2.8.06
Rivoli, outra vez (RPS)
Há três-quatro anos, numa fase em que ensaiei fazer um Mestrado, assisti a uma conferência sobre Políticas Culturais, proferida por Augusto Santos Silva, então deputado do PS e ex-ministro da Cultura e também da Educação.
Santos Silva procurou definir e fazer uma distinção entre uma Política Cultural de Direita e uma Política Cultural de Esquerda. A dado passo, apontou como marca-forte de uma Política Cultural de Esquerda a concessão de apoios directos (subsídios, dinheiro) à produção e aos produtores, ou seja, aos agentes culturais. É exactamente por isto que eu, em matéria de Política de Cultura, sou de Direita.
Devo dizer que a conferência foi excelente - foram as duas melhores horas do meu Mestrado, para além das aulas de Ciência Política do meu amigo Milan Rados.
Santos Silva mostrou conhecimentos, capacidade de comunicação e não foi minimamente sectário. Ao enumerar as fragilidades das diferentes políticas, não deixou de afirmar que a prática da concessão de subsídios constituía uma das fragilidades de uma Política Cultural de Esquerda, já que, sendo preciso seleccionar os beneficiários, era impossível adoptar um critério cem por cento justo ou neutro. Obviamente que corre-se o risco de aquele que dá dinheiro acabar por beneficiar os amigos, os próximos, os politicamente próximos... E, acrescento eu, sabemos como são os agentes culturais, ou a sua maioria: uns chulos. Ou, então, uns presumidos (veja-se o caso recente de Maria João Pires) que partem do princípio de que, por serem gente da Cultura, o Estado tem o dever de lhes satisfazer todos os caprichos.
Vem isto a propósito do caso do Rivoli. Concessionar a privados a gestão de um Teatro Municipal é, obviamente, uma opção de Direita. Não me repugna o anterior modelo, mas, em tempo de crise, a opção da Câmara do Porto parece-me totalmente justificada. E parece-me tanto mais justificada quanto vivemos um tempo em que as pessoas já acham natural que empresas encerrem e em que trabalhadores negoceiam perda de direitos e baixas de salários para manterem postos de trabalho. Não é isso muito mais revoltante?!
Acresce que a proposta da Câmara do Porto me parece equilibrada, tendo em conta algumas das cláusulas tornadas públicas: garante actividade e animação em 300 noites por ano (quantas há, actualmente?...) e garante produções experimentais e para crianças. O edifício continua a pertencer à autarquia e o contrato é a termo. Ouvi Rui Rio explicar que se definiu um prazo de quatro anos de modo a que o contrato não expire em cima do próximo período eleitoral e para que aqueles que possam vir a seguir possam, um ano depois de eleitos, tomar outra opção.
Admito perfeitamente que se possa ser contra a proposta da Câmara do Porto, mas ainda não ouvi um argumento convincente. Aliás, é difícil encontrar argumentos válidos no meio da histeria.
O movimento de oposição à concessão do Rivoli tem como principal factor impulsionador a oposição a Rui Rio. Fazer oposição a Rio é algo totalmente legítimo e necessário, mas importava que fosse trabalho bem feito. Como Rui Sá faz esporadicamente.
Sendo a questão do Rivoli um mero pretexto para contestar a pessoa de Rui Rio, domina na argumentação dos opositores a demagogia e a má fé. Afirmar, como li num comment no meu anterior post sobre este assunto, que, ao fazer um contrato a termo para concessionar a gestão do Rivoli, Rui Rio está a destruir, tranquilamente, o património do Porto também pode ser visto como uma mera cretinice. Mas o comentador mcjaku não é um cretino.
Há uns dias, durante uma vigília frente ao Rivoli, vi os de sempre: os subsídio-dependentes, os esquerdistas ressabiados, os socialistas-burgueses também ressabiados, os mirones do costume (com a excepção do Animal ou Empelastro, por onde andava ele?...) e, claro, o incontornável Abrunhosa. Não o via desde um protesto idêntico, no Bolhão. A propósito: o que fez, desde aí, Abrunhosa em prol dos comerciantes do Bolhão?... Espero que alguém o questione sobre isso no próximo protesto anti-Rui Rio. Onde estejam câmaras de televisão, claro...
Santos Silva procurou definir e fazer uma distinção entre uma Política Cultural de Direita e uma Política Cultural de Esquerda. A dado passo, apontou como marca-forte de uma Política Cultural de Esquerda a concessão de apoios directos (subsídios, dinheiro) à produção e aos produtores, ou seja, aos agentes culturais. É exactamente por isto que eu, em matéria de Política de Cultura, sou de Direita.
