Um dia, tentou que lhe fizesse um frete. Não fiz. Telefonou-me, depois, a insultar-me, acusando-me de “andar a trabalhar” para os seus adversários. Nem me lembro de quem se tratava. Provavelmente, dos seus aliados do dia seguinte.
Desse “mergulho” por um certo PSD/Porto, ficou-me um desabafo de um militante sobre Meneses. “O gajo não é certo... Combina uma coisa hoje à noite, mas amanhã não toma a medicação e está tudo fodido...”.
4.6.05
Oh não...
José Feliciano num festival chamado Cool Jazz Fest ?
3.6.05
Chuchadeira (RPS)
Um post num dos blogs do lado (provavelmente, o melhor blog do mundo) fez-me lembrar o quanto detesto circo.
Não me parece que seja um trauma, mas também não é coisa que eu consiga explicar de forma escorreita.
É assim desde miúdo. Mantenho, aliás, em relação ao circo, uma elevada coerência de sentimentos ao longo da vida. Não acontece assim em muitas outras coisas.
À excepção dos trapezistas e malabaristas, detesto tudo o resto que o circo oferece: ilusionistas, cãezinhos amestrados (ou cavalinhos, ou leões, ou tigres) e pratos a girar em espetos ou algo similar... E, primeiro que todos os outros, os palhaços. E o particularmente odioso “palhaço rico”. E o tom de voz dos palhaços. E a música que a maioria dos palhaços toca.
Daí que, tal como o amigo do blog do lado, também se me revela execrável, na literatura, teatro, cinema, bailado, seja em que área for, o tema do palhaço que está triste e tem de fazer rir os outros. É, de facto, do mais lamechas que existe. É uma chuchadeira.
Não me parece que seja um trauma, mas também não é coisa que eu consiga explicar de forma escorreita.
É assim desde miúdo. Mantenho, aliás, em relação ao circo, uma elevada coerência de sentimentos ao longo da vida. Não acontece assim em muitas outras coisas.
À excepção dos trapezistas e malabaristas, detesto tudo o resto que o circo oferece: ilusionistas, cãezinhos amestrados (ou cavalinhos, ou leões, ou tigres) e pratos a girar em espetos ou algo similar... E, primeiro que todos os outros, os palhaços. E o particularmente odioso “palhaço rico”. E o tom de voz dos palhaços. E a música que a maioria dos palhaços toca.
Daí que, tal como o amigo do blog do lado, também se me revela execrável, na literatura, teatro, cinema, bailado, seja em que área for, o tema do palhaço que está triste e tem de fazer rir os outros. É, de facto, do mais lamechas que existe. É uma chuchadeira.
Ainda há quem queira mudar o mundo
Vejam lá esta patetice que acabo de receber :
"No próximo dia 20 de Julho pretende-se juntar 600 milhões de pessoas em todo o mundo para saltarem em simultâneo a uma determinada hora, cf este site . O que se pretende com este mega-salto é conseguir que a Terra altere a sua órbita, afastando-se ligeiramente do sol. Este fenómeno terá como consequência a resolução do aquecimento global."
Nem para o umbigo (RPS)
Em tempos de telelixo, é quase uma heresia criticar o que não se inclui nesse lote maioritário dos dias de hoje.
Mas entre a produção televisiva que não envergonha nem estupidifica, também há coisas más. E coisas chatas, chatérrimas.
É este o caso o programa Clube dos Jornalistas, na Dois.
Os temas, quando não estão estafados, são desinteressantes em si mesmos. A isto associa-se um ritmo sonolento - porque os entrevistadores são jornalistas exteriores ao meio - o que faz com que qualquer entrevistado se torne também sonolento e desinteressante, mesmo nas raras vezes em que não o é.
Pelo que tenho visto, o programa têm dois pivots que se revezam.
Um homem que não conheço, de bigode, com ar de funcionário de uma antiga Conservatória do Registo Civil, e uma senhora, Estrela Serrano, que se distinguiu servindo Mário Soares em Belém.
Ambos, em especial a senhora, fazem perguntas que são verdadeiras declarações políticas de fundo. A consequência mais comum é a do bloqueio dos entrevistados que já não sabem o que dizer depois de tanta “faladura”.
Podia até ser um programa sem interesse para o público em geral, mas minimamente estimulante para o umbigo de uma classe. Nem isso é.
É o programa mais chato da televisão portuguesa.
Mas entre a produção televisiva que não envergonha nem estupidifica, também há coisas más. E coisas chatas, chatérrimas.
É este o caso o programa Clube dos Jornalistas, na Dois.
Os temas, quando não estão estafados, são desinteressantes em si mesmos. A isto associa-se um ritmo sonolento - porque os entrevistadores são jornalistas exteriores ao meio - o que faz com que qualquer entrevistado se torne também sonolento e desinteressante, mesmo nas raras vezes em que não o é.
