30.1.06

 

O clube mais irritante do mundo (RPS)

Nota prévia: sou portista, sócio número cinco mil e tal. Gosto de futebol e gosto do FCP desde miúdo.

O Benfica é para mim um clube odioso. Mesmo que esteja de rastos e não nos faça frente, o que tem acontecido com frequência nos últimos dez-quinze anos. Se fosse para a Segunda B, o Benfica continuaria a ser um clube odioso.
Já o Sporting só pontualmente é odioso. É odioso quando ganha. Ou quando faz frente ou é melhor que o Porto. Raras vezes aconteceu nos últimos trinta anos.

A outra escala, o Boavista do clã Loureiro também é odioso.
E há, ainda, um lote de grupelhos menores que também me causam asco. Um lote onde estão clubes como o Estoril-Praia, o Estrela da Amadora, o Amora, o Farense e o Portimonense.
Não há, contudo, clube mais irritante do que este:





... a Académica. A Académica de Coimbra. A Briosa.

De facto, o que pode dizer-se de um clube que se designa por A Briosa?
O que pode dizer-se de um clube cujos adeptos mais fiéis vão para o estádio de capa e batina? Não há imagem televisiva mais indigente do que aquela em que vemos, num canto de uma bancada do estádio da Mata Real ou da Reboleira, capas negras esvoaçantes.
E aquele grito compassado - Bri-oooooo-sa!... Bri-ooooo-sa!... Bri-ooooo-sa!... - que se ouvia no velho Municipal e se ouve agora no Cidade de Coimbra? Aquilo provoca-me logo náuseas e uma violenta reacção cutânea.

Mas a Académica tem muitos simpatizantes, espalhados por todo o país. Uma figura pública em busca de popularidade e/ou com receio de tomar partido diz ser da Académica, se questionada sobre a sua preferência clubística.
Muitas outras figuras públicas - e mesmo pessoas comuns - dizem que a Académcia é o seu segundo clube. Por isso, os academistas dizem que a Académica é o maior segundo clube do país. Surpreendentemente, dizem-no ufanos. Não dá para entender o orgulho que há em ser a outra de toda a gente. Mas a Académica gosta de o ser. Subalterna e promíscua, julga-se conspícua.

Antes de 74, a Académica era quase um grande. A par do Belenenses e do Vitória de Setúbal, era aquilo que nos últimos anos têm sido o Boavista, o Braga e o Guimarães. Nos anos 60, de que não tenho memória, a Académica ia mesmo a finais da Taça, às competições europeias e chegou a ser, uma vez, segunda classificada. Nos inícios de 70 - aí já me lembro - ainda tinha boas equipas, mas com o 25 de Abril a Académica transformou-se numa equipa de sobe e desce.

Quando a Académica está na Segunda Divisão, é certo que qualquer jogo em Coimbra tem direito a resumo de três minutos no Domingo Desportivo. E lá temos aquelas imagens de futebol pobre e de bancadas vazias, em que sobressai apenas, entre tanto cimento, o núcleo das capas negras esvoaçantes.
Mas eis que, perto do final do Campeonato, a Académica está na frente e chega aquele jogo em que a vitória garante a subida. As imagens televisivas surpreendem: o estádio está a abarrotar. A mancha negra das capas esvoaçantes alastrou como mancha de óleo. Nos camarotes, tropeça-se em ministros e secretários de estado, ex-ministros e ex-secretários de estado, deputados e dirigentes partidários. É uma turba muito mais abrangente que o Bloco Central, muito mais abragente do que o arco CDS-Bloco de Esquerda: é gente que vai dos saudosos do Estado Novo à extrema-esquerda revolucionária. E, nessa hora, até os jornalistas desportivos tomam partido de forma descarada.

Nessa hora, a Académica mostra, em todo o esplendor, aquela que é, talvez, a sua faceta mais irritante: o consenso.
É isso: toda a gente gosta da Briosa. Toda?... Não, claro. Eu, como desconfio sempre dos consensos muitos amplos, detesto a Académica. Irrita-me. É o clube mais irritante do mundo.

29.1.06

 

Sete colinas? (RPS)

Saberá alguém enumerar - com nome e localização correctas - as sete colinas que - dizem - Lisboa tem?
Nunca encontrei ninguém que me respondesse à questão de forma clara e inequívoca, pelo que sempre duvidei de que Lisboa tenha mesmo sete colinas.

(Antes de editado, falei deste post com um casal amigo. Por acaso, obtive, pela primeira vez, uma resposta clara e inequívoca. Convincente. A C.C. sabe. Deve ser caso único).

28.1.06

 

Blogando por aí (2) (RPS)

Um blogue de gaja, se é bom, não é, afinal, um blogue de gaja.
Um post de gaja, se é bom, não é, afinal, um post de gaja.
Em fim de semana preguiçoso, blogando por aí, dei, num dos blogues do lado, com O Cuspido da Maria.
Ganda posta!

 

Blogando por aí (RPS)

Em fim de semana preguiçoso, blogando por aí, encontram-se coisas interessantes. Como é o caso desta pertinente observação sobre (mais) um irritante tique de algumas (muitas) pessoas.

27.1.06

 

O Cristo Prateado (SM)



Não há personagem nos comics mais comovente; só talvez o médico Stephen Strange, o cirurgião que deixou de ter mãos para operar e usou a magia para salvar o mundo; mas este surfista que deu a estalada de luva branca ao Galactus só porque se apaixonou pelo Planeta azul é irrepetível; que outro inocente deixaria a amada no planeta de origem para explorar mundos que o devorador pudesse comer? E que outro se deixaria sacrificar, pintar de prateado, e ficar confinado a esta bola achatada só porque se recusou a entregar os homens?

E que outro diria, só com o pensamento, " vem cá minha prancha", e ela vinha obediente?

