30.9.05

 

Diário das Autárquicas, dia 5 (RPS)

Ouve-se todos os dias, por estes dias: as sondagens valem o que valem.
Haverá frase mais estúpida? Há, sim. Esta: a grande sondagem, a sondagem que verdadeiramente interessa, é no dia 9 de Outubro.
Vou vomitar.

 

OS MEUS BLOGUES - Interrupções (RPS)

O Interrupções é um blogue de visita diária. E não é só por simpatia e amizade.
É que Aristóteles escreve muito bem. Muito, muito bem mesmo. Quem escreve assim, tinha obrigação de escrever mais. Aí está um defeito deste blogue: produção irregular.

Dizem alguns mais próximos que ele é Filósofo por vocação, mas eu penso que o é mesmo de nascimento. Revela-o em alguns posts. Mas descansem: a abordagem de temáticas mais herméticas é sempre feita de modo despretensioso. À imagem do autor.

Por vezes, subliminar, está uma marca ideológica. Por sinal, diferente da minha. Mas é muito mais o que nos une.
Aristóteles revela grande poder de observação, sentido crítico, apurado sentido de humor e memória. Encontro-me no nicho do mercado blogosférico que procura blogues assim.

Se quiserem, espreitem aqui.

29.9.05

 

Os arruaceiros maus e os arruaceiros bons (RPS)

Numa rádio, um jornalista pergunta a um comentador: acha que os quatro anos de governação de Rui Rio podem explicar estes incidentes? (nos bairros do Falcão e de Aldoar)
Alguém se recorda se, em 86, alguém perguntou: os dois anos e meio de Mário Soares na chefia do governo do Bloco Central podem explicar os incidentes da Marinha Grande?
Não. Ninguém perguntou.

Em 86, na Marinha Grande, com Soares, ninguém procurou justificações para o sucedido. Os factos eram condenáveis. A falta de cultura democrática e cívica dos arruaceiros da Marinha Grande indignou as redacções.
Em 2005, no Porto, com Rui Rio, procura-se justificar o sucedido. Procura-se minorizar a gravidade dos acontecimentos. Procura-se concluir pela culpabilização do vexado, da vítima. A falta de cultura democrática e cívica dos arruaceiros do Porto agradou às redacções.

Não sei explicar porque razão é assim. Poderá ser por uma destas razões:
a) de 1986 para 2005, a qualidade das redacções mudou muito. Para pior.
b) as redacções estão repletas de jornalistas ao serviço da esquerda. Avençados a milhões.
c) as redacções estão repletas de jornalistas burgueses de corpo inteiro, mas que, por complexo, se dizem de esquerda e não têm o mínimo de cultura cívica e democrática.
d) as redacções estão, simplesmente, repletas de mentecaptos sem o mínimo de cultura. Cívica, democrática e sob qualquer outro prisma.

Claro que, agora, o que se discute são as acusações de Rui Rio ao PS, a resposta de Assis, a tréplica de Rio... Discute-se o ruído. Esquece-se o essencial.

 

Diário das Autárquicas, dia 4 (RPS)

Li por aí num jornal que o presidente da Câmara e recandidato pelo PSD em Mesão Frio disse que "o candidato do PS anda acompanhado por um cambada de bêbados que estão com ele até às tantas da manhã a beber copos".
Quero declarar aqui o meu apoio ao candidato socialista em Mesão Frio.
Se votasse em Mesão Frio, votaria, obviamente, no PS.
Exorto o povo de Mesão Frio a fazer o mesmo. E a fazer, também (a horas decentes, claro) uma espera ao presidente da Câmara. Para o deslombar.

 

Saiu caro (RPS)

Há 24 horas, ao colocar aqui um post intitulado 112, pensei para mim: ainda te sai caro... Saiu.

28.9.05

 

O inventor (MV)

Grandes inventores holandeses segundo a enciclopédia on-line Wikipedia: Laurens Janszoon Coster, que terá sido o inventor dos tipos móveis, embora a maior parte das provas históricas diga que foi Guttenberg; Cornelius Drebbel, o inventor do primeiro submarino; Christiaan Huygens, matemático e físico de várias conquistas; Zacharias Janssen, o homem do microscópio; Dietrich Nikolaus Winkel, a quem o mundo tem de agradecer pelo metrónomo; Conrad J. van Houten, o rapaz que patenteou um método barato de extrair gordura dos grãos de cacau.

Acrescento mais uma entrada, Ronald Koeman. Enquanto jogador, Koeman inventava vitórias quando tinha um livre frontal perto da baliza adversária, uma espécie de Geraldão holandês, tal como Simão faz actualmente. Era a sua especialidade. Enquanto treinador, coloca a sua mente criativa ao serviço do Benfica e já tem patenteados várias formas de gerir uma equipa de futebol. Ontem, em Old Trafford, descobriu em Beto qualidades para fazer de extremo-direito e, quando os seus contemporâneos o chamavam de louco, ele insistiu e defendeu a sua invenção até quase à última.

Já em Alvalade tinha descoberto outro extremo-direito de seu nome Carlitos, de quem ninguém conseguiu ainda extrair futebol e o rapaz já lá anda há uns anos, entre outras invenções. Na altura ninguém entendeu. Mas os visionários são assim, incompreendidos no seu tempo. Outra grande descoberta, foi a de defender um título de campeão dando vantagem aos adversários.

Contra um Manchester United de terceira, o Benfica até nem esteve mal, mas nunca chegou perto da vitória. Será legítimo dizer que Nuno Gomes, o grande goleador benfiquista dos últimos tempos, fez um golo e uma assistência em Old Trafford mas foi para o lado errado, que Koeman inventou uma estratégia de defender um empate, insustentantável quando o outro lado se chama Manchester United, mesmo que o pior dos últimos tempos. O triunfo era possível, mas a Koeman, que se contentava com um empate, saiu-lhe uma vitória moral.

 

Diário das Autárquicas, dia 3 (RPS)

A legislação que rege as eleições para o Poder Local deveria ser alterada no sentido de permitir que o eleitor pudesse votar para as Câmaras, Assembleias Municipais e Juntas de Freguesia que lhe apetecesse.
Essa possibilidade é facílima de executar através de sistemas electrónicos, mas eu até sou contra o uso desse meio em actos eleitorais (é um belo tema de debate, divide estudiosos e especialistas, mas fica para outra ocasião).
O eleitor deveria poder dirigir-se às localidades onde quisesse votar. Por exemplo, eu voto em Paranhos, mas também me interessa o que se passa, discute e faz ou não faz em Santo Ildefonso ou no Bonfim ou em Nevogilde. Ou em Mafamude, Gaia. Porque raio não tenho direito a intervir nestas freguesias?
O mesmo se aplica às Câmaras Municipais. Apesar de ter nascido e de viver no Porto, não deixo de me sentir envolvido nas Autárquicas em Lisboa e em muitos outros concelhos do país.
Bem sei que já estão a pensar: deveria ser bonito, os partidos a organizarem excursões... Esta situação poderia ser prevenida com legislação complementar, proibindo, por exemplo, a circulação de autocarros de passageiros em dia de eleições.
Mas devíamos ter a possibilidade de votar em mais de uma freguesia, em mais de um concelho.

 

112 (RPS)

As primeiras páginas dos jornais estão azuis. É uma campanha da TMN. Antes de o verificar, admiti tratar-se de uma mensagem subliminar pelos 112 anos do FCP. Pois é: 28 de Setembro de 1893.
As comemorações não começaram mal, ontem à noite, em Manchester. Mas aquela que ontem foi a nossa equipa está uma sombra do que era.

 

Na estrada (SM)

O que fará correr Ribeiro e Castro? A sombra de Paulo Portas, provavelmente. O que faz com que o líder de um partido se arraste em distritos e concelhos onde é apelidado de fascista à socapa?

Na estrada Castro não consegue evitar que lhe falem pelas costas do tempo do Paulinho das feiras "essa é que foi uma campanha", até se ouve entre os jornalistas.

E Castro começa a pensar, por certo, (lê-se no pensamento) que afinal foi um erro crasso vir de avião de Bruxelas para ganhar o congresso. ..e agora ver velhos alentejanos que têm pena dele, mercados vazios, apenas preenchidos pelos jotas.

O que fará correr Castro? Os alentejanos?

27.9.05

 

Diário das Autárquicas, dia 2 (RPS)

Com a excepção de João Teixeira Lopes, por ser um caso perdido - ele próprio e o seu Bloco da demagogia e da arrogância máximas, da promoção do terrorismo social e do totalitarismo besuntado com discurso melífluo - fico irritado quando os candidatos autárquicos do Porto dizem disparates. E, principalmente, quando utilizam argumentos provincianos e mesquinhos.

Pelo que conheço de ambos, enquanto figuras públicas e mesmo a nível pessoal, através de contactos profissionais de muitos anos, não atribuo a Rui Rio nem a Francisco Assis o defeito de serem provincianos. Mas a campanha deve estar a fazer-lhes mal.

Irritou-me, no debate da SIC-Notícias, ver Rui Rio afirmar que Francisco Assis não sabia nada de um determinado assunto porque é de Amarante e não conhece o Porto. Que argumento mais triste...
Irritou-me, também, ver Francisco Assis afirmar que o presidente da Câmara do Porto tem de ser um líder regional. Que vistas mais curtas...

Argumentos destes remetem para o pior de Fernando Gomes. E para Nuno Cardoso, no máximo da sua produção político-intlectual.

 

Dá Fundo

Os GNR foram tocar ao Coliseu. Não em nome próprio, apresentando um novo disco. Não. Foram tocar no intervalo dos discursos de Carmona Rodrigues para a CML.

Não me surpreende. Os Xutos também tocam para Carrilho.

