7.12.06

 

Amores de quarta-feira (RPS)

Quatro anos de diferença entre duas pessoas são muitos anos, são grande diferença quando se é criança ou adolescente. Entre amigos, os mais velhos acabam dar a conhecer muitas coisas aos mais novos e a influenciá-los em algumas atitudes, opções ou comportamentos. Por exemplo, o meu velho amigo Zé, com quem comecei a privar no início da minha adolescência, deu-me a conhecer a Mensagem do Pessoa. O "cimento" do nosso relacionamento não foi, contudo, a literatura, mas a paixão mútua pelo futebol, que jogámos por muitos anos, e que foi e é sempre tema de intermináveis conversas entre nós. Foi assim que o meu velho amigo Zé - seria eu um puto em fase onanista obstinada - me fez ver que deveríamos sempre "torcer" ou "puxar" pelas equipas portuguesas, nas competições europeias.

Em 78, ainda a viver as emoções do título de campeão conquistado pelo Porto de Pedroto, depois de 19 anos de jejum - e que para quase duas gerações de adeptos era o primeiro título - o Porto ia estrear-se na prestigiada Taça dos Clubes Campeões Europeus, que eu, de miúdo, ouvia enaltecer, a par dos feitos nela conseguidos pelo Benfica. O sorteio correu muito bem: calhou-nos o AEK - uns gregos, bah!... - com o primeiro jogo fora. Eu - e provavelmente muitos outros portistas - olhávamos para o quadro de jogos já a pensar quem daria jeito para a segunda eliminatória.

A história é conhecida: fomos lá e levámos com 6-1. Na segunda mão, fui às Antas, na esperança de um milagre, e, a meio da primeira parte... eles marcaram... Ainda fizémos quatro golos, mas 4-1 não foi, claro, suficiente.
No dia seguinte, ou poucos dias depois, em pleno e quente Setembro, estávamos todos juntos, em mais um tardada de piscina, e recordo-me do velho Zé - ajudado pelo velho Rui, seu irmão, um anti-portista assumido - me chagar a cabeça, dando-me um festival por causa do AEK. Ele lia um artigo qualquer do então trissemanário A Bola em que o autor chacoteava da prestação do Porto na Taça dos Campeões e a comparava à História Trágico-Marítima. O velho Zé tentava ler alguns excertos em voz alta, mas não o conseguia fazer de tanto rir. Entrou em convulsões. Julgo mesmo que se terá rebolado pelo chão.
Fiquei vacinado quanto a patriotismos futebolísticos.

Por força da minha actividade profissional, com quase vinte anos, pude conhecer algumas figuras públicas - políticos, governantes, fazedores de opinião, jornalistas de renome, cançonetistas de vários géneros, vedetas da rádio, tv e disco... Muitos deles, em momentos, por exemplo, importantes para o Porto, eram questionados - na tv, na rádio, em jornais - sobre o jogo que mobilizava as atenções. Eram sempre todos pelo Porto. Sempre muito portistas porque o Porto representa Portugal, porque nestas horas o mais importante é o país, e blá, blá, blá... Atrás dos holofotes, contudo, torciam pelo adversário. Vi muitos ficarem furibundos com as vitórias internacionais do Porto.

Eu aceito que se seja contra o Porto. Nada mais natural - é tão natural ser do Porto como ser contra, ser do Benfica ou do Sporting como ser contra. Eu torço por uma equipa de acordo com a simpatia que por ela tenho. O critério do país de origem não serve para mim. Não percebo porque razão tanta gente entra na hipocrisia do "puxar pelos portugueses", deleitando-se, depois, com os fracassos desses portugueses.
Não gosto do Sporting, mas também não detesto o Sporting (só pontualmente). Acresce que simpatizo com vários jogadores desta equipa. Por isso, me irritou ver o jogo deles, na terça-feira.
Já Benfica é-me sempre odioso. Nem o Real Madrid o consegue ser tanto. Ontem, no Dragão, festejei, com muitos milhares de pessoas, os golos do Manchester. Se o Benfica ganhasse e o Porto fosse eliminado, passar-se-ia muito compreensivelmente o contrário.