Devo dizer que a conferência foi excelente - foram as duas melhores horas do meu Mestrado, para além das aulas de Ciência Política do meu amigo Milan Rados.
Santos Silva mostrou conhecimentos, capacidade de comunicação e não foi minimamente sectário. Ao enumerar as fragilidades das diferentes políticas, não deixou de afirmar que a prática da concessão de subsídios constituía uma das fragilidades de uma Política Cultural de Esquerda, já que, sendo preciso seleccionar os beneficiários, era impossível adoptar um critério cem por cento justo ou neutro. Obviamente que corre-se o risco de aquele que dá dinheiro acabar por beneficiar os amigos, os próximos, os politicamente próximos... E, acrescento eu, sabemos como são os agentes culturais, ou a sua maioria: uns chulos. Ou, então, uns presumidos (veja-se o caso recente de Maria João Pires) que partem do princípio de que, por serem gente da Cultura, o Estado tem o dever de lhes satisfazer todos os caprichos.
Vem isto a propósito do caso do Rivoli. Concessionar a privados a gestão de um Teatro Municipal é, obviamente, uma opção de Direita. Não me repugna o anterior modelo, mas, em tempo de crise, a opção da Câmara do Porto parece-me totalmente justificada. E parece-me tanto mais justificada quanto vivemos um tempo em que as pessoas já acham natural que empresas encerrem e em que trabalhadores negoceiam perda de direitos e baixas de salários para manterem postos de trabalho. Não é isso muito mais revoltante?!
Acresce que a proposta da Câmara do Porto me parece equilibrada, tendo em conta algumas das cláusulas tornadas públicas: garante actividade e animação em 300 noites por ano (quantas há, actualmente?...) e garante produções experimentais e para crianças. O edifício continua a pertencer à autarquia e o contrato é a termo. Ouvi Rui Rio explicar que se definiu um prazo de quatro anos de modo a que o contrato não expire em cima do próximo período eleitoral e para que aqueles que possam vir a seguir possam, um ano depois de eleitos, tomar outra opção.
Admito perfeitamente que se possa ser contra a proposta da Câmara do Porto, mas ainda não ouvi um argumento convincente. Aliás, é difícil encontrar argumentos válidos no meio da histeria.
O movimento de oposição à concessão do Rivoli tem como principal factor impulsionador a oposição a Rui Rio. Fazer oposição a Rio é algo totalmente legítimo e necessário, mas importava que fosse trabalho bem feito. Como Rui Sá faz esporadicamente.
Sendo a questão do Rivoli um mero pretexto para contestar a pessoa de Rui Rio, domina na argumentação dos opositores a demagogia e a má fé. Afirmar, como li num comment no meu anterior post sobre este assunto, que, ao fazer um contrato a termo para concessionar a gestão do Rivoli, Rui Rio está a destruir, tranquilamente, o património do Porto também pode ser visto como uma mera cretinice. Mas o comentador mcjaku não é um cretino.
Há uns dias, durante uma vigília frente ao Rivoli, vi os de sempre: os subsídio-dependentes, os esquerdistas ressabiados, os socialistas-burgueses também ressabiados, os mirones do costume (com a excepção do Animal ou Empelastro, por onde andava ele?...) e, claro, o incontornável Abrunhosa. Não o via desde um protesto idêntico, no Bolhão. A propósito: o que fez, desde aí, Abrunhosa em prol dos comerciantes do Bolhão?... Espero que alguém o questione sobre isso no próximo protesto anti-Rui Rio. Onde estejam câmaras de televisão, claro...
Comments:
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O post está bem feito, mas a questão está mal colocada: a opção de Rio não é de direita ou de esquerda: é do triunfo do obscurantismo e do "viva la muerte" gritado contra Unanumo. Porque não me parece que, por exemplo, os Festivais de Salsburgo ou de Bayreuth (não é Beirute, como já vi uma vez na comunicação social) vivam apoiados por governos de esquerda !
PS Eu sei o que Rio pensa dos artistas, da arte e dos criadores em geral. Se calhar, não é muito diferente do que pensam outros políticos, mas, no limite, costuma haver um assessor que "pola" (de polir) o discurso e não deixe assim exposta a vontade obscurantista. Em verdade, em verdade vos digo: não é uma questão de dinheiro, mas de vontade deliberada de destruir !
