25.1.06

 

John Smith (RPS)

Dar o máximo de informação com o mínimo de palavras - é uma máxima do jornalismo. Podemos acrescentar: e com as palavras mais simples.
E se a máxima serve para o jornalismo, serve para tudo. Ou deveria servir.

Não é fácil escrever pouco e dizer muito. Não é fácil escrever simples. Mas ninguém o consegue fazer melhor que os britânicos. Terá algo a ver com a língua, mas penso que tem a ver, acima de tudo, com a mentalidade. É idiossincrático.

Nos manuais britânicos de jornalismo, é dado um exemplo clássico de capacidade de síntese. O exemplo de uma notícia que diz tudo com o mínimo possível de palavras. O exemplo é real - é datado do início do século XX e consiste num telegrama, enviado por um correspondente na Escócia para a sede de um diário em Londres. Reza mais ou menos assim:

Glasgow (25) - John Smith, 82 anos, acendeu um cigarro enquanto banhava os pés em amoníaco. Os médicos dizem que talvez sobreviva.

Não será difícil imaginar que esta notícia, por exemplo, no JN de 2006, teria meia página... para dizer o mesmo...
Desde logo, John Smith não teria 82 anos - seria octogenário.
Depois, seria explicado que, a imprevidência da vítima, ao acender um cigarro, tinha originado a inflamação dos vapores do amoníaco, produto altamente tóxico. Ou com elevado teor de toxicidade.
E a frase os médicos dizem que talvez sobreviva seria substituída por várias frases, informando-nos, nomeadamente, de que o ancião tinha 65 por cento do corpo com queimaduras do segundo grau e 20 por cento com queimaduras do terceiro grau, que o prognóstico é reservado, embora a situação clínica do doente, de acordo com a equipa médica das Urgências, é considerada estável. (claro que é estável - o homem está estavelmente todo f.....).

Este post vai longo. Outros longos posts tenho editado por aqui. Por isso, aos visitantes do Fado Falado deixo a mesma mensagem que o Padre António Vieira deixou no final de uma longa, muito longa carta dirigida ao Rei. Cito de cor: desculpe-me pela carta ser longa, mas não tive tempo para escrever uma mais curta.

Comments:
Nós conhecemos uns certos palavrosos...
 
E por vezes, além de palavrosos são vampirescos. Se é desgraça, só querem saber, insistentemente, quanto mortos e quantos litros de sangue...
 
Neste contexto comparo o trabalho do jornalista com o de designer gráfico. Se houver muita "poluição" visual o receptor perde-se com pormenores irrisórios e a mensagem não é assimilada. Talvez por isso prefira o Design inglês, que é simples e de bom gosto. É claro que neste caso não é regra pois os designers são diferentes e depende muito do produto, marca ou clientes com que trabalham.
 
As coisas que Vcs. sabem, meu Deus; esta gente de comunicação e design deixa-me vesga...
Eu só aprendi umas coisitas de sociologia, que não dá nem para brilhar nada neste espaço. Sou a mais amadora das amadoras que se atreveu a blogar.
Que Ele me perdoe e Vcs. também.
E haja muita saúde.
 
Isso dava um jeito enorme aplicado ao manuais de Direito!!
 
.
 
O meu comment anterior resume tudo.
 
O prognóstico de John Smith continua reservado.
 
Bom dia RPS!
Tens razao, aqui as coisas sao muito mais simples, e nao se trata apenas de linguagem.
Para comecar, nao ha ca doutores ou engenheiros, o que desde logo simplifica muito as coisas... depois a terceira pessoa do singular é semelhante a terceira pessoa do plural... desaparecem os voce, vossemece, o senhor, e a verborreia a eles associada.
E depois, sim a linguagem. Simples, clara e objectiva.

Abracicos!
 
Escrever curto e grosso é dificil, mas curto e delicado então, dificilimo.
oh ... Esqueci-me da acentuação - outra coisa boa dos ingleses é não terem isso...
 
E viva o poder de síntese! ;)
 
Desde já agradeço por me transmitirem novas do sr. John Smith. É que eu tinha lido a notícia num jornal francês e não percebi nada.
 
A linguagem tende a evoluir segundo o princípio da ECONOMIA do TEMPO
 
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