Além disso, Rui Reininho disse sempre que guardaria o seu apoio político para uma mulher, negra e lésbica. Aí, confesso, o Tim tem as expectativas mais baixas.

 

Dar a cara pela perda da face

Carmona Rodrigues tem dado sucessivos tiros no pé.
O mais recente é o extraordinário jantar com taxistas no Campo Pequeno. Na acepção brilhante de Dora Pê, foi o Natal dos Taxistas. Até uma casa de banho privativa para fogareiros o senhor prometeu.

Depois de ter passado um debate a defender que na prática só um engenheiro pode ser Presidente da Câmara e de ter vestido um fato de populista demagogo no Coliseu dos Recreios, Carmona parece empenhado em dar votos a Maria José Nogueira Pinto.

A sua sorte é o medo de ver Carrilho na Praça do Município. Em Lisboa, sei de muita gente que vai votar sobretudo em vereadores.

 

Super choque

Se apreciada com humor a economia é coisa que até vale a pena. O problema é que geralmente não dá vontade de rir.

As últimas Contas Regionais do INE apresentam números quase revolucionários para o senso comum. Aparentemente, o Norte apresenta o mais baixo nível de vida do país entre 95 e 2002.
Ou seja, as estatísticas mostram exactamente o contrário do que muita gente pensava: que o Norte é que tinha o dinheiro, grandes carros, roupa boa,etc.

Das duas uma.

Ou o INE está a apresentar uma fraude estatística. Ou teremos todos que ir à Multiopticas. Porque quando eu vou ao Norte ( e para efeitos do INE, estes números são do Grande Porto, Minho-Lima, Cávado, Ave, Tâmega, Alto Trás-os-Montes, Douro e Entre Douro e Vouga) é isto que eu vejo - bons carros, boas roupas e sinais de alguma riqueza.

Mas esta não é a estatística que mais doi na alma a quem como eu ama o Norte, como seu filho e neto.

Li no Expresso que o consumo de alcool é agora maior no Sul que no Norte.
Como é que é possível ?

 

O dia sem Word Verification

É o que comemoramos hoje. Apetece-me.

26.9.05

 

Diário das Autárquicas, dia 1 (RPS)

Se o Engenheiro Sócrates fosse um tipo decente, marcava, nesta campanha, um comício em Felgueiras e iria lá apoiar o candidato do PS.
Se o Doutor Marques Mendes fosse um tipo decente, marcava, nesta campanha, comícios em Gondomar e em Oeiras e iria lá apoiar os seus candidatos.
Detesto aquele discurso do dantes é que era bom, mas estou certo de que, em idênticas circunstâncias, Sá Carneiro, Mário Soares e, até, Freitas do Amaral fariam isso.

25.9.05

 

Vá lá! (RPS)

Vá lá! Manuel Alegre avança! Já não estava à espera, confesso. Mas faz ele muito bem. Só continuo sem percerber porque andou tanto tempo a engonhar, mas isso agora também não é o mais importante. Importante é registar que, afinal, o homem ainda os tem no sítio. Não perdeu a coragem, a única (ou das raras) qualidades políticas que tem. E que é essencial, principalmente nos dias que correm.

Isto está cada vez melhor. Mas melhor ainda seria chegarmos lá para 20 de Outubro e ouvirmos o professor Cavaco: após aturada ponderação, decidi que não me candidato porque quero ter tempo para tratar dos netos, durante o dia, e, à noite, fazer porcarias com a devassa da Maria.

Seria perfeito.

24.9.05

 

Um ano de Funes (RPS)

Começou há um ano. Faz hoje. Podem verificar aqui.
Na altura, não soube de nada, ele não disse nada. Só falou quando eu me meti nisto da blogosfera, em inícios deste ano, e comentei o facto com ele.
Confesso que a minha rotina, quando chego ao trabalho, por volta das oito da manhã, passa por ligar o computador, verificar, no outlook, se há algum recado de trabalho urgente, espreitar o Fado Falado e, depois, abrir o blogue do Funes. Depois segue-se a abertura de outros blogues porque o trabalho tem tempo. Desses blogues passarei a falar aqui regularmente. Este post é o prelúdio da rubrica Os Meus Blogues, todas as sextas, aqui no FF.
Quanto ao blogue do Funes, já o disse aqui e repito: é o melhor blog do mundo.

23.9.05

 

Para quem não quer ouvir mais nada

O rádio ainda anda por lá, na mesma cama branca. Tinha uma botoneira muito física e pouco digital. E uma vaga luz amarela vagueava pelas frequências da Onda Curta e Média com essa coisa do FM ainda com poucos postos.

Nessa caixa roufenha, o meu pai habituou-se a ouvir rádio até adormecer. Tal filho, nesse lendário transístor de pouca antena, eu imaginei um mundo exterior. Como se no apartamento de infância só coubesse a ditadura do meu bairro e amigos de prédio, um clube, uma lancheira de comida preparada para o almoço, uma vista para o Bugio e navios sempre buzinantes na boca do estuário pela noite. Sempre a noite.

Com o abandono da cidade, fui entregue ao silêncio de uma aldeia onde o FM não chegava para o meu contento. Naquele contentor de solidões onde dormi na esperança da ressurreição urbana, aprendi a manejar a velha Sharp cinzenta, de som magnífico. Foi o tempo das grandes noites europeias, vitórias ouvidas num buraco serrano à custa dos narradores cujos emissores menos grão traziam à pureza altifalante. A Antena 1 foi a estação escolhida, com António Pedro, Costa Martins e outros, depois as sagradas noites de sexta-feira, escutando o Livre e Directo. Pela noite, sempre pela noite.

Pela uma da manhã, já com um transístor americano de boa recepção, fui fazendo culto do Som da Frente. No patamar de cidade a que tive direito na adolescência, gramei todo o tipo de rádio pela noite. Às escondidas dos pais, cheguei a entrar em directo para a Comercial e ganhei um livro de arbitragem por ter acertado numa regra de fora-de-jogo ! E ainda me lembro de ouvir programas do Rui Castelar, muito virados para a noite borguista e comezaina, com ligações em directo a discotecas!

Nessa cidade a que devo mais do que quero, passei centenas de horas e horas na noite da rádio. O primeiro programa que me deixaram assinar, em 91, chamou-se Lusitânia e muitas, muitas pessoas lembrar-se-ão dele. Foi o meu primeiro “filho”, feito à noite, contra a opinião dos pais e de muita gente que achava que a rádio era para agradar às pessoas, dando o que elas queriam ouvir e não o que era inovador. Ainda hoje ouço este tipo de debates no meu actual local de trabalho, década e meia depois.

Já do lado de dentro da rádio, fiz quase tudo nesses anos. Incêndios, missas, entrevistas, relatos de futebol, sátiras radiofónicas, antena aberta para vadios, passagens de ano, Carnavais, até programas de música-para-amar (como aquele programa que estão a ver qual é mas não me apetece citar para não me obrigar a dizer que é e sempre foi uma bela merda ).Este ano consegui mais umas proezas. Nunca tinha feito emissão de um funeral, mas tocou-me a trasladação do Papa e depois o fim do Conclave. Mas há tanto para fazer…

Como ouvinte, a noite trouxe-me o António Sérgio e depois o Rui Vargas, o marcante Vargas de tanta gente de hoje. Foi no Margem de Certa Maneira que ouvi uma fabulosa versão de Transmission, dos Joy Division, pelos Low.

Mais tarde, quando saí de casa para a grande cidade, a noite da Rádio foi sobretudo a descoberta do Luís Mateus (que morreu estupidamente cedo e teve um magnifico concerto póstumo de homenagem que guardo religiosamente em cassete) e também a Inês Menezes, que antes de se estabilizar na manhã, fez umas madrugadas onde descobri o emergente e extraordinário Jeff Buckley, noutra fabulosa versão, “Hallelujah” do velho Cohen.

Foi tempo da XFM - no seu lançamento- e também do Henrique Amaro na 3, incontornável para quem como eu tinha estado no circuito de programas de rádio de MMP no princípio dos anos 90. E isso é uma coisa que de que me orgulho muito.

A última vez que fiz um programa de autor foi uma perninha em Torres Novas, para ajudar, nos intervalos da minha entidade patronal nacional. Chamava-se Bebop, e arriscando a imodéstia sempre me pareceu um belíssimo programa de jazz, feito a meias com o Paulo Silva, companheiro de muitas batalhas pela música portuguesa em terras mais orientadas para a bebedeira, os cavalos e a grunhice do hard-rock.

Ainda hei de recuperar esses dois programas, o Bebop e o Lusitânia. São meus “filhos”, pronto.

Para já vou, como digo com RC desde as aventuras matutinas, para o sofá da rádio.
Regresso à noite, falando para quem nos escuta porque não quer ouvir mais nada.

22.9.05

 

Já não falta nada para a festa da Hillary



















Nagin fez bem o seu trabalho, não acham ?

 

Em defesa do automóvel (RPS)

Mais uma cretinice. Com marca da Europa e do politicamente correcto. É o Dia Europeu Sem Carros.
A cultura dominante promove a diabolização do automóvel. Por outras palavras, promove a diabolização de um dos maiores símbolos do progresso, de um ganho civilizacional, de um factor de desenvolvimento e de aproximação entre os homens, entre os povos.
Neste Dia Europeu Sem Carros, a minha homenagem a este senhor...





... o senhor Henry Ford, uma das mais importantes figuras da História Universal. Ele lançou a primeira linha de produção em série de um automóvel. O Ford T. O modelo que se apresenta aqui é o de 1908.






E hoje, mais do que em qualquer outro dia, para fazer cem metros utilizarei o meu carro.

