8.12.05
Artur e Costa (RPS)
Tinham sido colegas na Académica, nos inícios de 70.
Artur Correia, um tipo muito loiro, defesa-direito, saiu novo para o Benfica. De Jimmy Hagan. Mais tarde, jogou no Sporting e no Tea Men, dos Estados Unidos. Acabou a carreira relativamente novo, por causa, salvo erro, de um acidente vascular-cerebral. Presumo que é funcionário da Câmara de Lisboa.
José Alberto Costa, extremo-esquerdo, precocemente careca e de bigodaça, saiu de Coimbra uns anos depois: para o Porto de Pedroto, já campeão, e ajudou ao "bi" de 79. Esteve uns bons anos nas Antas. Presumo que acabou a carreira no Vitória de Guimarães. Foi adjunto do inefável Professor Queirós, no Sporting. Não sei por onde anda.
Era eu miúdo, depois adolescente, e lembro-me bem dos duelos Artur/Costa. Começaram em jogos entre Benfica e Académica e continuaram em Portos-Benfica e Portos-Sporting. Aquilo era dar pau a sério, sem que deixassem de jogar a bola, porque eram ambos bons futebolistas, jogadores de selecção, mais Artur do que Costa.
Costa, um extremo "puro", tinha uma jogada típica: na esquerda parava a corrida e a bola, enfrentava, nos olhos, o adversário, simulava ir para dentro e colocava a bola por fora, mais para a frente, arrancando em velocidade para a linha de fundo. Dizia-se, na época, que, no momento do arranque, Costa escarrava a cara do adversário, preferencialmente nos olhos. Artur era a sua vítima preferida, o "escarrador de estimação".
O defesa fazia-se, contudo, pagar bem, nomeadamente, com entradas violentas de carrinho e com faltas por trás, então imunes a procedimentos disciplinares. Entretinham-se ambos com a bola, é certo, mas também num jogo paralelo de golpes baixos e violência.
Hoje, Costa e Artur estariam tramados. As câmaras de televisão iriam registar ao pormenor as entradas violentas, as chapadas subreptícias, os empurrões traiçoeiros, as escarradelas soezes, enfim, toda a sorte de golpes baixos a que recorriam ao longo dos noventa minutos. E levantar-se-ia logo o coro de moralistas, os Catões da nossa praça, com as habituais tiradas feitas: gesto inqualificável, atitude imprópria num profissional, comportamento indigno num ídolo de muitos jovens... Obviamente que a adjectivação seria muito mais gravosa para o jogador do Porto, mas isso são contas de outro rosário...
Lembro-me, entretanto, de outro episódio com Artur, mas sem Costa, num Sporting-Porto, no ínício dos anos 80. Aos cinco minutos de jogo, Artur e Rodolfo protagonizaram uma cena épica de pugilato. Verdadeiro pugilato, murro a sério, por causa de uma falta banal a meio-campo. Gerou-se um enorme sururu (gosto de sururu) e o árbitro acabou por expulsar os dois. Faltavam 85 minutos para o fim do jogo...
Caminhando cabisbaixo para os balneários, em plena pista de cinza de Alvalade (acho que ainda não havia tartan) Artur, mais adiantado, parou, à espera de Rodolfo. Temeu-se o pior, mas ocorreu o melhor: Artur e Rodolfo abraçaram-se longamente e assim, abraçados, caminharam para o túnel, debaixo de uma estrondosa ovação de 60 ou mais mil pessoas.
Ocorre-me esta memória a propósito do coro pateta de indignação que levantou o gesto obsceno de Cristiano Ronaldo para o público da Luz, no Benfica-Manchester. E a propósito, também, de outro coro pateta (só menos ruidoso porque o sistema pró-Benfica montado na Comunicação Social o abafou) que se ergueu, há umas semanas, contra um gesto de Nuno Gomes para os jogadores do Braga, insinuando que estariam mamados. Dopados.
Bolas! Que mal tem isso, senhores? O futebol não é um mundo de anjos. Acresce que lá dentro um gajo fica cego. Durante algum tempo joguei (sem talento nem glória, é certo) futebol de salão a um nível de alguma competição e sei como um tipo se transfigura lá dentro. O futebol é também isso: os nervos, a pressão, a cegueira mental em alguns momentos, o golpe baixo, a violência, a provocação para enervar o adversário, a traição, a escarredela e - chiça! - fazer piças para a assistência também! Porque não?
