Fado Falado

Um rapaz português é apanhado a fumar charros num país árabe onde os costumes são outros.
Para quem ia para um documentário, estava certamente indocumentado.

É preso. Qual o espanto ? Cumpriu-se a lei.
Partilha colchões com 25 pessoas e não tem problemas em telefonar. Não é normal isso nas prisões ?
Não tem advogado? Pois cá também há muita defesa oficiosa. Azar nítido
Arrisca uma pena de 5 anos ? Bem, desculpem insistir, não é normal ? Pelo barulho, pensei que ia ser degolado.

O que a diplomacia tem que fazer é dar-lhe apoio jurídico se a familia não o conseguir. Depois tentar trazê-lo, mas caramba ... não há aqui um exagero ?

É a última vez que falo aqui da triste figura de Faro 2005.
Acho que na área da cultura, talvez pela dimensão dos egos, há polémica a mais.

Por isso, nesta véspera do corta-fita, aproveito para criticar essa embrulhada que vai levar o nome de Capital da Cultura. Que não é mais do que pólvora seca, onde a arte sai pela culatra e o inchaço pré-eleitoral não permite mais do que uma extensão de espectáculos-de-fim-de-tarde-em-Lisboa-ou-no-Porto.

Apanhada na velha corda esticada entre Estado e subsidiodependentes, a política cultural não consegue dar o salto. Quem está no terreno, mete dinheiro do bolso para a gasolina e até para ordenados. Na Capital, tirando as excepções consolidadas - e incluindo nestas as mecenadas - a cena é a mesma. Tem nódoas na camisa ? Vira-se o pano do avesso.

Náufraga, a política cultural - ilha sonhada mas deserta - sai sempre esfomeada na mesa do Orçamento, por comparação com a boca cheia da pompa discursiva.

Valha a verdade, a Cultura nunca nos saiu com naturalidade. Só com monumentalidade.

Nem o mais metafórico artista se lembraria do ajustado desígnio do Palácio Central da Cultura- está lá muito bem, na AJUDA.

Fado Falado estava certo. Ora leiam aqui, há quase dois meses.

O génio vem a Portugal no dia 26 de Junho ao Ermal.
Para um festival que ia acabar...

Vou ali ao Iemen e já venho. Porquê? hummm...Vou no sentido contrário ao trânsito da hora de ponta e não..não tem telemóveis.

Vi A Naifa, no Porto. De início, soa a algo estranho. Depois, adere-se. Quando me sentia integrado... acabou ?... Já?...
O relógio confirmou que a actuação é curta, não chega a uma hora.
Vá lá que voltaram. Várias vezes e para o melhor da noite, os melhores momentos, que incluem uma “enorme” versão da Tourada, do Tordo. Uma vez mais, subscrevo a tese de que um grande tema em boas mãos só pode dar em grande versão.
Não é “o meu” som, mas é bom - bons executantes e, claro, a Mitó.

Gostei da vitória de Ribeiro e Castro no Congresso do CDS. Era um outsider e ganhou. Gosta-se destas coisas.
De resto, não tenho opinião formada sobre Ribeiro e Castro. Lembro-me de ele ser porta-voz da AD, em 79/80 e é dessas caras que fomos sempre vendo na segunda fila.
Dizem algumas análises que é o regresso ao CDS em alternativa ao PP. Óptimo. CDS é sempre melhor que PP.
Telmo Correia é, entretanto, candidato ao título de “Nabo do Ano”.
Finalmente, Portas vai desaparecer. Por uns tempos, claro. Há-de voltar. Mas até lá isto fica mais arejado.