 

Na Estrada II (SM)

Tenho carta de condução há menos de um ano. Mas nunca gostei tanto de conduzir como nesta campanha eleitoral. Nem o cansaço foi tão grande para me tirar tremendo contentamento. Porque conduzi sobretudo à noite. E porque é à noite que se evitam os bandidos na estrada, que não é necessário fazer ultrapassagens, porque as auto-estradas ao dia de semana parecem ruas do lá-vai-um. E porque estabeleci uma rotina nocturna que se mostrou ser de acerto total: bani a música, o rádio, adoptei a técnica da janela aberta para não me dar o sono, entortei vezes sem conta o banco.

E então parecia que levava a prancha e surfava de Vila Verde de Ficalho até Coimbra, de Guimarães até Coimbra outra vez. Onde tirei a prova de que um Hotel de 2 ou 3 estrelas é o luxo absoluto. E acabei com a paranóia de ser vítima da hipnose da auto-estrada.

 

Na Estrada I (SM)

No rescaldo (tardio) da campanha com Jerónimo.

Diálogo bacoco em Grândola, comigo incluida:

-Camarada, já tens um autocolante (do Jerónimo)?

-Eh, não, sou jornalista.

-Ah, e então!?

 

O meu blogue dava um programa de rádio (RPS)

O meu blog dava um programa de rádio. A iniciativa é da Rádio Comercial e anuncia-se para breve. Aos fins de semana.
Talvez já soubessem, mas eu só ontem tomei conhecimento da iniciativa.
O Fado Falado não se candidatará, mas quem tiver um blogue interessante pode (e deve) inscrever-se. Aqui

 

Mozart (RPS)

Ouvi no noticiário das 7 horas, de uma rádio credível: se fosse vivo, Mozart faria hoje 250 anos.

Noutra rádio credível, no noticiário das 8 horas, com repórter em directo em Salzburgo.
Pergunta: com este frio, o que faria Mozart?
Resposta do especialista: ia para casa...

Chega. Hoje, não quero ouvir falar mais de Mozart.

25.1.06

 

John Smith (RPS)

Dar o máximo de informação com o mínimo de palavras - é uma máxima do jornalismo. Podemos acrescentar: e com as palavras mais simples.
E se a máxima serve para o jornalismo, serve para tudo. Ou deveria servir.

Não é fácil escrever pouco e dizer muito. Não é fácil escrever simples. Mas ninguém o consegue fazer melhor que os britânicos. Terá algo a ver com a língua, mas penso que tem a ver, acima de tudo, com a mentalidade. É idiossincrático.

Nos manuais britânicos de jornalismo, é dado um exemplo clássico de capacidade de síntese. O exemplo de uma notícia que diz tudo com o mínimo possível de palavras. O exemplo é real - é datado do início do século XX e consiste num telegrama, enviado por um correspondente na Escócia para a sede de um diário em Londres. Reza mais ou menos assim:

Glasgow (25) - John Smith, 82 anos, acendeu um cigarro enquanto banhava os pés em amoníaco. Os médicos dizem que talvez sobreviva.

Não será difícil imaginar que esta notícia, por exemplo, no JN de 2006, teria meia página... para dizer o mesmo...
Desde logo, John Smith não teria 82 anos - seria octogenário.
Depois, seria explicado que, a imprevidência da vítima, ao acender um cigarro, tinha originado a inflamação dos vapores do amoníaco, produto altamente tóxico. Ou com elevado teor de toxicidade.
E a frase os médicos dizem que talvez sobreviva seria substituída por várias frases, informando-nos, nomeadamente, de que o ancião tinha 65 por cento do corpo com queimaduras do segundo grau e 20 por cento com queimaduras do terceiro grau, que o prognóstico é reservado, embora a situação clínica do doente, de acordo com a equipa médica das Urgências, é considerada estável. (claro que é estável - o homem está estavelmente todo f.....).

Este post vai longo. Outros longos posts tenho editado por aqui. Por isso, aos visitantes do Fado Falado deixo a mesma mensagem que o Padre António Vieira deixou no final de uma longa, muito longa carta dirigida ao Rei. Cito de cor: desculpe-me pela carta ser longa, mas não tive tempo para escrever uma mais curta.

24.1.06

 

A minha primeira foto blogueira (SM)




Este é que havia de ser o presidente de todos os portugueses; e portuguesas.

 

Insuportavelmente chatos (RPS)

Na generalidade das disciplinas científicas, nas variadas áreas do conhecimento e do pensamento, é habitual a existência de diferentes correntes, de diferentes escolas. Dão-nos visões e interpretações diferentes, ora complementares ora antagónicas.
Muitas vezes, essas correntes ou escolas são designadas pelo país de origem do estudioso ou estudiosos. Assim, nas mais diversas áreas, deparámo-nos com a escola britânica, a escola francesa, a escola americana, a escola alemã, and so on...
Tendo por base as minhas (limitadas, é certo) experiência académica e curiosidade intelectual, chego à conclusão de que em qualquer área de estudo a escola francesa é sempre a pior.
A escola francesa gasta muitas palavras para dizer pouco e a escola britânica (ou qualquer outra, mas a britânica mais do que qualquer outra) gasta poucas palavras para dizer muito.
Os franceses são uns chatos.
Os franceses são insuportavelmente chatos.

NOTA: antes de ecrito, este post foi falado, há mais de uma semana, com o amigo Funes que, entretanto, já ensaiou, por aí, em comments, um debate com o amigo Aristóteles.

23.1.06

 

A grande dúvida que me ficou do domingo eleitoral (RPS)

Domingo eleitoral, 18 horas e 15 minutos. Já caiu a noite. Encontro-me parado numa fila. O semáfaro da Rua do Paraíso, no cruzamento com a Rua de Camões, está vermelho. Abre o verde, a fila avança, eu avanço também. Nesse momento, olho para o passeio da esquerda e vejo um homem, aparentando cinquenta anos, de barba grisalha, não muito alto. O tipo leva uma máquina fotográfica ao olho e aponta à cúpula iluminada da Igreja da Lapa. Hesito. Encosto?... Sigo?... Arranquei, segui caminho.
Seria o Carlos Romão?...

