10.7.06

 

O mundo mudou e eu não (RPS)

Apanhei a "festa" da chegada da selecção, via TV, no momento eu que discursava Luís Figo. Vi, depois, umas imagens do aeroporto, nos noticiários. Que pobreza... Que se festejava? As duas derrotas nos dois últimos jogos? O frango de Ricardo? O auto-golo de Petit, ele que era dos mais efusivos?...

Do mesmo modo, não entendi a festa alemã pelo terceiro lugar. Não ambicionavam o primeiro? Não fizeram tudo por isso? Não sairam frustrados do jogo decisivo, com a Itália? Que festejavam, então?...
Não entendo. Ou, então, foi o mundo que mudou e eu não. Retrógado, acho que só devemos festejar vitórias. Acho que a frustração da derrota não deverá impelir ninguém a entrar em festejos. A derrota implica dignidade, resignação, pudor, algum luto. Não encontro isso nos festejos de rua.

Desde o Euro-2004 que percebi que o mundo mudou e eu não: Portugal perdeu a final e o povo foi para a rua festejar. Festejar o quê? A derrota na final?... Tratando-se da selecção, eu fiquei indiferente à derrota. Mas vi milhares que tanto amavam a selecção felizes com a derrota!!!

Lembro-me do FCP perder a final da Taça das Taças em 84 e ninguém saiu à rua para festejar. Vi o Benfica perder duas Taças dos Campeões e não vi nenhum benfiquista festejar nas ruas.

Pois é, o mundo mudou e eu não. Devo ser mesmo uma besta parada no tempo.

PS - para ajudar à dignidade da coisa, o hino nacional foi cantado por Roberto Leal...

Comments:
Não RPS, o mundo não mudou assim tanto. E a verdade é que se vires aqui ao lado, em Espanha, não houve festejos. Isto apesar de, como nós, eles terem obtido a sua segunda melhor classificação de sempre em mundiais.
O que se passa é que eles tem mais razões para andar satisfeitos consigo próprios e não precisam de se anestesiar com o futebol.
 
Roberto quê?
Está tudo doido?
 
Este fenómeno de euforia talvez seja fácil de explicar ou de entender. Eu não sou capaz de o analisar. E também não partilho a ideia da euforia sem sentido depois da derrota.

Funes, os espanhóis andarão mais entusiasmados consigo próprios, mas é um entusiasmo igualmente oco, que dura há anos ou mesmo séculos; se há povo que festeja por festejar são os espanhóis; Podemos mesmo pensar no dia-a-dia dos espanhóis, nas tapas, nos copos, durante toda a semana,que se pode resumir numa frase: "os espanhóis vivem da porta para fora", mas melhor exemplo são as festas religiosas, cujo carácter religioso contrasta incrivelmente com carácter pagão misturado na festa (Viver aquele ambiente é uma coisa do outro mundo, com muito pouco fervor religioso). E podemos continuar com outros exemplos sem fim, aquela festa do tomate, o botellón, as touradas, etc, etc. O futebol ocupará apenas mais um qualquer lugar entre os inúmeros festejos deste povo. Para quê festejar a derrota no futebol?...
Nós não. Nós precisamos de um pretexto para que aconteça alguma coisa espectacular,alguma coisa que se veja, que se mostre, que nos mostre, precisamos simplesmente que aconteça alguma coisa, seja lá o que for, alguma coisa que nos tire deste marasmo, que una o país de lés a lés, alguma coisa semelhante a uma terapia de grupo, a única capaz de funcionar não pela emoção individual mas por contágio. O Futebol é muito propício a isso, até porque já tem uma massa associativa muito forte. Individualmente sentimo-nos destroçados. o pretexto foi o que foi. Tivesse a força que tivesse sairíamos à rua para festejar.
 
E Itália, como previsto por RPS, lá ganhou aquele campeonato do Mundo de... do... enfim, de um jogo qualquer parecido com futebol.
 
Um notável comentário da TR. Acrescentar só que a Espanha pode estar no caminho inconsciente da balcanização e da desagregação mas os espanhóis parace que ainda não repararam. E alguns portugueses que os invejam também não.
 
Bom dia Rps!
As previsoes estavam certas!... por acaso até curti que os Romanos tenham ganho o Campeonato. Mas quanto a jogos de terceiros tambem acho que é uma patetice... por isso nao se pode jogar com conviccao. Mais valia atribuir o prémio a equipa com mais golos, ou uma cena assim... eu nem vi o jogo!
Concordo com a TR... os porqugueses, nao tendo absolutamente nada que festejar, aproveitam qualquer desculpa para esticar as pernas!
Bjico
 
Pois é... há quem não entenda os festejos de termos atingido um 4º lugar no Campeonato do Mundo, no meio de 32 selecções, em que pelo menos metade delas provenientes de países maiores e mais desenvolvidos que o nosso (e por isso mesmo, com mais jogadores e escolas de formação das camadas jovens).

Há 40 anos que nem sequer cheirávamos a fase de grupos, quanto mais atingirmos umas meias-finais. E depois, soubemos perder dignamente!! Jogámos bem, mas fomos traídos por um penalty inventado pelo "francês" Thierry Henry.