1 carochinho ganhou hoje mais 5 minutos antes de a carruagem se transformar em abóbora. Voltando à metáfora do "pequenino", cresceu um niquinho. Começou a colar cacos e conseguiu silenciar o insilenciável, sobretudo, conseguiu apresentar um candidato credível a algum cargo político.
É obra.Pode ser que o "credível" só exista pela comparação de que até o rato mickey sairia a ganhar. Pode ser. Mas para já chega, para começar. Espera-se agora pela confirmação de que a mesma bitola será aplicada ao Isaltado Morais. Dia 21 de Abril seria uma boa data.
Há 2 anos o Ministério Público abriu-lhe a investigação às contas na Suiça (alegadamente do sobrinho taxista que nunca deve ter parado o veículo). Só por isso seria um bom argumento para questionar que o homem possa recandidatar-se à terra que é fantástica..mas só vista de entre as palmeiras da marginal. E sem que ninguém saiba até hoje quanto custou aos contribuintes e à legalidade (a ver vamos, se virmos) o estatuto de melhor autarca do país.
Cada país tem os melhores que reconhece. Ou é melhor porque desmascara..os piores.

I — «Vá-se foder! Vá para o caralho!», «Vá à merda!», são expressões que violam o dever de urbanidade, respeito e consideração. São expressões de incorrecção e grosseria manifestas que, tendo por destinatário um colega de trabalho e não o superior hierárquico, são objectivamente torpes e ofensivas do respeito e consideração devidas ao colega de trabalho.

II — Todavia, são palavras que não carregam um concreto e específico sentido injurioso dirigido à pessoa, ao nome, à honra ou ao carácter do destinatário, além de que se situam numa ambiência geográfica e social — Lousada — em que, notória e conhecidamente, os excessos de linguagem são frequentes e costumeiros, perdendo no convívio das gentes a carga negativa e injuriosa que noutras áreas geográficas elas assumem. Não neutralizando estas considerações o conteúdo desrespeitoso e ofensivo do comportamento, diminuem-no, nessa medida se repercutindo na menor gravidade da ofensa, não assumindo gravidade bastante para comprometer irremediavelmente a relação de trabalho.

-SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Acórdão de 16 de Fevereiro de 2000
Processo n.º 255/99
in BMJ, n.º 494 (2000), pp. 192-193

O que pensam ?

O novo Papa era o cardeal favorito. Alguma imprensa, tão apedrejada, estava certa. Os jornalistas relatam o que observam, o que ouvem. Escutam fontes.

Com a devida vénia ao extraordinário El Mundo online, aqui fica a última nota do blog do repórter Rubén Amón. Um auto-denominado jornalista agoirento.


19 de abril (19.10h).- ¿Qué tenía que ocurrir para que Ratzinger sonriera? Ya los sabemos y ya lo hemos visto. Hacía falta que al cardenal alemán lo nombraran Papa. Ahora se llama Benedicto XVI, pero el sobrenombre no puede esconder la naturaleza fatalista ni trágica del elegido, como tampoco puede cambiar la predisposicion a la ortodoxia y a la intolerancia. Sus eminencias han mirado a la derecha, han elegido la ideología de Juan Pablo II, pero desprovista de la calidez y de la humanidad 'wojtylianas'. Habemus papam.

Aquí termina el blog. Ha sido un placer trabajar con los colegas de elmundo.es y participar con los internautas. Sólo me permito subrayar las últimas palabras de la primera 'crónica' que hice en este blog:

"Teóricamente son 117 candidatos, pero la baraja se reduce a un puñado de alfiles plenipotenciarios. Mi apuesta consiste en que será europeo, mayor de 70 años, conservador. No necesariamente italiano. O sea que el perfil se ajusta bastante a la candidatura de Joseph Ratzinger".

No soy un visionario, sino un agorero.

Bento XVI soa estranho. Muitos declaram-se órfãos. Os ateus estão, claro, esfuziantes. A hierarquia fala em continuidade. Falta ouvir um bilião de pessoas neste planeta.

Começou o Conclave, no Vaticano. Espero que seja rápido. Quanto mais rápido, menos directos da Fátima Campos Ferreira, a partir de Roma, dissertando sobre o que ignora. Despachem-se, senhores Cardeais!

Este é o novo projecto de Rem Koolhaas. A sede da televisão estatal chinesa. Fantástico, não ?
Pois sim, mas adivinho, sem grande pesquisa, que os salários dos pedreiros da Boavista eram muito superiores aos dos desgraçados de Pequim.

