30.7.05

 

Um post SOS dirigido a quem tem livros por perto, uma Internet com acesso não taxado ao minuto ou um amigo-enciclopédia

Afinal...

a) "Nunca digas nunca" vem de Shakespeare (como diz Soares), de Brecht (como defende José Carlos Vasconcelos) ou de Ian Fleming (como pode dizer qualquer um ) ?

b) por que razão o Miguel Frasquilho vai á SIC-Notícias quando não está lá o Luis Costa Branco ?

Olhando á formação de Frasquilho, podemos dizer que Branco tem um DÉFICE (não deaf-ice!) de barba...


 

Férias (RPS)

Estou de férias.
Vou ausentar-me da melhor cidade do mundo por dez dias.
Não sei se lá para onde vou terei acesso a este vosso espaço (como costuma dizer o "patrão", o JPF). Espero que sim porque há rotinas que, mesmo em férias, é sempre bom manter, ainda que a menor ritmo. Veremos.
JPF entra na sua semana final de férias, JCS está no activo. Eles deverão aparecer por aqui.

28.7.05

 

Thanks, Mr. Carrier (RPS)





A chuva e a descida da temperatura desta semana deixaram-me satisfeito. Perdoem-me os que estão de férias, mas com assumido egoísmo vos digo: antes esta semana do que nas três próximas.

A minha satisfação, contudo, não tem a ver com instintos invejosos para com aqueles que já estão de férias. A verdadeira causa da minha satisfação pelo facto do tempo ter piorado prende-se com o apaziguamento que isso provocou na guerra do ar condicionado que se vive diariamente no meu local de trabalho. Mas não quero falar disso.

Não. Não vou maçar-vos com a história do frio que uma colega sente e não suporta. Nem com as alergias de outra, com o mau feitio e espírito de contradição de uma terceira e muito menos com o culto de temperaturas tropicais que dá sentido à vida de uma quarta.

Menos ainda me apetece deter na oposição dos colegas homens. Não consigo compreender (deixa-me mesmo profundamente triste e pessimista face ao futuro do mundo) que humanos do género macho, pletóricos, na plenitude das suas capacidades físicas e mentais, tenham gargantas hipersensíveis, fossas nasais caprichosas ou receiem “pontadas nas costas”, o que quer que isso seja.
Não sei se inventam para me contrariarem ou se, na verdade, interiorizaram mesmo essas cismas.

O meu objectivo com este post é prestar homenagem ao senhor que está na foto ali acima. Chama-se Willis Carrier e é o responsável pela mais importante invenção do Homem, depois da roda: o aparelho de ar condicionado.

Foi em 1902 que Carrier, um engenheiro, então com 25 anos, formado pela Universidade de Cornell, inventou um processo mecânico para condicionar o ar.
A tentativa de resolver um problema específico – o excesso de humidade numa empresa gráfica – levou-o à descoberta ou à invenção que hoje nos permite manter um padrão elevado de qualidade de vida em época de canícula.

Willis Haviland Carrier nasceu a 26 de Novembro de 1876 e morreu a 9 de Outubro de 1950.
Uma destas datas - 26 de Novembro ou 9 de Outubro - deveria ser Feriado Mundial. Era o tributo mínimo que a Humanidade poderia prestar a este homem excepcional.

Thanks, Mr. Carrier!

 

Sorria ! Está a ser comprado


A noticia terá passado despercebida.

A SONY BMG acaba de pagar uma multa de 8,3 milhões de euros. Tudo porque subornava rádios para passarem os seus artistas.
A investigação apurou que a editora multinacional ofereceu às rádios um cabaz de férias e material electrónico, mais uns prémios para ouvintes e umas despesas saldadas a bem do orçamento das emissoras. Tudo para que as rádios colocassem em antena um conjunto de canções de artistas daquela editora.

Lembro que em causa estavam rádios AMERICANAS, de música dos TOPS, orientadas para um público ADULTO, em busca de HITS, etc...

Um dia, mais tarde ou mais cedo, aqui falarei do que penso sobre playlists e quejandas em Portugal... Mas esta noticia, que nos obriga a CONSULTAR o mercado NORTE-AMERICANO, só me tem feito sorrir...sorrir muito...
...muito... muito...
...imaginem agora que....
...bom...
....é mesmo melhor sorrir
enquanto se pode....

 

Festas estivais

Estou em abstinência festivaleira.
Os cartazes deste ano não me cativam. E por diversas razões não posso estar nos únicos que aconselho. E são dois. A norte e a sul.





Estes são os Mahala Rai Banda,uma banda cigana romena, em palco esta quinta-feira, quando a madrugada já for de sexta, na Avenida da Praia de Sines. Vai ser de certeza uma loucura na noite inaugural do Festival de Música do Mundo, a partir desta quinta até sábado, em Sines. Depois dos romenos, lá para as 3.30 da manhã rodam os discos da minha grande amiga Raquel Bulha - uma leitora do Fado Falado.




Os funerais inspiram cada vez mais gente. Os Arcade Fire fizeram muitos palmos de terra para chegar a Paredes de Coura. Incontornável, com este cartaz. Aviso aos estreantes : cuidado com os buracos na relva descendente. Por conta disso, um amigo meu veio a tornar-se o ferido mais grave de todas as edições. De resto, com um passeio na margem do Tabuão e uma almoçarada no Conselheiro ficam com a pança cheia de boa vida.

Em Paredes de Coura, tudo parece generoso. Até os parques de estacionamento subterrâneos são maiores que os de muito centro comercial lisboeta. E são dois...