 

Ao arrepio da play-list (RPS)

No cyber do costume, já me consigo abstrair do ruído de fundo da Rádio Festival. Mas quando nos atiram com aquele sucesso de Verão, salvo erro de 2002, das Ketchup, um tipo desconcentra-se mesmo. Aquele hit que implicava uma dança pateta.



Não lembra ao diabo e - garanto-vos - nunca tinha lembrado (pelo menos, de há largos meses a esta parte) ao cérebro que faz a play-list da Festival.

 

Vai ser preciso navegar em tão curto mar (SM)

Tanto Mar - Chico Buarque


Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente, um velho cravo para mim

Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente nalgum canto de jardim

Sei que há leguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
Sei também como é preciso, pá
navegar, navegar

Canta a Primavera, pá
cá estou carente
manda novamente algum cheirinho de alecrim

 

Notas a reter da noite eleitoral (RPS)

- Mário Soares candidatou-se para evitar que a candidatura de Cavaco Silva tivesse um passeio pela Avenida da Liberdade.
Cavaco Silva acaba de ter um passeio pela Avenida da Liberdade.
Conclusão: a candidatura de Mário Soares revelou-se um palhaçada. E Mário Soares um palhaço.

- Mário Soares, tal como Manuel Alegre, recusou-se a responder a perguntas dos jornalistas. Foi exactamente o que Santana Lopes fez nas Legislativas e foi (muito justamente) duramente criticado.

- José Sócrates calou Manuel Alegre, no momento das declarações finais. Humanamente, até o entendo, mas fez mal. Mas o pior mesmo, verdadeiramente incompreensível, é o comunicado que fez sair, alegando não saber que Alegre falava naquele momento. Ninguém acredita, obviamente.

- A Eurosondagem, de Rui Oliveira e Costa, andou todo o tempo a colocar Alegre em terceiro lugar nas sondagens.

 

Saudações para o Penhasco

Da equipa FF para este novo projecto de um amigo da casa... Em breve à esquerda do nosso peito, na coluna devida.

 

Do que o vice versa

Alegre provou hoje que vale muito mais no país que no PS. Um milhão e tal de votos, a meia décima da segunda volta.

Conseguiu-os à margem dos partidos. Aplicá-los no seu partido, numa putativa oposição interna do PS, seria pois uma traição às ideias que o próprio defendeu.

Alegre perdeu para Sócrates à primeira volta por 7-3. O facto de ganhar na segunda volta por 3-0 não chega para seguir em frente. No PS, caso arrumado para Alegre.

E para Sócrates. Como disse Pulido Valente à RR, Sócrates tem o partido na mão. Ganhou-o há pouco tempo e com ele venceu o país anteontem. Mas no PS, a arrogância e a desmesura paga-se caro. Atropelar Alegre num directo televisivo daria ao poeta mais duas décimas eleitorais.



Nas eleições mais sebastianicas de sempre, Alegre só poderia ficar bem cotado. A tendência dos portugueses para o lirismo ainda dá votos. O vice desta contenda versa a utopia, a flama desprovida de conteúdo e o patriotismo. Isto também vale para um povo.

 

Comprimido na bandeira

Nunca vi derrota tão animada como a de Soares. Julguei mesmo ver Marcelo de lágrima no olho após o discurso de saída.

O homem é inimitável. Da sua dimensão, por diversas sortes e azares, apenas Cunhal se aguentou no activo até tão tarde. Desde o 25 de Abril ainda não se viu tamanho incontinente político.

Entendamo-nos. Falo da necessidade egoísta de estar na política contra as evidências conjunturais. Apesar da patetice em que se decidiu meter, Soares é daqueles homens que só pela sua presença provoca uma ideia, um sentimento.

Provas ? Ao estar presente, sublinhou as ausências. Mediatizou as inimizades. Colocou o povo a falar de juventude e velhice. Foi o negativo essencial a qualquer fotografia.

Ao contrário de Cavaco, Soares está-se borrifando para o PS. O soarismo, que ontem morreu, é branco e azul como as bandeiras da candidatura. O PS deixou-se perder assim como um clube deixa cair um capitão de equipa para o abandono do exílio.

Soares passou de Pai da Pátria a egrégio avô. Só ele não percebeu. E por isso andará por aí, como um comprimido azul numa bandeira vermelha, espasmódico e insolente , venerado na corte que decidiu assumir o seu velório político.

“ O avô cavernoso instituiu a chuva”
Não há muitos portugueses como Mário Soares.
“Ninguém o chora agora”. Perfumou-se ?

 

Dois volantes na Avenida

Cavaco não tem de facto um programa. Não. Tinha – um passeio na Avenida.

Hoje segunda-feira, a máquina reprograma-se. Mas algumas coisas nunca mudam.Um professor não pode ser publicamente desafiado por um aluno. Um político não pode deixar de navegar à vista. Sobretudo em Belém. E há quem diga que nem deve. Mas tal deve-se à natureza vaga do seu cargo, misto de psicólogo e papá. Disso espero postar em breve.

Cavaco e Sócrates são pessoas muito determinadas. Vão dar-se bem. O segundo podia militar num partido liderado pelo primeiro. No essencial, o centro é de facto o terreno comum, com a máscara comportamental de direita de Cavaco e de esquerda (?) de Sócrates. E o centro não existe, como sabem.

Tenho um feeling que Cavaco vai ser reeleito de forma esmagadora. Gostava de saber como poderá Sócrates seriamente não apoiar Cavaco em 2010. Se lá chegar. Se for reeleito.

Portugal vai passar a ser um carro com dois volantes. O instrutor é algarvio.

