22.4.07
Estrela Solitária VII e último ou Psicologia e Futebol (RPS)
Os habituais visitantes do Fado Falado ignoraram quase por completo a série de posts sobre Garrincha (para mim, o melhor futebolista da História) que fiz valendo-me da biografia do jogador, escrita por Ruy Castro. Em todo o caso, aconselho a obra - só à venda no Brasil, tanto quanto sei, numa edição "Companhia das Letras". Acho que vale pela história de Garrincha e pela escrita de Castro. Fecho a série com um episódio passado no Mundial de 58.
A CBF, a Federação lá do sítio, preparou esse Mundial da Suécia com um rigor até aí impensável. Nunca, por exemplo, os jogadores da selecção foram sujeitos a tantos exames e avaliações médicas e físicas e essa equipa de especialistas incluiu, pela primeira vez, um psicólogo - grande novidade para a época!
Tratava-se de João Carvalhaes, a quem foi pedido que se confinasse ao seu trabalho, sem dar palpites aos técnicos. No seu primeiro relatório, contudo, no final de um primeiro estágio de pré-selecção, o psicólogo não resistiu e desaconselhou a utilização de Pelé, então com 17 anos: "É obviamente infantil. Falta-lhe o necessário espírito de luta. Não tem o senso de responsabilidade necessário ao espírito de equipe. Não acho aconselhável o seu aproveitamento".
Sobre Mané Garrincha, a avaliação não foi muito melhor. Mané começou logo por falhar no preenchimento de uma ficha com dados pessoais, ao escrever, como profissão, " atreta". Carvalhaes avaliou em zero o seu grau de agressividade e a sua inteligência abaixo da média. Numa escala de aptidão até 123 pontos, atribuiu-lhe 38.
O psicólogo jamais teria utilizado Pelé e Garrincha, mas os técnicos brasileiros tinham outra ideia e Pelé e Garrincha jogaram juntos, pela primeira vez, na selecção, em Maio de 58. Nunca, com os dois em campo, o Brasil perdeu um jogo e fizeram juntos, até 1966, mais de 50 partidas.
Já na Suécia, depois dos primeiros dois jogos e antes da partida com a então União Soviética, decisiva para a entrada nos quartos-de-final, Carvalhaes fez novos testes para avaliar quem estava em condições para um desafio tão exigente. Dos onze que jogariam, chumbou nove... Por exemplo, o guarda-redes Gilmar chumbou por não saber traçar duas linhas paralelas e Didi porque, ao ser-lhe pedido que desenhasse algo, fez uma casinha com chaminé. Já Garrincha desenhou um círculo de onde saíam alguns traços. O psicólogo questionou-o sobre se tratava do sol e Mané respondeu tratar-se da cabeça de Quarentinha, seu colega no Botafogo...
Carvalhaes, em pânico, levou os resultados dos testes ao treinador Vicente Feola. De acordo com Ruy Castro, "entre o bom senso e a psicologia, Feola ficou com o bom senso". Os serviços de Carvalhaes foram, nesse momento, dispensados. Feola, com Garrincha e Pelé, foi campeão do mundo.
A CBF, a Federação lá do sítio, preparou esse Mundial da Suécia com um rigor até aí impensável. Nunca, por exemplo, os jogadores da selecção foram sujeitos a tantos exames e avaliações médicas e físicas e essa equipa de especialistas incluiu, pela primeira vez, um psicólogo - grande novidade para a época!
Tratava-se de João Carvalhaes, a quem foi pedido que se confinasse ao seu trabalho, sem dar palpites aos técnicos. No seu primeiro relatório, contudo, no final de um primeiro estágio de pré-selecção, o psicólogo não resistiu e desaconselhou a utilização de Pelé, então com 17 anos: "É obviamente infantil. Falta-lhe o necessário espírito de luta. Não tem o senso de responsabilidade necessário ao espírito de equipe. Não acho aconselhável o seu aproveitamento".
Sobre Mané Garrincha, a avaliação não foi muito melhor. Mané começou logo por falhar no preenchimento de uma ficha com dados pessoais, ao escrever, como profissão, " atreta". Carvalhaes avaliou em zero o seu grau de agressividade e a sua inteligência abaixo da média. Numa escala de aptidão até 123 pontos, atribuiu-lhe 38.
O psicólogo jamais teria utilizado Pelé e Garrincha, mas os técnicos brasileiros tinham outra ideia e Pelé e Garrincha jogaram juntos, pela primeira vez, na selecção, em Maio de 58. Nunca, com os dois em campo, o Brasil perdeu um jogo e fizeram juntos, até 1966, mais de 50 partidas.
Já na Suécia, depois dos primeiros dois jogos e antes da partida com a então União Soviética, decisiva para a entrada nos quartos-de-final, Carvalhaes fez novos testes para avaliar quem estava em condições para um desafio tão exigente. Dos onze que jogariam, chumbou nove... Por exemplo, o guarda-redes Gilmar chumbou por não saber traçar duas linhas paralelas e Didi porque, ao ser-lhe pedido que desenhasse algo, fez uma casinha com chaminé. Já Garrincha desenhou um círculo de onde saíam alguns traços. O psicólogo questionou-o sobre se tratava do sol e Mané respondeu tratar-se da cabeça de Quarentinha, seu colega no Botafogo...
