12.6.06

 

Argentina 78 (RPS)


Após a separação no final da 4ª classe, o meu percurso escolar voltou a cruzar-se com o do meu amigo Manel, no 10º ano. Corria o ano de 78. Naqueles cinco anos anteriores, enquanto crescíamos, tinhamo-nos visto irregularmente, mas começamos a falar como se continuássemos a conversa de véspera. E, mesmo antes de falar de gajas, já estávamos a discutir futebol. Percebi, então, algo que ainda hoje se verifica: em futebol (como em algumas outras coisas mais) o Manel está sempre disponível para aderir à moda mais recente, à corrente dominante. Se a corrente tiver, então, a marca lisboeta de A Bola ou de alguns comentadores da nossa praça, ele assina logo por baixo.
O Manel, como todos os fãs da Holanda, nunca conseguiu, contudo, dar-me uma explicação cabal para o facto de a Holanda, sendo assim tão supra, ter perdido duas finais mundiais consecutivas. Azar - é a explicação mais comum. Não colhe, obviamente.

Nesse Mundial, a Holanda tinha - claro - uma grande equipa e, entre outros, um grande jogador: Resenbrinck. Mas a Argentina era melhor. Pelo menos, conseguia ser pontualmente melhor. Se o Mundial tivesse dezasseis equipas, com duas voltas e um total de 30 jogos, talvez aquela Holanda fosse campeã do Mundo, mas o Mundial exige aquele "pico" no momento certo, aquela superação no momento decisivo e a Argentina conseguiu isso e foi superior na final. Para meu contentamento: se os grandes rivais do Brasil eram os argentinos, então eu era pela Argentina. Ainda hoje, no início de cada Mundial, eu sou pela Argentina, embora, em cada Mundial, "vá sendo" por aquela selecção que joga melhor e/ou dá mais espectáculo.
Nos jogos da Argentina, o ambiente impressionava. Era belíssimo o espectáculo cénico do lançamento de confetis, visto aí pela primeira vez, na entrada das equipas em campo, embora, depois, o relvado ficasse feio, sujo.
Recordo Mário Kempes, a estrela argentina, numa equipa com outros grandes jogadores: o central Passarella, Luque, Bertoni, o defesa-esquerdo Tarantini... E o melhor de todos eles ou, pelo menos, o meu preferido, um médio que me enchia as medidas: Osvaldo Ardiles. No final do Mundial, foi comprado pelo Tottenham.

O Brasil esteve algo melhor do que quatro anos antes. Rivelino estava no ocaso da carreira, mas brilhou Dirceu. Zico, muito falado e idolatrado, não apaixonou. Os brasileiros ficaram em terceiro, ganhando à Itália, onde encontrei mais um ídolo: Antognoni. Jogava bonito, a meio-campo. Os italianos tinham outros bons jogadores, alguns deles viriam a ser campeões quatro anos depois: Scirea, Cabrini e, formando o trio de ataque, Causio, Rossi e Bettega.
Cubillas, já com mais de trinta, jogou e marcou vários golos. Para mim, era a prova que (já não)faltava: era - foi - mesmo um dos melhores do mundo.

Comments:
RPS: esqueceste-te que na blogosfera o "Manel" é o Mc Jaku... Posto isto vamos ao Mundial da Argentina. Puxei pela Itália, porque tinham um grande treinador, Enzo Bearzot, que foi o menos defensivo de todos os treinadores italianos. Jogavam em contra-ataque sistemático e fizeram grandes jogos até aos dois últimos em que perderam 2-1 com a Holanda e com o Brasil(nesse mundial depois da primeira fase de grupos, passavam oito equipas que iam a uma segunda fase de dois grupos. Depois os primeiros classificados desses grupos iam à final e os segundos ao jogo de apuramento do terceiro e quarto classificados do campeonato). O guarda-redes italiano, Dino Zoff, encaixou alguns frangos, em remates de fora da área (quatro anos mais tarde, já com 40 anos, estaria bem melhor e sagra-se-ia campeão do mundo). O melhor guarda-redes do mundial foi o austriaco Koncilia. A Áustria teve, por uma vez, um boa equipa, que ficou em 5º. O ponta de lança esquerdino Hans Krankl era o seu maior craque, e veio a jogar no Barcelona. Entre outros arrumaram a Alemanha com 3-2. Platini já apereceu neste mundial, mas com fraca prestação. A Argentina acabou por se impor, e na final foi superior à Holanda, com dois glos de Mario Kempes e um de Bertoni. O melhor Holandês foi de facto Resenbrinck. Neeskens e Krol estavam mais velhos e Cruyff amuara e não quis ir ao mundial, apesar do pedido expresso que lhe fez a rainha Beatriz. A ditadura argentina, de Jorge Videla, aproveitou ao máximo este mundial para se promover.
 
Só me lembro que a Argentina jogava com um equipamento às riscas verticais, azuis e brancas.
 
ah...
 
não me lembro de nada.....uma névoa anda no ar:))))))))))
jocas maradas
 
Bom dia RPS!
As tuas crónicas sobre os mundiais sao deliciosas! Fazer a sintese dos acontecimentos sob o ponto de vista de um catriao é super interessante!... imagino como o meu sobrinho, de 12 anos esta a viver o mundal e a embalar as memorias futuras...
Bjicos!
 