22.1.06

 

Acabou (JCS)

Os Portugueses votaram, e alguns parecem ter gostado da campanha. Só assim se entende o prazer de fazer Cavaco Silva vitorioso à primeira volta, mas por uma unha negra.
Manuel Alegre provou que deveria ter sido o candidato apoiado pelo PS nestas eleições. É ele o grande vencedor na minha análise.
Mário Soares promete no seu próximo aniversário dizer “Basta!”. Se não o fizer, outros o vão fazer por ele.
Francisco Louçã pode respirar de alívio. Já tem um contribuinte de peso para pagar a sua campanha: a subvenção do estado. Ou seja os tostões de todos nós, os que votaram e os que não votaram nele.
Por último Garcia Pereira. O último dos últimos, com 0,4 por cento dos votos garantidos. Longe dos 1,5 por cento das presidenciais de 2001. Terá morrido neste dia um partido chamado PCTP-MRPP?
Parabéns aos vencedores, cumprimentos cordiais a alguns dos perdedores. A todos o meu obrigado por não obrigaram o país a voltar a papar com mais uma campanha eleitoral.

 

O falhanço das minhas previsões (RPS)

Pouco passa das dez da noite. Já várias pessoas com quem falei desde as 20 horas me disseram que acertaram todas as previsões eleitorais que tinham feito. É sempre assim, em todas as eleições. Todos já sabiam tudo... depois de conhecidos os resultados... Aliás, esses nunca escrevem as suas previsões. Eu faço ao contrário e pus aqui as minhas. Fiz, aliás, várias previsões ao longo dos últimos meses. As derradeiras, na sexta-feira, ao início da tarde. Para que os que frequentam o Fado Falado, vejam lá como eu falhei:

Cavaco Silva - 55%
Mário Soares - 19%
Manuel Alegre - 14,5%
Jerónimo de Sousa - 6,5%
Francisco Louçã - 4,5%
Garcia Pereira - 0,5%

Se Cavaco vencer mesmo esta noite, será à tangente - nunca com uma margem confortável de 55.
Mas, de todos os meus falhanços, o mais gritante diz respeito à luta Alegre/Soares. Desde o Verão e até à véspera das eleições pensei - e escrevi-o aqui por várias vezes - que Soares ficaria bem acima de Alegre. Falhei rotundamente.

 

Notas do dia eleitoral, antes do fecho das urnas (RPS)

O pau correu solto em Cabeceiras de Basto. Pelas imagens que vi, a GNR actuou com grande ponderação e frieza, de mãos nuas face a populares de varapau.

Maria Cavaco Silva demorou-se imenso tempo na cabine de voto. O marido foi para a cabine do lado depois dela e saiu primeiro.

Mário Soares não abriu a boca na sua mesa eleitoral. Fez muitíssimo bem, embora pelas más razões. Não o fez por uma questão de princípio ou em cumprimento da lei, mas pelo que aconteceu nas Autárquicas, quando apelou - pateticamente - ao voto no filho, em Sintra.
Nenhum candidato deveria pronunciar-se naquele momento, mesmo que seja para pronunciar as habituais banalidades. No mínimo, fazê-lo contraria o espírito da lei.

Os jornalistas não acompanharam a votação de João Soares. Deviam fazê-lo para verificarmos se ele é, na verdade, um bom filho. Se o é, apelaria agora ele ao voto no pai.

Alberto João Jardim, à saída da sua mesa de voto no Funchal, falou aos jornalistas sobre os males que afectam a República. Retive uma frase: há em Portugal um grande défice de educação.
Que lucidez! Que estadista!

21.1.06

 

Dia de reflexão (RPS)

Mão amiga fez-me chegar isto, por mail. Tenho passado o dia a analisar o calendário, as folgas em atraso, os dias de férias de 2005 não gozados.
Lamentavelmente, o São João é num sábado.

28 de Fevereiro - Entrudo (Terça Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
14 de Abril - Sexta-feira Santa (Sexta Feira) - Fim de Semana Prolongado
25 de Abril - Dia da Liberdade (Terça Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
1 de Maio - Dia do Trabalhador (Segunda Feira) - Fim de Semana Prolongado
13 de Junho - Só para Lisboa ( Terça Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
15 de Junho - Dia do Corpo de Deus (Quinta Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
15 de Agosto - Assunção de Nossa Senhora (Terça Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
5 de Outubro - Implantação da República (Quinta Feira) - Ponte - Fim de Semana Prolongado
1 de Novembro - Dia de Todos-os-Santos (Quarta Feira) - Baixa de 2 dias - Fim de Semana Prolongado
1 de Dezembro - Restauração da Independência (Sexta Feira) - Fim de Semana Prolongado
8 de Dezembro - Imaculada Conceição (Sexta Feira) - Fim de Semana Prolongado
25 de Dezembro - Natal (Segunda Feira) - Fim de Semana Prolongado

O 1 de Janeiro de 2007 também é segunda- feira , mas é só para o ano.

20.1.06

 

Previsão final (RPS)

Cavaco Silva - 55%
Mário Soares - 19%
Manuel Alegre - 14,5%
Jerónimo de Sousa - 6,5%
Francisco Louçã - 4,5%
Garcia Pereira - 0,5%

 

Uma sequela do post anterior (RPS)

Já manifestei no post anterior a convicção de que a aplicação do sistema de contagem de votos tipo Festival da Canção nas Presidenciais tramaria Cavaco Silva e elegeria Manuel Alegre com larga vantagem.
Também se pode prever os efeitos que a utilização desse método teria nas opções de alguns eleitores-tipo.

O indefectível eleitor do MRPP, para além de atribuir 5 pontos ao seu líder, atribuiria 4 a Cavaco e zero a Jerónimo. Por tradição, o PSD é o partido dos pais da malta do MRPP. O PCP social-fascista é o inimigo de sempre.

Por idêntica razão, o cavaquista médio colocaria Garcia Pereira em segundo. Já o cavaquista mais conservador seria tentado a colocar Alegre em segundo, embora com isso pudesse ajudar á derrota do seu preferido.

Soares teria zero pontos da esmagadora maioria dos eleitores cavaquistas e de todos os cavaquistas retornados.

