19.1.06
Um post grande (não necessariamente um grande post) em que se propõe a alteração do método de contagem de votos usado nas eleições (RPS)
Já aqui falei, nos primórdios deste blogue, de Jorge Buescu. Físico, doutorado em Matemática, professor no Técnico, em Lisboa, Buescu juntou num livro - O Mistério do Bilhete de Identidade e Outras Histórias, Colecção Ciência Aberta, da Gradiva - as crónicas que ao longo de algum tempo foi escrevendo na revista da Ordem dos Engenheiros. Podem ser definidas como crónicas sobre o modo como a Matemática e os seus conceitos são aplicados ou podem explicar pequenas-grandes coisas do nosso quotidiano. São crónicas muito bem escritas e muito bem humoradas.
Numa dessas crónicas, Buescu dá-nos conta de uma tese, defendida por alguns matemáticos, que sustenta a injustiça do princípio eleitoral um homem-um voto que impera nas democracias. A tese não tem conteúdo anti-democrático. Pelo contrário: é-nos proposto para as eleições um método alternativo, muito mais justo. Já lá iremos...
Imaginemos, então, uma eleição com três listas - A, B, C - concorrentes. Um eleitor analisa as opções e tem uma ordem de preferência. À lista C, posso preferir a B e a esta posso preferir a A. Podemos designar esta posição como A>B>C.
Concretizemos um pouco mais. Nesta eleição há 12 eleitores que se definem pelo seguinte posicionamento:
5 eleitores A>C>B
4 eleitores B>C>A
3 eleitores C>B>A
Face a este quadro, a lista A vence as eleições com cinco votos, que correspondem a expressivos 42%.
Mas imaginemos que, à boca das urnas, a lista B desistia. De acordo com o posicionamento dos 12 eleitores, a vitória seria da lista C, afinal a aparentemente menos preferida.
Se fosse a lista C a desistir, a lista A, a aparentemente mais forte, também sairia derrotada.
Conclusão: a lista A vence a eleição, mas é a lista mais rejeitada pela maioria dos eleitores.
Como se vence, então, este efeito nefasto, mantendo o grau de democraticidade das eleições?
A alternativa ao sistema um homem-um voto que nos é proposta é um outro sistema em que cada eleitor ordena os candidatos por ordem de preferência, procedendo-se, depois, à atribuição de pontuações. Por exemplo: 2 pontos para o primeiro lugar, 1 ponto para o do meio e zero pontos para o terceiro.
Com a utilização deste método, chegaríamos, neste caso, ao seguinte resultado: Lista A 10 pontos; Lista B 11 pontos; Lista C 15 pontos. O resultado seria diferente, venceria a lista C. Afinal, é a preferida do conjunto dos eleitores.
Este método é idêntico ao utilizado nos Festivais da Canção, em que o júri ordena, atribuindo pontos, um lote de concorrentes.
Demonstrado o paradoxo, Buescu conclui a sua crónica com a bem humorada tese de que não há competição mais justa, democrática e repesentativa do que os Festivais Eurovisão da Canção.
Não tenho dúvidas de que Cavaco será o candidato mais votado nas Presidenciais de domingo. Mas com a aplicação do método alternativo o resultado seria diferente: Manuel Alegre ganharia "de caras". Seria evidente a ocorrência de alguns fenómenos. Por exemplo:
- Cavaco, coleccionaria carradas de votações de 5 pontos, mas também de 0 pontos.
- Manuel Alegre teria muito menos cincos que Cavaco, mas também teria muito menos zeros. Por outro lado, seria o campeão dos segundos lugares, das pontuações 4. Teria, pois, fortísimas hipóteses de bater Cavaco e, assim, de ser eleito.
- Mário Soares, apesar de um número significativo de cincos, teria "n" pontuções de 0. Significa que nem com este sistema se safava.
- Garcia Pereira seria altamente beneficiado com este sistema. PSD e MRPP sempre andaram próximos e muitas cavaquistas não deixariam de atribuir 4 pontos ao advogado do cachecol vermelho.
- Com muitos menos zeros, mas também com muito menos cincos, Jerónimo e Louçã seriam os piores posicionados.
post-scriptum: também se pode especular sobre a distribuição de pontos que fariam diversos eleitores-tipo. Se tiver tempo e pachorra, vai para o próximo post. Amanhã.
Numa dessas crónicas, Buescu dá-nos conta de uma tese, defendida por alguns matemáticos, que sustenta a injustiça do princípio eleitoral um homem-um voto que impera nas democracias. A tese não tem conteúdo anti-democrático. Pelo contrário: é-nos proposto para as eleições um método alternativo, muito mais justo. Já lá iremos...
Imaginemos, então, uma eleição com três listas - A, B, C - concorrentes. Um eleitor analisa as opções e tem uma ordem de preferência. À lista C, posso preferir a B e a esta posso preferir a A. Podemos designar esta posição como A>B>C.