27.7.05

 

Agora é que é! (JCS)

Dia 20 de Julho. Lá em baixo o fogo fazia desaparecer uma casa, numa cortina. Cá em cima, constatava-se. Deve ter ardido.
Com vista para o vale da Arrábida, entre o que foi zona protegida, zona de protecção especial, zona que arde e se vê, o proprietário de bela mansão na Serra tinha o coração nas mãos.
Construiu a casa há quase 20 anos, no jardim colocou a piscina, com vistas amplas para Lisboa a 40 quilómetros de distância e para a Arrábida.
70 mil litros de água para saciar os dois helicópteros que este ano não faltam e que percorriam a distância entre a casa e o fogo. As mesmas piscinas e casas que em tantos pontos da serra não é autorizado construir.
Compreendo que se defenda a natureza, mas ver arder paisagem virgem, de mata cerrada, de pinheiros e outros verdes, com matéria morta de palmos de altura custa ainda mais.
O povo repetia, no crepitar do lume, o que há anos se ouve. Ali onde agora há cinzas, não nos deixavam mexer. Não se pode limpar, não se pode, não se pode, não se pode. Quem não deixava? O Parque Natural. Pois.
E diz o povo: agora é que é. Para o ano que vem nas dezenas e dezenas de hectares de nada vão nascer caminhos, vão aparecer pontos de água, tudo vai ser reflorestado. Pois. Como nos anos anteriores.

 

Mais directos... (RPS)

Rezam as agendas das Redacções:
Figueira da Foz, 27 de Julho, 20 horas - Mário Soares presente no Summer Camp da ECOSY (Organização das Juventudes Socialistas da Europa).

Preparados para os directos à hora do jantar? Ou o homem falta?...

 

Enganado (JCS)

A noite ia já longa, numa esplanada de amigos bem bebidos. A conversa girou para a política. E fica aqui registada:
-O Sócrates aumentou o IVA, é um roubo, quem paga somos nós.
-Pagam todos, ó Figueiredo, mas pagam mais os ricos. Olha lá para a tua facturinha do supermercado e compara com a da tua mãe. E vais ver que ela paga menos, porque não leva para casa aquele champô mais caro, nem o detergente XPTO que custa um balúrdio.
-Está bem, mas ele não disse na campanha que ia aumentar o IVA!
-Olha, por mim que não votei nele, e que sou como sabes da direita mais moderada, estou satisfeito.
-Como?
-Pois. Não votei nele porque a cena da promessa de não sei quantos mil empregos, do choque tecnológico eram uma treta. O homem fez o discurso da esquerda. E agora parece agir como se fosse da direita. Estou satisfeito.
-Pois. A verdade é que está a dar dores de cabeça à Função Pública (impensável num partido de esquerda), a aumentar a idade para a reforma, a afrontar os sindicatos que não suportam a direita.
Valia a pena pensar nisto.

26.7.05

 

O Mundo, a toque de clique

Na morgue de Vladikavkaz, jazem crianças em padiolas.
Na rua, uma face infantil destapa a alvura caucasiana de uma vítima dessa alarvidade civilizacional que foi Beslan. Parece dormir, mas já está morta - é a metáfora de muito do nosso mundo.

A foto é de Yuri Kozyrev e está na World Press Photo deste ano, que já arribou sem a pompa nacional a Portimão. O concurso, garanto-vos, continua a ser uma flashada da morte e da dor.

Apesar de tudo, de Beslan, prefiro o boneco de peluche esquecido no espaldar da Escola nº1. E os sapatos sem par e dono, junto a uma janela por onde a inocência tentou escapar da indecência (fotos de James Hill, a preto e branco para o New York Times)

A não perder também a importância da luz em Ouagadougou; a face sofrida da sudanesa Hadyia, arrasada pela brutalidade aos 14 anos. E sobretudo a foto de um exército de operários numa fábrica chinesa de reparação de ar condicionado. Em fila de quatro, alinhados, cantam o hino nacional. Sérios, são quinhentos até a vista se perder na parada de fatos-macaco azuis.

Os mais impressivos instantaneos são contudo os que nos colocam um palmo à frente da objectiva. Nos tornados americanos, na areia temível de Darfur, no fogo na favela de Buraco Quente, sul de São Paulo. Ou nos extraordinários momentos olímpicos de Atenas.


Photo:Bob Martin

E depois há Portugal. Com copas alentejanas, feitas almôndegas pelo fim da tarde, sobrevoado em balão de ar quente. Mas sobretudo o pátio da Sé de Braga na Semana Santa, cuja frincha de sol desvendou para a máquina de Sandra Rocha uma menina vestida de anjo, num plano dividido com uma casal encostado à pedra do templo.



Ele encosta-a contra a parede, discretamente.
Como um costume brando.

 

(RPS) (*)

Se houvesse jornalismo sério em Portugal, as redacções solicitariam hoje ao Dr. Mário Soares um depoimento sobre o Dia Nacional dos Avós. Mas não. As redacções querem que o Dr. Mário Soares fale das Presidenciais.

Faltam-me três dias para bazar.

(*) a falta de imaginação impede-me de por um título

25.7.05

 

Directos sem sentido (RPS)

Nos telejornais da hora do almoço, apercebi-me de que a RTP e a SIC estiveram com directos de Sintra, numa iniciativa da campanha do PS. Apercebi-me que os protagonistas do evento eram Jorge Coelho, João Soares e Mega Ferreira.
Surpreendeu-me. Não vislumbrava o que se poderia passar em Sintra para justificar os directos. Não tive condições de ouvir e ver o directo da RTP, mas consegui, a seguir, por uns segundos, minuto e meio, vá lá, assistir do directo da SIC. Patético.

O assunto era a eventual ou quase certa candidatura de Mário Soares a Belém.
O jornalista fazia perguntas sobre Soares, os entrevistados respondiam sobre Sintra. Uma patetice pegada, uma fantochada, uma vergonha, um nojo.
A culpa não é dos dirigentes partidários que fizeram apenas o que lhes convinha. A culpa pode não ser do jornalista porque pode não ser dele a decisão e até estar naquele papel contrariado.
A culpa será sempre, claro, de quem decidiu fazer directo daquilo.

É óbvio que o assunto "Mário Soares candidato a Belém" é passível de directos. Mesmo hoje que não há certezas. Mas só é passível de um directo num local onde estejam uma ou várias destas personagens: Mário Soares, José Sócrates, Manuel Alegre, Cavaco Silva.

Que falta de noção das coisas... Que falta de bom senso...