Cavaco teria zero pontos da esmagadora maioria dos eleitores de Soares. Alguns, dariam zero ao camarada Alegre, em castigo pela divisão gerada.

O eleitor do PCP tenderia a colocar Alegre em segundo lugar, com 4 pontos. O último seria sempre Louçã porque a concorrência do Bloco é forte, principalmente entre os jovens.

Um eleitor bloquista muito ideologizado, além de atribuir 6 pontos a Louçã, daria as pontuações mais baixas aos adversários Garcia e Jerónimo, não se importando de dar 3 pontitos a Cavaco.

Já o bloquista comum, colocava Cavaco em último e dava os cinco pontos a Alegre ou a Jerónimo
O bloquista comum é o bloquista urbano, filho de pais ricos ou bem instalados, profundamente burguês, pouco politizado, mas que gosta de parecer muito progressista. Tem entre 20 e 40 anos e diz-se de esquerda porque "a esquerda tem mais preocupações sociais, pá..." ou porque "a esquerda apoia mais a cultura". Simpatiza com o Bloco "porque defende causas minoritárias, de gente que não tem voz".

19.1.06

 

Um post grande (não necessariamente um grande post) em que se propõe a alteração do método de contagem de votos usado nas eleições (RPS)

Já aqui falei, nos primórdios deste blogue, de Jorge Buescu. Físico, doutorado em Matemática, professor no Técnico, em Lisboa, Buescu juntou num livro - O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias, Colecção Ciência Aberta, da Gradiva - as crónicas que ao longo de algum tempo foi escrevendo na revista da Ordem dos Engenheiros. Podem ser definidas como crónicas sobre o modo como a Matemática e os seus conceitos são aplicados ou podem explicar pequenas-grandes coisas do nosso quotidiano. São crónicas muito bem escritas e muito bem humoradas.

Numa dessas crónicas, Buescu dá-nos conta de uma tese, defendida por alguns matemáticos, que sustenta a injustiça do princípio eleitoral um homem-um voto que impera nas democracias. A tese não tem conteúdo anti-democrático. Pelo contrário: é-nos proposto para as eleições um método alternativo, muito mais justo. Já lá iremos...

Imaginemos, então, uma eleição com três listas - A, B, C - concorrentes. Um eleitor analisa as opções e tem uma ordem de preferência. À lista C, posso preferir a B e a esta posso preferir a A. Podemos designar esta posição como A>B>C.
Concretizemos um pouco mais. Nesta eleição há 12 eleitores que se definem pelo seguinte posicionamento:

5 eleitores A>C>B
4 eleitores B>C>A
3 eleitores C>B>A

Face a este quadro, a lista A vence as eleições com cinco votos, que correspondem a expressivos 42%.
Mas imaginemos que, à boca das urnas, a lista B desistia. De acordo com o posicionamento dos 12 eleitores, a vitória seria da lista C, afinal a aparentemente menos preferida.
Se fosse a lista C a desistir, a lista A, a aparentemente mais forte, também sairia derrotada.
Conclusão: a lista A vence a eleição, mas é a lista mais rejeitada pela maioria dos eleitores.

Como se vence, então, este efeito nefasto, mantendo o grau de democraticidade das eleições?
A alternativa ao sistema um homem-um voto que nos é proposta é um outro sistema em que cada eleitor ordena os candidatos por ordem de preferência, procedendo-se, depois, à atribuição de pontuações. Por exemplo: 2 pontos para o primeiro lugar, 1 ponto para o do meio e zero pontos para o terceiro.
Com a utilização deste método, chegaríamos, neste caso, ao seguinte resultado: Lista A 10 pontos; Lista B 11 pontos; Lista C 15 pontos. O resultado seria diferente, venceria a lista C. Afinal, é a preferida do conjunto dos eleitores.
Este método é idêntico ao utilizado nos Festivais da Canção, em que o júri ordena, atribuindo pontos, um lote de concorrentes.
Demonstrado o paradoxo, Buescu conclui a sua crónica com a bem humorada tese de que não há competição mais justa, democrática e repesentativa do que os Festivais Eurovisão da Canção.


Não tenho dúvidas de que Cavaco será o candidato mais votado nas Presidenciais de domingo. Mas com a aplicação do método alternativo o resultado seria diferente: Manuel Alegre ganharia "de caras". Seria evidente a ocorrência de alguns fenómenos. Por exemplo:

- Cavaco, coleccionaria carradas de votações de 5 pontos, mas também de 0 pontos.
- Manuel Alegre teria muito menos cincos que Cavaco, mas também teria muito menos zeros. Por outro lado, seria o campeão dos segundos lugares, das pontuações 4. Teria, pois, fortísimas hipóteses de bater Cavaco e, assim, de ser eleito.
- Mário Soares, apesar de um número significativo de cincos, teria "n" pontuções de 0. Significa que nem com este sistema se safava.
- Garcia Pereira seria altamente beneficiado com este sistema. PSD e MRPP sempre andaram próximos e muitas cavaquistas não deixariam de atribuir 4 pontos ao advogado do cachecol vermelho.
- Com muitos menos zeros, mas também com muito menos cincos, Jerónimo e Louçã seriam os piores posicionados.

post-scriptum: também se pode especular sobre a distribuição de pontos que fariam diversos eleitores-tipo. Se tiver tempo e pachorra, vai para o próximo post. Amanhã.

18.1.06

 

Primeira previsão (RPS)

Cavaco Silva - 52,5%
Mário Soares - 17,5%
Manuel Alegre - 14,0%
Jerónimo de Sousa - 8,0%
Francisco Louçã - 7,5%
Garcia Pereira - 0,5%

17.1.06

 

Conservador, adjectivo maldito (RPS)

Imaginemos duas pessoas a discutir um determinado assunto. Sobre o melhor tipo de ensino para os filhos, sobre um filme, sobre o último disco de uma qualquer banda ou sobre gravatas. Imaginemos que essas pessoas têm opiniões divergentes e esgrimem, assim, argumentos. Imaginemos que, a dado ponto, uma das pessoas atira: Oh pá... Tu és um conservador. Sabem qual é a resposta mais que certa? É esta: Conservador???!!! Eu???!!! E, depois, o "visado" avança uma série de justificações e argumentos para tentar demonstrar que é tudo menos conservador.

