11.10.05

 

Pós-Autárquicas III - ou uma história (real) sobre sondagens para reflexão de quem quiser reflectir e que terá por aqui continuidade (RPS)

A generalidade das pessoas tende a achar que as sondagens eleitorais têm de dar o resultado das eleições. Caso contrário, estão erradas. Nada mais errado.
As sondagens dão-nos apenas um "retrato" de uma intenção de voto num determinado momento, tendo por base uma amostra. Uma sondagem que dá um resultado diferente do final não está necessariamente errada.
As sondagens, contudo, podem ser mal feitas. Uma má escolha da amostra, por exemplo, constitui o erro mais comum. Podem ocorrer muitos outros.

Claro que as sondagens, ao serem publicadas, podem provocar efeitos no eleitorado, embora seja muito difícil determinar com segurança quais e como.
Ainda assim, os dirigentes partidários procuram ao máximo instrumentalizar as sondagens.
Já me custa crer que empresas de sondagens o tentem fazer. Em primeiro lugar, porque estão no mercado e pretendem, por isso, ser credíveis e sérias. Depois, porque tenho sempre relutância em obter explicações em teorias de conspiração.

Há, contudo, casos muito estranhos.
Por exemplo: face aos resultados em Sintra, como se explica que a poucos dias das eleições uma sondagem dê "empate técnico"?...
Outro exemplo: face aos resultados do Bloco de Esquerda, como se explicam sondagens apontando para resultados espectaculares em Lisboa e no Porto, no país todo?...

A propósito de tudo isto, vou contar-vos uma história. Real.

Sexta-feira, dia 30 de Setembro, final da tarde. Liga-me uma colega que faz a cobertura da campanha do PS no Porto:
- Os tipos do PS andam aqui a dizer-nos que o Expresso tem uma sondagem que dá empate técnico no Porto...
- E a sondagem sai amanhã...
- Não. Só sai de hoje a oito, na sexta-feira, dia 7.
- Então?... Se o Expresso tem os resultados dessa sondagem hoje porque não avança já amanhã?...
- ...

Um dado é certo: sexta-feira, dia 7, lá estava no Expresso, na Rádio Renascença, na SIC. Estudo da Eurosondagem dá empate técnico no Porto. Pensei: afinal, era verdade. Pego no Expresso e procuro a ficha técnica da sondagem. Verifico que o trabalho de campo se cumpriu entre os dias 2 e 5.
Moral da história: no dia 30 de Setembro, a entourage do PS/Porto sabia os resultados de uma sondagem cujo trabalho de campo iria começar no dia 2 de Outubro, daí a dois dias. Ou não sabia e atirou à sorte?
Em qualquer dos casos: porque passou a entourage do PS/Porto esta informação aos jornalistas?...
Quem tiver alguma ideia, diga.
Acho que voltarei ao assunto.

Comments:
Realmente é muito estranha essa história... dá que pensar. Talvez os dias apresentados (2 e 5) não sejam os verdadeiros, afinal de contas, não ficava bem apresentar uma sondagem com mais de uma semana de atraso.
 
Pois é, RPS, a chamada "dinâmica de vitória". Mas já lá vamos: em 1º lugar a resposta à tua pergunta inicial. É claro que as pessoas tinham vergonha de dizer que iam votar no Seara.
2ª pergunta: é bem dizer-se que se vota no bloco, principalmente se a sondagem for feita por uma catraia com dez furos numa orelha e cabelo rapado vermelho.
Agora um exercício: suponha o eleitor que é da área política da esquerda e está inconformado com o facto de ter que escolher entre Cavaco e Soares. Até está inclinado para Jerónimo, mas não gosta de Estalinistas. Se as sondagens disserem que Alegre tem boas hipótese de ir à segunda, o que faz o meu amigo?
 
Só mais uma coisa: sondagem é isso mesmo. Um bem-haja a todos os jornalistas que sabem umas coisas (às vezes muito) de Estatística, e que não se assustam com números e nem mesmo com incógnitas...
 
Altura para lembrar a eterna coincidência entre as estatísticas e os biquinis: vastas naquilo que mostram, mas fundamentais naquilo que ocultam!
 
VIVA O MIC!
 
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