Todas as rotundas são carroceis. Na Boavista, há agora um bom motivo para bater no carro da frente.

Chamaram-lhe já quase tudo. Meteorito, poliedro, pedregulho. Não consigo classificá-la, até pelo pouco tempo que lhe dediquei, em vista nua nesta sexta inaugural.

Mas imagino-a rodopiando sobre um eixo fundado no granito, perfumando o arvoredo próximo com bemois e sustenidos a escorrer pelos braços da Rotunda.

A Música é para sempre como os Diamantes. A este, portuense e português, quero-o lapidado pela diversidade. Uma casa- juke-box - ao subir a escadaria principal, parecia uma ficha em ranhura para moedas de dois euros.

Sou um amante do Porto. E estou muito feliz pela brilhante peça de arquitectura que ali têm. E por isso vos peço- portuenses - que a defendam. Da polémica - mais velha que as estacas que foram colocadas nas fundações. Da sombra - que muitos vão querer projectar nela. Mas sobretudo defendam-na do vazio. Não do musical silêncio, mas do conformismo e da banalidade.

Explico-me melhor.

A Casa - que nessa pompa quer acolher e não afastar - só tem a ganhar com habitantes exigentes que a livrem do estatuto de sala de aluguer como outros grandes espaços culturais portugueses. Depois das enchentes iniciais, será preciso provar a diferença que o betão branco irá ajudar a publicitar. A receita é velha: é preciso vontade mas também essa chave-mestra das sociedades contemporâneas - o dinheiro.

O dinheiro que não existe para uma coisa inacreditável chamada Faro Capital da Cultura, onde parece grassar o desejo que 2006 chegue depressa para acabar com um evento mal preparado, desorçamentado, desorientado. Sei bem que em Faro trabalha-se de borla, que digo!, há quem esteja a pagar do seu bolso despesas que competem à organização. Daqui por umas semanas lá estará o povo todo de fraque, celebrando essa triste ideia de querer ser sem poder. Assim não vale a pena. É afinar por uma clave que mete dó.

Com que outra chave se poderia salvar a Cultura ? Avançando pela educação musical que não temos em Portugal? Pelo combate à iliteracia que não é feito, com carácter de urgência ? Pela seriedade que não existe no topo das hierarquias ?



Não estamos sós na desgraça. Acreditem. O cartaz que acima se reproduz vem da Alemanha e tem uma mensagem simples - Salvem os Sinfónicos. Pois é. Eles têm 136 orquestras, mas as maiores estão na falência. Dizem que é melhor entrar pelo modelo americano, das parcerias com privados.

Estamos pois conversados sobre o modelo de gestão da Casa da Música.

Como o fadofalado é um espaço de liberdade (assim o concebeu JPF e por isso aderi) apetece-me dizer que criticar um dirigente político a propósito da baixa estatura física (como do nariz adunco ou da falta de uma orelha) é, para além de uma atitude de mau gosto, um erro no estrito plano da crítica política.
Se uma característica ou defeito físico serve de argumento, fica a sensação de que não os há de natureza política para criticar ou questionar o personagem. E, neste caso, parece-me até que não falta por onde pegar.
Ocorre-me algo dos tempos de Reagan e que o meu velho amigo Zé fazia notar, há um bom par de anos. Muita gente à esquerda, em particular os complexados de esquerda, destilava um ódio quase cego ao presidente americano. O primeiro argumento de ataque era “esse actor de segunda”... Era um excelente argumento caso a discussão fosse sobre cinema.

... o que é um T0 Duplex? Vejo anunciados para venda: T0 Duplex.
T0 Duplex ?!!! Isso parece um vazio duplo...

Havia um homem tão pequenino tão pequenino que só se via ao lado de grandes. Mas eram todos tão maiores que nunca fazia diferença. Aí decidiu aparecer só ao lado de crianças, ao seu colo faziam-no enorme, ao lado de velhinhos que o faziam parecer novo, ao lado de deficientes que o faziam parecer perfeito... Fez-se assim fotografar e publicar...e assim chegou ao povo. Que só não reconheceu o homem tão pequenino à esquerda do retrato...de resto conhecia bem crianças, velhos e doentes.