É nojento este falso moralismo que se instalou no futebol. Tanto mais falso quanto se recorre mais a ele quando convém (os indignados com Cristiano Ronaldo estarão indignados com Nuno Gomes?...).
Nenhum dos dois episódios me indigna. Fazem parte do futebol, são absolutamente compreensíveis, normais. Indignam-me, sim, os anjos fiscalizadores da moral que são as câmaras de televisão. E os Catões que a elas recorrem para pregarem moral. Estão a matar o futebol.
Piças para eles.
Artur Correia, um tipo muito loiro, defesa-direito, saiu novo para o Benfica. De Jimmy Hagan. Mais tarde, jogou no Sporting e no Tea Men, dos Estados Unidos. Acabou a carreira relativamente novo, por causa, salvo erro, de um acidente vascular-cerebral. Presumo que é funcionário da Câmara de Lisboa.
José Alberto Costa, extremo-esquerdo, precocemente careca e de bigodaça, saiu de Coimbra uns anos depois: para o Porto de Pedroto, já campeão, e ajudou ao "bi" de 79. Esteve uns bons anos nas Antas. Presumo que acabou a carreira no Vitória de Guimarães. Foi adjunto do inefável Professor Queirós, no Sporting. Não sei por onde anda.
Era eu miúdo, depois adolescente, e lembro-me bem dos duelos Artur/Costa. Começaram em jogos entre Benfica e Académica e continuaram em Portos-Benfica e Portos-Sporting. Aquilo era dar pau a sério, sem que deixassem de jogar a bola, porque eram ambos bons futebolistas, jogadores de selecção, mais Artur do que Costa.
Costa, um extremo "puro", tinha uma jogada típica: na esquerda parava a corrida e a bola, enfrentava, nos olhos, o adversário, simulava ir para dentro e colocava a bola por fora, mais para a frente, arrancando em velocidade para a linha de fundo. Dizia-se, na época, que, no momento do arranque, Costa escarrava a cara do adversário, preferencialmente nos olhos. Artur era a sua vítima preferida, o "escarrador de estimação".
O defesa fazia-se, contudo, pagar bem, nomeadamente, com entradas violentas de carrinho e com faltas por trás, então imunes a procedimentos disciplinares. Entretinham-se ambos com a bola, é certo, mas também num jogo paralelo de golpes baixos e violência.
Hoje, Costa e Artur estariam tramados. As câmaras de televisão iriam registar ao pormenor as entradas violentas, as chapadas subreptícias, os empurrões traiçoeiros, as escarradelas soezes, enfim, toda a sorte de golpes baixos a que recorriam ao longo dos noventa minutos. E levantar-se-ia logo o coro de moralistas, os Catões da nossa praça, com as habituais tiradas feitas: gesto inqualificável, atitude imprópria num profissional, comportamento indigno num ídolo de muitos jovens... Obviamente que a adjectivação seria muito mais gravosa para o jogador do Porto, mas isso são contas de outro rosário...
Lembro-me, entretanto, de outro episódio com Artur, mas sem Costa, num Sporting-Porto, no ínício dos anos 80. Aos cinco minutos de jogo, Artur e Rodolfo protagonizaram uma cena épica de pugilato. Verdadeiro pugilato, murro a sério, por causa de uma falta banal a meio-campo. Gerou-se um enorme sururu (gosto de sururu) e o árbitro acabou por expulsar os dois. Faltavam 85 minutos para o fim do jogo...
Caminhando cabisbaixo para os balneários, em plena pista de cinza de Alvalade (acho que ainda não havia tartan) Artur, mais adiantado, parou, à espera de Rodolfo. Temeu-se o pior, mas ocorreu o melhor: Artur e Rodolfo abraçaram-se longamente e assim, abraçados, caminharam para o túnel, debaixo de uma estrondosa ovação de 60 ou mais mil pessoas.
Ocorre-me esta memória a propósito do coro pateta de indignação que levantou o gesto obsceno de Cristiano Ronaldo para o público da Luz, no Benfica-Manchester. E a propósito, também, de outro coro pateta (só menos ruidoso porque o sistema pró-Benfica montado na Comunicação Social o abafou) que se ergueu, há umas semanas, contra um gesto de Nuno Gomes para os jogadores do Braga, insinuando que estariam mamados. Dopados.