Conservador é um adjectivo maldito. É um epíteto com enorme carga negativa. Mesmo para quem é conservador, mas acha que não o é, ou acha que não o deve ser. Ou acha que o é, mas que o deve esconder por receio de represálias sociais.
Dizer que alguém é conservador é uma acusação. Já várias vezes me lançaram essa "acusação". E eu, mesmo que não tenha uma posição conservadora em relação ao assunto em causa, respondo sempre: pois sou. Na maioria das ocasiões, os meus interlocutores ficam entre o surpreendido e o horrorizado.
Para muitas pessoas conservador é sinónimo de retrógrado, quadrado, antiquado, parado no tempo, reaccionário, bota de elástico, vistas-curtas, moralista, falso-moralista, ultrapassado... Enfim...

16.1.06

 

Cães e filhos (RPS)

Quando eu era miúdo e mesmo adolescente, os cães e gatos domésticos comiam os restos da comida dos donos. Não propriamente os restos que os donos cuspissem da boca, mas, em todo o caso, os restos. Algumas pessoas davam aos seus canídeos uns biscoitos quaisquer "como suplemento". Outras compravam uns ossos no talho que coziam propositadamente para os bichos. Lembro-me de uma vizinha minha que pedinchava à Helena, a peixeira que nos batia à porta, alguns restos de peixe "para o bichano".

Depois, não há muitos anos (dez, quinze?...), chegou-nos a comida enlatada para animais. Até pode ter chegado antes, mas o boom não tem duas décadas. Estamos na era das whiskas, dos pedigree pal e quejandos. Há uns meses, nas páginas de economia de um jornal, li uns números sobre o dinheiro que esses produtos fazem mexer. É impressionante. Sei que estas realidades proporcionam que se faça demogagia barata, algo a que não gosto de recorrer, mas, ao ler aquilo, confesso que não consegui deixar de pensar em humanos mal alimentados.

Desde aí, habituei-me a ouvir, de gente séria frases como "a Farrusca só come whiskas e, mesmo assim, só algumas. De coelho, por exemplo, não gosta. Não come mesmo..." ou, então, "o Rex só gosta de pedigree pal, recusa-se comer outra marca...".
As mesmas pessoas, à mesa, com a família, mudam de atitude e, então, ouvimos tiradas como "O Gonçalinho não gosta do peixinho?! Ai, Ai... O Gonçalinho tem de gostar de tudo e tem de comer tudo para ser forte como o pai..." ou, então, "Não gostas das couvinhas, Ritinha?! Gostas, gostas, as meninas lindas gostam de tudo...".

Não faltam sintomas de doença na nossa sociedade. Obrigar os filhos a comer do que não gostam e permitir aos bichos todos os caprichos gastronómicos é só mais um.

12.1.06

 

Já vai tarde (RPS)

Num dia desta semana, folheando o 24 horas, dei com a notícia: Gabriel Alves e Rui Tovar negoceiam saída da RTP.
Li na diagonal - não sei se vão reformar-se ou simplesmente rescindir para arranjarem um tacho a recibos verde. Eventualmente, na própria empresa. Também não interessa.
No texto, o plumitivo que o assina deixa a pergunta retórica: o que vai ser do futebol da RTP sem Gabriel Alves?... Terrível perda, penso eu - para a RTP, para o jornalismo, para o futebol.

Para mim, o Gabriel Alves reformou-se há mais de dez anos. Não o ouço desde 94. Nem a ele nem, aliás, à generalidade dos comentadores televisivos do futebol. Subo o volume do receptor esporadicamente, mas se é o Gabriel corto o som de imediato.
De cada vez que faço um esforço de boa vontade para os ouvir, chego à conclusão de sempre: muito dificilmente se escuta um comentador acrescentar algo àquilo que estamos a ver. O último a fazê-lo com regularidade foi o António Tadeia. Depois de o ter ouvido, durante o Euro 2004, no Portugal-Russia, e de ter ouvido os comentários do José Mourinho no Portugal-Espanha, acho, até, que não vale a pena ouvir mais ninguém.

Na generalidade, todos os comentadores são fracos. Gabriel Alves, contudo, abusa. Em todos os parâmetros. O melhor que nos dá é a vulgaridade. O normal nele é o bacoquismo e a asneira. Alves é um profundo ignorante em futebol. Como se não bastasse, não é sequer sério. É de uma desonestidade chocante.
No mundo de Alves, uma agressão de um jogador do Porto sempre foi "um acto inqualificável, indigno de um profissional". Já a agressão de um jogador do Sporting e, principalmente, do Benfica sempre foi "uma atitude irreflectida que só prejudica a própria equipa".
Num país a sério, numa empresa séria Alves não chegaria certamente à reforma.

11.1.06

 

Grato ao PR Sampaio (RPS)

No rescaldo do meu post anterior, edito este, num simbólico agradecimento ao PR quase cessante pelos dois mandatos que cumpriu em Belém.
Jorge Sampaio é um chato? É. Um bocado. Um bom bocado. Por isso, não lhe agradeço os discursos. Mas, enquanto português, estou-lhe grato por outras razões.
Pela seriedade.
Pelo esforço feito em nome da unidade nacional. E em prol do optimismo colectivo.
Por ter andado por aí a dar visibilidade ao Portugal positivo, em vez de promover manifestações de bandeiras negras ou jantares conspirativos contra governos.
Pelas chamadas de atenção que fez - no número certo de ocasiões e no tom sempre correcto (várias, por exemplo, quanto ao estado da Justiça). E pela interpretação que fez dos poderes presidenciais.