PS Eu sei o que Rio pensa dos artistas, da arte e dos criadores em geral. Se calhar, não é muito diferente do que pensam outros políticos, mas, no limite, costuma haver um assessor que "pola" (de polir) o discurso e não deixe assim exposta a vontade obscurantista. Em verdade, em verdade vos digo: não é uma questão de dinheiro, mas de vontade deliberada de destruir !
"não é uma questão de dinheiro, mas de vontade deliberada de destruir"
Pois claro, essa é a verdadeira questão. O caro Rps tenta fazer de conta que os espectáculos no Rivoli não são mais que esporádicos, mas sempre se esquece do Fitei, do Fantasporto, do Ponti, do Intercéltico, por exemplo. Há mais, mas fico-me por aqui.
Quanto ao espectáculo dos aproveitamentos politicos, tenho de lhe dar razão. Estive nessa vigilia pelo Rivoli e não gostei de ver Rui Moreira.
Pois claro, essa é a verdadeira questão. O caro Rps tenta fazer de conta que os espectáculos no Rivoli não são mais que esporádicos, mas sempre se esquece do Fitei, do Fantasporto, do Ponti, do Intercéltico, por exemplo. Há mais, mas fico-me por aqui.
Quanto ao espectáculo dos aproveitamentos politicos, tenho de lhe dar razão. Estive nessa vigilia pelo Rivoli e não gostei de ver Rui Moreira.
Escandalizam-se tanto com os subsídio-dependentes da cultura, porque não fazem, meus caros, uma averiguação aos subsídio-dependentes da agricultura e de outras áreas que sofrem da maleita?
Este País está cheio de "mamões" por tantos lados, desculpai a expressão vernácula, porquê bater tanto nos "gajos" da cultura apenas?
Este País está cheio de "mamões" por tantos lados, desculpai a expressão vernácula, porquê bater tanto nos "gajos" da cultura apenas?
"A propósito: o que fez, desde aí, Abrunhosa (...)?"
Suponho que o mesmo que o Cavaco e a Maria.
Gostava de comentar esta polémica do Rivoli, mas não vejo como fazê-lo de forma séria em menos de 20 ou 30 páginas.
Suponho que o mesmo que o Cavaco e a Maria.
Gostava de comentar esta polémica do Rivoli, mas não vejo como fazê-lo de forma séria em menos de 20 ou 30 páginas.
Quando foi da polémica tentativa de aquisição do Coliseu pela IURD estava num apartamento que efemeramente possuí em Matosinhos e vi, na abertura do Telejornal das 20 horas, Abrunhosa a acorrentar-se aos portões no meio do paluso popular. Pensei que o homem ia pelo menos aguentar-se ali umas horas para dar provas do seu amor ao patrimónioo cultural do Porto. Entretanto saí para jantar. Por puro acaso acabei no Restaurante Tripeiro, uns cem metros acima do Coliseu. Mal abanquei, entrou no restaurante um grupo de cerca de dez indivíduos, para uma mesa previamente reservada. Um deles era Abrunhosa (outro Rui Reininho). O gajo esteve heroicamente acorrentado talvez durante uns trinta minutos. É este tipo de palhaços que se armam em activistas da esquerda cultural mas não passam de demagogos. Não consigo deixar de embirrar com eles. Quanto ao post: excelente, a todos os níveis. Nisto, como em muitas coisas, eu e RPS estamos em plena sintonia - no futebol é que não. Quanto ao Mc Jaku é ao contrário: estamos em sintonia no futebol e no resto quase sempre em discordância. Mas tudo isto é muito saudável e que o Abrunhosa possa fazer de palhaço e ainda assim vender muitos discos também é. E ainda o é, que Rui Rio seja presidente da Câmara do Porto porque ganhou duas eleições com o voto popular livremente expresso. Mas que os opinion makers e os agentes culturais embirrem com o Rui Rio e também com o povo que o elegeu porque são Jacobinos e não verdadeiros democratas é que já não é saudável.
E eu, que nasci para essa coisa chamada política no entusiasmo da esquerda vibrante de 74 (que fez parte do meu crescimento e da minha aprendizagem e de forma alguma renego) e cheguei a andar a recolher assinaturas para a amizade Portugal-China (Lol!), posso dizer que, em termos de política cultural pelo menos, também sou de direita... embora tenha alguma dificuldade em expressar isto assim desta forma e saber que sou eu a falar.
