2.3.07

 

Bento e os magiares... (RPS)

Morreu Bento. Paz à sua alma. Parecia ser um tipo simples e genuíno. Beneficiário, enquanto futebolista do Benfica, dos favores e protecção da imprensa desportiva lisboeta, a verdade é que não valeu metade do que se disse dele em vida. Não valeu um décimo do que se diz agora que está morto. Não há como morrer para sermos bem tratados e reconhecidos.

Bento foi, contudo, um verdadeiro atleta. Mas dele, o que mais recordo é a sua curta experiência como comentador televisivo, no Domingo Desportivo, no início dos anos 90.
Não foi na primeira aparição, mas foi na terceira ou na quarta. Estava-se em vésperas de um jogo qualquer de uns dezasseis-avos de final da Taça das Taças ou da Taça UEFA. Um Benfica em crise ia defrontar uma equipa húngara de segunda linha. Salvo erro, o Vasas de Gyor. Numa reportagem feita à medida dos interesses do Benfica, exaltava-se o passado glorioso do futebol húngaro, sublinhava-se insistentemente o valor da equipa adversária. Que ninguém conhecia... Prevendo-se a eliminação, cozinhava-se a ideia de que o Benfica, a cair, cairia perante um colosso.

Bento insurgiu-se. Puxando pelos seus galões de jogador de um Benfica vencedor, disse, sem papas na língua, que não havia adversários fáceis, sim senhor, mas um verdadeiro Benfica tinha de ganhar e seguir em frente na prova e que se deixassem de desculpas antecipadas. Tinha razão o pobre Bento. E, então, sentenciou, definitivo: ”O futebol húngaro também já não é o que era, já não é aquele futebol mágico, a que chamavam magiar. Os magiares já acabaram há muito tempo”.
Bento não mais voltou ao Domingo Desportivo.

Comments:
Mais uma referência do nosso tempo que se vai, RPS. Notar que referi referência e não ídolo. Como RPS sabe e aqui já deixei algures escrito, o meu ídolo de infância foi o Damas. Provavelmente por ele sou sporinguista. E a morte de Bento fez-me compará-lo com Damas, como antes a morte de Damas me tinha feito compará-lo a Zé Henriques, antecessor de Bento na baliza encarnada. Continuo a pensar que Damas, dos três, era certamente o que tinha mais qualidades para o lugar. Provavelmente, dos três, foi o que fez pior carreira desporiva, fruto, em parte, da protecção que os jogadores do Benfica sempre beneficiaram e de ter jogado os seus melhores anos em Espanha, no modesto Racing de Santander, num tempo em que não havia sequer transmissões televisivas e tenha voltado para clubes pequenos. Mas é preciso reconhcer que Bento foi provavelmente melhor profissional, treinava-se provavelmente mais, punha mais raça em tudo o que fazia. E assim ultrapassava a suas limtações, uma altura baixa e um estilo algo trapalhão. E defendia muito, temos de o reconhecr.
Excepto contra o Liverpool...
 
O futebol sempre nos trazendo e nos deixando recordações eternas.
 
Estás certo!
Também nós não valemos metade do que dizem ou um décimo do que dirão!
 
Para mim, Bezet, não faz grande diferença. Toda a gente diz que eu não valho nada.
 
"Não sou tão mau como me pintam, nem tão bom como me julgo".
Em vida, claro.
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Depois de morto - RIP - descansa em paz.
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Mas que o Bento foi um grande guarda-redes, lá isso foi. Eu lembro-me de o ver defender.
 
De facto, a morte santifica-nos a todos... É pena que em vida nos tratemos como diabinhos...
 
"Mais uma referência do nosso tempo que se vai, RPS"

Mal andam as referências do vosso tempo. Nem quero acreditar que Cristiano Ronaldo, um puto rico e irresponsável que sabe dar uns toque na bola, é a referência do meu tempo...
 
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