20.7.05
Pilhas de nervos
São sempre elas que me tramam nos aeroportos. Desta vez, os senhores da segurança de Heathrow desconfiaram do microfone que vinha dentro da mochila de mão. Lá dentro uma pilha luzidia, das quadradas.
Lembro-me sempre das baterias quadradas que davam vida a um radiozinho preto que me alimentava o sistema nervoso quando jogava o Benfica. Na Serra de Aire e Candeeiros, o FM era um desespero, tal como a RTP2. Nesses montes longe de tudo, a rádio só dava chuva. Em Alcaria, a Onda Média era o recurso disponível para acompanhar os relatos. Muito deve, por exemplo, a RR ao AM.
Já em Torres Novas, nos primeiros tempos de rádio, lembro-me de ter ficado sem pilha num emissor que servia para a reportagem de pista no Estádio Municipal. Em Lisboa, desafiei também algumas vezes as baterias dos gravadores. A fita só arrancava em momentos essenciais das conferências de imprensa, de modo a preservar a energia.
Mas nunca como em Quetta, no Paquistão, senti que as pilhas podem também ter efeitos terapêuticos. Nic Robertson e a equipa da CNN tinham acabado de despachar malas e malas de material, pagando os excessos e talvez mais qualquer coisa…
Eu não tinha nem estatuto nem dinheiro. Sei que fui convidado a retirar todas as pilhas do meu arsenal técnico de mão. Nem a minha identificação profissional refreou o zelo paquistanês. Máquina fotográfica, mini-disc, microfone, uma mini mesa de mistura. Tudo foi escrutinado, todas as pilhas arrancadas.
Com cinismo delicado, fizeram-me uma proposta.”Porque não faz um envelope com as pilhas e mete-as no porão, com as malas ? Mais vermelho que o habitual, com a impaciência à flor da pele, dinheiro contado e um pé ferido, não me contive. Peguei nas pilhas e disse bem alto aos guardas do aeroporto: “Olhem bem para mim !”. Acto contínuo, uma dezena de baterias voaram uns 20 metros em busca de um caixote de latão, aterrando num estrondo que fiz questão de sublinhar com um bem português “metam as pilhas no …”.
Que bem que me soube.
Se fosse detido por distúrbios – que não o fui por mero acaso – ao menos não entraria enervado na cela.
Lembro-me sempre das baterias quadradas que davam vida a um radiozinho preto que me alimentava o sistema nervoso quando jogava o Benfica. Na Serra de Aire e Candeeiros, o FM era um desespero, tal como a RTP2. Nesses montes longe de tudo, a rádio só dava chuva. Em Alcaria, a Onda Média era o recurso disponível para acompanhar os relatos. Muito deve, por exemplo, a RR ao AM.
Já em Torres Novas, nos primeiros tempos de rádio, lembro-me de ter ficado sem pilha num emissor que servia para a reportagem de pista no Estádio Municipal. Em Lisboa, desafiei também algumas vezes as baterias dos gravadores. A fita só arrancava em momentos essenciais das conferências de imprensa, de modo a preservar a energia.
Mas nunca como em Quetta, no Paquistão, senti que as pilhas podem também ter efeitos terapêuticos. Nic Robertson e a equipa da CNN tinham acabado de despachar malas e malas de material, pagando os excessos e talvez mais qualquer coisa…
Eu não tinha nem estatuto nem dinheiro. Sei que fui convidado a retirar todas as pilhas do meu arsenal técnico de mão. Nem a minha identificação profissional refreou o zelo paquistanês. Máquina fotográfica, mini-disc, microfone, uma mini mesa de mistura. Tudo foi escrutinado, todas as pilhas arrancadas.
Com cinismo delicado, fizeram-me uma proposta.”Porque não faz um envelope com as pilhas e mete-as no porão, com as malas ? Mais vermelho que o habitual, com a impaciência à flor da pele, dinheiro contado e um pé ferido, não me contive. Peguei nas pilhas e disse bem alto aos guardas do aeroporto: “Olhem bem para mim !”. Acto contínuo, uma dezena de baterias voaram uns 20 metros em busca de um caixote de latão, aterrando num estrondo que fiz questão de sublinhar com um bem português “metam as pilhas no …”.
Que bem que me soube.
Se fosse detido por distúrbios – que não o fui por mero acaso – ao menos não entraria enervado na cela.
Comments:
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Estes latinos são muito temperamentais - devem ter pensado os paquistaneses.
Um amigo que passa por aqui frequentemente também atira assim, mas não pilhas. É com telemovéis e é contra paredes. Já foram vários...
Pelos vistos, há cyber na Carrapateira...
Boas férias, JPF.
Um amigo que passa por aqui frequentemente também atira assim, mas não pilhas. É com telemovéis e é contra paredes. Já foram vários...
Pelos vistos, há cyber na Carrapateira...
Boas férias, JPF.
Há dias, por causa de umas chaves ou de umas moedas de vinte cêntimos, fui todo vistoriado no aeroporto da Portela por uma simpática agente da PSP. Agora já sei, vou levar pilhas nos bolsos. Se me sair um agente da PSP ou um paquistanês, deito-as fora.
Obrigado, JPF.
Obrigado, JPF.
GREAT, JPF!
com esta tua explicação e com a do Funes já sei como ir a amesterdão e andar aqui um anito a fumar da melhor verde: levo uma montanha de pihas e de moedas de 20€cents, quando começarem a revistar é só dizer que é tudo daquilo!
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com esta tua explicação e com a do Funes já sei como ir a amesterdão e andar aqui um anito a fumar da melhor verde: levo uma montanha de pihas e de moedas de 20€cents, quando começarem a revistar é só dizer que é tudo daquilo!
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