21.9.05

 

A chuchadeira-mor da TV em Portugal (RPS)

Durante um exercício de zapping (a minha modalidade favorita enquanto praticante - como espectador prefiro futebol) detive-me uns minutos na RTP-N, vendo Estranhos Amores. Presumo que se designa assim aquele programa com o inefável Júlio Machado Vaz (para alguns, o Júlio Agachado Zás), e uma senhora, Gabriela Moita (por alguns também designada por Gabriela Atrás da Moita).

A dado passo, a entrevistadora interrompe a conversa: "não sei se vou dizer um disparate, mas... blá, blá, blá...". Uma pessoa que assistia a meu lado insurgiu-se: "isto é maneira de fazer uma pergunta???!!!".
Não é uma fórmula muito ortodoxa, de facto, mas a rapariga mostra, pelo menos, a humildade de admitir que pode dizer disparates. Porque os outros dois não. Os outros estão cheios de certezas e sabem tudo sobre sexo, relacionamentos amorosos e quejandos.

Há muitos anos (89? 90? 91?...) Vaz, em parceria com o Aurélio Pereira, inovou na saudosa Rádio Nova, no Porto. À meia-noite de domingo, num programa chamado O Sexo dos Anjos, mantinham conversa sobre questões intimistas: sexo, afectos, relacionamentos, desilusões, vitórias e derrotas da vida. Ainda não inebriado pelos holofotes da fama, ainda sem uma clique de admiradoras a adulá-lo, com os assuntos "frescos", ainda não esgotados, Vaz partilhava alguma da sua experiência clínica com um comunicador nato (a propósito: o que é feito do "velho" Aurélio?).

O Sexo dos Anjos era um programa de rádio que nos proporcionava conversas interessantes. Estranhos Amores é um programa de televisão onde se discute o sexo dos anjos. Literalmente.
Ali se dizem as maiores evidências num registo de grande descoberta. A conversa corre mole - banalidade aqui, esguicho sentimental ali. Uma chuchadeira pegada. É a maior chuchadeira da televisão em Portugal.

Vaz e Moita adoram ouvir-se a si próprios e um ao outro. A entrevistadora adora ouvi-los e mostra, em permanência, um pasmo pueril face às afirmações dos seus gurus. Ficam todos contentinhos com o que dizem. E trocam galhardetes, olhares cúmplices, pequenos afectos: em forma de sorriso néscio, Moita, em registo blasé, Vaz, sempre semi-deitado porque uma amiga lhe deve ter dito que ficava cheio de estilo.

Nuinguém lhes diz para acabarem com aquilo?

 

O ar da Choupana (MV)

É indiscutivelmente o pior estádio da Liga. Para quem não sabe, é onde o Sporting costuma perder consecutivamente com o Nacional da Madeira. A única vez que lá ganhou foi num jogo da Taça de Portugal, ainda o Nacional estava na II Divisão e era treinado por José Peseiro – já agora, todos os jogos que o Peseiro fez no Sporting contra o Nacional (três) deram em derrotas. Estão a ver a relação?

O Estádio Engenheiro Rui Alves (nome do actual presidente do clube, que mandou construir o estádio…) é uma coisa no topo da montanha em que o ar seguramente se torna mais rarefeito e não há jogo nocturno que não tenha nevoeiro. E se se diz mal das acessibilidades dos estádios do Euro, o que dizer das estradas (???) que conduzem à Choupana. Há dois caminhos possíveis, ambos a subir por estradas onde só passa um carro num sentido de cada vez, sendo que um deles fica fechado cerca de duas horas antes de qualquer jogo começar.

O estádio só tem uma bancada (tem capacidade para 2500 espectadores e está rodeado por muros de cimento com a ocasional grade para não ser só betão. O Nacional deve gastar muito em bolas ou, pelo menos, em apanha bolas, já que muitas das bolas rematadas para fora do estádio serão de difícil recuperação, algumas provavelmente rolam montanha abaixo na direcção do Funchal.

E depois há qualquer coisa que faz os jornalistas sentirem-se bem-vindos, especialmente naquelas alturas em que os nacionalistas se viram para trás e nos chamam tudo, especialmente aos homens da rádio, que lá estão a fazer o seu relato e têm gente a meio metro que os está a ouvir. Ainda melhor quando alguns dirigentes do Nacional se viram para trás e, alimentados pela vitória, se transformam em adeptos como os outros. A sensação é que deixamos ali grandes amigos. Mas também, diga-se, a coisa não é muito diferente em outros estádios.

Facto: nas duas últimas temporadas, fui à Choupana para o Nacional-Sporting e o Sporting perdeu. Não devo ser muito bem visto pela comunidade sportinguista, mas eu continuo a acreditar que tudo não passa de uma coincidência. Talvez seja do ar ou qualquer coisa que eles ponham na água.

20.9.05

 

Os quinze dias que não vão mudar a terra (SM)

Dicionário de pré-campanha

Arruada - termo instituído pelo PCP para a descida frenética de passô-bens do líder aos populares numa rua comercial cheia (?) de gente; em 2005 o mesmo termo começou a ser usado pelos democratas cristãos, constando aliás da agenda de campanha distribuida aos interessados.

Carne assada - ementa invariável de todas as refeições, antes dos comícios, de todos os partidos; quinze dias de enjôo total.

Comício - manifestação aos berros num misto de alegria (dos políticos) e de déja vu (de quem assiste), em que se promete tudo a todos.

Frente-a-frente - na última semana é fatal; televisão, rádio ou imprensa: quem promete, está lá.

Noite eleitoral - "and the winner is"

Sondagem - aquilo que jamais se pode fazer na última sexta-feira antes de botar o voto na urna, mas que o "Expresso" faz sempre.

Voto - o Desejado; é como Agosto: todos sonham com ele.

Campanha triste.Campanha alegre.

 

Food-i-do (RPS)

Há uns tempos, passeando pela blogosfera, deparei-me com o food-i-do. Não sei quem é. Uma volta pelo blog permite, contudo, inferir que se trata de um quarentão algo estalinista e muito benfiquista.
Ser quarentão é maleita que acaba por atingir a maioria das pessoas. Normalmente, demora 39 anos. O resto do cartão de visita não augura nada de bom. Acresce que, posteriormente, alguém me soprou tratar-se de um tipo dos Carvalhos, o que, salvo honrosas excepções, não constitui grande cartão de visita.
Mas deve ser tudo preconceito. Em boa verdade, digo-vos que no food-i-do aparecem boas postas com frequência. Como esta que aqui se reproduz. Com a devida vénia.

Ontem fui ao Via Rápida, a melhor discoteca portuense (para mim, claro).
Eu ando a ir ao Via Rápida quase todas as sextas-feiras. Vou sempre sozinho porque os amigos preferem outras andanças, para além de que os casados andam de cadeado ao pescoço. Deu-lhes para esse tipo de romance.
Por isso aprendi a gostar de ir sozinho ao Porto, ao Meu Mercedes, na Ribeira ( o sítio onde passa a melhor música) e beber uma cerveja para aquecer. Depois, por volta das duas da manhã, rumo à zona industrial e apresento-me na VR, povoadíssima de imberbes e rapariguinhas de peito muito supinado à entrada. O porteiro repara na minha presença quarentona e faz-me sinal. Adoro quando isso acontece porque me sobe o ego, confesso. E as pessoas afastam-se e eu faço a minha procissão de fé, jurando beber apenas dois gins e fumar três cigarros. Lá dentro a sala está sempre cheia e as trintonas são cada vez mais uma raridade. O pior é quando levo com o cheiro a leite das cachopas, muito decotadas e gordas (estão gordas as miúdas portuguesas senhores!) e com as calças a descobrirem o rego do cu muitas vezes sem cu nem coisa nenhuma.
Deixo-me ali ficar e danço e bebo e gosto de me sentir olhado pelas maduras. Imagino sede de sexo e de aventura, lances de amor febril. Noto-as e elas fogem com o olhar, a dizer que a vida é mesmo assim: “galemo-nos uns aos outros porque amanhã é dia de limpeza e domingo temos de ir à missa”.
E pronto, não tenho mais nada para dizer, descontado aquilo que nada disse.

19.9.05

 

Ric Hochet, os 50 anos (SM)

Meu amado, muito amado Ric. É o meu herói de sempre; lembro-me do primeiro álbum que os meus pais me compraram há muitos anos, "Os Signos do Medo"; é sobre uma viagem do jornalista parisiense ao interior francês profundo. Aí, junto à sua eterna Nadine, depara-se com uma pequena comunidade consumida pela superstição; o comissário Bourdon dá uma ajuda e o caso lá se resolve.

Ao longo de setenta álbuns, que colecciono como peças de museu, há sempre histórias simples, sobre um homem simples, previsível, que tem um gato (Nanar) e que sangra quando leva um murro. Tem agora 50 anos de vida, pelas mãos de Duchateau e Tibet numa linha clara perfeita, mas continua a ser um jovem, a trabalhar sempre para o mesmo jornal respeitável (que afinal, nem existe), o "La Rafale".

Dêem-lhe os parabéns quando o virem no último álbum, "50 ans d'enquêtes", pela Lombard.

 

CDU-FDP

Era giro ter uma coligação destas em Portugal.

18.9.05

 

Nunca pensei escrever um post a defender Carrilho... (RPS)

Dois pontos prévios (e mais um ponto extra que não tem relação directa com o assunto em questão):

- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, jamais votaria no PS por causa de Carrilho.
- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, votaria, muito provavelmente, no PSD, quanto mais não fosse para contribuir para que Carrilho não chegasse a presidente da Câmara.
(o CDS e a CDU encontraram excelentes candidatos em Lisboa. Espero que pretendam ser vereadores a sério.)

