20.6.05

 

Generosidade (RPS)

NOTA PRÉVIA: este post é sobre a condição humana, não sobre futebol.



As minhas primeiras memórias do José Torres são simpáticas: já veterano, jogava na equipa maravilha que, então, José Maria Pedroto construiu em Setúbal, a partir do lastro deixado por Fernando Vaz.
Ainda me lembro: na baliza Vaz (ou Joaquim Torres). Conceição (mais tarde, Rebelo) Carlos Cardoso, José Mendes e Carriço (mais tarde, João Cardoso). Octávio, José Maria e Matine... Duda, José Torres e Jacinto João. Jogavam, ainda, um Arcanjo e um Câmpora.

A memória seguinte já é antipática. É a dele ser, aos 40 anos, jogador-treinador do detestável Estoril-Praia, na primeira divisão. E de ser incensado por A Bola: era o Bom Gigante para lá, o Bom Gigante para cá, o passado glorioso no Benfica, enfim, tudo aquilo quanto a Redacção mais estrábica do país gostava e gosta ainda de enaltecer.
Acresce outro dado: a cada referência era exaltada a paixão do Bom Gigante pela columbofilia. Nada mais me afastará de um semelhante que a paixão por pombos ou rolas ou qualquer espécie de animais com penas e que passam o tempo – vou usar o termo – a cagar e a fazer esterco.

Uma terceira memória é a de uma reportagem da RTP, em Saltillo, no México, em vésperas do início do Mundial de 86. De tronco nu, papo para o ar, junto a uma piscina, o seleccionador José Torres, rodeado de vários jogadores nos mesmos propósitos, contava histórias e anedotas sobre Eusébio, ridicularizando uma pessoa de quem dizia ser amigo. Os jogadores riam, alarves. Sabemos o que se passou a seguir.



Há uns meses soube pelo Ribeiro Cristóvão que o José Torres estava gravemente doente. Padecia de Alzheimer ou de outro qualquer tipo de doença degenerativa.
De que valem, para que interessam as nossas antipatias numa hora destas?... Pobre Zé Torres.

Pobre mesmo. Li, em A Bola de 10 de Junho passado, que, durante um jantar-convívio no Algarve, promovido pela Casa do Benfica em Albufeira, foi lançado um peditório para recolher fundos de ajuda a José Torres. Custa entender como é que uma estrela da selecção nacional, um ídolo de multidões, um atleta de primeira linha que, dentro dos valores da época, auferiu salários elevados chega a este ponto de necessidade. Mas não é o primeiro nem será o último.
O momento era propício, emocionalmente favorável, para o lançamento de uma recolha generosa de fundos: estavam 650 benfiquistas reunidos à mesa, em tempo de euforia pela conquista do título, com a presença do seu presidente, Vieira. Pois recolheu-se o dinheiro e fez-se as contas. 630 euros. Sim: 630 euros, 126 contos na moeda antiga. Em média, cada benfiquista presente contribuiu com mais de 90 cêntimos!!! Lê-se em A Bola que se tratou de “uma iniciativa que comoveu muita gente”.

As lágrimas não eram, com toda a certeza, de comoção, mas de riso. Espero que a família do José Torres tenha, neste momento difícil, a lucidez suficiente para devolver o dinheiro àqueles que quiseram gozar com ele.

Comments:
é assim a raça moura, RPS, muita parra e pouca uva. quando o deusÉbio estiver na banca rota, como já esteve quase, quase, tb lhe vão virar as costas...
no entanto ele era columbófilo, e eu acho uma vergonha fazer aquelas coisas badalhocas às pombas!!!
só mais uma, é que o estoril praia continua tão destetável como nessa altura...
 
... tanta pomba assassinada!

Simone de Oliveira
 
O Zé Torres tem a doença de Alzheimer?
Pobre rapaz! Passou os últimos 20 anos a prometer que um dia falaria sobre o que se passou em Saltillo, agora já não vai contar nada...
 
Excelente texto. Prova que as amizades clubísticas valem menos que 126 contos por cada heroi.

JCS
 
Mais uma "operação coração" mourisca.
Que raça imbecil!
 
É um clube de solidários....
 
O pior do país junto: benfiquistas e algarvios.
 
eu quando for velho vou preferir ter alzheimer que parkinson, acho melhor esquecer-me de pagar a cerveja do que verte-la toda.
 
Mais um benfica abatido ao efectivo: matem lo, matem lo

Oi barranco oi !
 
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