Bolas! Que mal tem isso, senhores? O futebol não é um mundo de anjos. Acresce que lá dentro um gajo fica cego. Durante algum tempo joguei (sem talento nem glória, é certo) futebol de salão a um nível de alguma competição e sei como um tipo se transfigura lá dentro. O futebol é também isso: os nervos, a pressão, a cegueira mental em alguns momentos, o golpe baixo, a violência, a provocação para enervar o adversário, a traição, a escarredela e - chiça! - fazer piças para a assistência também! Porque não?
É nojento este falso moralismo que se instalou no futebol. Tanto mais falso quanto se recorre mais a ele quando convém (os indignados com Cristiano Ronaldo estarão indignados com Nuno Gomes?...).
Nenhum dos dois episódios me indigna. Fazem parte do futebol, são absolutamente compreensíveis, normais. Indignam-me, sim, os anjos fiscalizadores da moral que são as câmaras de televisão. E os Catões que a elas recorrem para pregarem moral. Estão a matar o futebol.
Piças para eles.
Comments:
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Diz Zekez Carvalho: parabéns pelo post,absolutamente incontestável, para além de bem escrito; como se dizia nos tempos em que jogavamos futebol de salão num rinque desabrigado, à chuva de inverno, o futebol não é para senhoras;ou como disse certa vez o António Oliveira, "o futebol não é para pedófilos nem para paneleiros"; o futebol é um combate ritualizado, com regras a cumprir, mas que se podem infringir se o árbitro não der por ela, é suor, cuspidelas para o chão, palavrões, protestos, gestos feios, alegria, saltos, tackles, dribles, "coxinhas", golos, grandes defesas; é abrires-me a cara com uma cabeçada e fazeres-me levar cinco pontos a sangue frio numa urgência do hospital de Gaia em que só haviam médicos estagiários (p1), que se chamavam uns aos outros para ver a minha cara rasgada como se fosse algo muito interessante, è rachares tu a cabeça na sequência de um pé de ferro comigo no pavilhão do Colégio dos Carvalhos, numa terça-feira à noite; é uma amizade indestrutível, solidificada em tantos desses momentos; antes no futebol do que na guerra, como costuma dizer o meu pai. Depois deste arrazoado só me pergunto mais uma vez: como é possível um gajo gostar de golfe ?
Diz Zekez Carvalho: parabéns pelo post,absolutamente incontestável, para além de bem escrito; como se dizia nos tempos em que jogavamos futebol de salão num rinque desabrigado, à chuva de inverno, o futebol não é para senhoras;ou como disse certa vez o António Oliveira, "o futebol não é para pedófilos nem para paneleiros"; o futebol é um combate ritualizado, com regras a cumprir, mas que se podem infringir se o árbitro não der por ela, é suor, cuspidelas para o chão, palavrões, protestos, gestos feios, alegria, saltos, tackles, dribles, "coxinhas", golos, grandes defesas; é abrires-me a cara com uma cabeçada e fazeres-me levar cinco pontos a sangue frio numa urgência do hospital de Gaia em que só haviam médicos estagiários (p1), que se chamavam uns aos outros para ver a minha cara rasgada como se fosse algo muito interessante, è rachares tu a cabeça na sequência de um pé de ferro comigo no pavilhão do Colégio dos Carvalhos, numa terça-feira à noite; é uma amizade indestrutível, solidificada em tantos desses momentos; antes no futebol do que na guerra, como costuma dizer o meu pai. Depois deste arrazoado só me pergunto mais uma vez: como é possível um gajo gostar de golfe ?
Caro Zekez... As coisas de que te foste lembrar! Belos tempos!
Caro RC: para ti, com amizade, o mesmo que o Cristiniano Ronaldo ofertou às bancadas da Luz.
Caro RC: para ti, com amizade, o mesmo que o Cristiniano Ronaldo ofertou às bancadas da Luz.
