30.6.05

 

Emídio Guerreiro (RPS)

Nada escrevi sobre Álvaro Cunhal, Vasco Gonçalves, Eugénio de Andrade e, há mais algum tempo, Jorge Perestrelo na hora das suas mortes. Em todos os casos pela mesma razão: se sobre qualquer um deles escrevesse ainda em vida, seria, seguramente, crítico. Sobre Eugénio cheguei, por acaso, a escrever aqui, algumas semanas antes da sua morte.
A honestidade impede-me, nestes casos, de escrever coisas que não sinto. O respeito pela memória dos mortos e pela dor dos próximos impede-me de falar de assuntos que, naquele momento, não fazem sentido.

O caso de Emídio Guerreiro é diferente. Não que seja para mim uma especial referência, mas tratava-se de um homem sério, com uma vida repleta de episódios fascinantes, e que sempre mereceu a minha admiração.
Vi-o e falei com ele pela última vez em Março de 2002, num jantar da campanha de Ferro Rodrigues para as Legislativas, em Braga. Era impressionante a lucidez daquele homem de 102 anos. Só isso - idade e lucidez - bastava para uma pessoa o admirar. Ninguém aparenta 102 anos. Se o visse na rua e não o conhecesse diria tratar-se de um homem de 80.
Observei-o durante o jantar - comeu, bebeu, riu e conversou como qualquer outro dos presentes. Ouviu aqueles discursos... Bem mais velhos e corroídos mostravam-se o então líder do PS, Ferro, e António José Seguro.

Sempre me fascinou em Emídio Guerreiro o facto de ter lutado de livre vontade nas trincheiras da Guerra Civil de Espanha, ainda que no pior dos lados dessa guerra sem lado certo. Sabia da sua passagem pela Resistência Francesa, durante a Segunda Guerra, esse confronto com lado certo e lado errado.
Sabia, também, da sua amizade por Humberto Delgado. Guerreiro era amigo do seu amigo. Foi dos poucos amigos e correligionários de Delgado que não abandonou o General, depois deste cumprir o seu papel de idiota útil e começar a dar sinais de desiquilíbrio psíquico. Aconselhou-o até ao último momento a não se deslocar a Badajoz, naquele mês de Fevereiro de 1965. Louco, Delgado não quis saber.

Emídio Guerreiro ajudou a fundar e liderou o PPD, depois PSD. Alguma esquerda encaixou mal. A esquerda que propalava que de meio do PS para lá era tudo fascista. Não era. E foi Emídio Guerreiro que rompeu com Vasco Gonçalves. Li hoje no JN que chegou a dizer, nesse tempo escaldante, que, se fosse necessário, o PSD armaria 50 mil homens. Ele adorava trincheiras.
Aliás, vale a pena ler o JN de hoje por várias histórias que lá se contam.
Conhecia umas, outras não, como aquela do comunicado que, no início dos anos 30, Guerreiro escreveu, exortando o povo do Porto a receber o presidente Carmona "com merda às mãos cheias". Foi preso por isso.

No plano ideológico, não me sinto propriamente identificado com Emídio Guerreiro, mas identifico-me com o seu amor pela liberdade. E admiro a sua coragem física e política, a sua honestidade. É, aliás, foi um homem sério.
Como costuma dizer um amigo meu: é um tipo decente e não há muitos.

Comments:
AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!
acabaste de ganhar a taça de post mais ignóbil da blogosfera: parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
 
Partilho essa admiração pelo Emídio Guerreiro, no entanto, ó RPS, lado errado da Guerra Civil?...Por quem querias que ele combatesse? Pelo Franco?!
Francamente, ó RPS...
 
Já falamos disso, Aristóteles... (sim, ei falo com Aristóteles fora da blogosfera!).
No texto falo de dois lados errados, não de um certo e de outro errado...
 
Ó RPS essa do pior dos lados da Guerra Civil de Espanha não te conhecia. E Guernica, e Lorca e Viva la Muerte ??? Em Espanha, definitivamente, havia um lado certo e um lado errado, tanto quanto em 39/45 e Emídio Guerreiro estava lá, no lado certo
 
Quase concordo totalmente.
Havia um lado certo.
16 Valores!
 
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