Uma lei livre da relatividade diz que o semáforo vermelho dura sempre mais 30 segundos que o verde. Hoje aprendi outra. Que a distância entre o Marquês e o Rossio pode ter um número infinito de semáforos todos vermelhos se fizermos o percurso num determinado táxi da cidade. É amplo e claro como uma igreja. O banco de trás forrado de lençol imaculado, os da frente de plástico transparente. A cada vermelho o condutor virava-se para o lugar do morto, sôfrego, e parecia ler alguma coisa de letras grandes porque folheava com frequência. Só voltava a arrrancar ao som dos impacientes, nunca reagiu à cor verde. Cada abrandamento era pretexto para mais uma paragem debruçado sobre o banco do lado e, a espaços, folheava outra vez. A toque de buzinas lá metia outra vez a primeira. Imaginei tudo sobre quem era e o que poderia estar a ler. Os óculos escuros não reflectiam nada. Alimentei assim a curiosidade, fiz um jogo comigo própria sobre o objecto da leitura que me havia de dizer quase tudo sobre o homem. Quando chegámos paguei sem sequer espreitar para o banco onde parecia estar o mapa do mundo do taxista. Acredito sem provas de contrário de que poderia estar a ler o último livro do Paul Auster . Seria um dos personagens ou um dos autores da história que tinha enviado para o tal programa de rádio. Protagonista dos enigmas reveladores de um país ou de um simples momento na vida. Mas protagonista. Era o perfeito desconhecido.

No Telejornal de segunda, 11, fui informado por José Rodrigues dos Santos de que Luís Filipe Scolari defende a eleição de um Papa de transição. O seleccionador sugere mesmo um Papa da América Latina, sem especificar.

Seguiu-se a peça, baseada em declarações produzidas pelo seleccionador, numa entrevista a um qualquer programa desportivo. Cecília Carmo questionou Scolari sobre o conclave do Vaticano. E o homem respondeu.

Scolari tem direito, claro, a ter opinião sobre qualquer assunto, incluindo este. Acho normal que o dabata no seu círculo familiar, de amigos. Agora: o que poderá justificar o interesse noticioso das opiniões de Scolari sobre o conclave de cardeais?

Não sei como terá sido o resto da entrevista. Terá Scolari expresso a sua visão da Europa a 25? Terá verberado a revisão do Pacto de Estabilidade? Condenou o abate da frota pesqueira? Opinou sobre a venda de medicamentos de venda livre nos hipermercados? Analisou o “boom” nos mercados do petróleo? Provavelmente, não porque o Telejornal do Rodrigues dos Santos nada nos disse sobre isso.

Era bom que se perguntasse a Scolari quais as razões da não convocação de Vítor Baía. Tem todo o direito de não o convocar, mas era bom que respondesse porque nunca se explicou e porque há milhares de pessoas que (ainda) querem saber as razões.

Já não valeria a pena perguntar a Scolari porque nunca, em quase três anos, viu um jogo do Porto no estádio do Porto. Isso ele já explicou uma vez: porque é longe.
Quando é que este palhaço é corrido?

Problemas técnicos e condicionalismos vários obrigaram o Fado Falado a uma pausa que agora termina. Retomamos dentro de várias horas a produção nesta viela portuguesa.

