1.3.07

 

Estrela solitária III (RPS)

Como já disse, a biografia de Garrincha escrita por Ruy Castro recentra a verdade das histórias que se contam sobre o jogador. Para mim, repito, o melhor futebolista de todos os tempos.
Diz-se - sempre se disse, sempre se contou - que Garrincha se referia a todos os seus marcadores directos como "o João". Qualquer defesa-esquerdo era o João. Mentira, diz Castro. Esta foi uma história inventada pelo jornalista e cronista desportivo Sandro Moreyra, conhecido adepto do Botafogo, que cedo percebeu a qualidade de Mané e o seu potencial para se tornar uma lenda. Moreyra inventou essa história de Mané como terá inventado outras. Mário Filho, o mais conceituado jornalista desportivo do Brasil desse tempo (o Maracaná não se chama Maracaná, mas sim Estádio Mário Filho...), delirou com a história "do João" e contou-a, ampliou-a e deu-lhe o crédito que não merecia.

Já verdadeiro é o facto de Garrincha não saber, em muitas ocasiões, quem era a equipa adversária. Ou não sabia mesmo sequer o nome ou, então, sabia, mas era como se não soubesse. Ouvir sobre o adversário a designação "Itália" ou "Venezuela", "Real Madrid" ou "Belenenses" era para Garrincha indiferente. Não tinha noção dessas coisas. Nesse plano era um inconsciente, mas tirou disso vantagem: índio em estado puro, Mané queria apenas jogar à bola. Tensão, nervoso miudinho, stress, medo cénico, pânico de falhar são coisas que nunca o afectaram em competição. Talvez só no ocaso da carreira, quando a saudável dependência da bola tinha sido substituída pelo mortífera dependência do álcool.

Após a meia-final contra a França, no Mundial de 58, na Suécia, Mané perguntou, ainda no vestiário, ao amigo Nilton Santos, com quem jogariam a seguir. Nilton disse-lhe que era a Suécia e seria o último jogo. Mané Garrincha:
- Já? Mas que torneio mixuruca! O campeonato carioca é muito melhor porque tem turno e returno (duas voltas)...

Comments:
Mané Garrincha é todo um símbolo do futebol de outros tempos. Um tempo "simples", como "simples" era a personalidade do craque, sendo eufemista, e "simples" era o futebol que jogava: sempre a mesma finta, sempre pelo lado de fora a buscar a linha para cruzar.
Era genial, dizem, naquilo que fazia. Hoje não resistiria ao assédio dos media e, sobretudo, ao futebol de hoje, nas suas exigências físicas e tácticas e aos duplos defesas (vide Quaresma no recente jogo com o Chelsea)
Mas, a propósito do Mundial da Suécia, pensei que te irias referir ao episódio da visita colectiva a um bordel e do alegado, isto é que é jornalismo correcto, oferecimento de seu mané para ficar com uma "profissional" que sobrava pela desistência de um colega. Ou será que isto também é lenda ?...
 
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