 

Leituras de Verão (RPS)

Há muito que não há pachorra para os chamados "inquéritos de Verão" que, durante a silly season são publicados nos jornais, mesmo pela imprensa mais circunspecta.
Há, contudo, um dado novo: hoje em dia, não conheço a maioria dos que são convidados a responder e respondem.
Ainda não há muitos anos - 4, 6, 8 anos, no máximo - conhecia toda a figura pública que respondia a estes inquéritos. Agora, vejo inúmeros rostos e nomes que não identifico. São, certamente, uma ou muitas destas coisas em
simultâneo: actores de novela, modelos, cantores, apresentadores de talk-shows, RPs de discotecas e bares do Algarve, frequentadores de eventos, promotores de eventos, performers vários, transformistas, putas finas de homens ricos, cornudos endinheirados, gente bonita.

Uma pergunta comum destes inquéritos é sobre leituras de Verão, "os livros que você vai ler nas férias". Aliás, esta questão, em alguns casos, ganhou autonomia, vale um inquérito próprio.
Obviamente que a esmagadora maioria das respostas não corresponde minimamente à verdade. A maioria daquelas pessoas nada lê e quem lê com regularidade aproveita as férias para descansar, não para ler mais.
No meu caso, por exemplo, este Verão, como em todos os outros, não vou ler a ponta dum corno. Zero livros. Népias. Como em todos os outros Verões, de há muitos anos a esta parte, desligo da Rádio, da TV, de livros. Limito-me ao diário desfolhar preguiçoso do Público.

Leio menos do que gostaria, leio menos do que acho que deveria ler, mas aquilo que leio só leio durante o ano "normal". Nunca nas férias.
Leitor compulsivo a partir dos 10, 11 anos, diminui drasticamente o número de livros devorados a partir do momento em que entrei no chamado "mundo do trabalho", aos 23. Por falta de tempo, sim, porque o tempo não é elástico, mas, acima de tudo, por falta de disponibilidade mental.
Vítima particular desta falta de disponibilidade mental foi e é a ficção.
Não tenho pachorra para ficção, pouca li nos últimos anos. Leio sobre política, sociologia, história, enfim, sobre o "real". Ficção, não. Excepto aquela que releio.

No Verão, nem ficção nem nada. Nas férias, na praia, na montanha, na piscina, nas esplanadas ler é das últimas coisas que quero fazer.

Já só faltam quatro dias.

23.7.05

 

Terrorismo florestal

As escolhas sociais dos portugueses são muito claras.

Deixam cair pontes e viadutos. Fogem aos impostos.Matam-se na estrada. Batem nos conjuges. E sim, traficam codificadores de tv por cabo.

O que vemos agora, a cores no verde Portugal, é um também um ardente laxismo, um lixanço colectivo.

Estes fogos causam terror nas populações, não causam ?

22.7.05

 

Um post sobre humor policial, escrito em Março, não publicado por ser totalmente desinteressante, mas que serve para a silly season (RPS)

Nove e meia de uma noite de frio, vento e chuva.
Saio do Alfa, em Campanhã, entro na estação do Metro. Está quase vazia: dois velhotes à conversa, uma adolescente com ar assustado, encostada a uma parede e agarrada ao telemovel, mais adiante dois gunas e, por ali a vaguear, uma cara conhecida. Era o Animal. Sim, o Animal (ou Empelastro), aquele que aparece em todos os directos televisivos no Grande Porto e em mais alguns outros, nomeadamente em Fátima, em dia de celebrações, e junto de alguns estádios de futebol do país. O que se diz "filho do Pinto da Costa". Está algo diferente. Tem os dentes postiços (que o vi exibir, quase um ano antes, à claque do Sporting de Braga, no velho 1º de Maio, numa meia-final da Taça de Portugal) mas está também bem vestido, com ar asseado, e salta à vista que engordou.

Entramos na primeira composição que chega. A viagem segue normalmente. Na estação do Bolhão, o Animal sai e cruza-se com dois agentes da PSP. Dois tipos acima dos 50, barrigudos, dois tipos com a imagem da velha-guarda da corporação.
Ao depararem-se com o Animal, saúdam-no divertidos. "Estás bom, pá?!". O Animal correspondeu, também divertido, no seu linguajar pouco perceptível.
Mesmo antes do fecho das portas, um dos polícias, do interior da carruagem, grita cá para fora:
-Ouve-lá (*) pá ! O teu pai tá porreiro?...
- Tá fixe...
- Que maluco do caraças... - diz o PSP para o camarada.

E seguimos viagem.

(*) deve ler-se ou-blá

 

As cuecas lavadas de José Sócrates

Uma remodelação, personalizada como bem lembra RPS, não é, em bom rigor, uma surpresa.

O ralo abre-se sempre ao cabo de quatro meses, azar do doutor Lopes que se viu competentemente levado na água do banho.

No caso do professor CC, pode dizer-se que o senhor foi vitima de intoxicação por desodorizante. O corte na higiene eleitoral, proposto em tempo de pouca pinga na torneira, era demasiado radical para hábitos demasiado cimentados nos Governos e nos Partidos. Cimentados e betonizados.

Durante quatro meses, Sócrates aguentou o ministro que lavava as cuecas financeiras do Estado. Acabou esta semana, consta que com um duche rápido ao fim da tarde. Abriu a época da ilusão higiénica. Teremos agora roupa lavada em vez de banho diário.

Percebo o cansaço do professor CC. O ilusionismo faz escola, mas não parece caber na academia. Aturar estes tipos só tem uma vantagem em relação ao governo anterior: não nos faz rir às gargalhadas.

 

Por que raio de razão ainda não se lembraram de Portugal ?

Terroristicamente, seremos o país dos intervalos da chuva ?

20.7.05

 

Campos e Cunha out (RPS)

Há três-quatro semanas disse, na presença de vários colegas de trabalho: um dia, quando houver uma remodelação, o Campos e Cunha salta.
Na última segunda-feira, pensei o mesmo, quando me dei conta do artigo de Campos e Cunha, publicado na edição da véspera do Público.
Hoje, houve remodelação. Personalizada. Nunca pensei. E também nunca imaginei que fosse tão depressa.

