16.12.07
Um Natal, por Arlindo do Rêgo (RPS)
Um texto de Arlindo do Rêgo, datado de 1999, quando se encontrava radicado no litoral alentejano.
Todos os anos a mesma merda. Este ano, não. Graças a uma mútua perrice teimosa, nem fomos ao Norte, nem eles vieram ao Sul. Confesso que gostei. Ao menos não me escarafuncham o bestunto com opiniões bacocas, que não pedi. Para "mandar flores" sugiro o correio dos leitores do jornal "Tal e qual", ou da revista "Proteste". Eu já não tenho apartado - nem paciência. Uma noite de consoada com a família nuclear, sem a azáfama de comidas, doces e decorações, esfalfantes, azougadas, ao cronómetro - para afinal findarem num putativo clímax, nulo... Um desassossego tão absurdo quanto inútil. Não se fez árvore de Natal, que não tem tradição e é feérica como romaria parola - só dois pequenos presépios e um S. Nicolau lapão, para ornar o mundo onírico do rapaz. Presentes: como só a criança os aprecia - teve-os. Jogos, livros, bonecos. Em quantidade. Para esfutricar. Ente adultos suprimiu-se essa prostituição rasca de sentimentos, que alguns - apoucados - macaqueiam, com abomináveis pares de peúgas, jogos de lenços e cachecóis de malha tricotados ao serão. Depois atirei-me para Lisboa, dia 29 - ainda soltando miasmas de um encatarroamento, que me não tem largado. Ferrei-me no Excelsior, da Rua Rodrigues Sampaio: muito conveniente em preço, local e comodidade. Ali ao Marquês, ao Metro, aos táxis: um pincho; à Baixa, dois pinchos. Aliviadamente, por três dias calcorreei a cidade exausta pela furiosa turbamulta do consumo. Paz sorna e rescaldo de festa, por todo o lado. Alguns transeuntes arejavam, molemente, as roupas novas "franchisadas" pelo Menino Jesus do subsídio de Natal. A Baixa, dos Restauradores ao Terreiro do Paço, outrora honesta e limpa, é hoje uma vasta Babel, confusa, suja e replecta de malfeitores e afins. O Chiado, uma desilusão embrulhada nos ouropeis solertes da comunicação social. Os centros comerciais, letárgicos, muito safados de "stocks", prometiam já saldos. Farejei promoções. Desportivamente. Desinteressado. E não apetecendo nada, passeei o meu tédio.
texto retirado daqui ao principal depositário do espólio de Arlindo do Rêgo
Todos os anos a mesma merda. Este ano, não. Graças a uma mútua perrice teimosa, nem fomos ao Norte, nem eles vieram ao Sul. Confesso que gostei. Ao menos não me escarafuncham o bestunto com opiniões bacocas, que não pedi. Para "mandar flores" sugiro o correio dos leitores do jornal "Tal e qual", ou da revista "Proteste". Eu já não tenho apartado - nem paciência. Uma noite de consoada com a família nuclear, sem a azáfama de comidas, doces e decorações, esfalfantes, azougadas, ao cronómetro - para afinal findarem num putativo clímax, nulo... Um desassossego tão absurdo quanto inútil. Não se fez árvore de Natal, que não tem tradição e é feérica como romaria parola - só dois pequenos presépios e um S. Nicolau lapão, para ornar o mundo onírico do rapaz. Presentes: como só a criança os aprecia - teve-os. Jogos, livros, bonecos. Em quantidade. Para esfutricar. Ente adultos suprimiu-se essa prostituição rasca de sentimentos, que alguns - apoucados - macaqueiam, com abomináveis pares de peúgas, jogos de lenços e cachecóis de malha tricotados ao serão. Depois atirei-me para Lisboa, dia 29 - ainda soltando miasmas de um encatarroamento, que me não tem largado. Ferrei-me no Excelsior, da Rua Rodrigues Sampaio: muito conveniente em preço, local e comodidade. Ali ao Marquês, ao Metro, aos táxis: um pincho; à Baixa, dois pinchos. Aliviadamente, por três dias calcorreei a cidade exausta pela furiosa turbamulta do consumo. Paz sorna e rescaldo de festa, por todo o lado. Alguns transeuntes arejavam, molemente, as roupas novas "franchisadas" pelo Menino Jesus do subsídio de Natal. A Baixa, dos Restauradores ao Terreiro do Paço, outrora honesta e limpa, é hoje uma vasta Babel, confusa, suja e replecta de malfeitores e afins. O Chiado, uma desilusão embrulhada nos ouropeis solertes da comunicação social. Os centros comerciais, letárgicos, muito safados de "stocks", prometiam já saldos. Farejei promoções. Desportivamente. Desinteressado. E não apetecendo nada, passeei o meu tédio.
texto retirado daqui ao principal depositário do espólio de Arlindo do Rêgo
Comments:
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ops...acabei de lÊ.lo....no daqui
gostei .......todos os anos a mesma merda,,,,,pois é.......
jocas maradas
gostei .......todos os anos a mesma merda,,,,,pois é.......
jocas maradas
Mas que texto... há momentos que se repetem... Natal é um deles...
Bem... RPS, se tiveres um tempinho, espreita lá para os meus lados para ser se gostas mais deste «epílogo» :-)
BJS
Bem... RPS, se tiveres um tempinho, espreita lá para os meus lados para ser se gostas mais deste «epílogo» :-)
BJS
...nem mais! Odeio o Natal e tudo o que tenha cheiro, som ou cor de Natal. A única coisa boa do Natal é que não dura sempre... embora de ano para ano a época se va largando consideravelmente... não há paciencia!
Beijicos
Beijicos
para melhorar o espírito natalício e não levar os leitores à depressão prometo que os meus próximos posts vão por o leitor a rir-se com o cómico de situação expresso.
Aceda a http://tiburciothesmartest.blogspot.com/
Aceda a http://tiburciothesmartest.blogspot.com/
Não foi irónico, li o texto! Sabes o que penso que há pessoas que nunca foram crianças!!
Então não é tão bom comer um bacalhau cozido regado com bom azeite? A arvore que está na avenida dos aliados não está lindíssima!Mas eu sei qual é o problema, solidão! Quem não tem com quem partilhar, o Natal parece desinteressante e até tedioso! O natal acima de tudo é uma festa de família!
beijinhos missixty
Então não é tão bom comer um bacalhau cozido regado com bom azeite? A arvore que está na avenida dos aliados não está lindíssima!Mas eu sei qual é o problema, solidão! Quem não tem com quem partilhar, o Natal parece desinteressante e até tedioso! O natal acima de tudo é uma festa de família!
beijinhos missixty
Belo texto. Resume tudo. As palavras chave estão lá. "consumo" "tédio".
E a famelga que aparece para papar a janta, e fazer as perguntas do costume, só que desta vez, com um terrível ar ternurento...
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E a famelga que aparece para papar a janta, e fazer as perguntas do costume, só que desta vez, com um terrível ar ternurento...
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