No momento de maior crise que enfrentou, o PR fez o que devia.
O Primeiro-Ministro Durão Barroso deixou o lugar e, tal como acontece nos países civilizados, o PR aceitou a indicação do substituto feita pelo partido maioritário (Santana é culpa do PSD, não é culpa do PR). Jorge Sampaio não poderia argumentar que achava que Santana não servia. Acresce que havia uma Maioria Parlamentar que até aí se mostrara coesa.
Quando o regular funcionamento das instituições ficou em causa - o país já se rebolava de riso quando se ouvia a frase o Primeiro-Ministro Santana Lopes e isso era, obviamente, um perigo para a Democracia - o PR deitou mão da sua arma mais poderosa e pôs fim à fantochada.

Não isento de falhas, Sampaio foi um bom PR. Seria bom que o próximo PR - Cavaco, obviamente - seguisse o seu exemplo e não o de Soares. Pressinto, contudo, que Cavaco será muito mais semelhante àquilo que Soares foi em Belém.


10.1.06

 

Dos poderes do PR (RPS)

Se Portugal fosse uma democracia madura, sólida, adulta, era provável que o Chefe de Estado fosse eleito de forma indirecta, no Parlamento. O cargo seria totalmente simbólico e a vida política estaria centralizada no Parlamento e no sistema partidário. É assim, por exemplo, na Alemanha. Em tese, é a melhor solução, mas cada caso é um caso, cada país tem as suas particularidades.

A nossa Democracia tem 30 anos. É muito pouco. A democracia britânica, por exemplo, tem séculos. Somos, assim, um país sem grandes tradições democráticas, cívicas, de sentido de serviço público. Seria, pois, um risco entregar os destinos do país exclusivamente ao Parlamento e ao sistema partidário. O episódio Santana Lopes mostrou-nos isso. Objectivamente, não estamos livres de que amanhã o Primeiro-Ministro seja, por exemplo, o secretário de estado Ascenso Simões ou a ministra Pires de Lima ou o doutor Luís Filipe Meneses Lopes.

Nesta quadro, percebe-se que a lei consagre a existência de um Presidente da República com alguns poderes. Mas que poderes?...
Não percebo nada de Direito. Nada sei, portanto, especificamente de Direito Constitucional. Mas sei ler e, lendo os artigos da Constituição sobre o órgão Presidente da República, concluo que na definição dos poderes do PR o texto é ambíguo. É aberto.

O PR pode por fim a um Governo, se estiver em causa o regular funcionamento das instituições. O que é isso? É o que o PR quiser que seja. Se tivermos um PR maluco, ele pode achar que o regular funcionamento das instituições está em causa ao fim de um mês de mandato de sucessivos governos. Pode tramar-se politicamente, mas juridicamente e consitucionalmente tem poderes para isso. E, para lá destes poderes, tem ainda a possibilidade de, usando português vulgar, meter nojo.

Mário Soares, por exemplo, no segundo mandato em Belém, tramou o Governo quanto pôde. Organizar congressos contra um governo e promover manifestações de bandeiras negras não me parece que sejam atitudes que dignifiquem o mandato de um PR. Daí que eu avalie Mário Soares como um mau Presidente da República, ao contrário da opinião corrente.
O próximo PR - Cavaco, obviamente - prepara-se para ser idêntico a Soares. Será muito colaborante na maior parte do tempo e enquanto isso servir os seus interesses. Quando puder, mete a faca a quem quer que seja - a Sócrates ou a outro, a um Governo PS ou a um Governo PSD.

Nessa hora, a esquerda bem pensante que aplaudiu Soares criticará duramente Cavaco.

 

Falta muito? (JCS)

Francisco Louçã dizia na passada Quinta feira, que faltando duas semanas para as eleições presidenciais os dias se arrastam, pesados, para algumas candidaturas.

De facto tem razão. Se assim pensam os políticos, o que dirão os eleitores? O debate de ideias não existe. E depois de terem arrancado a pré-campanha a dizerem mal uns dos outros, (uns mais do que outros) optam de quando em vez para referir aquele “cujo-nome-não-se-pode-pronunciar”, como se fossem figuras de um qualquer filme de Harry Potter.

Mete pena esta classe política. Metem pena estes candidatos que nem nos comícios, e jantares de apoiantes já se fazem ouvir como de resto tantas reportagens têm testemunhado.

Falta muito para dia 22?

8.1.06

 

Reflexões entre arrumações (RPS)

Nunca comprei muita música. Dos vinis, sobra-me hoje uma meia dúzia. CD's tenho na casa das dezenas - 50, 60... 70, no máximo, entre legais e pirateados. Dou conta disto entre arrumações caseiras. E mais uma vez penso que por muitos cd's que tenha, ouço sempre os mesmos, a mesma meia dúzia. Por isso é que muitas vezes penso comprar mais um cd e abdico. Por uma só razão: quantas vezes o vou ouvir?... Quando, ainda assim, compro ou quando me oferecem um novo, se passo a ouvi-lo com insistência, é certo que há logo um dos outros que cai no esquecimento.

Tenho amigos e conhecidos que têm cd's às largas centenas ou mesmo já alguns milhares. Provavelmente, também ouvem sempre os mesmos quatro ou cinco. Porque é impossível usufruir de tudo.
Se um indíviduo tem, por exemplo, 730 cd's tem que ouvir dois por dia, de modo a chegar ao final do ano e poder dizer que usufruiu - pouco que seja - de cada um deles ao longo do ano. E, para não estragar a média de dois por dia, significa que não poderá comprar mais nenhum...
O mesmo se passa com os dvd's. No último ano, comprei alguns filmes, ofereceram-me outros, obtive gravações piratas de uns quantos. Chego ao fim de 2005 e, enquanto arrumo estantes, dou conta de que acumulei filmes que ainda não vi. Mas, entretanto, vi várias vezes - na íntegra ou algumas cenas esporádicas - o Pulp Fiction e o Paris Texas.