Com a devida cortesia mais uma vez da agência Lusa, noticiamos duas singelas histórias portuguesas:


(LUSA) Um grupo de mulheres de Viana do Castelo reúne-se sábado num restaurante em Cardielos para um jantar "expressamente proibido" a homens, numa clara "retaliação" à tradição do "Bife daPáscoa".
"A vingança serve-se fria. No sábado, os homens foram comer e beber e deixaram as mulheres em casa a tratar das panelas e dos filhos, agora é a nossa vez, para eles saberem o que é bom para a tosse", ironizou Liliana Viana, uma das organizadoras do "Jantar da Mulher"

(LUSA) A "boa pontaria" de uma vaca ao colocar os seus excrementos, por três vezes, num sítio previamente escolhido será premiada com mil euros e um touro, num invulgar concurso que vairealizar-se sábado em Paços de Ferreira.
Se a vaca acertar apenas duas vezes no local escolhido pelo concorrente, o prémio baixa para 500 euros e um porco, descendo ainda mais - para 250 euros e um cabrito - se o animal deixar apenas uma"recordação".
De acordo com o presidente do Grupo Cultural e Desportivo Leões da Citânia, Joaquim Santos, que organiza esta "estranha prova",o concurso vai realizar-se no novo recinto desportivo do clube, de 100 por 64 metros, que será dividido em tantos quadrados quantas as pessoas que se apresentarem a concurso, até um limite de 6.400. (...) "Se a vaca fizer greve, continuamos no próximo sábado", afirmou o presidente do Citânia, anunciando que "para quebrar a monotonia" serão montadas na zona barracas de comes-e-bebes, "onde não faltarão bifanas e cerveja".
Joaquim Santos disse que a iniciativa, inspirada numa tradição alentejana, "está a despertar grande interesse" em Citânia ef reguesias vizinhas, tendo recebido até agora a adesão de três mil pessoas. "Não será muito difícil atingirmos a meta dos seis mil inscritos", disse.

O Grupo Cultural e Desportivo Leões da Citânia disputa a primeira divisão distrital da Associação de Futebol do Porto, ocupando a terceira posição na tabela classificativa.

A história vem na Reuters.
A cadeia norte-americana de comida italiana Bucca di Beppo mandou retirar os bustos de João Paulo II que decoravam algumas mesas dos 107 restaurantes.
Os bustos eram feitos de gesso e estavam naquela que os donos chamavam a mesa do Papa, destinada a grandes grupos, com lugares para 12 a 18 convivas. Dizem os responsáveis da cadeia que os bustos de João Paulo II serão substituídos por bustos de outro Papa famoso, nunca pelo Papa que será eleito no próximo conclave.
Boas notícias para os frequentadores habituais ou ocasionais do Bucca di Beppo, vão poder continuar a comer na mesa do Papa.

Título da Lusa:

"Figueira Foz: Garraiada estudantil passa a festa privada por ausência de licença."

"...a chuva é uma mulher. Uma dessas viúvas de vaidade envergonhada: tem um vestido de sete cores mas só o veste nos dias em que sai com o Sol."

Mia Couto

Alguns exemplos do número de dias de luto nacional, decretados total ou parcialmente:

Brasil - uma semana
India,Filipinas, Polónia - até ao funeral (5 dias, provavelmente)
Paraguai - 5 dias
Líbano, Cuba, Costa Rica, Chile, El Salvador,Portugal e Itália - 3 dias
Colômbia - 2 dias
Peru, França e Espanha - 1 dia (embora algumas provincias lideradas pelo PP tenham determinado luto para 3 dias ou até ao funeral).

Não tivesse sido este homem o mais mediático Papa de sempre e esta foto provavelmente nunca teria sido autorizada.

A Igreja não é uma democracia. Karol Wojtyla, nas vestes de Papa, seguiu essa máxima em vida. E suspeita-se que na morte também o terá feito.

No momento em que escrevo, não foi ainda divulgado o seu testamento. Mas salta aos olhos - mais que o choque de ver prostrado inerte um homem que para nós foi vivo e atlético - a sua determinação nas horas finais. Para mim, este foi um Papa obstinado.

O tempo pode não ser ainda de balanços, mas é certamente de constatações.

Sabemos que Wojtyla, que foi teimoso como martelo em muro, não quis morrer numa clínica. Os Papas não morrem em enfermarias.

Sabemos que um electrocardiograma constatou a morte do Papa. Não foi revelado se o procedimento tradicional de constatação da morte (usar de um martelinho na cabeça do Papa,chamando-o pelo nome de baptismo) foi ou não seguido.

