18.10.05

 

Paleio de retornado (RPS)

Há trinta anos que ouço o mesmo discurso aos retornados - a todos os de Angola e a parte considerável dos de Moçambique: lá é que era bom, a vida era boa... isto aqui é uma merda, não vale nada...
Se lá era assim tão bom, porque se piraram? Se aqui é tão mau assim, porque não voltaram nem voltam?

Comments:
A verdade é que se a gente espremer um bocadinho chega logo à conclusão que não era bem assim. A vida lá era boa para os padrões que eles levaram de cá na altura. Para muitos que cá viviam e vivem... não era nada de especial. É tudo uma questão de bitola.
 
Era bom porque os criados eram pretos, os trabalhadores eram pretos, as putas eram pretas, os casapianos lá do sítio eram pretos, e eles eram brancos...
Nunca questionam se aquilo era bom para quem já lá estava...
 
"Nunca questionam se aquilo era bom para quem já lá estava..."

A observação de Al Jourgensen é pertinente, mas carece de duas precisões:
1- a maior parte dos retornados já lá estava. Quer dizer, nasceram lá. São refugiados, não retornados.
2- Clara e inegavelmente, os que lá ficaram estão hoje pior.

Agora, é evidente que a observação 2 é feita à posteriori. À data da descolonização, a História parecia estar do lado e favor dela.
 
E a que propósito esse paleio dos retornados agora? Sim, a que propósito?
 
Meus caros, sou filho de retonados, de uma casa que alguns "inteligentes" podem vir a classificar como rara, mas onde comiam á mesma mesa pretos e brancos. Antes de 1974. E na tua casa RPS, quantos "individuos com cor da pele diferente da tua" já comeram à mesma mesa?
Avante RPS. Quanto à pergunta "porque é que se piraram" respondo: porque ilustres ex-presidentes e candidatos a presidentes, socialistas de óculos antigos e donos de assembleias, obrigaram muitos como eu a regressar a este país, que trata hoje muito melhor brasileiros, chineses e ucranianos, que na altura tratava os retornados. Que se bem te lembras, eram Portugueses. Quanto "ao lá é que era bom", deixa-me dizer o seguinte: Em 10 anos em Portugal a minha familia teve mais fartura após 74, que em dezenas de anos em Moçambique. E não trouxe no regresso a esta terra, (que pelos vistos reclamas como tua) mais do que uma máquina de lavar e um velho frigorifico. Caro RPS, na minha familia há um ditado "terra que dê bananas, para mim, nunca mais". Terá sido assim tão bom RPS?
Isto é que é bom na democracia. Posso sempre afirmar que quando voltares a tocar no assunto terás garantida a minha longa e chata resposta.

Abraços

JCS
 
Meu caro amigo JCS...

Que pena teres que te abespinhar para escreveres aqui. Tu que és um dos nossos e não escreves há meses...

De qualquer modo, não quis ofender ninguém. Nem entendo bem por que razão este post causou tantas reacções ofendidas. É que algumas pessoas manifestaram-se através de outros meios mais directos.

Assim, explicar-me-ei melhor noutro post. Vou fazer tudo para que seja já amanhã.
 
Funes, se já lá estavam, não são retornados, como muito bem assinalou...
Funes, de que lado lutavam na guerra colonial os que "lá estavam" e "retornaram"?
 
Só se pode falar das coisas quando se passaram por elas, quando se sofre na pela e na alma, por isso alguns comentários são efectivamente tristes porque demonstram desconhecimento de causa e efeito.
Aqueles que por vezes dizem algumas asneiras, se um dia lhes acontecer o que aconteceu com os regressados de África (Bem como os que ficaram naturais ou não) que tudo perderam, e falo tudo, como trabalho, bens, amigos e futuro. Porque a vida vive-se em qualquer lado, mas é necessário construi-la, e quando destruida é triste e dificil. Senão perguntem ao pessoal da Madeira, Haiti, e Chile etc. etc.
Tem que haver respeito por quem sofreu,e sofre, e quem, telhas de vidro, tem que ter cuidado, porque as pedras podem cair em cima de qualquer um.
Um abraço para todos.
Humberto Lopes
 
Enviar um comentário

<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?