Arredado dos meios filosóficos (ao contrário de outras pessoas, como este amigo), apenas me dei conta da existência de Manuel Maria Carrilho, quando ele assumiu o cargo de ministro da Cultura, em 95.
Comecei a simpatizar com ele. Carrilho tinha um discurso consistente, ideológico, revelava-se um tipo inteligente e - coisa rara nos políticos de hoje - pensava em política, discutia política e tinha uma política.
Se atentarmos bem na cultura dominante, noventa por cento do que os políticos dizem é absolutamente neutro e consensual. Temem a ruptura, o conflito, o debate. Detesto esses políticos. Gosto de tipos que me permitem pensar, discutir, reflectir e, depois, concordar ou discordar deles. Essa é, aliás, a essência da política, pelo menos, do debate político em Democracia.

Mais tarde, Manuel Maria Carrilho deu um importantíssimo contributo para a qualidade da democracia em Portugal. Foi num congresso do PS, ainda com o sevandija Guterres. Foi um congresso à coreana ou à cubana, com toda a gente (e com a complacência dos jornalistas), a assobiar para o lado.
Dois homens - Henrique Neto e Manuel Maria Carrilho - tentaram dizer ao sevandija Guterres e a toda a gente que estávamos atolados num pântano. Em pateada, o Congresso socialista mal os deixou falar. Curiosamente, o execrável Almeida Santos, que neste fim de semana comparou Cavaco Silva a Oliveira Salazar, não se mostrou incomodado (até nem sou sensível a questões de moda, mas alguém me explica porque raio usa o execrável Almeida Santos os mesmos óculos de 1974?).

Naturalmente que num plano mais "pessoal", enquanto pessoa pública, Carrilho é um tipo detestável. Pelo emproamento, pela arrogância e, com o passar do tempo, pela tomada de atitudes e comportamentos que não só irritam e merecem crítica como surgem ao arrepio do seu próprio discurso.
O tipo tem maus fígados. Viu-se no debate da SIC. Mesmo quando ataca e insulta, Carmona mantem aquele ar simpático, afável. Carrilho destila ódio, domina-se para não espumar raiva. Se houvesse um revólver em cima da mesa, Carrilho sacava dele, certamente, e matava Carmona.

Apesar de tudo isto, e de muito mais que se poderia dizer, acho que se está a exagerar nas críticas a Carrilho. Por um lado, há um tom excessivamente moralista sobre o tipo de discussão que os dois homens travaram. A artimanha, a manhosice, a sacanice, o ataque pessoal, o insulto, até, fazem parte deste tipo de debates. Nas Presidenciais de 86, no debate Soares/Pintassilgo, Soares dirigiu-se por várias vezes à Engenheira com um oh Dona Maria de Lurdes, como se fosse a modista lá de casa. A luta política também é isto.

Depois, acho perfeitamente normal que Carrilho tenha recusado cumprimentar o adversário. Estava irritado, sentiu-se ofendido, achava-se cheio de razão. Cumprimentar Carmona seria uma hipocrisia.
Há algumas pessoas que conheço a quem eu também não aperto a mão nem cumprimento.
Não entendo a importância que a generalidade das pessoas dá a estes protocolos e como levam o episódio tão a peito. Será que nunca viraram a cara a ninguém?...

 

Pode o Google Earth ser muito bom



Que muita gente vai continuar perdida.
E outra tanta por ser encontrada.
E gente haverá que nem à lupa de satélite se identificará com vida na nossa terra.

Humana,
terra humana, zoomando-a,
não te encontramos ainda,
minha querida.

 

De novo em tom subtil escorrega-se para aí parece-me

Os leitores fieis do FF sabem bem que aqui já zurzi forte e feio em Carrilho. Sinceramente, acho que está tudo dito sobre o homem. Por isso o que se passou nesse debate - que eu não vi - não espanta. Chegou-me a ideia de um Carrilho mal educado, mas já pude ler e ouvir que Carmona também pisou por vezes o risco.

Em breve, penso voltar à questão autárquica. Até porque nos comments do último MV encontrei leituras muito acertadas da situação em Lisboa. E não faltarão notícias até 9 de Outubro, concerteza.


O que me traz por ora ao vosso ecrã é uma constatação vagamente auto-crítica que me parece suficientemente pensada para partilha bloguística. Noto de uma forma cada vez mais clara que a cobertura jornalistica da campanha eleitoral em Lisboa está a resvalar para um claro anti-carrilhismo (que foi acicatado pelo próprio numa nojenta entrevista ao Expresso).

Exemplo: Não é para mim claro que episódios como o do aperto-de-mão-que-não existiu não aconteçam noutros debates televisivos com outros candidatos (sinal dos tempos, consegui escrever três nãos numa frase). E ainda não vi, por exemplo, uma séria análise a ideias lançadas em pré-campanha como a divisão de Lisboa em 6 distritos urbanos...

A isto junto uma outra nota. Não acredito numa predisposição jornalistica para favorecer o PSD em Lisboa (não existe, penso eu), mas não deixo de observar um comportamento algo macio dos jornalistas face a Carmona Rodrigues. A verdade é que ninguém ainda percebeu que ideia tem este senhor para a cidade e se de facto concordou com Santana Lopes, nomeadamente na loucura escavadora chamada Tunel do Marquês.

A questão é que enquanto Carrilho insultava jornalistas, Carmona convidava-os para almoçar ou nalguns casos a beber um copo . E isso pode não o beneficiar directamente (os repórteres e os seus editores não são assim permeáveis ) mas coloca-o num plano de afabilidade que é muitas vezes um engodo para os jornalistas. Neste caso, a seriedade de carácter pode ser uma forma de charme. E a comunicação social não gosta de ser maltratada pelos politicos.

O tema é extenso e mais velho que Manuel de Oliveira. E acho que merece ir a discussão até Janeiro. Pensem bem nas relações distintas que Cavaco e Soares mantiveram com os jornalistas durante as suas carreiras politicas.

 

Só para avisar

Nas próximas semanas, alguns dos cronistas residentes voltam ao comboinho dos políticos. É inevitável que se sucedam algumas notas sobre as eleições que se avizinham. O FF é - como sabem - um espaço de liberdade onde cada um diz o que pensa sobre o que lhe apetece, assinando minimamente a sua prosa.

Parece-me importante sublinhar esta frase, neste momento, dado que o Governo acaba de anunciar uma proposta de lei para a criação da Entidade Reguladora da Comunicação Social. Ora, neste documento parece-me claro que o Estado pretende intervir de forma directa nas edições electrónicas, subtilmente descritas com palavreado capaz de incluir os blogs nesse Big Brother legislativo.

Mas estarão Augusto Santos Silva, José Sócrates e o PS a pensar condicionar a opinião produzida nestes formatos ?

Não sei. Mas aqui, meus amigos, mando eu e quem eu quero que aqui mande. E diremos o que nos apetecer no pleno uso das nossos direitos cívicos e em respeito por iguais deveres.

É só para avisar...

P.S. Uma revolução de blogueiros é que era giro, não era ?...

16.9.05

 

Carrilho Vs. Carmona (MV)

A coisa podia ter sido promovida como um combate de boxe e passar em canal codificado. Nos EUA, qualquer coisa para decidir um título de boxe, desde os pesos-mosca até aos pesados, passa sempre em “pay-per-view” e cada espectador pagará qualquer coisa como 12,95 dólares para ver um combate que tanto pode ser de KO ao primeiro assalto como se prolongar por dez ou mais assaltos. Pode ter sorte e ver alguém a arrancar uma orelha do outro à dentada – foi o que fez Mike Tyson, que agora se sabe ser um fervoroso adepto do Benfica, a uma das orelhas de Evander Hollyfield.

Ontem, não foi ainda o combate do século, porque esse está marcado para daqui a uns meses, com todos os ingredientes de um combate de boxe, reedição de antigas rivalidades, troca de palavras e muito jogo de cintura e de pés. Esses serão os pesados. Daqui a umas semanas, combatem aqueles a que se poderão chamar os pesos-pluma, em várias arenas por todo o país.

Na arena de Lisboa, há um combate interessante. No canto esquerdo, de calções rosa, com grande peso intelectual e estatura de ex-ministro e uma esposa que trabalha na televisão, Manuel “não me chamem Maria” Carrilho. No canto direito, de calções laranja, peso e estatura indeterminados, Carmona “não me chamo Santana Lopes, mas o Frank Gery até é um tipo barato” Rodrigues.

Ontem, na SIC Notícias, cumpriu-se mais um “round”. Não vi o combate na íntegra, vi depois uma selecção dos melhores momentos. Carrilho lançou o uppercut das obras do Parque Mayer, Carmona respondeu com “jab” de direita do preço da casa de banho do Ministério da Cultura. “Tu é que és mais despesista”, dizia um. “Não, tu é que és”, respondia o outro. “Você não tem hábitos democráticos!”, “Tenho sim senhor!”. “Isto é uma calúnia!”, “Você tem falta de carácter!”. Coisa civilizada, portanto.

No final, empate técnico, ou vencedor indeterminado. Depois de um combate tão ordeiro, foi uma surpresa quando Carrilho deixou Carmona de mão estendida quando este se preparava para lhe dar um bacalhau. “Grande ordinário”, murmurou Carmona. “O que interessa são as ideias e isto tem pouca importância”, concordaram os dois lutadores depois do combate. Pois…

Devia haver mais debates assim. Se não houvesse vencedor declarado, calçavam as luvas e faziam valer a força dos punhos. Agora imaginem um debate (combate?) a três entre o Avelino, o Valentim e o Alberto João. Pagava para ver.

 

O roupeiro (RPS)

Viram o que eu vi nas imagens televisivas?
Liedson faz 2-1 (ao Benfica, em Alvalade, sábado passado) e festeja o golo junto à bandeirola de canto com Sá Pinto e... Polga? Não... Luís Loureiro? Não... Rodrigo Tello? Não... João Moutinho? Não... Algum suplente que saltou do banco? Não... Festeja o golo com o roupeiro da equipa. Ou técnico de equipamentos, como se diz agora.