Sabemos que o Papa foi filmado e fotografado, depois de morto, na Sala Clementina. O que é inédito. Também impressiona a rapidez com que foi embalsamado e exposto.
Apesar da cobertura legal aos olhos das convenções da Santa Sé, palpita-me que João Paulo II quis deixar esta instrução de uma forma não escrita. Um Papa aberto ao mundo - o primeiro a dar uma entrevista a uma televisão - gostaria certamente de não ser um segredo para esse mesmo mundo.Agora, assim observado, como certidão da mortalidade ou nos últimos dias, como advogado do direito a respirar contra a vontade de corpo e corporações.

Reside aqui, de momento, a minha principal interrogação.

É certo que o Papa redefiniu em 96 as regras da sucessão. E nomeou os cardeais que irão estar no Conclave. Mas será que é já esta a primeira marca do novo tempo, pela mão do Camerlengo ?

Ou será que o mediatismo electrizante de Wojtyla fará sombra ao novo "pescador de almas", obrigando a esta cartilha de manipulação mediática, a favor da promoção do Cristianismo em tempos reconhecidamente difíceis ?

A maior revolução terá sido, ainda e contudo, a eleição papal do homem que morreu neste primeiro sábado de Abril.

(a propósito de anonimato)


Este é um blog livre. O anonimato faz parte dessa liberdade.

Liberdade que também os cronistas que convidei para este blog usam para escrever o que entendem, tendo decidido assinar os seus textos.Não têm medo de assinar o que pensam. Nem sequer de discordar entre si.

Acho que isso deve ser respeitado.
Até por aqueles que não gostam do que se aqui se lê. Ou que não conseguem ou desejam identificar-se.

Enganam-se os que pensam que a liberdade é a anarquia. Esta frase pode ser contestada neste blog. Mas até eu querer - essa é a regra. Contudo esse momento não deve chegar certamente em breve.

Como anfitrião, quero apenas agradecer os contributos válidos e as 3000 visitas que estamos prestes a cumprir. Tenho recebido muitas mensagens de leitores agradados com este blog.
Aos que nos visitam, quase sempre de forma anónima, o meu muito obrigado.

Num tempo que se vive à pressa também a morte tem de ser rápida. Em qualquer conflito ou catástrofe os jornalistas tentam sempre dar mais mortos que a concorrência..quem conseguir ganha. É considerada mais fidedigna a fonte que conta mais cadáveres.

É por isso que os moribundos são desconcertantes... Numa altura em que só é notícia estar ainda vivo, os jornalistas de todo o mundo estão mergulhados na mórbida ansiedade de decretar a morte de um homem. Até pode morrer em paz...mas só se já não perceber, de facto, o que se passa à sua volta...com tanta gente de dedo no gatilho na ânsia de ser o primeiro a disparar primeiro a palava "morreu".

*Rest In Peace but quickly, please...

(escrito às 20h52m - 02.04.05 e em suspenso até agora por medo do poder das palavras)

Agora que a palavra foi pronunciada... é súbito e frio o silêncio apesar do ruído de fundo almofadado. É alívio? Ou respeito pela morte de uma notícia?

Morreu o Papa.

Morreu Karol Wojtyla, o mais importante líder político mundial do sec.XX.

Mal li hoje os jornais. Não sei se trazem as habituais mentiras de 1 de Abril. Espero que não.

Para lá da questão da imprensa, não consigo achar piada alguma a esta coisa das mentiras do primeiro de Abril. Aliás, nunca achei graça. Vê-se logo que é coisa de franceses, de tão estúpida.

Mas o que ultrapassa mais ainda o meu entendimento é essa coisa dos jornais publicarem deliberadamente notícias falsas para enganar os leitores. Dirão alguns que os jornais estão, diariamente, cheio de falsidades. Esse é outro debate. Andar 364 dias por ano a tentar que os leitores acreditem que o que vem no jornal é verdadeiro e um dia a brincar às mentiras é que não tem mesmo qualquer sentido.

Há tradições que deviam ser banidas.