25.10.05

 

Trinta anos depois - ainda há quem não tenha percebido? (JCS)

Já lá vão trinta anos e faz-me confusão que num país tão pequeno os Portugueses de primeira considerem que acolheram bem os Portugueses de segunda, vulgo, retornados.

Talvez até pensem que o passeio (Ex-colónias – Lisboa) não passou de isso mesmo, de um passeio. Talvez pensem que para os pais foi fácil ver os filhos no avião da TAP, sem direito sequer a um copo de leite. Para os pais foi agradável aterrar em Lisboa, e ver que estavam sós no meio da multidão anónima que os esperava.

Que o bom familiar que os recebeu e ofereceu um tecto, lhes ditou que o fogão lá da vivenda podia ser partilhado, a comida é que não. E tecto sim senhor, a troco de limpeza da casa. E já agora uma lavagem de quando em vez no Porche, no Volvo e no Fiat descapotável repousavam na garagem era muito bom.

Talvez até pensem que o pai não “podia” oferecer ao filho mais que um copo de água, porque não “queria”. Que é uma mentira que o “Iarne” tinha servido para uns quantos, provavelmente para muitos que não precisavam e eram portugueses de primeira.

Continuem a pensar assim, Portugueses de primeira. Mas lembrem-se que há feridas que 30 anos depois não sararam. Dói muito mais do muitos julgam. E postar sobre isso é mergulhar num passado negro em que africanos e europeus ficaram a ganhar. Mas conheço uns quantos branquinhos que mereciam que lhe pedissem contas. Porque não em breve?

Comments:
"Que o bom familiar que os recebeu e ofereceu um tecto, lhes ditou que o fogão lá da vivenda podia ser partilhado, a comida é que não. E tecto sim senhor, a troco de limpeza da casa. E já agora uma lavagem de quando em vez no Porche, no Volvo e no Fiat descapotável repousavam na garagem era muito bom."

Este parágrafo é demagogia da mais pura que tenho visto. se 30 anos depois ainda há algum problema com aintegração dos refugiados das ex-colónias, este post não ajuda à discussão. Tira toda a razão a quem o escreve. Mesmo quando alguma lhe assistisse.
 
Meu Caro JCS...

Eu acho que ninguém merece família assim.
É por estas e por outras que eu sou um tipo com sorte na vida.
 
Diz Zekez Carvalho: não conheço JCS de lado nenhum mas compreendo perfeitamente o sentido do seu post. Não está em causa, como pretende o meu amigo Funes, a integração dos retoranados nos dias de hoje, felizmente já concluída. está em causa o que eles passarm e sentiram há tinta anos. E, às vezes, a falsa bondade de familiares e conhecidos poderá ter doído mais que a indiferença dos desconhecidos. Houve retornados bem acolhidos, e muitos mal acolhidos. Houve também quem optasse por não regressar. E houve aqueles que morreram, brancos negros, nas duas guerras: as que terminaram em 1974/75 e as começaram aí. De tudo isso ninguém saiu incólume. Comentar dramas com ligeireza parece mal.
 
Corrige-se Zekez Carvalho: o meu comentário anterior saiu cheio de erros ortográficos; imploro a condescendência de quem o ler.
 
Com todas as voltas e reviravoltas que a lusa gente levou, não há 30 anos, mas há muitos séculos, falar "dos retornados" por reporte aos que vieram (de cambulhada), das ex-colónia: é risível.

A verdade, é que somos todos retornados,

Retornamos ao início de Portugal + Reconquista.

Um, quase, Eterno Retorno: pensar que tudo se repete da mesma forma como um dia o experimentamos, e que a própria repetição se repete "ad infinitum"...
 
Caro Funes,
"demagogia" não é antónimo de "facto".
De resto o meu post não se integra nos "processos servis de captar o favor popular" - uma definição que consta da oitava edição do dicionário da lingua portuguesa da Porto Editora.
Há 30 anos seria. Hoje é apenas um facto da minha história, que apesar de tudo não foi das piores, meu caro.
 
Uma vez mais,

Estranho/a J.(the crazy-one): Segundo o dicionário da língua portuguesa, oitava edição, dicionários editora, ressabiado significa: desconfiado; espantadiço; farto de; saturado; melindrado. Não se aplica. Desgostoso sim, e nesse sentido é aplicável a palavra ressabiamento que por certo te passava ao lado estranho/a J.(the crazy-one). (Já agora que raio de nome, parece o nome de um cabaré ali para as bandas do coliseu...)
 
Vamos lá a ver se nos entendemos.
A descolonização portuguesa foi uma vergonha inominável. Foi uma debandada de pé descalço, como lhe chamou António José Saraiva. É indesmentível. Os salvadores da pátria limitaram-se a abandonar á sua sorte as populações que em Portugal e nos portugueses confiaram. É um facto.
Só que, no meio de toda esta tragédia, os retornados foram os mais sorte tiveram. Os outros ficaram lá. E provavelmente morreram.

PS- Se a descrição de JCS, no parágrafo que anteiormente reputei de demagógico, corresponde à realidade do seu caso pessoal, então ele deve queixar-se da família que lhe caiu em sorte. Não dos portugueses do continente.
 
mas qts retornados não se integraram na sociedade portuguesa? tiveram primazia em cargos publicos, etc etc...
tavam era habituados a ser tratados como "lordes"....

e houve alguns q foram um bocado mais para sul para viverem essa utopia mais uns anos...
 
Eu li os comentários e fiquei triste por vcs, depois de tudo o que passaram, estão vivos e mais fortes, a vida tem muita coisa boa mas pra desfrutarmos precisamos ter pensamentos e atitudes positivas, digo isto porque funciona, saí de Moçambique com 13 anos, fui pro Porto e lá vive 1 ano, logo depois viemos pro brasil foi horrível nos dois Países, passados alguns anos nos adptamos, temos as nossas fámílias e vivemos bem, diria que até melhor que na nossa terra, mas vejo tudo como um aprendizado e me sinto mais forte do que nunca. Desejo muita força pra vcs. M L G
 
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