Como sabemos, o roupeiro não joga. Como sabemos, o roupeiro não tem lugar no banco de suplentes. Como sabemos, de acordo com os regulamentos das competições, o roupeiro não tem acesso ao relvado nem ao espaço que o circunda.

Pois nada disto é válido para o roupeiro do Sporting. Ele faz o que quer.
Lembram-se daquele folhetim de chacha com a camisola do Rui Jorge, do Sporting, que o Mourinho terá ou não rasgado? Quem estava lá, na confusão? O roupeiro do Sporting.

O roupeiro do Sporting está para os jogos em Alvalade como o Paulo China está para os flashes das revistas cor-de-rosa no Algarve, durante o Verão. Ou como o Animal (ou Empelastro) está para os directos televisivos. Está lá sempre a perturbar. E, neste caso, a violar regulamentos.

O roupeiro do Sporting é um cidadão portador de deficiência mental.
Era um miúdo perdido, desintegrado, que passava o tempo nas imediações de Alvalade e que os responsáveis do Sporting acolheram, recuperaram e integraram na sociedade.
O Sporting fez um trabalho altamente meritório, deu um grande exemplo que só pode merecer aplauso. O roupeiro do Sporting ganhou, até, direito a "ter nome" no mundo da bola. Trata-se de Paulinho Gama ou, simplesmente, Paulinho.

Um demente, ou qualquer outro cidadão deficiente, não pode ser excluído pelo facto de ser deficiente. Tem o direito de ser integrado na sociedade. Paulinho Gama conseguiu obter esse direito.
Uma vez integrado, uma vez tornado útil à sociedade, uma vez capacitado para cumprir uma tarefa que, não sendo altamente qualificada, acarreta esforço e responsabilidade, vê-se também obrigado a cumprir deveres.
Se os cumpre no dia a dia de Alvalade, deve também cumpir os que decorrem dos regulamentos dos jogos de futebol.
Deixá-lo andar por ali à solta, violando as regras, e potenciando situações de conflito só porque "coitado, é tolinho, mas é um tipo porreiro..." não deixa de constituir, também, um quadro de discriminação. Inaceitável. Como inaceitável é a impunidade de que o Sporting goza. Se fosse o roupeiro de outro clube, havia, no mímino, multa pesada da Liga.
Já agora: será que em nos jogos da UEFA em Alvalade se passa o mesmo?...

 

Azul Eléctrico














Este é o homem onde Jon Spencer foi buscar muita inspiração. Procurem bem nas discotecas. Os puristas do blues não gostaram quando ele meteu caixas de ritmos no velho balanço azul.
O seu nome, RL Burnside.
Morreu aos 79 anos.

15.9.05

 

O pensamento ping pong ( SM )

Em breve gostava de falar sobre as autárquicas, mais em cima das eleições; mas, como estou morta por que cheguem as presidenciais fica um top mais das declarações erráticas dos protagonistas.

O Cavaco

há um ano era assim: he, eu sobre esse assunto não falo, podem fazer a pergunta 20 vezes

há pouco tempo era assim: eh, tenho que falar com a minha família, já viu que isso ia mudar a minha vida toda...


há dias era assim (corajosamente fora de Portugal): eh, eu falarei muito em breve sobre esse assunto, eh...

O Soares

há apenas alguns meses: nem pensar em recandidatar-me, apoio totalmente o dr Alegre se ele avançar.

há apenas umas semanitas : dadas as circunstâncias, vou ter que repensar, falar com pessoas. Darei resposta depois.

há apenas dois ou três incêndios atrás: sou candidato, e vão ver na campanha que a idade não é argumento contra.


Agora as apostas: alguém sabe se o Cavaco vai comer bolo rei na campanha? E se alguma velhota vai apertar uma bochecha ao Soares? E quem é que poderá estragar a festa de ambos ao aparecer no meio?

Bet and Win, folks (publicidade à Liga, ham...)

 

Gente séria (RPS)

Há uns anos, no tempo do Bobby Robson, o FCP recebeu o União de Lamas, da Segunda B, para a Taça. Empatámos a zero, após 120 minutos. O capitão do Lamas falhou um penalty aos 119.
O desempate foi num dia de semana, à tarde. Integrei uma vasta delegação que se dirigiu do meu local de trabalho até Santa Maria de Lamas para ver o jogo.

Ao outro dia, por volta das 10 da manhã, recebi um telefonema do meu banco, um Pinto e Sotto Mayor na baixa do Porto. Tinham ligado para lá do balcão de Lamas porque tinha sido encontrada uma carteira com cheques. Iriam enviá-la. No dia seguinte, fui ao meu banco buscá-la.

Desde esse dia que tenho em elevada consideração o povo de Lamas. Presumo tratar-se do mais honesto do país. E "torço" para que, um dia, o União de Lamas seja vice-campeão da Liga Bet and Win, apenas atrás do FCP.

E ainda hoje não me conformo com esta coisa do Milenium.
Que saudades do vetusto Banco Pinto e Sotto Mayor.

(este post surgiu após a leitura de um outro. Aqui, claro).

14.9.05

 

A melhor - ou das melhores - de Tarzan Taborda (RPS)

Tarzan Taborda não deixou de ser evocado no melhor blogue do mundo por Funes, el memorioso..

Desta vez, porém, o melhor estava nos comentários. O meu velho amigo Zé foi ao baú de memórias e presenteou-nos:


a melhor do Tarzan Taborda, para além de se gabar de ter sido guarda-costas do De Gaulle, foi quando, aos 60 anos, prometeu 5000 contos a quem o vencesse num combate de luta livre.
Houve um camionista de Leiria que aceitou o desafio, mas, na véspera, desistiu, alegando que tinha sonhado que iria partir uma perna e depois não poderia trabalhar.

Comentário, nos jornais, de Tarzan Taborda: Leiria nunca lhe perdoará...


Nunca mais teremos outro TT como este.
Obrigado, Zé.

13.9.05

 

As mulheres dos militares (SM)

Há um fenómeno novo no burgo; a partir de agora os militares, que por lei não podem participar em manifestações, vão passar a contornar a dita chamando as mulheres e o resto dos parentes para convocar protestos.

Passa a ser assim :"Oh Benedita, eu quero receber aquelas horas extraordinárias, anda cá e vai ali abaixo à esquina chatear o Sócrates...". E a Benedita lá vai, mais o filho, mais o tio, o avô e o boca doce é bom , é bom é.

Quando forem chamados para o Kosovo, Afeganistão ou Iraque também vão chamar a Benedita e o resto da prole para os substituir? Cheira-me a falta de coragem para assumir consequências.

12.9.05

 

Maricas! (RPS)

Apesar de um ou outro contratempo, considero-me um gajo com sorte. E um dos momentos de maior sorte na minha vida foi ter passado à reserva territorial.
Ainda foi no tempo do SMO de 16 meses, com quatro de recruta (dois anos perdidos, como aconteceu a vários amigos meus). Mafra seria o destino mais provável. Impossibilitado de recorrer a mais adiamentos e sem acesso a "cunhas", comecei a mentalizar-me para o desfecho mais que certo: chegar lá, desatinar, mandar um superior para destino desagradável e acabar preso.
Conformava-me a ideia de que cumpriria pena no presídio da Rua de São Brás, no Porto. Sempre respiraria o ar de casa.

Num dia de Maio (curioso: fixo bem datas e não retive esta) lá fui, com o mundo às costas, ao DRM, na Avenida de França. Ao verificar as listas, fiquei tão eufórico que fiz um esforço de auto-controlo. Nem reagi por recear a minha reacção. Vim embora como se nada fosse. Feliz e aliviadíssimo, claro.
Lá escapei. Carrego, claro, esse terrível handicap: ao contrário dos verdadeiros homens, eu não sei marchar...

Com questões como a da tropa, vem ao de cima a minha faceta mais radical, mais anarca. Mas é exclusivamente uma questão entre mim e tropa (não, não é trauma, não sou filho de militar nem há militares na minha família próxima ou distante). É embirração mesmo.
Na verdade, compreendo a necessidade da existência Forças Armadas, mesmo num país periférico, pequeno, pouco populoso, pouco desenvolvido, dependente.
Tratando-se um pilar do Estado, não me choca que os militares gozem, até, de alguns previlégios face a outros grupos profissionais. Mas exactamente por isso, já me choca que assumam comportamentos semelhantes aos de outros grupos.

Vem isto a propósito desta polémica dos militares. Confesso que ignoro detalhes, mas, basicamente, protestam contra o fim de alguns direitos e compensações várias e pretendem fazer uma manifestação. Parece que é ilegal... Enfim, um filme político-sindical com ingredientes jurídico-legais. Que não fica bem à tropa.

Não sei se é efeito da entrada das mulheres nas casernas, mas estes militares de hoje são uns maricas. Militares a sério só fazem uma de duas coisas: calam-se e obedecem ou, então, pegam nas armas, peças de artilharia, carros de combate, barcos, helis e aviões e fazem um Golpe de Estado. Mai'nada!

Maricas!

 

A última aquisição (MV)



"Os Sapatos Vermelhos" (1948), de Michael Powell e Emeric Pressburger.
Pura poesia. Em forma de filme.

 

Solução para velho problema (RPS)

Uma boa solução para o velho problema das compras a dois.
Encontrei-a aqui e roubei-a.


11.9.05

 

O meu derby (SM)

Fui ao derby. Fui ver o Sporting rir-se imenso da incapacidade total do glorioso (que há muito deixou de ser), com um sobrinho sportinguista que já aprendeu a gozar com as infelicidades (desportivas) da tia. E foi isso mesmo que ele fez - riu-se e gozou.