 

Pilhas de nervos

São sempre elas que me tramam nos aeroportos. Desta vez, os senhores da segurança de Heathrow desconfiaram do microfone que vinha dentro da mochila de mão. Lá dentro uma pilha luzidia, das quadradas.

Lembro-me sempre das baterias quadradas que davam vida a um radiozinho preto que me alimentava o sistema nervoso quando jogava o Benfica. Na Serra de Aire e Candeeiros, o FM era um desespero, tal como a RTP2. Nesses montes longe de tudo, a rádio só dava chuva. Em Alcaria, a Onda Média era o recurso disponível para acompanhar os relatos. Muito deve, por exemplo, a RR ao AM.

Já em Torres Novas, nos primeiros tempos de rádio, lembro-me de ter ficado sem pilha num emissor que servia para a reportagem de pista no Estádio Municipal. Em Lisboa, desafiei também algumas vezes as baterias dos gravadores. A fita só arrancava em momentos essenciais das conferências de imprensa, de modo a preservar a energia.

Mas nunca como em Quetta, no Paquistão, senti que as pilhas podem também ter efeitos terapêuticos. Nic Robertson e a equipa da CNN tinham acabado de despachar malas e malas de material, pagando os excessos e talvez mais qualquer coisa…

Eu não tinha nem estatuto nem dinheiro. Sei que fui convidado a retirar todas as pilhas do meu arsenal técnico de mão. Nem a minha identificação profissional refreou o zelo paquistanês. Máquina fotográfica, mini-disc, microfone, uma mini mesa de mistura. Tudo foi escrutinado, todas as pilhas arrancadas.

Com cinismo delicado, fizeram-me uma proposta.”Porque não faz um envelope com as pilhas e mete-as no porão, com as malas ? Mais vermelho que o habitual, com a impaciência à flor da pele, dinheiro contado e um pé ferido, não me contive. Peguei nas pilhas e disse bem alto aos guardas do aeroporto: “Olhem bem para mim !”. Acto contínuo, uma dezena de baterias voaram uns 20 metros em busca de um caixote de latão, aterrando num estrondo que fiz questão de sublinhar com um bem português “metam as pilhas no …”.

Que bem que me soube.
Se fosse detido por distúrbios – que não o fui por mero acaso – ao menos não entraria enervado na cela.

19.7.05

 

Roubar a TV Cabo não é pecado (RPS)

Finalmente!
Após dois anos e meio sem televisão em casa e de ano e meio com os básicos quatro canais de sinal aberto, aderi à TV Cabo. É uma nova fase na vida de qualquer homem.
Ao contrário do que costumo fazer nestas situações, resolvi pedir opinião a várias pessoas amigas e a colegas de trabalho.

Normalmente, é um erro fazer-se isso porque a nossa indecisão agrava-se com a multiplicidade de "pareceres" recolhidos. Quando procuramos um novo automóvel, por exemplo, ouvimos logo qualquer coisa como "não te metas na Fiat que é só problemas" para, logo a seguir, alguém sentenciar "a Renault tem uma assistência caríssima! Vai para a Fiat".
O mesmo se passa com as casas. "Não compres um rés-do-chão, é muito inseguro", dizem-nos. E logo outro: "isto está inseguro em todo o lado. Compra o rés-do-chão que sempre é mais barato e o terraço é fantástico". Ou então: "Gaia??!!! Tu não compres casa em Gaia, o trânsito é horrível" e, de seguida, lá vem outro: "Maia é muito longe. De Gaia à baixa é um tirinho...".

Curiosamente, desta vez só recolhi pontos de vista coincidentes. TV Cabo. TV Cabo. TV Cabo.
E, em todos os casos, a resposta era acrescida de uma recomendação: "... e por quinze ou vinte contos compras uma box pirateada e tens os canais codificados todos de borla. Eu também tenho, pá!".
Como??? Pasmei com a sugestão vinda de amigos que conheço bem e que são homens sérios. Muitos deles, seguramente, homens mais virtuosos que eu. Sem me dar ares de moralista (que não sou), contrapus sempre que isso seria ilegal, seria burlar o servidor, enfim, não era sério.
Pois que não. Pois que não estava a ver bem. Pois que não tem mal nenhum porque a taxa dos codificados é muita cara, "é uma roubalheira" e "esses gajos são uns gatunos".
A alguns dos que me disseram isto, ainda contrapus que encontro muitas vezes roupas caras em muitas lojas e não as enfio por baixo do blusão. E que a alimentação é cara e nem por isso vou gamar para o Pingo Doce ou para o Modelo Bonjour... Neste ponto, quase todos desconversavam. Um ainda me disse que "no Pingo Doce um gajo ainda é apanhado"...

Pela minha amostra, serei caso único: não tenho a tal "box" que pirateia canais. Mas estou feliz com o pacote mínimo que subscrevi e tenho-me deliciado a fazer zapping ao longo de quarenta-e-não-sei-quantos canais.
Irrita-me o recurso a ditados populares, mas nesta altura tenho de dizer que não digo que desta água não beberei. E já que falo em ditados, digo-vos que cheguei, na linha de Funes, el memorioso, a um novo aforismo, a um aforismo dos tempos modernos: roubar a TV Cabo não é pecado.

18.7.05

 

De volta

Vim toda a viagem até Lisboa, salivando pela legendária comida portuguesa.
Rapazes, somos mesmo muito bons a fazer pratos... nem vos digo a trampa que andei a comer...

A correr, em sucessivas escalas, sigo ainda esta noite para o meu refúgio do Sul.
Uma palavra de apreço a RPS, que tem feito as despesas deste vosso espaço.

Vou agora em demanda dos cybercafés da costa vicentina !

É bom estar de regresso.