Mas também me parece que hoje, ser de esquerda ou de direita já não tem o mesmo significado que tinha há 20 ou 30 anos.
Passo-me com essa raça de subsídio-dependentes que se acham a flutuar acima dos parvos que têm que trabalhar para viver, p*ta que os p...
Bom post.
Mas também me parece que hoje, ser de esquerda ou de direita já não tem o mesmo significado que tinha há 20 ou 30 anos.
Passo-me com essa raça de subsídio-dependentes que se acham a flutuar acima dos parvos que têm que trabalhar para viver, p*ta que os p...
Bom post.
É de esquerda ou de direita o Metro do Porto e o GOP financiarem com dinheiros públicos a destruição de uma Avenida da Cidade para senhores ingleses poderam andar às voltas com os seus carrinhos antigos deleitando o presidente e mais umas centenas de interessados?
Ou também vão concessionar aos privados as corridinhas? Afigura-se-me difícil haver interessados...
Se é para ser coerente, seja-se coerente. E o Rui Rio não o é.
Ou também vão concessionar aos privados as corridinhas? Afigura-se-me difícil haver interessados...
Se é para ser coerente, seja-se coerente. E o Rui Rio não o é.
1- A Direita não tem política de cultura. Ou melhor, a noção que tem de cultura é mesmo um bocado pimba – não há nada melhor do que touradas, sevilhanas, comédias brasileiras, concertos do Rui Veloso, do Represas, da Mafalda Veiga e da Ivete Sangalo e ir no Natal ao ballet ver pela milionésima vez o Lago dos Cisnes! É bom saber que RPS se identifica com tudo isto!
2- A política da concessão de subsídios aos agentes culturais portugueses é ainda necessária, embora eu não a defenda. Tem de ser repensada e estruturada consoante os objectivos que o Governo e os partidos políticos deste País achem que é importante atingir.
3- Chulos doutorados são os políticos... Há exemplo melhor do que o da Fátima Felgueiras?
4- 300 actuações por ano é razoável??? Nenhum de nós trabalha assim tanto…
Em 365 dias do ano descontem as férias, as folgas, os fins-de-semana, os feriados, as pontes e as horas estamos distraídos durante o horário de trablho...
Exigir isso a uma estrutura privada? Será que RPS tem noção do que isso implica?
CONCLUSÃO:
RPS quer o Filipe La Féria no Porto. RPS prefere ter o Filipe La Féria a programar o Rivoli em vez do Teatro Sá da Bandeira. RPS quer sessões non-stop de Amálias, Músicas no Coração, Rainhas do Ferro Velho e Canções do Porto e não de Lisboa. Paras as matinés de fim-de-semana RPS propõe assistir às actuações dos D’ZERT, dos Morangos com Açúcar e das Floribelas que existem por este país.
Porque isso sim dá dinheiro e público suficiente para manter uma estrutura como a do Rivoli! E isto sim, é serviço público! A TVI também pensa assim... Mas não contem comigo para lhe dar audiência!
Ainda bem que eu não vivo no Porto!
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2- A política da concessão de subsídios aos agentes culturais portugueses é ainda necessária, embora eu não a defenda. Tem de ser repensada e estruturada consoante os objectivos que o Governo e os partidos políticos deste País achem que é importante atingir.
3- Chulos doutorados são os políticos... Há exemplo melhor do que o da Fátima Felgueiras?
4- 300 actuações por ano é razoável??? Nenhum de nós trabalha assim tanto…
Em 365 dias do ano descontem as férias, as folgas, os fins-de-semana, os feriados, as pontes e as horas estamos distraídos durante o horário de trablho...
Exigir isso a uma estrutura privada? Será que RPS tem noção do que isso implica?
CONCLUSÃO:
RPS quer o Filipe La Féria no Porto. RPS prefere ter o Filipe La Féria a programar o Rivoli em vez do Teatro Sá da Bandeira. RPS quer sessões non-stop de Amálias, Músicas no Coração, Rainhas do Ferro Velho e Canções do Porto e não de Lisboa. Paras as matinés de fim-de-semana RPS propõe assistir às actuações dos D’ZERT, dos Morangos com Açúcar e das Floribelas que existem por este país.
Porque isso sim dá dinheiro e público suficiente para manter uma estrutura como a do Rivoli! E isto sim, é serviço público! A TVI também pensa assim... Mas não contem comigo para lhe dar audiência!
Ainda bem que eu não vivo no Porto!
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