26.7.05

 

O Mundo, a toque de clique

Na morgue de Vladikavkaz, jazem crianças em padiolas.
Na rua, uma face infantil destapa a alvura caucasiana de uma vítima dessa alarvidade civilizacional que foi Beslan. Parece dormir, mas já está morta - é a metáfora de muito do nosso mundo.

A foto é de Yuri Kozyrev e está na World Press Photo deste ano, que já arribou sem a pompa nacional a Portimão. O concurso, garanto-vos, continua a ser uma flashada da morte e da dor.

Apesar de tudo, de Beslan, prefiro o boneco de peluche esquecido no espaldar da Escola nº1. E os sapatos sem par e dono, junto a uma janela por onde a inocência tentou escapar da indecência (fotos de James Hill, a preto e branco para o New York Times)

A não perder também a importância da luz em Ouagadougou; a face sofrida da sudanesa Hadyia, arrasada pela brutalidade aos 14 anos. E sobretudo a foto de um exército de operários numa fábrica chinesa de reparação de ar condicionado. Em fila de quatro, alinhados, cantam o hino nacional. Sérios, são quinhentos até a vista se perder na parada de fatos-macaco azuis.

Os mais impressivos instantaneos são contudo os que nos colocam um palmo à frente da objectiva. Nos tornados americanos, na areia temível de Darfur, no fogo na favela de Buraco Quente, sul de São Paulo. Ou nos extraordinários momentos olímpicos de Atenas.


Photo:Bob Martin

E depois há Portugal. Com copas alentejanas, feitas almôndegas pelo fim da tarde, sobrevoado em balão de ar quente. Mas sobretudo o pátio da Sé de Braga na Semana Santa, cuja frincha de sol desvendou para a máquina de Sandra Rocha uma menina vestida de anjo, num plano dividido com uma casal encostado à pedra do templo.



Ele encosta-a contra a parede, discretamente.
Como um costume brando.

Comments:
Vi uma edição da WPP no CCB e outra, do ano seguinte, na Maia.
Se fosse ao Algarve, iria ver a deste ano a Portimão.
Vamos lá a produzir mais, JPF, mesmo em férias...
 
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