 

JPF em Leeds (RPS)

JPF esteve em Leeds, no covil dos bombistas de 7 de Julho. Ouviu-se na sexta e no sábado. Agora também pode ler-se. Aqui.
Se não estiver exactamente aí, está seguramente na edição de papel, páginas 14 e 16.
Espero que antes de seguir para banhos JPF ainda passe por aqui.

15.7.05

 

Silly Season (RPS)

Não sei se será um "efeito" Circuito da Boavista, mas na apresentação pública do candidato do PSD à Câmara de Viana do Castelo, Carvalho Martins, o candidato, prometeu relançar uma prova automóvel de que me recordo: a Rampa de Santa Luzia. Até aqui, tudo bem. Mas acrescentou outro objectivo: fazer de Viana a capital nacional do surf.
Presente no acto, Marques Mendes pediu-lhe para ir mais longe: fazer também de Viana a capital nacional do bodyboard.
Sim, já começou a silly season. E ainda me faltam duas semanas para bazar...

14.7.05

 

Secas II-B (RPS)

Estamos na época alta daquele tipo de seca que até os verdadeiros amigos nos
pregam: ver as fotos das férias deles.
Nesta época do ano, se não é Algarve é seguramente um destino tropical.
"Baratíssimo", garantem. Eu devo ser mesmo um camelo porque gasto balúrdios sempre que faço um programinha extra. Mas, ainda assim, cheira-me que nao é "tão baratíssimo" quanto isso. Se fosse, iam mais vezes porque a verdade é que adoraram. "Apanhamos chuvas torrenciais, mas foi fantástico", dizem.
Não dá para entender. Cá, ao mínimo pingo de chuva, vociferam contra o clima, maldizem a vida, deprimem-se, falam em emigrar... Quando vão para a praia nos trópicos já é muito bom ter chuva...
Quando chegam de férias, lá telefonam: passa por cá para veres as fotos.
Lá vou eu, mortinho por ver as fotos... Se fosse só ver, vá lá, mas não - temos que levar com as explicações:
- aqui sou eu, a Ana e o Rui à porta do hotel...
- aqui sou só eu e o Rui à porta do hotel...
- aqui é a Ana no banco que havia em frente ao hotel...
- nesta aqui estou com cara de parva, não vejas...
- aqui é a Ana no mesmo banco, mas de chapéu...
- aqui é o Rui, com o chapéu da Ana, no banco à porta do hotel ao lado do nosso hotel...
- aqui é na praia... (não se notava)
- aqui sou eu e a Ana e um casal brasileiro que estava no nosso hotel...
- aqui sou eu num bar perto da praia e do hotel e ali atrás está o Rui a micar uma sujeita que estava noutro hotel, mais longe, mas que ia sempre para a nossa praia...
- aqui é só o casal de brasileiros e ali atrás está a sujeita que o Rui andava a micar...
- aqui é o Rui à porta do hotel... Fónix!!! Esta está fora da ordem!!!
- aqui sou eu de pé à porta da loja de artesanato...
- aqui sou eu sentada à porta da loja de artesanato...

... e assim continua, ao longo de 237 fotos...

E depois chega o dia em que temos que ver as fotos da Ana:
- aqui é o Rui e a Xana no bar da praia...
- aqui é a Xana num passeio de barco...
- aqui é Ana à porta da loja de artesanato...

... e lá vão mais 184 fotos... Já sabem como é. E a gente lá as vê todas, com direito a "legenda". Pelo menos, os amigos não nos podem acusar de má vontade, nem de desinteresse nem de inveja. Para o ano, há mais.

12.7.05

 

Fotografar o Porto (RPS)

Vem aí a quarta edição da Maratona Fotográfica do Porto. É já no próximo sábado. A iniciativa é do Instituto Português de Fotografia e as inscrições acabam depois de amanhã, quinta-feira.
Será que vamos ver Carlos Romão e Funes, el memorioso pelas ruas da cidade a fotografar furiosamente? Creio que sim porque a iniciativa é democrática e pode aderir o melhor e o pior da fotografia tripeira.

11.7.05

 

Moss, outra vez (RPS)


Volto a Moss. Porque no primeiro post não consegui publicar as fotos. Aqui estão, uma dos tempos áureos...





... e esta actual...





Durante o fim de semana, falei com várias pessoas ligadas à organização do Circuito da Boavista. Perguntei as razões para a ausência de Stirling Moss no Porto, tanto mais que Jack Brabham esteve cá. Explicaram-me: Moss exige um elevado cachet para estar presente neste tipo de eventos. Soube mais: não quer que o incomodem muito, só se deixa incomodar por dinheiro.
Outro ponto: não tentei confirmar, mas a fonte - um tipo dos automóveis - é-me credível. Disse-me que Moss facturou recentemente um balúrdio ao dar a cara numa campanha publicitária do Viagra. Diz ele, no anúncio, qualquer coisa como "os grandes campeões têm de estar sempre preparados para todos os desafios"...

 

Sábado, no Mário Luso (RPS)

JPF continua na ilha mais civilizada do mundo. Em férias. Sorte a dele.
Se os acontecimentos o justificarem estará no éter. E mesmo sem acentos, esperamos aqui pelos seus relatos.

Nestas circunstãncias, JPF não poderá estar nesse tão agurdado convívio do próximo sábado.
Eu, Barbed, Aristóteles e Funes estamos confirmados. Lembro aos interessados: sem mais adiamentos nem alterações de local - dia 16, 21 horas, no Mário Luso. Lá, onde os critérios de normalidade se alteram.

10.7.05

 

Sem assento

E sem acentos.

As condicoes nao permitem mais. ja fugi para outra parte deste reino unido no terror.
Voltarei em breve com mais notas desta ilha

 

London Diary - Day Three

9.10
A Ironia chega a cidade que sangra mas nao morre.
No autocarro 30 onde 13 pessoas morreram (13 outra vez...) podia ler-se
"outright terror...bold and brilliant".
Era o cartaz de um dos filmes de terror nos cinemas londrinos.
Um tipo olha depois para o lado e o que ve ?
Propaganda da "Guerra dos Mundos"...
Pode nao ser tao cedo, mas o mundo deles um dia ira acabar.

