23.11.06
Honni soit qui mal y pense ou... RPS, o lorpa (RPS)
Da última vez que nos cruzámos - já passou mais de ano e meio - notei nela alguma erosão do tempo. Presumo que tenha passado já dos 50. Mas continuo a achá-la encantadora. E ela, estou certo, não reparou na minha erosão...
Desde há muitos anos, através de fotos na imprensa e de aparições televisivas (ambas pouco frequentes, diga-se) sempre encontrei nela um encanto especial.
Uma vez, ao fazer um telefonema de teor profissional, liguei por lapso para casa dela. O diálogo foi curto e cingiu-se ao habitual nos enganos telefónicos, mas o certo é que subiu o meu encantamento.
Vi-a pela primeira vez meses depois, quando tive que acompanhar uma qualquer reunião partidária, no Porto. Pensei em abordá-la, a pretexto de lhe pedir desculpa pelo lapso, mas pareceu-me rídiculo lembrar-lhe uma coisa sem importância nenhuma, uma banalidade, passada quase um ano antes e de que ela, certamente, nem se lembrava. Não falei com ela, mas confirmei tudo o resto.
Falei com ela uma única vez, volvidos mais uns anos. Aí em 98 ou 99. Nova reunião partidária, desta vez numa pequena localidade do interior, num dia de muito, muito frio. À hora de almoço, quase toda a gente confortava o estômago no mesmo restaurante. Ela estava lá, numa mesa com vários outros dirigentes. Eu na minha, com o meu companheiro de jornada.
O meu colega estava, por sinal, em busca de uma qualquer informação que pretendia obter junto de um dos dirigentes que a acompanhava. No final da refeição, na outra mesa, levantam-se todos, à excepção dela e do tipo que o meu colega queria "apanhar". Senti que os planetas se alinhavam e instei o meu companheiro a que fizéssemos um compasso de espera, de modo a que ele pudesse abordar o gajo à saída. Sugestão interesseira, claro: eu queria mesmo era poder falar com ela.
Ficámos ali, "a enrolar", até que eles se levantaram da mesa. Nós também, de imediato. No exíguo espaço junto à caixa de pagamento, próximo da saída, juntámo-nos os quatro. Eu conhecia o tipo que estava com ela e ela conhecia o meu colega, pelo que percebeu quem eu era ou, pelo menos, o que estava eu ali a fazer. Cumprimentos da praxe e conversa de circunstância. Provoquei, então, simpaticamente o dirigente: não os abordámos durante o almoço porque notámos que estavam a conspirar... Não sabemos é contra quem...
Que não, que não, disse ele entre risadinhas, ela também, e eis-nos ali, os quatro, a empalear. De súbito, o meu colega, com um movimento de corpo e um pequeno passo, bloqueia o gajo junto ao balcão, criando condições para, em tom baixo, lhe colocar a questão que pretendia. E ali fico eu, enquadrado com ela. Frente a frente. Eu, ela e a ameaça de um silêncio prolongado que não podia acontecer. Busco assunto e nada mais me ocorre senão repetir a gracinha: estavam a conspirar, sim, nós reparámos... Ah, ah, ah...
Ela olha-me nos olhos, com aquele sorriso que não consigo adjectivar, e atira: honni soit qui mal y pense.
Chegado ao Porto, entrei em casa e fui direito à estante, peguei no Dicionário Prático Ilustrado, da Lello, em busca das folhas cor-de-rosa, do meio, rezando para que junto às locuções latinas houvesse também algumas em francês. Não me lembro se havia ou não. Desse dia lembro-me apenas de me ter sentido completamente lorpa.
Desde há muitos anos, através de fotos na imprensa e de aparições televisivas (ambas pouco frequentes, diga-se) sempre encontrei nela um encanto especial.
Uma vez, ao fazer um telefonema de teor profissional, liguei por lapso para casa dela. O diálogo foi curto e cingiu-se ao habitual nos enganos telefónicos, mas o certo é que subiu o meu encantamento.
Vi-a pela primeira vez meses depois, quando tive que acompanhar uma qualquer reunião partidária, no Porto. Pensei em abordá-la, a pretexto de lhe pedir desculpa pelo lapso, mas pareceu-me rídiculo lembrar-lhe uma coisa sem importância nenhuma, uma banalidade, passada quase um ano antes e de que ela, certamente, nem se lembrava. Não falei com ela, mas confirmei tudo o resto.
Falei com ela uma única vez, volvidos mais uns anos. Aí em 98 ou 99. Nova reunião partidária, desta vez numa pequena localidade do interior, num dia de muito, muito frio. À hora de almoço, quase toda a gente confortava o estômago no mesmo restaurante. Ela estava lá, numa mesa com vários outros dirigentes. Eu na minha, com o meu companheiro de jornada.
O meu colega estava, por sinal, em busca de uma qualquer informação que pretendia obter junto de um dos dirigentes que a acompanhava. No final da refeição, na outra mesa, levantam-se todos, à excepção dela e do tipo que o meu colega queria "apanhar". Senti que os planetas se alinhavam e instei o meu companheiro a que fizéssemos um compasso de espera, de modo a que ele pudesse abordar o gajo à saída. Sugestão interesseira, claro: eu queria mesmo era poder falar com ela.
Ficámos ali, "a enrolar", até que eles se levantaram da mesa. Nós também, de imediato. No exíguo espaço junto à caixa de pagamento, próximo da saída, juntámo-nos os quatro. Eu conhecia o tipo que estava com ela e ela conhecia o meu colega, pelo que percebeu quem eu era ou, pelo menos, o que estava eu ali a fazer. Cumprimentos da praxe e conversa de circunstância. Provoquei, então, simpaticamente o dirigente: não os abordámos durante o almoço porque notámos que estavam a conspirar... Não sabemos é contra quem...