Concretizemos um pouco mais. Nesta eleição há 12 eleitores que se definem pelo seguinte posicionamento:
5 eleitores A>C>B
4 eleitores B>C>A
3 eleitores C>B>A
Face a este quadro, a lista A vence as eleições com cinco votos, que correspondem a expressivos 42%.
Mas imaginemos que, à boca das urnas, a lista B desistia. De acordo com o posicionamento dos 12 eleitores, a vitória seria da lista C, afinal a aparentemente menos preferida.
Se fosse a lista C a desistir, a lista A, a aparentemente mais forte, também sairia derrotada.
Conclusão: a lista A vence a eleição, mas é a lista mais rejeitada pela maioria dos eleitores.
Como se vence, então, este efeito nefasto, mantendo o grau de democraticidade das eleições?
A alternativa ao sistema um homem-um voto que nos é proposta é um outro sistema em que cada eleitor ordena os candidatos por ordem de preferência, procedendo-se, depois, à atribuição de pontuações. Por exemplo: 2 pontos para o primeiro lugar, 1 ponto para o do meio e zero pontos para o terceiro.
Com a utilização deste método, chegaríamos, neste caso, ao seguinte resultado: Lista A 10 pontos; Lista B 11 pontos; Lista C 15 pontos. O resultado seria diferente, venceria a lista C. Afinal, é a preferida do conjunto dos eleitores.
Este método é idêntico ao utilizado nos Festivais da Canção, em que o júri ordena, atribuindo pontos, um lote de concorrentes.
Demonstrado o paradoxo, Buescu conclui a sua crónica com a bem humorada tese de que não há competição mais justa, democrática e repesentativa do que os Festivais Eurovisão da Canção.
Não tenho dúvidas de que Cavaco será o candidato mais votado nas Presidenciais de domingo. Mas com a aplicação do método alternativo o resultado seria diferente: Manuel Alegre ganharia "de caras". Seria evidente a ocorrência de alguns fenómenos. Por exemplo:
- Cavaco, coleccionaria carradas de votações de 5 pontos, mas também de 0 pontos.
- Manuel Alegre teria muito menos cincos que Cavaco, mas também teria muito menos zeros. Por outro lado, seria o campeão dos segundos lugares, das pontuações 4. Teria, pois, fortísimas hipóteses de bater Cavaco e, assim, de ser eleito.
- Mário Soares, apesar de um número significativo de cincos, teria "n" pontuções de 0. Significa que nem com este sistema se safava.
- Garcia Pereira seria altamente beneficiado com este sistema. PSD e MRPP sempre andaram próximos e muitas cavaquistas não deixariam de atribuir 4 pontos ao advogado do cachecol vermelho.
- Com muitos menos zeros, mas também com muito menos cincos, Jerónimo e Louçã seriam os piores posicionados.
post-scriptum: também se pode especular sobre a distribuição de pontos que fariam diversos eleitores-tipo. Se tiver tempo e pachorra, vai para o próximo post. Amanhã.
Comments:
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Eu estou absolutamente de acordo com este sistema. E se ele for complementado com um sistema que também diferencie os eleitores, atribuindo-lhes diferente número de votos (em função da sua idade, do seu grau académico, do valor dos impostos que pagam, etc.), então passo a ser democrata.
Eu estou absolutamente de acordo com este sistema. E se ele for complementado com um sistema que também diferencie os eleitores, atribuindo-lhes diferente número de votos (em função da sua estupidez e imbecilidade, etc.), então passo a ser democrata.
PS: RPS, já podes passar por lá!
PS: RPS, já podes passar por lá!
Tens razão, este sistema não tem nada de democrático, apesar de surgir como uma proposta de consenso. Como dizia alguém: a democracia não é perfeita, mas é o melhor que temos. Este Blog está a ficar perigoso.
Canção n.º 1 ( Corridinho do Cavaco) 1 Point
Canção n.º 2 (Só à Ares para ti) 2 Point
Canção n.º 3 ( O cavalo heroina ) 3 point
Canção n.º 4 ( Pequim me mata) 4 point
Canção n.º 5 ( Sardinhas e Vinho ) 5 point
Canção n.º 6 ( Não nos Calaremos) 6 point
Éis aqui a nossa botaçõn
Canção n.º 2 (Só à Ares para ti) 2 Point
Canção n.º 3 ( O cavalo heroina ) 3 point
Canção n.º 4 ( Pequim me mata) 4 point
Canção n.º 5 ( Sardinhas e Vinho ) 5 point
Canção n.º 6 ( Não nos Calaremos) 6 point
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Muito bem, RPS.
conseguiste passar a ideia.
O meu mérito foi te ter sugerido a leitura deste livro.
M&M
conseguiste passar a ideia.
O meu mérito foi te ter sugerido a leitura deste livro.
M&M
Está mesmo indo para o "racha", que o Cavaco continua na frente.
E esta teoria BUESCU é perigosa, RPS, é perigosa...
Para os festivais da canção até pode servir, para a democracia não tanto !
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E esta teoria BUESCU é perigosa, RPS, é perigosa...
Para os festivais da canção até pode servir, para a democracia não tanto !
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