23.1.06

 

Comprimido na bandeira

Nunca vi derrota tão animada como a de Soares. Julguei mesmo ver Marcelo de lágrima no olho após o discurso de saída.

O homem é inimitável. Da sua dimensão, por diversas sortes e azares, apenas Cunhal se aguentou no activo até tão tarde. Desde o 25 de Abril ainda não se viu tamanho incontinente político.

Entendamo-nos. Falo da necessidade egoísta de estar na política contra as evidências conjunturais. Apesar da patetice em que se decidiu meter, Soares é daqueles homens que só pela sua presença provoca uma ideia, um sentimento.

Provas ? Ao estar presente, sublinhou as ausências. Mediatizou as inimizades. Colocou o povo a falar de juventude e velhice. Foi o negativo essencial a qualquer fotografia.

Ao contrário de Cavaco, Soares está-se borrifando para o PS. O soarismo, que ontem morreu, é branco e azul como as bandeiras da candidatura. O PS deixou-se perder assim como um clube deixa cair um capitão de equipa para o abandono do exílio.

Soares passou de Pai da Pátria a egrégio avô. Só ele não percebeu. E por isso andará por aí, como um comprimido azul numa bandeira vermelha, espasmódico e insolente , venerado na corte que decidiu assumir o seu velório político.

“ O avô cavernoso instituiu a chuva”
Não há muitos portugueses como Mário Soares.
“Ninguém o chora agora”. Perfumou-se ?

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