2.7.07
São Pedro (RPS)
O aniversário da Avó era no São Pedro e o jantar da noite de 29 de Junho era um ritual. Com alguns rituais. Mas sem protocolo.
A Avó juntava filhos(as), alguns amigos da família e, claro, os dez netos, nos quais deixou memórias e marcas profundas porque os Avós não são todo iguais e alguns são mesmo especiais. O grande ritual da noite era o lançamento de balões, fogo de artifício e, a partir de dada altura, o atear de uma fogueira no fim da rua, que não tinha saída.
O último São Pedro da Avó foi em 88. Ela, quase da idade do século, foi embora no início do ano seguinte e o jantar de São Pedro passou a recordação saudosa.
Em 99, uma das primas teve a iniciativa de juntar, no seu aniversário, os dez primos e, inevitavelmente, as conversas passaram em muito pela Avó. Não sei quem lançou a ideia, mas decidiu-se retomar a iniciativa logo nesse ano, na mesma casa dos tios onde a Avó vivia.
O jantar de São Pedro virou de novo ritual e, pelo menos uma vez no ano, estamos juntos. E a equipa está reforçada. É certo que alguns amigos já cá não estão, mas, no núcleo estritamente familar, só falta uma pessoa, que foi embora muito cedo, logo nos primeiros tempos, bem antes da Avó. Agora, por lá, está também a geração dos bisnetos. Só a mais velha a conheceu.
O essencial do espírito mantém-se, apesar das diferenças inevitáveis. E, entre estas, uma há que se revela verdadeiramente chocante. No ritual do fogo. Então não é que aquela brincadeira inebriante e excitante é, agora, uma brincadeira perigosa?!
- "Cuidado! Sai daí!". "Tu não pegas nesses foguetes!". "Ficas aqui ao longe!". "Vocês são doidos?!". "Ele pode ficar assustado, coitadinho". "Não quero que ela fique sem mão!".
Alguém, mais lúcido, puxa pelo exemplo do passado, de como era e da felicidade que tudo aquilo nos causava, quando éramos crianças e adolescentes. "Os nossos pais eram uns inconscientes", sentencia outrém.
Bolas! Será que a geração dos bisnetos não pode fruir dos prazeres da dos netos? Para mais, alguns revelam grande vontade nesse sentido e são, de imediato, coartados nos seus impulsos, em nome de normas legais e de segurança.
É mesmo preciso salvar as crianças de alguns pais e do espirito politicamente correcto, lavadinho e ascético deste tempo. Eu já comecei e prometo continuar, a cada ano, empenhado nesse trabalho. E acalento mesmo a esperança de vir a derrubar todas as regras de segurança e de consciência ambiental: apesar da rua ter sido prolongada e de, agora, passarem carros, hei-de voltar a fazer a fogueira com pneus, restos de material pirotécnico e embalagens de spray. O efeito explosivo das nossas latas vazias de desodorizante, laca de cabelo, espuma de barbear, insectisida e outros produtos era lindo! Principalmente, o das latas que ainda tinham um resto de produto. E das que ainda tinham bastante...
E aquele cheiro a Brise contínuo no ar? Ah! que saudades daquele cheiro a Brise contínuo no ar...
A Avó juntava filhos(as), alguns amigos da família e, claro, os dez netos, nos quais deixou memórias e marcas profundas porque os Avós não são todo iguais e alguns são mesmo especiais. O grande ritual da noite era o lançamento de balões, fogo de artifício e, a partir de dada altura, o atear de uma fogueira no fim da rua, que não tinha saída.
O último São Pedro da Avó foi em 88. Ela, quase da idade do século, foi embora no início do ano seguinte e o jantar de São Pedro passou a recordação saudosa.
Em 99, uma das primas teve a iniciativa de juntar, no seu aniversário, os dez primos e, inevitavelmente, as conversas passaram em muito pela Avó. Não sei quem lançou a ideia, mas decidiu-se retomar a iniciativa logo nesse ano, na mesma casa dos tios onde a Avó vivia.