Eu festejei e louvei a atitude de toda uma selecção que só nestes últimos anos tem dado provas de que poderá vir a fazer muito mais. Lembrem-se que em todo o historial da selecção, só fomos 4 vezes à fase final de um Mundial (1966, 1986, 2002, 2006).

Acham mesmo que não há motivos para festejar? Acho que este é mesmo o espírito português: nunca se está bem com nada... há sempre que criticar tudo e todos.

Aprendam a viver melhor.
 
Outro notável comentário a este post: depois da TR, também Hugo Pereira.
 
Não, Hugo Pereira! Não há mesmo nadinha para festejar.
E é grave que uns bons milhões de portugueses não percebam isso.
Eu tento explicar:
É uma rematada aldrabice que o futebol em Portugal tenha um nível de excelência nem sequer sonhado pelos outros sectores de actividade, como um grupo de loucos encabeçados pelo Prof. Marcelo anda agora por aí a tentar impingir.
O que se passa, é que o desenvolvimento dos países é uma competição contínua, de todos contra todos, sem intervalo nem limites. Não é ao bota fora, como o futebol, onde, ocasionalmente, uma equipa mais fraca pode vencer um grande. No mundo real não é assim. O grande ganha sempre. Como num campeonato de futebol à melhor de 100 jogos, O brasil ficava sempre à nossa frente, podendo, porventura, perder aqui e ali um jogo.
Se o campeonato do mundo de futebol - assemelhando-se mais à vida - fosse uma competição a duas voltas, em que todos os países do mundo jogassem contra todos, nós seguramente baixaríamos para um lugar entre a 20ª e a 30ª posição, precisamente aquela em que nos encontramos na generalidade das matérias.
Na poesia ficaremos seguramente entre os dez primeiros. Em certos sectores do desenvolvimento de software também. Na qualidade dos nossos serviços bancários e nos nossos serviços de distribuição estamos também um pouco à frente do nível geral.
Não, o futebol não se destaca do resto do país pelo seu nível de excelência.
 
Não se pode só falar da excelência do futebol...
O que se festeja é a alma, a energia, a confiança, o espírito de equipa, a capacidade de trabalho e de entrega, de sacrifício e de luta com que a selecção se tem batido ao longo destes 4 anos, contrariando o ambiente de derrotismo, crise e depressão em que vivemos...
Mostraram resultados, contagiaram tudo e todos e fizeram-nos voltar a acreditar que sonhos "loucos" podem até ser possíveis...
E se todos nós tivéssemos esta auto-estima a trabalhar?
Como seria Portugal com um Governo a trabalhar com alma de vencedor?
 
...imagina as festas nos balneários!!!
tb fiquei parva com o Petit...(já lhe deviam ter passado a mão pelo pêlo...)
tb fiquei parva com o Roberto Leal...
tb fiquei parva com os MILHARES de pessoas que ENCHIAM o estádio do Jamor....
e cada vez fico mais parva com a comunicação social...
 
Eu fico parvo com a depressão que existe, resiste e subsiste em alguns portugueses. Mesmo depois de superarmos as nossas expectativas futebolísticas...

Querem ver que agora tínhamos de nos pôr todos a chorar depois da derrota com a França ou com a Alemanha e nem sequer louvar a atitude com que os jogadores nos representaram no Mundial. Como se disse (e bem), na Comunicação Social: "Morremos, mas morremos de pé". Ou seja, com dignidade! Fomos vencidos, mas injustamente e com um penalty muito forçado.

Já agora, sugiro uma visita ao blog da Maria Papoila. Pode ser que se revejam nalguns pontos...

P.S.: Só estou de acordo com um dos pontos aqui apontado e acho que é unânime. Não me chamem xenófobo, mas não concebo que um brasileiro (sim, porque o Roberto Leal de português só mesmo a naturalidade) cante o hino de Portugal num sotaque abichanado e irritante (vulgo brasileiro).
 
DESCULPA rps,sabes o quanto vou com a tua (blogo)cara.... mas concordo que alguns dos teus posts dão de ti a imagem de " besta parada no tempo".

beijinhos radiofónicos
 
"Perdemos. Mas foi uma bela aventura. Viva Portugal" escreveu Rui Baptista no Amor e ocio.
Eu não diria melhor !
Por isso a selecção merece o nosso reconhecimento. A da Alemanha também. Superaram as expectativas. Até a França, que partiu para a Alemanha sob fortes críticas,merece. O Brasil, a Holanda ou a Argentina não: estiveram abaixo de que era normal.
De resto houve também uma coisa que mudou: antes nós viamos na TV o Mundial ou o Europeu dos outros; agora a nossa selecção está lá!

PS 1 No meio deste comentários, revela-se a alma de muito boa gente e há muita xenofobia no ar: não deve haver ninguém que goste menos da música do Robero Leal que eu; mas não me atreveria nunca a dizer que é menos português que eu e de certeza que cantou melhor o hino do que eu cantaria!
2 Funes estás completamente enganado quando à qualidade do futebol de Portugal, que tem uma das melhores escolas de formação e cuja selecção é actualmente uma das melhores 10 do Mundo. Não deve haver muitos sectores de actividade onde se possa dizer o mesmo, mesmo que concorde com a tua opinião sobre a poesia, acrecentando eu que os grandes poetas portugueses morreram ou estão a morrer, com talvez uma ou outra excepção
 
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