11.6.05
Um poema de Eugénio de Andrade - para quem gosta ou talvez não
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes!
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos.
Era no tempo em que o teu corpo era um aquário.
Era no tempo em que os meus olhos
eram os tais peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade:
uns olhos como todos os outros.
Já gastamos as palavras.
Quando agora digo: meu amor...,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
(o poema chama-se Adeus, in "Poemas 1945-1965", a foto é de Pedro Gomes/Escritacomluz.com)
Comments:
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"os teus olhos são peixes verdes"
...
"o teu corpo era um aquário"
Como expliquei noutro lugar, estes versos são um bocado grunhos.
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"o teu corpo era um aquário"
Como expliquei noutro lugar, estes versos são um bocado grunhos.
Discordo absolutamente de Funes!Valha-me Deus!!! O homem é muito bom!Não é grunho nada! É um verdadeiro homem do norte, que neste poema descreve uma vontade esquecida no tempo... a idade que nos faz perder alguma candura, e o esquecimento... Genial!!!
Morreu hoje, mas vai estar sempre vivo na minha biblioteca...
" Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta..."
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o sorriso foi quem abriu a porta..."
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