8.9.05
Tróia (MV)
Quando era miúdo, fui muitas vezes passar férias a Tróia com os meus pais e avós. Nos últimos anos, mesmo depois da decadência acentuada daquele complexo turístico à beira do Sado, íamos à mesma para lá porque era o único sítio onde o meu avô gostava de ir, mesmo quando já quase não conseguia andar e estava praticamente cego. Se não fosse para Tróia, nem sequer saia de casa.
Tive sempre a impressão daquele complexo ser uma cidade fantasma, com pouca gente, serviços mínimos, edifícios abandonados, coisas que ficaram meio construídas, portas fechadas e enferrujadas e cada vez menos veraneantes com o passar dos anos. Cada vez havia menos fila para apanhar o ferry em Setúbal. Da última vez que fui para lá, há quase dez anos, uma das piscinas já estava fechada e já só havia um restaurante a funcionar no complexo.
Hoje foram abaixo aqueles edifícios que ficaram a meio e os morcegos foram fazer a colónia para outro lado. Esteve lá o primeiro ministro para carregar no botão – ou puxar a alavanca, em qualquer dos casos perdeu-se a carga simbólica do momento porque quando um hesitante Sócrates fez o gesto para mandar os prédios pelos ares, já um deles estava reduzido a escombros – e muitos convidados vip aplaudiram.
Isto é o que vai acontecer a seguir naquela magnífica península: “Vão nascer novos aparthotéis, 185 moradias turísticas, um centro de congressos, uma marina para 150 embarcações de recreio, um hotel de cinco estrelas, restaurantes, um casino, um parque aquático, um centro equestre e um eco-resort.” (in Publico.pt)
Espero que, pelo menos, não fechem as praias.
Tive sempre a impressão daquele complexo ser uma cidade fantasma, com pouca gente, serviços mínimos, edifícios abandonados, coisas que ficaram meio construídas, portas fechadas e enferrujadas e cada vez menos veraneantes com o passar dos anos. Cada vez havia menos fila para apanhar o ferry em Setúbal. Da última vez que fui para lá, há quase dez anos, uma das piscinas já estava fechada e já só havia um restaurante a funcionar no complexo.
Hoje foram abaixo aqueles edifícios que ficaram a meio e os morcegos foram fazer a colónia para outro lado. Esteve lá o primeiro ministro para carregar no botão – ou puxar a alavanca, em qualquer dos casos perdeu-se a carga simbólica do momento porque quando um hesitante Sócrates fez o gesto para mandar os prédios pelos ares, já um deles estava reduzido a escombros – e muitos convidados vip aplaudiram.
Isto é o que vai acontecer a seguir naquela magnífica península: “Vão nascer novos aparthotéis, 185 moradias turísticas, um centro de congressos, uma marina para 150 embarcações de recreio, um hotel de cinco estrelas, restaurantes, um casino, um parque aquático, um centro equestre e um eco-resort.” (in Publico.pt)
Espero que, pelo menos, não fechem as praias.
Comments:
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E há pelo menos um desempregado de longa duração nesta história. Tozé Martinho, um dos piores actores a que temos direito, já não puderá fazer um remake de "os homens da segurança".
Bem como todo o elenco de "Chuva na Areia". Sim, porque Belmiro não vai querer o Caniço a sangrar nas suas praias...
Bem como todo o elenco de "Chuva na Areia". Sim, porque Belmiro não vai querer o Caniço a sangrar nas suas praias...
Vi esta implosão via TV, mas a do próximo complexo turístico do Belmiro quero vê-la ao vivo.
post-scriptum: que te deu, MV???
Dois posts hoje?
Não há fome que não dê em fartura! Mas acho muito bem!
post-scriptum: que te deu, MV???
Dois posts hoje?
Não há fome que não dê em fartura! Mas acho muito bem!
E TUDO ERA POSSÍVEL
Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
Lisboa, Editorial Presença, 1999 (5ª ed.)
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Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido
Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido
E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer
Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer
Ruy Belo, Homem de Palavra[s]
Lisboa, Editorial Presença, 1999 (5ª ed.)
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