O jantar de São Pedro virou de novo ritual e, pelo menos uma vez no ano, estamos juntos. E a equipa está reforçada. É certo que alguns amigos já cá não estão, mas, no núcleo estritamente familar, só falta uma pessoa, que foi embora muito cedo, logo nos primeiros tempos, bem antes da Avó. Agora, por lá, está também a geração dos bisnetos. Só a mais velha a conheceu.
O essencial do espírito mantém-se, apesar das diferenças inevitáveis. E, entre estas, uma há que se revela verdadeiramente chocante. No ritual do fogo. Então não é que aquela brincadeira inebriante e excitante é, agora, uma brincadeira perigosa?!
- "Cuidado! Sai daí!". "Tu não pegas nesses foguetes!". "Ficas aqui ao longe!". "Vocês são doidos?!". "Ele pode ficar assustado, coitadinho". "Não quero que ela fique sem mão!".
Alguém, mais lúcido, puxa pelo exemplo do passado, de como era e da felicidade que tudo aquilo nos causava, quando éramos crianças e adolescentes. "Os nossos pais eram uns inconscientes", sentencia outrém.
Bolas! Será que a geração dos bisnetos não pode fruir dos prazeres da dos netos? Para mais, alguns revelam grande vontade nesse sentido e são, de imediato, coartados nos seus impulsos, em nome de normas legais e de segurança.
É mesmo preciso salvar as crianças de alguns pais e do espirito politicamente correcto, lavadinho e ascético deste tempo. Eu já comecei e prometo continuar, a cada ano, empenhado nesse trabalho. E acalento mesmo a esperança de vir a derrubar todas as regras de segurança e de consciência ambiental: apesar da rua ter sido prolongada e de, agora, passarem carros, hei-de voltar a fazer a fogueira com pneus, restos de material pirotécnico e embalagens de spray. O efeito explosivo das nossas latas vazias de desodorizante, laca de cabelo, espuma de barbear, insectisida e outros produtos era lindo! Principalmente, o das latas que ainda tinham um resto de produto. E das que ainda tinham bastante...
E aquele cheiro a Brise contínuo no ar? Ah! que saudades daquele cheiro a Brise contínuo no ar...
Comments:
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Se as tuas irmãs são frequentadoras do estabelecimento, arriscas-te a ficares inibido da tua condição de tio porreiro...
ora portanto tu és aquele tio com quem os putos deliram e as mães stressam?!?!?
mto bem mto bem...
que bonita recordação, mesmo!
mto bem mto bem...
que bonita recordação, mesmo!
Também tive rituais com Avós . Inesquecíveis.
Eu costumo dizer - qual é o mal de pertir um braço ou a cabeça? criança que é criança tem de partir alguma coisa durante a infância!
e ficam todos com vontade de bater...
Eu costumo dizer - qual é o mal de pertir um braço ou a cabeça? criança que é criança tem de partir alguma coisa durante a infância!
e ficam todos com vontade de bater...
este post está muito belo, RPS.
nem sei como quase me passou ao lado (sorry...)
acho que é muito bonito rebentar com latas de lacas, desodorizantes e outros CFC, assim como queimar pneus e outras coisas do género.
mas valha-nos a consciência, pelo menos uma vez na vida, de que foi (não só, é certo) muito por culpa dessas ignorâncias ambientais que estamos a ter o Junho e o Julho que estamos a ter.
mas de resto o post está muito bonito! mesmo!;o)
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nem sei como quase me passou ao lado (sorry...)
acho que é muito bonito rebentar com latas de lacas, desodorizantes e outros CFC, assim como queimar pneus e outras coisas do género.
mas valha-nos a consciência, pelo menos uma vez na vida, de que foi (não só, é certo) muito por culpa dessas ignorâncias ambientais que estamos a ter o Junho e o Julho que estamos a ter.
mas de resto o post está muito bonito! mesmo!;o)
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