11.30
A Ministra da Cultura sera a governante das vitimas. Seria isto possivel em Portugal ?

12.43
"ratos destroem vestigios em KIngs Cross". E ha quem os coleccione...

14.20

Se e dificil encontrar uma agulha no palheiro, por que raio os londrinos nao usam imans... os das mesquitas ?

15.00
Politicos em fila em Westminster para falar em directo para a TV.
Mas alguem fica meia hora num jardim ao sol para aparecer em todo o mundo ?
Ja estou a ver os deputados debaixo de uma arvore em Sao Bento, em directo para as pantalhas nacionais...

16.10

You are allies, diz-me uma sexagenaria quando lhe digo que sou portugues. Estou nas comemoracoes dos 60 anos da 2 GM. Quase lhe peco perdao por Salazar ter declarado a neutralidade portuguesa. Em Whitehall, a resistencia, the spirit, e estarrecedor. Ate nas fachadas.

17.30

Trafalgar Square.
De repente a paz.

Encontrei-a na Igreja de St.Martin-in-the Fields, numa passagem das Quatro estacoes de Vivaldi. Sentei-me 20 minutos para recarregar baterias ao som dum ensemble barroco em ensaio geral.

Quatro estacoes de paz para 4 bombas cobardes.

18.16

A Rainha acena ao povo, mas pouca gente a sauda.
Desceu ao povoado para reconhecer o trabalho das mulheres na 2 GM.
Na verdade, veio fazer de esfinge monarquica, cor de salmao no alcatrao de Whitehall.
Isabel nao abriu a boca e as velhinhas homenageadas ficaram aborrecidas com isso.

Pensando bem, se viesse o Principe Carlos vinham umas maduras e quica um pouco mais de bloody-people-of-media. Sempre tinha mais impacto.
Giro, giro era aparecer o Principe William.
Seria so gritinhos e gemidos anti-terroristas.
Descansem monarquicos, com este rapaz ja podem ter um rei-pop.


19.00
Leicester Square em todo o seu esplendor.

Um brasileiro distribui flyers para uma discoteca da moda. Ricardo nem sequer sabe quanto e que custa uma cerveja nessa disco aberta ate as 3 da manha.
Aqui cada um tem o seu papel. O dele e distribuir propaganda.
Em frente, uma fila para Shakespeare. A direita, uma despedida de solteira. A cerveja roda nas esplanadas.

Mas morreu alguem ?


23.00
A partir desta hora e para esquecer.

Um tipo atrasa-se a trabalhar na hora de jantar e depois nao arranja nada.
Nada. Agora so discotecas.
Tento comer uma refeicao quente no hotel. Ninguem atende no room service - e o hotel ate e bom. Na recepcao,dizem que o cozinheiro nao esta.
Contento-me com a enesima sandes. A racao preferida a forca da ausencia de opcoes.

 

London Diary - Day Two

8.10
A lembranca veio de Lisboa, entao apanhas um autocarro 13 numa sexta-feira em Londres na manha seguinte aos atentados ?
Nunca liguei a supersticoes.Nem sequer me lembro desse catalogo.

8.45
e um fascinio que vem de crianca. Adoro autocarros de dois andares, o double deck.
Em Lisboa tenha a amemoria dos que iam para essa longinqua Moscavide ou para o Aeroporto. Foi a minha paixao de infancia, o autocarro. Nesta cidade que ontem foi mais cedo para casa dou por mim arevisitando essas memorias das avenidas de Lisboa em 1980.

11.10
Bolas!
Devo ser o unico tipo desta cidade que tem dois telemoveis e nenhum tira fotografias.
Um telefone celular pode ser uma arma para ajudar a destruir as massas. Mas que seria de nos sem esse instrumento hoje em dia ? Assustadora a nossa dependencia destes tijolinhos...

16.55
Alerta maximo. Um portugues entre os feridos ?
Sigo para a embaixada. Uma manobra jornalistica mais arriscada revela-se compensadora.
Ganhei a inimizade do porteiro da casa dilomatica. E ao fimm da tarde, depois de uma ronda pleos hopsitais, o portugues vem a ser...colombiano.
Uma tarde de historias estragadas, e o que e, mas se fosse a serio...

17.40

Se a furia pode estar na musica, encontrei-a nas maos de um tipo a tocar sozinho, com publico anenhum, num atrio abandonado do St.THomas Hopsital. Sera o Piano Man ?

21.00

"Voce pensa que eles nao dao por si, mas os seus passos estao a ser todos filmados" diz Valter, motorista portugues do 82 em Londres. Ontem teve que arranjar nervos de aco para mexer nuam pasta abandonada no autocarro.Nada estava la.

Certo e que ja entrei numa embaixada, num grande hopsital, no metro e nos autocarros e nunguem me viua mochila. Diz o Valter , "voce nao tem cara de bandido".

8.7.05

 

London Diary - Day One

11.45
Voando no transito de Lisboa, aparece um semaforo e com ele um nomento esoterico.
Listen to me now,berra o cantante. Salve o rocker dos pobrezinhos adjacentes da nossa riqueza!
Ouvi-nos senhores do G8.
Ouvi-nos cobardolas.
A tragedia traz sempre consigo slogans e transistores.
Here we go again.

16.55
A M4 esta entulhada de gente a fugir de estilhacos.
Continuo a lembrar-me de rockers, Stipe caminhando sobre capots de carros engarrafados.
Everybody hurts?
Sim, claro que sim. Nao e preciso sair de casa.
E no entanto basta sair a rua.
Vivemos na era do terrorismo pop.

19.25
Acabo de ver pela primeira vez na minha vida uma igreja transformada em centro de operacoes policiais.
Peace !

19.30
Metade da Edgware Road e arabe.
A 50 metros uma bomba sem credo credivel deu de si no escuro de um tunel.
A cobardia pode ver-se de olhos fechados.
Nas esplanadas desta avenida, parece-me a olho nu que os islamicos distinguiveis estao de luto.
Ou sera ilusao de optica ?