Carvalhaes, em pânico, levou os resultados dos testes ao treinador Vicente Feola. De acordo com Ruy Castro, "entre o bom senso e a psicologia, Feola ficou com o bom senso". Os serviços de Carvalhaes foram, nesse momento, dispensados. Feola, com Garrincha e Pelé, foi campeão do mundo.
Comments:
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oh pá, que injusto estás a ser com a frase "Os habituais visitantes do Fado Falado ignoraram quase por completo a série de posts sobre Garrincha ".
ninguém disse nada porque não havia nada a dizer: Garrincha parte a casa sozinho.
e a partir destes posts para a frente Roma vai ser "a cidade em que o senhor Zézé escorregou"!
:o)
ninguém disse nada porque não havia nada a dizer: Garrincha parte a casa sozinho.
e a partir destes posts para a frente Roma vai ser "a cidade em que o senhor Zézé escorregou"!
:o)
Caro RPS,
Em primeiro lugar, parabens pela série: foram uns excelentes posts sobre uma grande personagem.
Não houve muitos comentários porque não havia muito a dizer, excepto sobre a tua opinião sobre Mané Garrincha: para ti foi o melhor jogador de sempre, para mim não está nos melhores 5, provavelmente nem nos melhores 10. Mas isso são opiniões. Sobre a personagem, é que não há duas opiniões - é irrepetível. Mas fiquei com vontade de ler o livro, aliás como outros de Ruy Castro.
PS Não respondeste ao meu repto do 1º post: a "estória" do bordel é verdadeira ou não ?
Em primeiro lugar, parabens pela série: foram uns excelentes posts sobre uma grande personagem.
Não houve muitos comentários porque não havia muito a dizer, excepto sobre a tua opinião sobre Mané Garrincha: para ti foi o melhor jogador de sempre, para mim não está nos melhores 5, provavelmente nem nos melhores 10. Mas isso são opiniões. Sobre a personagem, é que não há duas opiniões - é irrepetível. Mas fiquei com vontade de ler o livro, aliás como outros de Ruy Castro.
PS Não respondeste ao meu repto do 1º post: a "estória" do bordel é verdadeira ou não ?
Sinceramente, as histórias do Garrincha não me impressionaram particularmente. São vulgares histórias de um atrasado mental. Gosto muito mais das histórias de George Best.
Tenho 46 anos e não tenho ideia nenhuma de ter alguma vez visto Garrincha a jogar. Suponho que a média de idades dos frequentadores deste blog seja substancialmente inferior à minha. Muito menos, portanto, o nome Garrincha dirá alguma coisa a esses frequentadores habituais. Isso deve explicar a ausência de comentários.
Substancialmente mais interessante do que os posts do Garrincha deve ser a lista dos 10 melhores jogadores de futebol de sempre, de McJaku. É que nela não figura Garrincha. Ora, eu que percebo pouco de futebol, quando ouço os entendidos enumerarem qualquer lista dos cinco maiores, vejo muitas diferenças, mas Pelé, Garrincha e Maradona estão em todas elas.
Tenho 46 anos e não tenho ideia nenhuma de ter alguma vez visto Garrincha a jogar. Suponho que a média de idades dos frequentadores deste blog seja substancialmente inferior à minha. Muito menos, portanto, o nome Garrincha dirá alguma coisa a esses frequentadores habituais. Isso deve explicar a ausência de comentários.
Substancialmente mais interessante do que os posts do Garrincha deve ser a lista dos 10 melhores jogadores de futebol de sempre, de McJaku. É que nela não figura Garrincha. Ora, eu que percebo pouco de futebol, quando ouço os entendidos enumerarem qualquer lista dos cinco maiores, vejo muitas diferenças, mas Pelé, Garrincha e Maradona estão em todas elas.
Diz Funes: "Sinceramente, as histórias do Garrincha não me impressionaram particularmente. Tenho 46 anos e não tenho ideia nenhuma de ter alguma vez visto Garrincha a jogar".
Ora, Funes! Também nunca viste a Rita Hayworth jogar...
Mcjaku: não sei a que história do Mané te referes, mas esclareceremos no próximo jantar.
Ora, Funes! Também nunca viste a Rita Hayworth jogar...
Mcjaku: não sei a que história do Mané te referes, mas esclareceremos no próximo jantar.
Bom dia!
... pois... os meus cohecimentos de futebol nao vao assim tao longe no tempo. Mas pronto, sempre te posso deixar um beijico. E prá semana vou ao Porto, karago!
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... pois... os meus cohecimentos de futebol nao vao assim tao longe no tempo. Mas pronto, sempre te posso deixar um beijico. E prá semana vou ao Porto, karago!
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