Se a insinuação feita no Municipal de Braga tivesse sida ao contrário, um jogador do BRAGA para o slb, o Sr. Veiga (que também devia estar na jarra) tinha feita um escabeche dos diabos, mas com foi ao contrário, não se passa nada. Confesso que esse senhor me irrita, só sabe reclamar quando a sua equipinha é prejudicada pelo árbitro, mas quando é beneficiada (e não é assim tão poucas vezes) não se manifesta. Não o vi admitir que o penalty contra o BRAGA foi mal assinalado, ainda bem que o árbitro e o seu assistente não viram o fora de jogo que deu o terceiro golo ao BRAGA, pois assim foi feita justiça.
Quanto ao Ronaldo, tem que ter mais calma, não entrar neste tipo de provocações. Há certas coisas que não lhe ficam bem.
Quanto ao Ronaldo, tem que ter mais calma, não entrar neste tipo de provocações. Há certas coisas que não lhe ficam bem.
Caro Ronaldo, eu teria feito o mesmo. Os 60 mil que te assobiaram durante todo o jogo, são os mesmo que se comovem quando jogas com outra camisola vermelha, da qual o RPS não gosta.
O futebol é mesmo um mundo. Os meu amigos Zekez e RPS, com quem compartilhei os momentos acima descritos e outros mais graves e que, deixem-me pôr as minhas medalhas ao peito,também me levaram em braços até casa, donde fui engessar o meu tornozelo partido, têm em comum uma visão romântica do futebol que curiosamente, abençoa os seus aspectos mais sórdidos: vale tudo, desde que o árbitro não veja ! E peço desculpa por discordar mas o futebol é para toda a gente, de putas a paneleiros, passando pelo nosso camarada Funes, que goste do jogo, o que duvido que as claques que (não) vêm os jogos de costas. E deve ser jogado de acordo com as regras: o Ronaldo deve ser castigado, o Nuno Gomes devia, o Mcarthy foi. Outros não foram o porque não foram "apanhados" ou as leis estavam mal feitas. ou outras coisas que muitas vezes discutimos eque não cabem, apesar do tamanho, neste comment. No rugby, desporto que compartilha com o futebol o top das minhas preferências e de que,por uma vez com razão, se pode dizer que não é desporto para senhoras, o árbito tem um microfone e em casa podemos ouvir o que diz aos jogadores e por que marcou as faltas. Se tiver dúvidas em decisões importantes pára o jogo e pergunta a um árbito que está fora a ver a televisão. Demora 30 segundos. Já se decidiram assim campeonatos do mundo.
Mas, voltando ao post, o Artur e o Costa eram grandes jogadores e eram amigos: se davam tudo dentro do campo e eram mauzinhos (e eram mesmo...), não havia aquelas entradas subterrâneas só para lesionar. E o episódio Artur/Rudolfo lamento, RPS mas foi muito menos romântico: apenas um chega para lá de peito que o árbitro Raúl Nazaré, que tinha apenas a 4ª classe mas era melhor que qualquer dos actuais árbitros, decidiu aproveitar o momento e dizer que ali mandava ele. O resto foi teatro engendrado pelo Rodolfo para ficar bem na fotografia !
Mas, voltando ao post, o Artur e o Costa eram grandes jogadores e eram amigos: se davam tudo dentro do campo e eram mauzinhos (e eram mesmo...), não havia aquelas entradas subterrâneas só para lesionar. E o episódio Artur/Rudolfo lamento, RPS mas foi muito menos romântico: apenas um chega para lá de peito que o árbitro Raúl Nazaré, que tinha apenas a 4ª classe mas era melhor que qualquer dos actuais árbitros, decidiu aproveitar o momento e dizer que ali mandava ele. O resto foi teatro engendrado pelo Rodolfo para ficar bem na fotografia !
FODA-SE o RPS, escibinhador desta merda ficou tão fodido com a eliminação do Manchester que só conseguiu escrever este texto de merda às 18:48 do dia seguinte.
Tal foi a cachola
Tal foi a cachola
Diz Zekez Carvalho: Ó Mc Jaku, o teu texto é muito razoável e politicamente correcto. Mas porque é que a tua alcunha como jogador de futebol (aliás elástico e elegante Keeper) era "O Matreiro" ?
Benfica, Benfica
A merda do Benfica
A águia faz piu piu,
Oh Benfica
Vai pra puta
Vai pra puta que te pariu
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