18.9.05
Nunca pensei escrever um post a defender Carrilho... (RPS)
Dois pontos prévios (e mais um ponto extra que não tem relação directa com o assunto em questão):
- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, jamais votaria no PS por causa de Carrilho.
- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, votaria, muito provavelmente, no PSD, quanto mais não fosse para contribuir para que Carrilho não chegasse a presidente da Câmara.
(o CDS e a CDU encontraram excelentes candidatos em Lisboa. Espero que pretendam ser vereadores a sério.)
Arredado dos meios filosóficos (ao contrário de outras pessoas, como este amigo), apenas me dei conta da existência de Manuel Maria Carrilho, quando ele assumiu o cargo de ministro da Cultura, em 95.
Comecei a simpatizar com ele. Carrilho tinha um discurso consistente, ideológico, revelava-se um tipo inteligente e - coisa rara nos políticos de hoje - pensava em política, discutia política e tinha uma política.
Se atentarmos bem na cultura dominante, noventa por cento do que os políticos dizem é absolutamente neutro e consensual. Temem a ruptura, o conflito, o debate. Detesto esses políticos. Gosto de tipos que me permitem pensar, discutir, reflectir e, depois, concordar ou discordar deles. Essa é, aliás, a essência da política, pelo menos, do debate político em Democracia.
Mais tarde, Manuel Maria Carrilho deu um importantíssimo contributo para a qualidade da democracia em Portugal. Foi num congresso do PS, ainda com o sevandija Guterres. Foi um congresso à coreana ou à cubana, com toda a gente (e com a complacência dos jornalistas), a assobiar para o lado.
Dois homens - Henrique Neto e Manuel Maria Carrilho - tentaram dizer ao sevandija Guterres e a toda a gente que estávamos atolados num pântano. Em pateada, o Congresso socialista mal os deixou falar. Curiosamente, o execrável Almeida Santos, que neste fim de semana comparou Cavaco Silva a Oliveira Salazar, não se mostrou incomodado (até nem sou sensível a questões de moda, mas alguém me explica porque raio usa o execrável Almeida Santos os mesmos óculos de 1974?).
Naturalmente que num plano mais "pessoal", enquanto pessoa pública, Carrilho é um tipo detestável. Pelo emproamento, pela arrogância e, com o passar do tempo, pela tomada de atitudes e comportamentos que não só irritam e merecem crítica como surgem ao arrepio do seu próprio discurso.
O tipo tem maus fígados. Viu-se no debate da SIC. Mesmo quando ataca e insulta, Carmona mantem aquele ar simpático, afável. Carrilho destila ódio, domina-se para não espumar raiva. Se houvesse um revólver em cima da mesa, Carrilho sacava dele, certamente, e matava Carmona.
Apesar de tudo isto, e de muito mais que se poderia dizer, acho que se está a exagerar nas críticas a Carrilho. Por um lado, há um tom excessivamente moralista sobre o tipo de discussão que os dois homens travaram. A artimanha, a manhosice, a sacanice, o ataque pessoal, o insulto, até, fazem parte deste tipo de debates. Nas Presidenciais de 86, no debate Soares/Pintassilgo, Soares dirigiu-se por várias vezes à Engenheira com um oh Dona Maria de Lurdes, como se fosse a modista lá de casa. A luta política também é isto.
Depois, acho perfeitamente normal que Carrilho tenha recusado cumprimentar o adversário. Estava irritado, sentiu-se ofendido, achava-se cheio de razão. Cumprimentar Carmona seria uma hipocrisia.
Há algumas pessoas que conheço a quem eu também não aperto a mão nem cumprimento.
Não entendo a importância que a generalidade das pessoas dá a estes protocolos e como levam o episódio tão a peito. Será que nunca viraram a cara a ninguém?...
- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, jamais votaria no PS por causa de Carrilho.
- nas Autárquicas, se votasse em Lisboa, votaria, muito provavelmente, no PSD, quanto mais não fosse para contribuir para que Carrilho não chegasse a presidente da Câmara.
(o CDS e a CDU encontraram excelentes candidatos em Lisboa. Espero que pretendam ser vereadores a sério.)
Arredado dos meios filosóficos (ao contrário de outras pessoas, como este amigo), apenas me dei conta da existência de Manuel Maria Carrilho, quando ele assumiu o cargo de ministro da Cultura, em 95.
Comecei a simpatizar com ele. Carrilho tinha um discurso consistente, ideológico, revelava-se um tipo inteligente e - coisa rara nos políticos de hoje - pensava em política, discutia política e tinha uma política.
Se atentarmos bem na cultura dominante, noventa por cento do que os políticos dizem é absolutamente neutro e consensual. Temem a ruptura, o conflito, o debate. Detesto esses políticos. Gosto de tipos que me permitem pensar, discutir, reflectir e, depois, concordar ou discordar deles. Essa é, aliás, a essência da política, pelo menos, do debate político em Democracia.
Mais tarde, Manuel Maria Carrilho deu um importantíssimo contributo para a qualidade da democracia em Portugal. Foi num congresso do PS, ainda com o sevandija Guterres. Foi um congresso à coreana ou à cubana, com toda a gente (e com a complacência dos jornalistas), a assobiar para o lado.
Dois homens - Henrique Neto e Manuel Maria Carrilho - tentaram dizer ao sevandija Guterres e a toda a gente que estávamos atolados num pântano. Em pateada, o Congresso socialista mal os deixou falar. Curiosamente, o execrável Almeida Santos, que neste fim de semana comparou Cavaco Silva a Oliveira Salazar, não se mostrou incomodado (até nem sou sensível a questões de moda, mas alguém me explica porque raio usa o execrável Almeida Santos os mesmos óculos de 1974?).