Não se pode detestar um clube ao domingo e amá-lo à quarta-feira.
Nunca acreditei em amores de quarta-feira.

Comments:
Pois olha, caro camarada, acredites ou não, apesar de não gostar do FCP nem do regionalismo bacoco que o sustenta, fiquei sinceramente contente na final de Viena e na de Gelsenkirchen. Confesso, no entanto, que, apesar da equipa contrária estar entre as minhas 5 preferidas em termos internacionais, a mais bela final em que vi o FCP e a vitória mais bonita foi mesmo a de Sevilha.E foi um sentimento sincero.Não sou hipócrita ao ponto de dizer que vibrei tanto como se fosse o Sporting ou a Selecção, mas andou perto.
 
Também estive no Dragão a festejar os golos do Manchester. O argumento do representa Portugal também não me serve.
 
O futebol é emoção desabrida, que não se compadece com as tais supostas racionalizações de "contra equipas estrangeiras blá, blá, blá..." Detesta-se quem se detesta, e entre odiosos e indiferentes, preferimos obviamente os indiferentes. O resto são tretas politicamente correctas ou rodriguinhos do futebol moderno!
 
pois...
claro que sendo eu portista não tenho um cantinho no coração que seja do clube do milhafre ou do clube do gatinho...

no entanto há um motivo que faz com que eu não fique contente com as vitórias dos mancúrios e dos moscovitas:
é que a roménia está a aproximar-se do ranking dos tugas, tendo equipas nas competições europeias este ano em condições de fazer mais pontos nas competições uefeiras.

o que, caros portistas, pode suceder é (truz, truz, truz, lagarto, lagarto, lagarto ) o FCP ser roubado como costuma ser e não conseguir vencer próximo campeonato (neste também, mas os roubos de igreja teriam que ser maiores para nos tirar a vitória neste campeonato).

ou seja, o FCP poderia ficar num segundo lugar e ter que disputar humilhantes pré-eliminatórias para aceder à UCL.

este argumento é suficiente para que eu tenha "amores de quarta-feira".
 
Bem, como já declaraste teu amor ao Botafogo (deves-me a explicação prometida), e tua simpatia pelo Vasco (arrrggghhh!!!), sei que conheces um pouco (bem pouco, ou então eras FLAMENGO) do futebol brasileiro. Então, seguindo a tua linha, eu ADOREI quando na final do Mundial o Manchester acabou com o Vasco. Tínhamos, aqui, a torcida "Fla-Manchester", com camisa e tudo!! E sem a hipocrisia de "o que vale é torcer pelo Brasil", comemoramos muuuuito o título de Campeão do Mundo, do Manchester United.

(Quando vieres ao Brasil, vou levar-te a um Fla-Vas em pleno Maraca. Duvido que não te arrepies e que não saias dali rubro-negro, "Flamengo até morrer!")

;o)

Beijinhos, querido!!
 
e aos dins de semana?????????

jocas maradas
 
ops dins...ok até fica bem
 
O filme contado neste post passou no Batalha. Eu também vi.
 
(vou fazer de conta que não li)
 
Eu estranho é como sobrevivo no Porto!
 
Eu já fui mais como o Zekez, mas, desde Vale e Azevedo, que há algo de irresistível em ser contra o Benfica (mas acho Fernando santos um treinador sério)...
Mas, como já tive ocasião de te referir, a minha posição é a seguinte: sou pelas equipas portuguesas. Mas, a serem eliminadas, que sejam enxovalhadas !(estou a falar do Porto e do Benfica)
Creio que esta minha posição começou exactamente nesse jogo com o Aris de que falas; admito que se possa ter virado contra o meu Sporting nesta semana !
PS Mr Evirything: falar de roubos ao Porto nesta semana "salgada" é acumular grande credibilidade !
 
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