01.00
Quantos londrinos vi eu a chorar ao cabo da mais sangrenta das jornadas recentes desta terra ?
Nem um.
Esta 'e gente que prefere a coragem a histeria.
Pode a temperatura do sangue nacional ser crietrio para apreciar um povo ?

(sorry, o teclado nao tem acentos...)

 

Stirling Moss, Campeão do Mundo (RPS)

Há corridas na Boavista! Até que enfim. Toda a vida ouvi falar disso: à minha Avó, ao meu Pai... A minha Mãe ainda hoje fala das corridas nos anos 50.
É uma excelente iniciativa da Câmara do Porto. Pela animação, pelo turismo de qualidade que trás ao Porto e, principalmente, porque faz a cidade mergulhar na sua própria memória. Isso é muito bom, só por isso já valia a pena.
Vários amigos meus e colegas de trabalho vociferaram contra "os balúrdios que isso vai custar". Perguntei quanto era. Nenhum sabia. Já não fiz a pergunta sobre o retorno que pode originar.

Prolifera, agora, por aí, literatura sobre as corridas do passado no Porto, duas delas, em 58 e 60, com Fórmula 1 no programa. Li novamente uma história, passada em 58. Envolve um dos meus ídolos do desporto automóvel. Aliás, um dos meus ídolos ponto final. Do desporto automovel e de tudo o resto. Um tipo admirável. Não é "do meu tempo" mas tornou-se meu ídolo há longos anos, exactamente por coisas que li sobre ele. Chama-se Stirling Moss. Nunca foi Campeão do Mundo.

Em 58, Moss venceu o GP de Portugal, no Porto, circuito da Boavista.
O seu grande rival, nesse ano, era Mike Hawthorn. Na corrida do Porto, Hawthorn foi desclassificado. Teria empurrado o seu Ferrari numa zona proibida do longo (mais de sete quilómetros) circuito da Boavista. Não havia câmeras de televisão, os comissários davam informações pouco precisas. Moss saiu em defesa do rival: tinha visto a cena e Hawthorn nada tinha feito de irregular. Os comissários reclassificaram Hawthorn, que assim somou mais alguns pontos. No final do campeonato, estava em primeiro lugar. Com um ponto de vantagem sobre Moss.

Há muitos mais anos, li outra história de Moss.
Numa qualquer corrida, o piloto inglês surgiu imparável. Foi o mais rápido nos treinos, saiu na frente. Ganhou enorme vantagem e foi ultrapassando todos os adversários, um a um. Volta de avanço atrás de volta de avanço. Imparável, Moss.
Chegou a vez do terceiro classificado. Moss passa - mais uma volta de adianto.
Só faltava passar o segundo. Pelo que se estava a ver, ia ser fácil. Moss aproxima-se do carro à sua frente, conduzido por Juan Manuel Fangio, pentacampeão do mundo, o "senhor das pistas" nesse tempo. Chegou-se e levantou o pé. Para pasmo geral, deixou-se ir atrás de Fangio até ao fim da corrida.
No final, os repórteres fizeram a pergunta que se impunha: "porque não ultrapassou Fangio?...". Moss deu uma resposta seca: porque ninguém dá uma volta a Fangio.

Striling Moss é um homem, foi um desportista admirável. Para mim, foi Campeão do Mundo.

7.7.05

 

Rotina alterada (RPS)

Escapou JCS. Continua de férias. De resto, este foi um dia de loucos aqui para os escribas do fadofalado. Mas o mundo também continua louco.

É provável que a alteração da rotina se reflicta por aqui. Mas com ganho. JPF partiu para Londres - decisão tomada a meio da manhã e accionada de imediato. A chegada a Londres deu-se a meio da tarde - já se verificou no éter. Se houver condições, haverá reflexos por aqui.

Espero que haja mesmo condições para lermos aqui JPF a partir de Londres.
Dos acontecimentos de hoje não me apetece falar. É que só me ocorre o básico. Sinto-me básico. Ocorre-me a frase do "Gajo de Alfama", do Gato Fedorento: é uma raça que era toda para ir à vida.

4.7.05

 

Quando eu conheci Álvaro Cunhal (RPS)

Fiz a minha primeira campanha eleitoral em 89. Campanha da CDU, nas eleições para o Parlamento Europeu. Carlos Carvalhas era o número um de uma lista onde, entre outros, estavam Barros Moura, Joaquim Miranda e uma qualquer daquelas verdes do costume. Álvaro Cunhal era secretário-geral do PCP.

O meu Director de então instigou-me a conseguir uma entrevista com Álvaro Cunhal, na noite eleitoral. Pelos vistos, nunca Cunhal nos tinha dado uma entrevista ou prestado declarações em exclusivo. Era tempo de superar os traumas de 75.
A minha geração e mesmo alguns veteranos já olhavam para isso como "episódios arqueológicos" e, do lado do PCP, havia também outra abertura. Sinal dos tempos: em Moscovo, Gorbachov tinha posto em marcha a perestroika, pressentia-se que a hora era de mudança, ainda que não se suspeitasse que tudo iria processar-se tão depressa.

Carlos Carvalhas foi comigo, desde a primeira hora, de uma correcção extrema. Simpático, afável, colaborante, respeitando sempre os campos em que cada um se movia. Na mesma linha agiu toda a "entourage" do PCP: um tal Judas, irmão do outro, dos serviços de imprensa do PCP, e a Paula Barata, ainda hoje assessora do Grupo Parlamentar. O PCP estava claramente interessado em ter bom relacionamento connosco.

Logo nos primeiros contactos, ainda na pré-campanha, falei a Carvalhas no objectivo de entrevistar Cunhal. Respondeu-me que iria ver, depois dizia-me.
A "coisa" era tão mais importante para mim quanto Cunhal estava "desaparecido" há meses. No início do ano tinha-se deslocado à União Soviética para ser submetido a uma delicada intervenção cirúrgica a um aneurisma. A informação fornecida pelo PCP resumia-se ao essencial: tinha corrido tudo muito bem, estava bem, a trabalhar.

