18.6.05

 

Passageira (dora pê)

Ir é o verbo perferido. O mundo, o melhor destino. Ignorância, a bagagem ideal. Do Iémen trouxe todas as dúvidas sobre o que achava que já sabia...e poucas certezas que já me faziam falta: de que ainda é grande, o mundo; e este é tão grande e denso que demorei uns dias a voltar. De que são perigosas as ideias feitas, têm como única vantagem desafiar-nos a desfazê-las. De que sair a sério do nosso quotidiano tem esse perigo fantástico de nunca voltarmos inteiros.
Ainda assim voltei hoje, longe de intacta mas à força de rotinas recuperadas, sobretudo de uma "overdose" de trabalho. Hoje deixei de ouvir a desgarrada de "muezin" a entrar-me pelos sonhos ao nascer do sol. Deixei de me espantar com a cor ostensiva da pele das mulheres. O colar de jasmin em botão está já seco atrás da porta, e o perfume já não enlouquece, é suavíssimo.
Liguei uma televisão. De repente parece inventada a ilha onde os portugueses estiveram há 500 anos..e em apenas 50 deixaram um enorme legado: Vacas de raça frízia e umas gentes que vivem nas grutas da montanha maior, de pele mais clara, cabelo mais liso e olhos claros, a quem chamam "portugalia"...que é meio laranja, meio portugês, em árabe. Falta-me a língua que me fez ricochete no cérebro, durante as primeiras semanas de aulas, e começou depois a fazer-me rir nos ensaios gerais que fazia nalgum dos dezassete "souks" de Saana velha...ou quando regateava o preço de uma viagem de taxi colectivo a exigir pagar mais do dobro do que me pediam por confundir "centenas" com "dezenas".
Sinto saudades, prova de que já parti. Gosto de acreditar que recomeço, a cada chegada. É altura de ir outra vez. Agora pregar noutra freguesia bloguista. A quem se sente aliviado, a minha compreensão, aos que nem terão essa hipótese porque cometem diariamente a proeza de me sobreviver, até amanhã.

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