O verdaeiro post "ad hominem". O acusado acusa o toque e apresenta-se: não já de lancheira intelectual e o Expresso a tiracolo, mas ainda, segundo RPS ( e outros) padecendo de intelectualite agida. E outros vícios.
O Argentina 78 foi uma grande decepção: não só a Holanda não ganhou como, pior de tudo,ganhou a Argentina, para gáudio de uma Junta Militar que largava os opositores no Oceano, devidamente amarrados.E o fanatismo foi o que de mais arrepiante eu vi em todos estes anos de futebol.
Futebolisticamente, a Argentina tinha um boa equipa, assente em 4 grandes jogadores: Fillol, na baliza,Passarela, o capitão, como defesa central, Ardiles, que se viria a transferir para Inglaterra, onde jogava durante a Guerra das Malvinas, no meio campo, e Mário Kempes MVP (estás a ver como copio a moda) do Mundial. A Argentina tinha boa equipa, mas foi a 4ªou a 5ª melhor equipa, ex aequo com a Polónia. As melhores foram a Holanda, traída na final disputada pelos argentinos como se fossem gladiadores que batiam em tudo o que mexesse, a Itália, que tinha abandonado o seu estilo defensivo e foi traída nos jogos decisivos, como bem diz o Zekez, pelo guarda redes e o próprio Brasil de Cláudio Coutinho era mais consistente e equlibrado como equipa. Mas a Argentina ganhou. Perguntas porquê RPS. Como sempre,por uma série de razões:
1.Em primeiro lugar, porque era óbvio que queriam mais ganhar que quaisquer outros. Era mais importante.Jogavam em casa. O regime exigia a vitória. Era o fanatismo levado ao extremo.
2.Depois, contaram com ajudas preciosas: a vergonha do Perú, que levou 6-0 num jogo decisivo, que manchará para sempre a história dos Mundiais, os árbitros que faziam de conta que não viam a cacetada, a própria ordem dos jogos que lhes permitiu jogarem aquele jogo com o o Perú a saberem exactamente o que precisavam (ainda a propósito desse jogo, que não vi, ninguém viu em Portugal - viu o meu pai, mas não estava nesse dia em Portugal- devo dizer que penso que além de frete do Perú, deve ter havido um chã especial, porque o meu pai diz que nunca viu uma equipa correr tanto num jogo de futebol como a Argentina nesse jogo;
3 A sorte, pois claro:
meia final contra a Polónia, talvez o pior jogo da Argentina, a Polóni domina. Mum canto, cabeceamento,a bola vai entrar e Mário Kempes (!) faz uma defesa sensacional, um voo fantástico. Penalty, claro, mas penalty falhado. Os argentinos galvanizam-se. Os polacos perdem fé. E Kempes ( não se era expulso naquele tempo) haveria de fazer o resto com um golo decisivo;
na final a dois minutos do fim, Resembrink desvia a bola de Fillol que caprichosamente embate no poste e ressalta para fora.

A verdade profunda ,RPS, acerca da Holanda (o exemplo podia aplicar-se a outras equipas) é que não basta jogar melhor para ganhar. Para os jogadores holandeses, era apenas um jogo de futebol, importante, mas um jogo de futebol. No balneário, choraram de raiva.No dia seguinte, fizeram as malas e a vida continuou.Se fosse ao contrário, não seria assim tão simples...

PS1 Reflexão surgida durante a escrita: mal comparado, o Brasil joga hoje como a Argentina de então (joga melhor) e Argentina, desde que Menotti saiu, adoptou o estilo calculista de Coutinho;
PS2 Como é moda, também eu me rendi há um par de anos ao jogo da Argentina e sobretudo aos jogadores argentinos...
 
Mcjaku:
28 anos depois, as tuas explicações continuam inconsistentes. Mais inconsistentes. A prolixidade do texto também não ajuda, mas baseias tudo numa tese maniqueísta com estranhas alusões a forças do mal. É um registo algo paranóico. Lembro-te que aquilo era jogos de futebol: o General Videla não pôs as tropas em campo. Eram, simplesmente, onze jogadores.
A propósito: nos Olímpicos de 1936 (com o filho da puta lá a ver e tudo...) o Jesse Owens ganhou 4 medalhas de ouro. E sabes porquê? Porque o Owens de 36 era melhor que a Holanda de 78.
 
O mais antigo que me lembro foi o México 86...Ganhou a Argentina e o Maradona foi O Senhor!
Eu só tinha 10 anitos...
 
O rps e os amigos deviam escrever um livro de memorias. Têm tanto para dizer uns aos outros...E às catraias de vinte e tal e trinta e poucos.
 
Vidella não pôs as tropas em campo, mas o Peru possuia embaixo de suas metas um arqueiro argentino de nascimento e estranhamente 30 dias após a final da Copa, o Peru recebeu 15mil toneladas de algodão da Argentina SEM PAGAR NADA! os argentinos são além de tudo, muy amigos.
 
faxiosismos á parte a Argentina,ganhou com todo o mérito o mundial que orgulhosamente organizou.Um campeonato do mundo tambem é uma prova de regularidade e os jogadores argentinos com todo o seu querer e entrega aliada á magia do seu futebol provaram-no em campo,galvanizados por um publico que apoiou a sua selecçao de uma forma jamais vista.
Lembro-me da música desse mundial como se fosse hoje(tinha eu apenas 8 anos)ARGENTINA HAY QUE LUTAR,era o começo;e eles lutaram,todos juntos,sem vedetismos(numa equipa de estrelas.E só assim conseguiram ganhar um mundial,frente a grandes selecçoes que valorizaram ainda mais a vitória,con "muchas ganas" e com todo o mérito.Adoro fútebol,desde esse mundial passei a adorar a selecçao das panpas...
 
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