Que não, que não, disse ele entre risadinhas, ela também, e eis-nos ali, os quatro, a empalear. De súbito, o meu colega, com um movimento de corpo e um pequeno passo, bloqueia o gajo junto ao balcão, criando condições para, em tom baixo, lhe colocar a questão que pretendia. E ali fico eu, enquadrado com ela. Frente a frente. Eu, ela e a ameaça de um silêncio prolongado que não podia acontecer. Busco assunto e nada mais me ocorre senão repetir a gracinha: estavam a conspirar, sim, nós reparámos... Ah, ah, ah...
Ela olha-me nos olhos, com aquele sorriso que não consigo adjectivar, e atira: honni soit qui mal y pense.
Chegado ao Porto, entrei em casa e fui direito à estante, peguei no Dicionário Prático Ilustrado, da Lello, em busca das folhas cor-de-rosa, do meio, rezando para que junto às locuções latinas houvesse também algumas em francês. Não me lembro se havia ou não. Desse dia lembro-me apenas de me ter sentido completamente lorpa.
Comments:
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Eu não compreendo o "honni", embora me lembre de ouvir a citação, creio que a um professor de matemática do colégio.
De qualquer forma, a minha solidariedade para o RPS que, espalhando o seu discreto charme, se vê apanhado (e bem) por uma francófila.
De qualquer forma, a minha solidariedade para o RPS que, espalhando o seu discreto charme, se vê apanhado (e bem) por uma francófila.
deverias ter ido logo à net pesquisar!! Mas na verdade é uma expressão muito conhecida... Há até uma história engraçada... de um rei inglês(EduardoIII), muito bem intencionado, apanha a liga da sua acompanhante durante um baile... etc, etc...
...mas eu gosto mais da tua história!!! é mais engraçada! Do cavalheiro que não entende a sua dama et "honni soit qui mal y pense". Abraço
Eu gostava de comentar, mas tudo o que posso dizer é que D. Pedro, o filho de D. João I que foi regente e morreu na jornada triste de Alfarrobeira, foi cavaleiro da Ordem da Jarreteira.
...e o infante D. Henrique, 5º filho de D. João I e Filipa de Lencastre, dama inglesa, também pertenceu a essa ordem.
Já eu, não percebendo patavina de francês e não tendo qualquer pudor em perguntar o que não sei, não esperaria pelo dicionário. Nem sorriria com cara de “pois, pois!”. Que deve ter sido o que fizeste…
Devias ter falado do tempo, certamente, ela não responderia em estrangeiro.
São daquelas situações pelas quais desejamos nunca passar e que acontecem logo nos momentos mais inconvenientes.
São daquelas situações pelas quais desejamos nunca passar e que acontecem logo nos momentos mais inconvenientes.
"Mal haja quem bem não cuida" - tradução livre da expressão segundo Vasco Graça Moura. Pessoalmente costumava traduzi-la por "Envergonhe-se quem mal o pensou". Mas a tradução do VGM é melhor.
O texto fez me pensar... Não e destes encontros do acaso que a vida é feita?Olhares,palavras,gestos que simbolizam, pequenos, grandes momentos...Episódios das nossas vidas, que ficam guardados no album das recordações,que preenchem o nosso singelo percurso de magia e fantasia. Foi e será (talvez?) apenas um "á parte" da nossa(tua..) jornada,mas que pela sua brevidade e pela seu encanto, guardamos (guardas..) como uma pequença relíquia da vida..
Bom dia RPS!
eheheheheh! Nao sou para o seu bico- she hinted! Esta pequena mossa no orgulho (e cada qual tem as suas) é deliciosa!
Bom fim de semana!
Bjico
eheheheheh! Nao sou para o seu bico- she hinted! Esta pequena mossa no orgulho (e cada qual tem as suas) é deliciosa!
Bom fim de semana!
Bjico
Afinal, como já disse e repeti, quando RPS se dá ao trabalho, faz uns posts_maravilha!
Este cai na dita qualificação.
Este cai na dita qualificação.
RPS,
acabei de editar uma entrada na Cidade sobre aquela... não, não é a senhora que o deixou desconcertado... é a livraria de que tanto gosta - ou gostava? -, a Latina.
Abraço
acabei de editar uma entrada na Cidade sobre aquela... não, não é a senhora que o deixou desconcertado... é a livraria de que tanto gosta - ou gostava? -, a Latina.
Abraço
Tenho alguns anos de françês, mas fiquei um pouco na dúvida da tradução certa! Mas claro que se via logo que era uma piadinha, contra a vossa "má língua". Tenha vergonha quem mal assim pensa".
Mas não te envergonhes por não saber tudo,isso é impossível! Certamente saberás coisas que ela não saberá!
beijos da miss
Mas não te envergonhes por não saber tudo,isso é impossível! Certamente saberás coisas que ela não saberá!
beijos da miss
enfimmmmmmmmmmmm...aqui estou eu
..........após tantas tentativas frustradas...........entrei...isto foi uma conspiração:))))))) e não se faz
pstt gostei da erosão :)))) e do lorpa ..eheheh
jocas maradas
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..........após tantas tentativas frustradas...........entrei...isto foi uma conspiração:))))))) e não se faz
pstt gostei da erosão :)))) e do lorpa ..eheheh
jocas maradas
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