Assustou-se com as dezenas de petardos, perguntou diversas vezes se era fogo de artifício. Ficou extasiado com o golo de Liedson. E disse-me que este ano o campeão ia ser o Sporting. E eu dei-lhe razão. De cachecol encarnado ao pescoço eu dei-lhe razão. Porque era o primeiro jogo a que ele assistia no estádio, e merecia estar feliz, e porque é isso que se adivinha. São oito pontos de adeus. Não é brincadeira.

Alguém adivinha se Koeman chega mesmo ao Natal?

10.9.05

 

Desviozinho (RPS)

Confesso que acho uma chuchadeira aqueles blogues em que se sucedem poemas. Não faz o meu género. Por duas razões:

a) não gosto de blogues do género diário íntimo ou espelho da alma. E acresce que nunca foi essa a ideia de JPF quando, em boa hora, fundou o Fado Falado.
b) em boa verdade, não sou grande apreciador de poesia, embora goste muito de alguma (pouca) poesia.

Comecei a blogar no início do ano e nunca pus aqui nenhum poema. Mas alguma vez tinha que ser. É hoje. Apetece-me. É só um desviozinho à linha tradicional.


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião
qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos
dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há
aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça,
com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do
alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

(Álvaro de Campos)


 

We live together in a photograph of time


Há um novo culto por aí.
Um andrógino, de corpo e voz, traz melodias muito bonitas a quem gosta de se sentar em silêncio em casa, com as luzes apagadas, ouvindo apenas isso: música.

Antony vem tocar a Lisboa no dia 31 de Outubro. Aqui uma gravação solo ao piano em Itália.
Em cima a capa do EP "Hope there's someone" retirado do álbum "I am a bird now". Desse disco destaco entre outras canções "Fistful of Love" com Lou Reed. Fica aí Um minuto de aperitivo. A letra é muito bonita e vê-se logo nos primeiros versos:

I was lying in my bed last night staring
At a ceiling full of stars
When it suddenly hit me
I just have to let you know how I feel
We live together in a photograph of time

9.9.05

 

Dance, Dance, Dance

Ir a um clube de jazz nos Estados Unidos pode ser uma decepção.
Digo-vos isto com alguma ligeireza, porque não tenho a percepção de todo o país. Mas faço-o porque senti-me defraudado com o que vi no Blue Note, em Nova Iorque e no Preservation Hall, em New Orleans.

No primeiro impera o marketing. O Blue Note já não é uma referência de originalidade,mas serve de altar. O turista com ouvido pouco exigente sairá de lá satisfeito (eu até trouxe uma miniatura de um piano) e os donos da casa também - a cerveja é caríssima. É como ir emborcar para o Pavilhão Chinês em Lisboa.

No segundo a coisa é diferente. É provavelmente o clube de jazz mais aceitável dos tradicionais. Mas uma coisa me chocou de início. Acreditam que é proibido fumar naquele antro ? Como é que é possível que isso aconteça num clube de jazz ?

Tocava a Preservation Hall Band - uma espécie de vinho da casa para paladares mais uma vez turísticos. Se calhar a culpa é minha, por ser exigente. Mas não há pachorra para ouvir "ad nauseum" aquele jazz batido de origem. E porquê ?

Ora, porque o mais interessante na tradição original do jazz é, na minha opinião, o brass. Ou seja, a versão de banda amovível, mais próxima das nossas charangas. O jazz surgiu assim, nas praças e nas ruas e não nos clubes. Quando depois começa a ser socialmente aceite, então sim o jazz começa a institucionalizar-se, surgindo por exemplo mais pianistas como Jelly Roll Morton.

É preciso notar que a New Orleans inculta e negra foi a mesma que gerou o jazz. Primeiro com os franceses, depois espanhois, a seguir em manadas de escravos, a cidade foi ganhando camadas de creoulice e indisciplina capaz de suportar uma música que, de todas as existentes, ainda é a que mais extraordinariamente se segura na criação, de véspera ou no momento.



Reza a lenda que este caldo de grandes comezainas, música em cada canto e muita, muita dança de rua (o jazz dança-se, há quem o esqueça) fez o primeiro governador americano da Louisiana exclamar que a cidade era ingovernável devido à tendência irreprimível para o pezinho de dança.

Aquela gente não se rende. Nem às águas. Nem às evidências.

Nota: O quadro retrata a Imperial Orchestra, uma dessas bandas da New Orleans de viragem do século. Com este artigo termino a revisitação dessa cidade.


 

O bairro das artes

O primeiro país que me veio à ideia quando entrei em New Orleans foi a Holanda.
Ainda antes de conhecer a relação directa entre água e terra naquela cidade, eu vi Amesterdão ou Utrecht, bem lá no centro. Ali estavam aqueles eléctricos que se encontram nas principais cidades europeias, cheios de turistas, sobretudo.

Estava numa América que pouco arranhava os céus. Era uma cidade para andar a pé e de eléctrico. Os carros empandeiravam-se em contínuo naquelas vias de três e quatro faixas. E havia esse aviso sobre a violência na cidade.

De todos os pontos que visitámos, o mais seguro era aquele onde mais turistas andavam.Sei que o French Quarter não se destruiu com essa assassina Katrina. Ainda bem. Para mim nesse ano 2000 foi um mergulho na loucura durante algumas tardes e noites.

O bairro tem uma arquitectura extraodinária do século 19, muito colonial, como se fosse um enxerto de Havana nessa América Afro-Americana. Uma coisa assim:



Tudo isto em bares, esplanadas e varandins fervilhava em dois grandes ingredientes de qualquer alegria: álcool e música. Com uma diferença em relação ao mundo inteiro - rolava tudo 24 horas por dia.

Conduzidos por uma estouvada pós-adolescente recém casada com um boliviano, o meu grupo derreteu-se em comida cajun, shots inacreditáveis ( o mais famoso era a explosiva Hand Grenade ) , karaokes a abarrotar (que abriam desde manhã) e soltando o ouvido para os melhores baixistas e guitarristas de funk que já ouvi na minha vida. Estávamos então na Bourbon Street, a rua mais janada dos Estados Unidos.

Se um dia quiserem experimentar uma coisa superiormente melhor que as zonas nocturnas que frequentam, poupem uns trocos e vão até lá. É satisfação garantida.


8.9.05

 

Tróia (MV)

Quando era miúdo, fui muitas vezes passar férias a Tróia com os meus pais e avós. Nos últimos anos, mesmo depois da decadência acentuada daquele complexo turístico à beira do Sado, íamos à mesma para lá porque era o único sítio onde o meu avô gostava de ir, mesmo quando já quase não conseguia andar e estava praticamente cego. Se não fosse para Tróia, nem sequer saia de casa.

Tive sempre a impressão daquele complexo ser uma cidade fantasma, com pouca gente, serviços mínimos, edifícios abandonados, coisas que ficaram meio construídas, portas fechadas e enferrujadas e cada vez menos veraneantes com o passar dos anos. Cada vez havia menos fila para apanhar o ferry em Setúbal. Da última vez que fui para lá, há quase dez anos, uma das piscinas já estava fechada e já só havia um restaurante a funcionar no complexo.

Hoje foram abaixo aqueles edifícios que ficaram a meio e os morcegos foram fazer a colónia para outro lado. Esteve lá o primeiro ministro para carregar no botão – ou puxar a alavanca, em qualquer dos casos perdeu-se a carga simbólica do momento porque quando um hesitante Sócrates fez o gesto para mandar os prédios pelos ares, já um deles estava reduzido a escombros – e muitos convidados vip aplaudiram.

Isto é o que vai acontecer a seguir naquela magnífica península: “Vão nascer novos aparthotéis, 185 moradias turísticas, um centro de congressos, uma marina para 150 embarcações de recreio, um hotel de cinco estrelas, restaurantes, um casino, um parque aquático, um centro equestre e um eco-resort.” (in Publico.pt)

Espero que, pelo menos, não fechem as praias.

 

Ganância e cretinice (RPS)

Este tipo:





... é um futebolista admirável. Subavaliado pela generalidade da imprensa desportiva lisboeta pelas razões de sempre e que sabemos bem quais são.
Enquanto homem adulto, enquanto cidadão maior, de um ponto de vista cívico não passa, contudo, de um garoto, de um irresponsável. Acresce que, quando fala, é notório que o tipo roça a imbecilidade. É um cretino. Um néscio.

Obviamente que, se o não fosse, não teria deixado o FCP para jogar no Dínamo de Moscovo.
Quando soube da notícia, fiquei estupefacto. Como é possível que um futebolista de eleição troque o FCP pelo Dínamo de Moscovo? O campeonato português pelo russo? O Porto por Moscovo? Portugal pela Rússia?
Vi recentemente uma reportagem da SIC no condomínio fechado de luxo que o futebolista habita em Moscovo. Aquilo é de um luxo repulsivo, de móveis enormes, pesados, cheios de dourado e rococó. Obviamente que ele ali se sente mal. Eu também me sentiria e, por isso, jamais aceitaria viver ali.

A decisão de Maniche só se explica pelo facto de ter trocado 10 mil contos/mês por 40 mil/mês... E, talvez, pelo facto de se sentir diminuído perante outros colegas que emigraram. Para um futebolista, é um must ir jogar para o estrangeiro.
Se eu auferisse dez mil contos por mês, não haveria dinheiro que me levasse para Moscovo. Mas ele lá foi e descobriu agora que fez uma má opção. O sr. Nuno Ribeiro, vulgo Maniche, já não quer saber do dinheiro que lá ganha.

Maniche fez as declarações que sabemos, durante o recente estágio da equipa do sr. Scolari.
Até admito que dissesse estar arrependido, mas que o fizesse com um ar minimamente contristado. Ao assumir um erro, uma má decisão, um falhanço, qualquer pessoa adulta e de bem se sente mal. No mínimo, embaraçada. A ligeireza com que Maniche fez as declarações é chocante.


