17.6.05

 

Quando não vale o esforço (RPS)

Um painel luminoso indicava aos passageiros do Concorde o momento em que o aparelho ultrapassava a velocidade do som.
Da primeira à penúltima viagem do "gigante dos ares" - da última, não ficou ninguém para contar - todos os passageiros, desiludidos, lamentavam que "vê-se no placard, mas, afinal, não se sente nada...".

Nada na construção do "gigante dos ares" deu mais trabalho, representou mais esforço, mais desgaste de massa cinzenta, mais custo em honorários pagos a altíssimos especialistas do que resolver esse "detalhe": fazer com que os passageiros fossem poupados ao incómodo de sentirem o impacto da ultrapassagem da barreira do som. Como vemos, não valeu o esforço.

Ocorre-me isto (que li algures, há algum tempo) a propósito do modo como certas mulheres lidam com as máquinas de lavar louça.
Como me fez notar um cunhado meu que é engenheiro, aquilo que mais trabalho deu a centenas ou milhares de engenheiros e outros especialistas, aquilo que mais dinheiro custou na concepção das máquinas de lavar louça foi conseguir que o aparelho limpasse os detritos de comida que forçosamente ficam agarrados à louça no final de um refeição.
Não se trata de triturar, por exemplo, ossos de frango ou carcaças semi-destruídas de leitão da Bairrada, mas de pequenos grãos de arroz, uma espinha de bacalhau, um montículo de puré, uma pevide de limão, restos de molhos e similares.

Pois o certo é que o Homem conseguiu mesmo que a máquina tivesse essa capacidade.
Pois diz-me a minha experiência que não valeu o esforço.

Diz-me a minha experiência que as mulheres não querem saber das reais potencialidades do aparelho, não valorizam esse prodígio da técnica. E no final da refeição, é vê-las a esfregar afanosamente a louça, como no tempo em que não havia máquinas.
E prato a prato, copo a copo, travessa a travessa, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, esfrega, põe na máquina, vão-se queixando da vida, do trabalho e dos homens que não fazem nada.

Comments:
Elas fazem isso independentemente da utilidade prática do acto, que lhes dá alento ao mau feitio.
 
eu prefiro as máquinas de lavar roupa, têm uma coisa chamada "centrifugação" que com um homem atencioso lhes dá alento ao bom feitio...
 
Todas as profissões tem o lado ingrato...
Mas não podemos parar de iventar, criar e produzir.

Engenheiro anonimo
 
Falta falar dos milhões de dólares que a Nasa gastou a tentar conceber uma esferográfica que escrevesse na ausência de gravidade (a Força, não a Hora). Os Russos resolveram o assunto com... um lápis. Esta é a diferença entre focalisares-te no problema (tomar notas no espaço) ou numa obsessão criada por este (escrever com caneta no espaço)
 
ehehe, très bien, Antoine!!
 
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