Ao terceiro dia de campanha, Carvalhas disse-me que tinha falado do assunto e estava tudo combinado. Aliás, apresentar-me-ia "ao camarada Álvaro Cunhal" daí a dois dias, na Marinha Grande. Seria a primeira aparição do secretário-geral na campanha, também a primeira aparição pública desde a viagem e a operação em Moscovo. Carvalhas aconselhou-me: "não fale nada da entrevista, isso é tratado pelos serviços do partido.". OK.

Cunhal lá apareceu, ao quinto dia da campanha, num qualquer pavilhão da Marinha Grande para um mega-jantar. Perto do fim, Carvalhas, à direita de Cunhal numa mesa, chamou-me com um aceno. Quando me aproximei, por trás dos dois, Carvalhas bateu no ombro de Cunhal: "Álvaro... Quero apresentar-te um jornalista que está a acompanhar a nossa campanha...".
O mítico Cunhal voltou-se. Estava ali à minha frente, sorriso aberto. Carvalhas fez as apresentações, anunciando a "minha ficha" e sem me dizer, claro, quem era o outro.
Cunhal apertou-me a mão, afável e decidido. Olhou-me (é verdade, o homem tinha um olhar que nos atravessava) e perguntou, de rajada, ao puto de 25 anos: "É a primeira vez que está numa campanha com o nosso partido?...". Anuí. "E que me diz?... É ou não é um grande partido?!". Balbuciei que sim, que era...

Estava "à rasca", é certo. Não queria mesmo ter dito aquilo - bolas! - mas, felizmente, tinha uma saída brilhante na manga, preparada ao longo dos últimos dias: "E o senhor doutor como está? Já recuperado do problema de saúde?...".
Cunhal deu uma risada e, com vários movimentos de cabeça, olhando em volta, como que procurando alguém, atira: "Mas está aqui alguém doente?... Aonde? Aonde?...".
Já não consegui dizer mais nada e foi o próprio Cunhal a sair em meu socorro: "Fica para o comício?...", perguntou... "Sim, sim...", respondi, com a cabeça a cem à hora procurando qualquer coisa mais para manter conversa, mas ele não deu tempo: "então, bom trabalho para si.", correu ele comigo, dando-me umas palmadinhas no braço.


Foi o meu primeiro contacto "directo" com Cunhal. Só tive mais um: na noite eleitoral, com a entrevista prometida por Carvalhas.
No próprio domingo das eleições, ao chegar à sede do PCP na Soeiro Pereira Gomes, um funcionário garantia: "ele só fala à RTP e a si, não dá entrevistas a mais nenhuma rádio nem a ninguém.". Assim foi. Cunhal entrou para o estúdio montado pela RTP (então televisão única) no rés-do-chão da sede do PCP e eu subi ao primeiro piso, para a sala onde estava montado o nosso estúdio. Não consigo lembrar-me de quem era o técnico que me acompanhava. Só me recordo da estagiária que me apoiou nessa noite: uma tal Anabela Góis, bonita, elegante, cheia de charme. Vi, nessa noite, muito marxista-leninista deitar-lhe olhares lascivos.
Nervoso, aguardei uns quinze minutos que pareceram horas, mas, finalmente, ele - Cunhal - apareceu à porta, por trás da silhueta da estagiária Anabela que o tinha conduzido desde o rés-do-chão até ali.
Correu tudo bem. No nosso primeiro encontro, ganhara Cunhal. No segundo, se houve vencedor, fui eu.
Claro que não tenho cópia dessa entrevista histórica. Talvez um dia a solicite ao PCP. Ou a Germano Campos, que também a deve ter.
Ah!... Já me esquecia: obrigado, Anabela.

3.7.05

 

Fome, Hipocrisia e Fama: as melhores fotos









Fotos Reuters - Stephen Hird, Tim Shaffer (Beyonce) e Toru Hanai (Bjork)

 

Uma tenda muito melhor (só para chatear)


 

Nó Cedo

Os Santos Populares são uma ciência exacta. Dê lá por onde der, é certinho acabar a noite a cheirar a sardinha ou a cantar uma marcha.

No caso de Santo António, mais certeiro não podia deixar de ser esse dito " Alfama a transbordar, mais dificil de... urinar!".





O assunto não é de choldra. Não está cá Dora Pê para nos explicar as contingências de satisfazer a bexiga feminina no meio da cidade. Mas posso testemunhar autênticas portagens à porta de cafés, onde a natureza humana pode libertar-se a um Euro.
Contudo aí começa a vigorar agora um apartheid muito comum na noite.

"Mija a menina que é menina, o senhor faça no pneu ou na esquina"
ouvi eu numa peixaria em after-hours, onde até no gelo desfeito do cherne se reflectia o olhar encarniçado dos anfitriões.

O nosso género está bem aviado. Elas já nos passam à frente - sem consumo mínimo- em mais portas que as que se contam em Évora.

Mas se o servicinho-feito-em-pé é uma coisa que se aprende de pequeno, já não se compreende por que razão não se generaliza na primária o ensino de uma das ferramentas mais útil do homem adulto.

Não, não estou a falar de aprender a torcer o pepino.

Simplesmente, com a bagagem de inglês que vamos dar às criancinhas, penso ser do mais relevante interesse pessoal embalar os portugueses de amanhã com um kit de técnicas para fazer o "nó da gravata".








Confesso que das coisas que não aprendi em pequeno ou jovem, é das que mais falta me faz.
Lembro-me sempre de um amigo meu ter sido salvo no fato do seu casamento por um grande actor português. E tenho memória do meu embasbaque face a teorias entre os homens da familia sobre o melhor nº de nós sobrepostos, o tamanho das gravatas e a cor das mesmas.

A dúvida assaltou-me de novo antes de entrar há dias para os estúdios da RTP no Lumiar.
Lembram-se deste duo e das suas gravatas ?



Saber fazer o nó de uma gravata é como tirar a carta de moto - pode nunca ser usada, mas dá sempre jeito.

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