Com Maniche para Moscovo segiu também este tipo:





... outro grande jogador, um futebolista que também admiro e que tem - salta à vista - um QI bem superior ao do colega. Por isso, anda calado, mas deve também estar a tentar tratar da vida. Ou, então, sujeita-se apenas pelo dinheiro.
É bem capaz disso.
Recentemente, a SIC também apresentou uma reportagem com este. Costinha, que tem fama de vestir bem, exibiu para as câmaras um interminável fila de sapatos, botins, botas e similares. Nenhum par deve ter custado menos de 20 ou 30 contos. Confessou ter "para aí quarenta-cinquenta pares". Ainda está longe, portanto, da Imelda Marcos.
Camisas, disse ele, "tenho umas setenta". Nenhuma, estou certo, comprada na Feira de Custóias.
Costinha não é exactamente Maniche, mas, à sua maneira, não deixa de ser uma besta.


Não sou invejoso, é dos raros defeitos que não tenho. Mas não me importaria de ganhar os que estes tipos ganham. Agora, uma coisa vos garanto: se ganhasse o que estes cretinos ganham, até poderia ter outra casa e outro automóvel, mas o meu guarda-roupa seria o mesmo.

 

Mick Jagger e o aumento da idade da reforma(SM)

Mick Jagger foi a base de tudo. Sócrates inspirou-se nele quando pensou na Lei dos trabalhadores (cada vez mais, e mais, e ainda mais, oh vá lá...e mais) velhinhos.

A máquina britânica tem 63 anos, há quarenta que está com as pedras rolantes, é produtivo, salta, berra, é fantástico em palco, traz libras para a raínha gastar em vestidos violeta.

Ele tem álbum novo, e uma "Bigger Band". O que se quer mais? E ainda lhe faltam mais dois anos para se poder reformar. E agora, alguém se lembra dos Beatles? Hum...reformaram-se demasiado cedo, segundo Sócrates.

7.9.05

 

Zombies (MV)



Há muito por onde escolher e é de aproveitar. Desde o novo de George Romero “Land of the Dead”, que aconselho, mesmo para quem não saiba o que é um morto-vivo e que esta espécie em particular só come da mais fresca carne humana, passando pelo ciclo da Cinemateca “Zombies, Os Mortos Vivos” – ainda dá para ver “Plano 9 dos Vampiros Zombie”, de Ed Wood, “Army of Darkness – Evil Dead 3”, de Sam Raimi, “Shivers”, de David Cronenberg, “Braindead”, de Peter Jackson, “Ossos”, de Pedro Costa ou o Príncipe das Trevas”, de John Carpenter. Também há uma curta-metragem feita em Portugal por um espanhol “I’ll See You in My Dreams”, com o Manuel João Vieira a fazer de zombie e uma divertidíssima comédia inglesa “Shaun of the Dead”, que podem pegar sem reservas da próxima vez que passarem por um clube de vídeo.

 

Haja esperança


Eles estão a gravar. E a blogar sobre isso.
E se estes rapazes seguirem a tradição, devem testá-las em Portugal.
Seria o grande concerto dos próximos seis meses.
Bom... se o Beck vier, ficam empatados.
E se vierem juntos, podem fazer como em Los Angeles no dia 26 de Janeiro de 2002.
Thom Yorke e Beck em "I'm Set Free" dos Velvet Underground.




I've been set free and I've been bound
To the memories of yesterday's clouds
I've been set free and I've been bound

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

I've been blinded but
Now I can see
What in the world has happened to me
The prince of stories who walk right by me

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

I've been set free and I've been bound
Let me tell you people
what I found
I saw my head laughing
rolling on the ground

And now I'm set free
I'm set free
I'm set free to find a new illusion

 

Mitos Urbanos (RPS)

Ainda não vi (e tenho pena), mas já várias pessoas me falaram de um programa, O Caçador de Mitos, que passa no Discovery. Tanto quanto sei, o programa desmonta mitos urbanos. Por exemplo, o mito de que falar ao telemóvel junto a uma bomba de gasolina provoca uma explosão.
É evidente que, se provocasse, já teriam ocorrido milhares, milhões de explosões em todo o mundo. Só eu, no Porto e arredores, já teria provocado centenas, partindo do princípio que escaparia sempre ileso.
Dizem-me que, em programa recente, O Caçador de Mitos desfez este mito do telemóvel, criando as condições ideais para a ocorrência de uma explosão que não aconteceu.
Noutros programas, outros mitos foram desfeitos. Provou-se, por exemplo, que, debaixo de chuva torrencial, uma pessoa molha-se mais correndo do que se caminhar no passo normal. Portanto, não corram para escaparem à chuva. É inglório.

Mas, para além deste género de mitos urbanos facilmente desmentíveis e desmontáveis, há outro tipo de mito urbano impossível de ser testado porque depende exclusivamente do facto das pessoas acreditarem ou não.
Milhares de pessoas contam umas às outras - e acreditam - que uma senhora foi infectada com HIV ao sentar-se numa cadeira de cinema em Paris. Alguém lá tinha colocado uma agulha...
Também já me contaram que uma senhora foi morta por uma picada de cobra no Continente de Gaia. O réptil encontrava-se no meio de cachos de bananas importadas de África. Aposto que noutros países a mesma história é contada como tendo ocorrido numa cadeia local de hipermercados.

Deparei-me, entretanto, nos últimos tempos, com dois novos mitos urbanos. Não atingiram, pelo menos até agora, dimensão planetária, mas instalaram-se, firmes, por aí, em círculos que me são próximos. E, a essa escala, assumem já dimensões inusitadas.

Um destes mitos diz que no Triplex são colocadas determinadas substâncias no sistema de ventilação. Quem quer acreditar, acredita e encontra, assim, explicação para comportamentos e atitudes assumidos pela generalidade dos frequentadores. Acreditam sem se questionarem sobre as quantidades de alcool que ali se enfrascam nem sobre o acesso directo e fácil que qualquer pessoa tem a produtos capazes de induzir alterações comportamentais.

O outro mito diz que um pacato e discreto professor universitário do Porto sobreviveu, durante recente safari no Quénia, a três diferentes investidas de animais selvagens: de um rinoceronte, de um antílope (surgido durante uma micção do turista ao relento) e de um leão.
Se fosse apenas um episódio, as pessoas colocariam dúvidas. Mas, como notou Goebbels, as massas acreditam mais depressa numa grande mentira do que numa pequena mentira. E, perante três-ocorrências-três, os mortais pasmam e acreditam mais facilmente. E espalham o mito.

No caso deste novo mito urbano, um detalhe há que o torna ainda mais sedutor: enquanto que nas investidas do rinoceronte e do antílope valeu ao herói a velocidade de ponta, a investida do Rei da Selva foi resolvida com um colocar da mão do protagonista sobre a cabeça do felino. Assim o domou.
Neste mito urbano podem acreditar. Eu acredito cegamente. Porque quero. Porque sonhava ter - e até hoje nunca tinha tido - um amigo que é um mito urbano. Quem quiser conhecer o amigo Leonardo, um mito urbano, diga-me.

6.9.05

 

É justo dizer que...

...o que Deco fez aos luxemburgueses foi torturante. Nunca mais teremos um brasileiro assim na nossa selecção.

 

Katrina e as ondas

"O que é preocupante é que uma comunicação impregnada de política anti-Bush, seja a única a que os portugueses têm acesso. O pensamento único é isto." in Abrupto (sublinhado meu)

Pacheco Pereira diz isto sobre o que se veicula a propósito do Katrina. E isto é simplesmente uma asneira.
Grave vinda de quem sabe que hoje já ninguém consegue esconder nada de ninguém. Mais grave de quem sabe muito bem que está quase tudo na Internet.

Estão pois cavalgadas as ondas erradas.

 

Há alguém vivo aí no Marsh ?

Bob ainda está longe de casa, tanto quanto sei. Através do e-mail soube que está bem, está vivo. É isso que importa. Foi ele o nosso anfitrião em New Orleans. Um biólogo, regente da cadeira de Comunicação Ambiental da Loyola University, um amigo.

Ainda lembro o meu tremor quando nos disseram, “vamos lá embarcar”, pois sim, numa caixa de fósforos. Foi a minha primeira e até agora única viagem de hidroavião. O meu tradicional pânico de voar esmoreceu quando percebi que se caíssemos ali perto do Golfo do México, teríamos sempre a hipótese de planar sobre as águas.
Digo-vos: aterrar ou descolar num hidroavião é fantástico.

Bob queria mostrar-nos o efeito da intrusão da água salgada nas zonas pantanosas que separam New Orleans do Golfo do México a sério. O que é que isto tem a ver com o Katrina ? Bom, a água salgada vai comendo e matando um conjunto de vegetação pantanosa no delta do Mississipi, ou seja, aprofundando a erosão costeira, pela perda de terra. Para quem já está debaixo de água como NO, estes mecanismos são assassinos.

Durante muitos anos eu e os outros 4 jornalistas portugueses que lá estiveram (seria giro que os patrões soubessem quem têm nas redacções por estes dias…) brincámos com aquele sinónimo de pântano –o “marsh”… Foi uma ensaboadela de quatro dias (acho que foram quatro…) sobre pântanos, crocodilos, água salgada e furacões.

Muitos pés acima da água, vimos como os oleodutos do Golfo do México podem estilhaçar as protecções naturais de uma cidade. Depois, deram-nos alojamento no Lumcon – um laboratório marítimo onde devem ter ficado alguns cientistas a estudar este furacão diabólico.Fica numa zona que deve ter sido estilhaçada pelo Katrina.

Será que está alguém vivo por lá ?