O tempo é curto para tanta produção. E nem quero pensar nos livros que ainda tenho para ler...

5.1.06

 

Exageros, de Mário Henrique Leiria (RPS)

Postei, há dois dias, sobre as queixas que Mário Soares fez dos jornalistas.
Fez mal Soares, porque deu um sinal (mais um...) de fraqueza, mas acho que o homem tem alguma razão. Salta à vista que, hoje em dia, a imprensa trata melhor Cavaco e trata pior Soares. Este sente-se prejudicado, para além de que egocêntrico como é - pavão de descomunal cauda -, indivíduo desde sempre necessitado de toda a espécie de deferências, Mário Soares não suporta essa realidade. Mas não há, obviamente, nenhum complot montado para o efeito. Os jornalistas e as redacções não fazem o mundo lá fora - apenas o reflectem.

Não acho que os jornalistas não possam ser criticados. Claro que podem. Eu mesmo os acabo de criticar no post anterior. Mas sempre que vejo ou ouço críticas a jornalistas lembro-me de um texto do Mário Henrique Leiria que está nos Contos do Gin-Tonic. Intitula-se Exageros:

O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:
- Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas! Vê lá tu! É preciso ter descaramento.
Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio.

 

Génios em série (RPS)

Só agora recupero. Andei nestes últimos dois-três dias completamente aturdido com a torrente de adjectivação que jornais, rádios e televisões associaram a Laurent Robert, um dos novos jogadores do Benfica. Desde a chegada do Micoli que não se adjectivava tão apolegeticamente por aí. Se sujeitassemos os textos ditos e escritos a um programa de frequência de palavras, os mais incautos espantar-se-iam com a frequência de adjectivos com carga positiva.

É sempre assim, a cada reforço que chega. São sempre do melhor, vendem-nos sempre tipos fabulosos.
Por exemplo, parece que o meu clube, o FCP, contratou no Brasil um génio de 17 anos. Ainda ninguém o viu dar um pontapé numa bola, mas já é um génio. Não me importava que fosse, mas...
O Sporting, por sua vez, foi buscar um tipo fabuloso: um número dez, argentino. Por acaso jogava no México, por acaso no Vera Cruz, que é, por acaso, o último classificado do campeonato mexicano. Mas quem lê e ouve fica a pensar que mete o Lucho Gonzalez num bolso.

Claro que com o Benfica tudo é ainda mais exagerado. E por estes dias até deu jeito: serviu de manobra de diversão para que não se falasse tanto dos acontecimentos ocorridos no Aeroporto da Portela. A generalidade das redacções está sempre ao serviço da grande instituição.
Lembro-me, ainda, da chegada de um verdadeiro génio que vinha aí para partir tudo - um tal Jamir, que, em pouco tempo, acabou a suplente do Alverca. E lembro-me também da chegada, anos antes, de um novo Eusébio - um tal Akwá, um pobre subnutrido que só é muito bom no estádio da Cidadela, em Luanda.

Não há pior jornalismo em Portugal do que aquele que é feito nos jornais desportivos ou nas secções desportivas dos outros órgãos, embora aqui com algumas excepções.
O certo é que chegou um tipo fabuloso para o Benfica, mas ninguém perguntou aos responsáveis do Benfica porque razão, sendo ele tão bom, não serviu para o Newcastle, não serviu para o modesto Portsmouth e veio a custo zero.
Se eu estivesse em trabalho nessa conferência de imprensa também não faria a pergunta. Confesso: sou um cagão e tenho medo de capangas com o dobro da minha envergadura e o quadrado ou o cubo da minha condição física.

4.1.06

 

O que é que Jerónimo tem? (SM)

O Jerónimo de Sousa não é como a baiana.Disso tenho a certeza. Então o que tem ele para que gostem tanto dele? No sábado vou à Cova da Piedade, ponho o pé na estrada, e pergunto à mulher, à Ovídea. Depois conto-vos.

 

2006 (SM)

Bom ano, fado faladenses. A cambada que escreve comigo no blog foi incapaz de vos desejar tal coisa. A minha aposta é que é este ano que vamos saír da crise, que é este ano que o país vai ficar à frente da Alemanha e da França, nem que seja a comer feijões, que o melhor jogador de badmington de júniores será nosso, que o melhor plantador de batata doce será alentejano.Porque eu quero.

 

Cáceres (SM)

O enviado especial já não é. Esta noite dormimos todos no Hotel Babilónia. Seja ele onde for. Pronto, sempre é uma homenagem. É um azar dos grossos acabar-se aos 57 anos. Porque tenho a certeza que o Bush havia de gostar de mais uma guerra no Iraque, e que o Cáceres lá ia sem pestanejar.Mais uma vez.

3.1.06

 

Jornalistas e candidatos (RPS)

Mário Soares tem-se queixado da Comunicação Social, dos jornalistas. É discurso de perdedor. Acontece a mesma coisa no futebol: quando os responsáveis de uma equipa falam muito nos árbitros, mesmo que possam ter algumas válidas razões de queixa, é porque andam distantes do lugar que pretendem.

É óbvio que Cavaco Silva tem hoje boa imprensa e que Mário Soares tem alguma má imprensa. Mas Soares pode tentar resolver o assunto na própria casa. Pelo menos, atendendo a dados que li no site http://www.noticiaslusofonas.com, num texto crítico da atitude de muitos jornalistas - muito justamente crítico, acrescento, embora não me detenha agora nesse aspecto. Eis os dados que importa reter:

(...) os candidatos fazem gala dos jornalistas que têm como apoiantes. Cavaco Silva diz não ter nenhum, o mesmo se passando com Francisco Louçã. No entanto, Mário Soares conta com 26, Manuel Alegre com 35, Jerónimo de Sousa com 7 e Garcia Pereira com 4.

É só pedir uma mãozinha aos amigos-jornalistas-apoiantes. Ou será que nem eles ajudam?...



2.1.06

 

Que tal o Reveillon ?


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