17.4.05
Com que clave
Todas as rotundas são carroceis. Na Boavista, há agora um bom motivo para bater no carro da frente.
Chamaram-lhe já quase tudo. Meteorito, poliedro, pedregulho. Não consigo classificá-la, até pelo pouco tempo que lhe dediquei, em vista nua nesta sexta inaugural.
Mas imagino-a rodopiando sobre um eixo fundado no granito, perfumando o arvoredo próximo com bemois e sustenidos a escorrer pelos braços da Rotunda.
A Música é para sempre como os Diamantes. A este, portuense e português, quero-o lapidado pela diversidade. Uma casa- juke-box - ao subir a escadaria principal, parecia uma ficha em ranhura para moedas de dois euros.
Sou um amante do Porto. E estou muito feliz pela brilhante peça de arquitectura que ali têm. E por isso vos peço- portuenses - que a defendam. Da polémica - mais velha que as estacas que foram colocadas nas fundações. Da sombra - que muitos vão querer projectar nela. Mas sobretudo defendam-na do vazio. Não do musical silêncio, mas do conformismo e da banalidade.
Explico-me melhor.
A Casa - que nessa pompa quer acolher e não afastar - só tem a ganhar com habitantes exigentes que a livrem do estatuto de sala de aluguer como outros grandes espaços culturais portugueses. Depois das enchentes iniciais, será preciso provar a diferença que o betão branco irá ajudar a publicitar. A receita é velha: é preciso vontade mas também essa chave-mestra das sociedades contemporâneas - o dinheiro.
O dinheiro que não existe para uma coisa inacreditável chamada Faro Capital da Cultura, onde parece grassar o desejo que 2006 chegue depressa para acabar com um evento mal preparado, desorçamentado, desorientado. Sei bem que em Faro trabalha-se de borla, que digo!, há quem esteja a pagar do seu bolso despesas que competem à organização. Daqui por umas semanas lá estará o povo todo de fraque, celebrando essa triste ideia de querer ser sem poder. Assim não vale a pena. É afinar por uma clave que mete dó.
Com que outra chave se poderia salvar a Cultura ? Avançando pela educação musical que não temos em Portugal? Pelo combate à iliteracia que não é feito, com carácter de urgência ? Pela seriedade que não existe no topo das hierarquias ?
Não estamos sós na desgraça. Acreditem. O cartaz que acima se reproduz vem da Alemanha e tem uma mensagem simples - Salvem os Sinfónicos. Pois é. Eles têm 136 orquestras, mas as maiores estão na falência. Dizem que é melhor entrar pelo modelo americano, das parcerias com privados.
Estamos pois conversados sobre o modelo de gestão da Casa da Música.
Chamaram-lhe já quase tudo. Meteorito, poliedro, pedregulho. Não consigo classificá-la, até pelo pouco tempo que lhe dediquei, em vista nua nesta sexta inaugural.
Mas imagino-a rodopiando sobre um eixo fundado no granito, perfumando o arvoredo próximo com bemois e sustenidos a escorrer pelos braços da Rotunda.
A Música é para sempre como os Diamantes. A este, portuense e português, quero-o lapidado pela diversidade. Uma casa- juke-box - ao subir a escadaria principal, parecia uma ficha em ranhura para moedas de dois euros.
Sou um amante do Porto. E estou muito feliz pela brilhante peça de arquitectura que ali têm. E por isso vos peço- portuenses - que a defendam. Da polémica - mais velha que as estacas que foram colocadas nas fundações. Da sombra - que muitos vão querer projectar nela. Mas sobretudo defendam-na do vazio. Não do musical silêncio, mas do conformismo e da banalidade.
Explico-me melhor.
A Casa - que nessa pompa quer acolher e não afastar - só tem a ganhar com habitantes exigentes que a livrem do estatuto de sala de aluguer como outros grandes espaços culturais portugueses. Depois das enchentes iniciais, será preciso provar a diferença que o betão branco irá ajudar a publicitar. A receita é velha: é preciso vontade mas também essa chave-mestra das sociedades contemporâneas - o dinheiro.
O dinheiro que não existe para uma coisa inacreditável chamada Faro Capital da Cultura, onde parece grassar o desejo que 2006 chegue depressa para acabar com um evento mal preparado, desorçamentado, desorientado. Sei bem que em Faro trabalha-se de borla, que digo!, há quem esteja a pagar do seu bolso despesas que competem à organização. Daqui por umas semanas lá estará o povo todo de fraque, celebrando essa triste ideia de querer ser sem poder. Assim não vale a pena. É afinar por uma clave que mete dó.
Com que outra chave se poderia salvar a Cultura ? Avançando pela educação musical que não temos em Portugal? Pelo combate à iliteracia que não é feito, com carácter de urgência ? Pela seriedade que não existe no topo das hierarquias ?
Não estamos sós na desgraça. Acreditem. O cartaz que acima se reproduz vem da Alemanha e tem uma mensagem simples - Salvem os Sinfónicos. Pois é. Eles têm 136 orquestras, mas as maiores estão na falência. Dizem que é melhor entrar pelo modelo americano, das parcerias com privados.
Estamos pois conversados sobre o modelo de gestão da Casa da Música.