Pelo que tenho visto, o programa têm dois pivots que se revezam.
Um homem que não conheço, de bigode, com ar de funcionário de uma antiga Conservatória do Registo Civil, e uma senhora, Estrela Serrano, que se distinguiu servindo Mário Soares em Belém.
Ambos, em especial a senhora, fazem perguntas que são verdadeiras declarações políticas de fundo. A consequência mais comum é a do bloqueio dos entrevistados que já não sabem o que dizer depois de tanta “faladura”.
Podia até ser um programa sem interesse para o público em geral, mas minimamente estimulante para o umbigo de uma classe. Nem isso é.
É o programa mais chato da televisão portuguesa.
2.6.05
O Maior !
.
Europa no Churrasco
.
Entre um Não na França e um outro na Holanda, em míseros dois dias, a Comissão Europeia quis provar que a União pode não fazer a força, mas também não acaba no prato.
O mundo lixou-se?
Bah, nada disso.
Foi aprovada uma proposta de directiva para melhorar o bem-estar dos frangos.
A decisão - tomada na mesa de Bruxelas - foi comunicada antes do almoço de terça-feira.
Entre um Não na França e um outro na Holanda, em míseros dois dias, a Comissão Europeia quis provar que a União pode não fazer a força, mas também não acaba no prato.
O mundo lixou-se?
Bah, nada disso.
Foi aprovada uma proposta de directiva para melhorar o bem-estar dos frangos.
A decisão - tomada na mesa de Bruxelas - foi comunicada antes do almoço de terça-feira.
O Mundo a seus pés, a seu tempo o Universo
Tanto quanto percebi, Portugal não enviou ninguém ao concurso de Miss Universo.
Terá sido uma medida de apertar o cinto ?
Não percebo. Não é essa a especialidade das modelos ?
Ganhou esta rapariga do Canadá. A Natalie.
Agora o grande mistério é este:
Por que razão coexistem as Miss Mundo e Miss Universo ?
Será que este último concurso inclui marcianas, saturnianas, mercurinas ?
Fui ver quem tinha ganho a Miss World e sinceramente não vi nada de alienígeno.
Ora vejam lá...
Outra coisa: Por que razão mandamos de Portugal alguém para a Miss Mundo e não para a competição Universo ? Não sei, mas se Patrícia Oliveira - esta sorridente do Cacém - foi tentar gaanhar o Mundo , não deveríamos mandar, hum, uma mulher do Norte para a Miss Universo ?
Ah, se calhar é como a Liga dos Campeões.
Umas têm entrada directa, outras têm que ir a uma pré-eliminatória...
Terá sido uma medida de apertar o cinto ?
Não percebo. Não é essa a especialidade das modelos ?
Ganhou esta rapariga do Canadá. A Natalie.
Agora o grande mistério é este:
Por que razão coexistem as Miss Mundo e Miss Universo ?
Será que este último concurso inclui marcianas, saturnianas, mercurinas ?
Fui ver quem tinha ganho a Miss World e sinceramente não vi nada de alienígeno.
Ora vejam lá...
Outra coisa: Por que razão mandamos de Portugal alguém para a Miss Mundo e não para a competição Universo ? Não sei, mas se Patrícia Oliveira - esta sorridente do Cacém - foi tentar gaanhar o Mundo , não deveríamos mandar, hum, uma mulher do Norte para a Miss Universo ?
Ah, se calhar é como a Liga dos Campeões.
Umas têm entrada directa, outras têm que ir a uma pré-eliminatória...
1.6.05
Provérbios comentáveis
Dizem os árabes:
A velhice é o inferno da mulher.
A velhice é o inferno da mulher.
Um Hotel que acaba de fechar
Este é o rapaz que na cadeira de rodas difama a mãe e pragueja contra a vida.
Um dos quadros do espectáculo "Hotel Tomilho", que acabou esta semana a sua saga de várias noites em Lisboa. No fabuloso espaço da Casa dos Dias d'Água (experimentem !), uma visita sem guia pelos quartos de um hotel imaginário, acabando com os espectadores a tomar pequeno-almoço, todos juntos.
A criação dos Laika e do Teatro Regional da Serra de Montemuro é surpreendente.
Mas não para os iniciados neste tipo de "teatro participativo", onde o espectador fala com as personagens.
Seja uma empalhadora, uma televisão que nos assalta o espírito, um tocador de tuba sem calças, em cima de um frigorífico...
Não mais me esquecerei daquele louco que guardava água de trovões, explicando quão diferente esses líquidos eram de água de relâmpagos, por exemplo...
Já percebi por que razão estes holandeses adoraram trabalhar com portugueses.
Ambos somos povos que flutuam, vivem sobre botes e inventam terra.
A diferença é que os holandeses jogam com paixão, mas com rigor, pintam superiormente e pedalam desde a nascença.
Mas nós somos um país mais bonito. Acreditem.