12.8.05
Berlim 1986 - uma viagem ao interdito (2)
Foi num dos mais longos e únicos dias em que a História habitou em mim.
Tremia. Sim, tremia. Para um miúdo, o outro lado era assim uma espécie de Boca do Inferno ou de Estrada Marginal na época. Entrava-se e com sorte saia-se ileso. E no meio, os mitos e as ideias feitas.
O Metro fazia um barulho assustador. Teremos voado para Berlim Leste rompendo o cerco pelo chão. Era como se o cimento estalasse à velocidade do som.
Acima de nós, o interdito, Potsdamer Platz.
Uma espécie de coágulo de terra inculta entre duas veias do Muro, deixando o vazio para o mistério do bunker de Hitler. A foto é de Pascal Valu, tirada nesse ano.
Hoje é já o resultado de uma das mais impressionantes recuperações urbanas em todo o mundo. Os meus olhos vão cegar quando vir isto.
Tudo era velho, tudo era mofo, tudo era História pesada e temível.
Hoje, pelo que me contam, tudo é arty, chique, quase tudo limpo, provavelmente vivo.
Naquela tarde de Agosto quente em 1986, a Ironia bateu no meu ombro quando o chão firme estava-me a 365 metros do pé.
Por que raio, no meio desta arqueologia, se erguia essa torre, com vista para uma cidade dividida ? Para mostrar as diferenças ? Para efeitos de orgulho comunista ?
Mal suspeitava que pouco depois, ao cair da noite, esse outro mundo me entraria directamente goela abaixo, amargamente para fasquias de miúdo ocidental.
Tremia. Sim, tremia. Para um miúdo, o outro lado era assim uma espécie de Boca do Inferno ou de Estrada Marginal na época. Entrava-se e com sorte saia-se ileso. E no meio, os mitos e as ideias feitas.
O Metro fazia um barulho assustador. Teremos voado para Berlim Leste rompendo o cerco pelo chão. Era como se o cimento estalasse à velocidade do som.
Acima de nós, o interdito, Potsdamer Platz.
Uma espécie de coágulo de terra inculta entre duas veias do Muro, deixando o vazio para o mistério do bunker de Hitler. A foto é de Pascal Valu, tirada nesse ano.
Hoje é já o resultado de uma das mais impressionantes recuperações urbanas em todo o mundo. Os meus olhos vão cegar quando vir isto.
Tudo era velho, tudo era mofo, tudo era História pesada e temível.
Hoje, pelo que me contam, tudo é arty, chique, quase tudo limpo, provavelmente vivo.
Naquela tarde de Agosto quente em 1986, a Ironia bateu no meu ombro quando o chão firme estava-me a 365 metros do pé.
Por que raio, no meio desta arqueologia, se erguia essa torre, com vista para uma cidade dividida ? Para mostrar as diferenças ? Para efeitos de orgulho comunista ?
Mal suspeitava que pouco depois, ao cair da noite, esse outro mundo me entraria directamente goela abaixo, amargamente para fasquias de miúdo ocidental.
Comments:
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Estive em Berlim em 98, numa visita oficial do PR Sampaio.
Senti uma enorme pena por não ter lá estado antes de 89 e em 89.
Na altura, os berlinenses e os alemães em geral chamavam a Berlim a cidade dos guindaste. Eram milhares, nas múltiplas obras então em curso, no âmbito da unificação.
Não sei como está agora Berlim, mas na altura as obras não apagavam a diferença entre dois mundos. Percebia-se claramente de que lado estávamos.
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Senti uma enorme pena por não ter lá estado antes de 89 e em 89.
Na altura, os berlinenses e os alemães em geral chamavam a Berlim a cidade dos guindaste. Eram milhares, nas múltiplas obras então em curso, no âmbito da unificação.
Não sei como está agora Berlim, mas na altura as obras não apagavam a diferença entre dois mundos. Percebia-se claramente de que lado estávamos.
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