Fado Falado

Por volta de 1975/76/77, o futebolista Eusébio deixou de ter condições para o exercício da actividade em que revelara competência: a de futebolista profissional. Abandonou, assim, a sua profissão, tornando-se, de imediato, num cidadão inútil. Analfabeto funcional, Eusébio só poderia ser um cidadão útil no exercício de uma actividade que lhe exigisse apenas esforço físico. O estatuto económico que adquirira impediu, contudo, que isso se concretizasse. Assim, passou a integrar o corpo técnico do clube onde jogou, mas também aí não revelou préstimo, como era de prever. Em nome de uma qualquer gratidão, o clube onde jogou passou a pedir-lhe apenas que estivesse lá. A sua actividade profissional passou a ser "estar lá". Não sei se consta de alguma relação de profissões nas Finanças, mas é esse o seu trabalho: estar lá. Onde possa haver um pequeno ajuntamento de gente, uma câmara de tv ou um fotógrafo e uma representação do clube onde jogou, Eusébio tem que estar lá. Como não sou simpatizante nem sócio do clube onde Eusébio jogou, não comento.
De há uns anos a esta parte, o ex-futebolista Eusébio passou também a praticar essa sua actividade nas comitivas da Federação Portuguesa de Futebol. Não se percebe porquê. Se a Federação quer praticar caridade, porque há-de beneficiar alguém em duplicado? Seria preferível, por exemplo, que, em cada deslocação ao estrangeiro ou mesmo cá, nos jogos da sua equipa representativa, fizesse integrar na comitiva dois ou três idosos, dos muitos que, por todo o país, vivem sem posses económicas, esperando, sós, pela morte, em lares. Muitos até gostam da bola e seria um belíssimo gesto dar essa alegria a quem não tem um clube que possa fazer mesmo.
Não sei quem será o próximo seleccionador nacional, nem sei se concordarei com a escolha, mas declaro-lhe já o meu apoio se anunciar, como primeira medida, o afastamento do cidadão Eusébio de toda e qualquer comitiva da FPF.