5.9.05

 

Discreta e Segura? (SM)

Apresentada qual Leonor que vai pela bela verdura, discreta e (não) segura, eis-me aqui entre a Polifonia portuguesa do Século XXI, a Memória e a Liberdade....entre os passos em volta do Mundo, que simplesmente irei conhecer todo, do Yemen à Senhora da Graça.

Disse a quem de direito que aqui iria estender o meu fio de Ariadne; porque estamos perante um labirinto (de ideias), porque afinal os restantes são homens, e porque é sempre preciso um caminho de volta (ainda que seja para nem sequer saír do sítio).

Obrigada a quem convidou e bem feita àquele que se atreve a ler.

 

Políticos (RPS)

Eu tenho grande consideração e respeito pela generalidade dos dirigentes políticos.
Sempre que digo isto - que é sincero - costumo provocar a indignação de muitos. Prncipalmente daqueles que acham que os políticos são todos um bando de corruptos.
Outras pessoas acusam-me de contradição, pelo facto de eu ser muito crítico de muitos deles.
Sou, de facto, muito crítico de muitos deles e procuro sempre fundamentar as minhas teses, mas não com recurso a esse argumento de que são todos corruptos e de que "querem é todos abotoar-se...", como se costuma ouvir frequentemente.

Anjinho não sou e, claro, não tenho dúvidas que alguns políticos se deixem corromper. Mas o mesmo acontece com alguns agentes da BT da GNR, ou alguns fiscais das Finanças, ou alguns funcionários municipais, ou alguns examinadores de condução.
Mas não acho que uma pessoa se lance na actividade política por ser intrinsecamente corrupta e procurar terreno para se dedicar à prática da corrupção.

Conheço alguns tipos "do meu tempo", tipos do Porto e de Gaia, que, adolescentes, eram já intrinsecamente corruptos e mal formados. Faziam fretes a pequenos "capos" e viciavam eleições para Associações de Estudantes. Eram invariavelmente filiados na JSD. Passaram para o PSD, mas o certo é que não passaram da cepa torta.

Quem se disponibiliza e se dedica à actividade política tem um admirável sentido de serviço público que eu não tenho. Eu nem às reuniões do condomínio vou! Quero lá saber! Há-de aparecer alguém que se disponha a resolver os problemas.

O meu sentimento de admiração e respeito por quem se dedica à política reacende-se em tempo de Autárquicas. Não posso deixar de admirar aqueles que, tendo uma vida organizada, com trabalho, amigos, família, hobbies, se disponibilizam para servirem uma Junta de Freguesia. Ou que saem de casa numa noite de chuva copiosa para irem a uma Assembleia Municipal. Por razões profissionais, assisti a uma meia dúzia e fiquei traumatizado.

O mesmo se aplica aos que chegam a lugares "mais altos". Por maioria de razão.
À medida que sobem na actividade política, os políticos ficam sujeitos a um escrutínio que eu não suportaria.
Como não suportaria ter que me vestir de certa forma que não gosto, e calar certas coisas que me apetece dizer, e conter-me para não fazer em público certas coisas que me poderia apetecer fazer.
E não suportaria ter que ouvir o destestável hino nacional em pose de ufania e ser obrigado, por questões de imagem, a cantá-lo, a reproduzir aquela letra cretina.
E não suportaria ter que passar revista a uma parada. Alguém me dá um exemplo de algo que seja mais estupidamente inútil do que passar tropas em revista?...

É por tudo isto e muito mais que admiro e respeito quem se disponibiliza para o serviço público, independentemente do modo como, depois, o faz.
Conheço muitas pessoas que fizeram e fazem aldrabices com a sisa, com obras em casa, com a recepção da TV Cabo, com o IRS e o IVA, com facturas... Nunca se disponibilizaram para o serviço público e são, claro, os que mais tempo passam a vituperar os políticos e a chamar-lhes corruptos.

 

Guerra fria














UPI/Bettmann

Uma foto simbólica , não ?
1988, Gorbachev visitava Nova Iorque."Senhor presidente olhe para nós, para o apanharmos com as torres", imagino eu...ele há fotos do diabo...esta dá pano para mangas...

 

My Underwater Love for The Big Easy

A coisa dói-me. Estive em New Orleans em Outubro de 2000. Através de uma bolsa da FLAD, pude testemunhar e até avaliar a forma como a cidade se preparava para um turbilhão destes. Era exactamente este o risco que corria aquela gente que teima em viver abaixo do mar. Em dois ou três próximos posts quero contar-vos o que vi. E alguma coisa do que senti.

 

SM YES NO FF

Tenho saudades de Dora Pê.
Podíamos ter tido aqui belíssimas histórias da Cisjordânia, do Yemen, do Montenegro, de Moçambique, eu sei lá.
Tenho sempre a ideia de que ela pode voltar. Pelo menos o lugar está reservado aqui na casa.

Quem vem aí não vem para a substituir.
SM tem muitas notas de caderno para partilhar. A sua vida é feita de bancadas. São cabos estendidos e passos perdidos a ganhar de vista. Discreta e segura, uma caixa de surpresas a nossa SM.

Espero que tratem bem dela, senhores comentadores.
Os rapazes do FF estão aqui para o que der e vier.

 

Toda a carne no assador

Bush está aflito. Foi a New Orleans e fez aquilo que em Portugal o partido do Governo faz quando tem que aparecer – desdobra-se em acções no terreno. Rumsfeld vai ver se há água nos cantis e Rice tem que defender a Casa Branca de racismo (esta saiu bem…).


Nos media, a CNN tem a concorrência interna à perna nesta tragédia. Mandou os seus melhores repórteres para New Orleans. Os correspondentes de guerra já lá estão – Amanpour, Robertson…


Isto é uma guerra, de facto. E convém pôr os políticos na ordem.
New Orleans, para ver e ler a qualquer momento.

1.9.05

 

Mais ciclismo (RPS)

As reacções a um post não se resumem aos comments. Acontece a todos os que andamos nisto: as reacções sucedem-se, via e-mail, sms, ao telefone e nas conversas com os que estão fisicamente mais próximos.
Foi assim que, há uns dias, estive largos minutos ao telemóvel a falar de ciclismo com o JPF. Estivemos a trocar memórias, algumas marcadas pela décalage de uma década que nos separa.
Recordei-me, então, da primeira Vola a Portugal que vivi intensamente, acompanhando toda a informação produzia por O Primeiro de Janeiro e pela RTP: foi a Volta de 71, a primeira ganha por Joaquim Agostinho. Ele tinha vencido em 70, mas fora desclassificado por doping. Como se os outros andassem a bifes...

Na época, vivia-se uma verdadeira agostinhomania, que ultrapassava em larga escala o universo sportinguista, o universo do clube que Agostinho representava.
O seu grande rival era Fernando Mendes, do Benfica, mas percebo hoje que ele não chegava aos calcanhares de Agostinho. O valor de Mendes era fabricado pelos poderes instituídos na imprensa, que procura sempre "empurrar" para cima tudo quanto "cheire" a Benfica. Fernando Mendes só ganhou em 74, numa Volta em que o Agostinho não participou.

O meu ídolo, nessa época, era Joaquim Andrade (pai do actual ciclista homónimo) por ser a estrela do meu clube, o FCP. Andrade carregava a auréola de uma vitória na Volta, em 69, correndo pelo Sangalhos. Mas nunca me deu nenhuma alegria. A maior alegria ciclística da minha infância foi a vitória de Joaquim Leite, do FCP, num Porto-Lisboa. Era uma grande prova, uma clássica, em que os ciclistas, percorridos mais de 300 quilómetros, tinham de subir, derreados, a Calçada de Carriche. Assim, menino, muito antes dos informativos radiofónicos de trânsito, soube da existência de uma Calçada de Carriche em Lisboa.

A seguir ao 25 de Abril, o ciclismo perdeu muito do impacto que tinha. Em 75, nem houve Volta e as seguintes eram de fraca qualidade. Guardo ainda memória de nomes como Firmino Bernardino, Venceslau Fernandes (que vinha dos tempos de Agostinho e continuou por muitos mais anos), do seu irmão António, um sprinter, Adelino Teixeira, Manuel Zeferino, Alexandre Ruas, Belmiro Silva (talvez o único ciclista com bigode a ganhar uma Volta) e lembro-me também dos irmãos Sousa Santos (Joaquim e José) que corriam pelo FCP.
O meu clube manteve o ciclismo por vários anos, para irritação do meu velho amigo Zé. Anti-portista fanático, on Zé "puxava" por equipas com nomes como Lousa-Trinaranjus e Águias Clock, embora argumentasse que o fazia por entender que o FCP não deveria ter ciclismo porque também não teria jeito algum, por exemplo, o Tour ser ganho por Bénard Hinault, do Liverpool ou do Borússia Mochengladbach.

Com o fim do ciclismo nas equipas tradicionais - os três grandes e o Sangalhos - começou, então, a era das equipas com nomes de empresa. Para além das referidas, recordo Garcia Joalheiro, Mako Jeans, Ruquita-Feirense, Coimbrões-Rodovil, Rodovil-Ajacto... Mas antes de 74, havia já equipas de ciclismo com nomes de empresa, casos da Coelima e da Ambar.

Apareceu, depois, a era de Marco Chagas e é desse passado já mais recente que recordo, ainda, outro nome: Manuel Cunha. Ainda correu pelo FCP e foi, durante uns anos, o meu ciclista preferido. Diz-me o primo dele que o Cunha está estabelecido em Pedroso, com o Café Roda D'Ouro.

Por essa altura, o Agostinho brilhava nas Voltas à França e eu deliciava-me com as crónicas do Carlos Miranda, n'A Bola. Um dia destes, escrevo sobre isso. Desculpem-me os frequentadores do FF que não gostam da modalidade, mas virá aí mais ciclismo.

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