Naturalmente que num plano mais "pessoal", enquanto pessoa pública, Carrilho é um tipo detestável. Pelo emproamento, pela arrogância e, com o passar do tempo, pela tomada de atitudes e comportamentos que não só irritam e merecem crítica como surgem ao arrepio do seu próprio discurso.
O tipo tem maus fígados. Viu-se no debate da SIC. Mesmo quando ataca e insulta, Carmona mantem aquele ar simpático, afável. Carrilho destila ódio, domina-se para não espumar raiva. Se houvesse um revólver em cima da mesa, Carrilho sacava dele, certamente, e matava Carmona.
Apesar de tudo isto, e de muito mais que se poderia dizer, acho que se está a exagerar nas críticas a Carrilho. Por um lado, há um tom excessivamente moralista sobre o tipo de discussão que os dois homens travaram. A artimanha, a manhosice, a sacanice, o ataque pessoal, o insulto, até, fazem parte deste tipo de debates. Nas Presidenciais de 86, no debate Soares/Pintassilgo, Soares dirigiu-se por várias vezes à Engenheira com um oh Dona Maria de Lurdes, como se fosse a modista lá de casa. A luta política também é isto.
Depois, acho perfeitamente normal que Carrilho tenha recusado cumprimentar o adversário. Estava irritado, sentiu-se ofendido, achava-se cheio de razão. Cumprimentar Carmona seria uma hipocrisia.
Há algumas pessoas que conheço a quem eu também não aperto a mão nem cumprimento.
Não entendo a importância que a generalidade das pessoas dá a estes protocolos e como levam o episódio tão a peito. Será que nunca viraram a cara a ninguém?...
Comments:
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o limite, camarada Funes??!!?? com os politicos que temos a escarreta devia ser o início do debate!!!
A verdade é que foi uma atitude pouco política, na triste acepção de política praticada neste nosso Portugal. Só por aqui se entende a crítica consensual à atitude de Carrilho.
Caro RPS:
Concordo.
Plenamente.
O que mais gostei de ver foram os tiques de irritação do Carrilho, dando safanões furibundos ao casaco, por contraponto ao ar angelical, simpático, quase prazen-teiro do Carmona, que premeditou a provocação do outro, para lhe "desorganizar" a atitude composta, sobretudo com repetição do chavão carrilhano " Isto é um disparate, um disparate!" ou "Que disparate !"
PS - na página web da RTP, sobre o Contra-informação, lê-se "Só consegue trabalhar rodeado de pessoas de sua inteira
confiança. Isto é, trabalha sozinho.
Explicando melhor: toda a gente acaba por
se demitir ou ser demitida. Filósofo de formação,
é especialista em guerrilha verbal contra os adversários que aliás são, basicamente, toda a gente, dentro e fora do Governo..."
Concordo.
Plenamente.
O que mais gostei de ver foram os tiques de irritação do Carrilho, dando safanões furibundos ao casaco, por contraponto ao ar angelical, simpático, quase prazen-teiro do Carmona, que premeditou a provocação do outro, para lhe "desorganizar" a atitude composta, sobretudo com repetição do chavão carrilhano " Isto é um disparate, um disparate!" ou "Que disparate !"
PS - na página web da RTP, sobre o Contra-informação, lê-se "Só consegue trabalhar rodeado de pessoas de sua inteira
confiança. Isto é, trabalha sozinho.
Explicando melhor: toda a gente acaba por
se demitir ou ser demitida. Filósofo de formação,
é especialista em guerrilha verbal contra os adversários que aliás são, basicamente, toda a gente, dentro e fora do Governo..."
Caro RPS:
Concordo.
Plenamente.
O que mais gostei de ver foram os tiques de irritação do Carrilho, dando safanões furibundos ao casaco, por contraponto ao ar angelical, simpático, quase prazen-teiro do Carmona, que premeditou a provocação ao outro, para lhe "desorganizar" a atitude composta, sobretudo com repetição do chavão carrilhano " Isto é um disparate, um disparate!" ou "Que disparate !"
PS - na página web da RTP, sobre o Contra-informação, lê-se "Só consegue trabalhar rodeado de pessoas de sua inteira confiança. Isto é, trabalha sozinho.
Explicando melhor: toda a gente acaba por se demitir ou ser demitida.
Filósofo de formação,
é especialista em guerrilha verbal contra os adversários que aliás são, basicamente, toda a gente, dentro e fora do Governo...
Concordo.
Plenamente.
O que mais gostei de ver foram os tiques de irritação do Carrilho, dando safanões furibundos ao casaco, por contraponto ao ar angelical, simpático, quase prazen-teiro do Carmona, que premeditou a provocação ao outro, para lhe "desorganizar" a atitude composta, sobretudo com repetição do chavão carrilhano " Isto é um disparate, um disparate!" ou "Que disparate !"
PS - na página web da RTP, sobre o Contra-informação, lê-se "Só consegue trabalhar rodeado de pessoas de sua inteira confiança. Isto é, trabalha sozinho.
Explicando melhor: toda a gente acaba por se demitir ou ser demitida.
Filósofo de formação,
é especialista em guerrilha verbal contra os adversários que aliás são, basicamente, toda a gente, dentro e fora do Governo...
Eu só vi um resumito do debete mas o suficiente para perceber que os dois estiveram em mui baixo nível. Agora, e já tive oportunidade de dizê-lo, no lugar do Carrilho fazia o mesmo! Acho que ele fez muito bem em não apertar a mão ao Carmona e só espero (e já sei que bem posso esperar!!!) que enquanto este não lhe pedir desculpa, não lhe volte a apertar a mão!
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