3.5.05

 

Sete palmos de terra



Escavar nas cidades tornou-se um imperativo eleitoral. Não importa o risco.

Não tenhamos medo das palavras .
Lisboa está a ser esventrada sem piedade, pondo em causa a estabilidade da maior parte dos terrenos mais sensíveis da cidade - Praça do Comércio, Marquês de Pombal, Campolide, Alcântara.

Carmona Rodrigues e Nunes Correia, pela sua formação técnica comum, deveriam contar toda a verdade sobre o solo lisboeta. Isto para não falar na triste história do Tunel do Terreiro do Paço, cujos capítulos principais deveriam ser escritos por Jorge Coelho, Ferro Rodrigues e João Soares.
A tendência para o buraco - que a brejeirice comprova - é um desporto político português, praticado por quem tem mais dinheiro para dar às construtoras. E alimentado por guerras inacreditáveis como a do Tunel de Ceuta.

Acreditam os governantes - mais e menos nacionais - que estas covas calam fundo nas urnas. As de voto.

O mínimo que se pode dizer - face ao que se passou em Campolide e mais recentemente na Avenida Calouste Gulbenkian - é que têm tido muita sorte.

Talvez porque Castelo de Paiva fica longe de Lisboa.

Comments:
Eu acho que os portugueses adoram "obra pública".
Os políticos de a fazer, claro, na expectativa de que os seus nomes perdurem.
Mas o português comum também adora obra pública. O meu velho amigo Zé, por exemplo, adora. Em particular pontes.
Se olharmos para trás, vemos em muitos políticos de diferentes épocas esse culto da obra pública: Ferreira do Amaral dizia adorar obras e inaugurações. E houve Duarte Pacheco, "trunfo" de Oliveira Salazar. E Fontes Pereira de Melo... Será idiossincrático ou será assim em todos os países?...
RPS
 
Os portugueses não adoram obra pública. Os portugueses extasiam-se perante obras, sejam elas públicas ou privadas.

Lembro-me bem que no meu primeiro ano da Faculdade tinha aulas na Torre da Marca e estava a construir-se em frente ao Palácio de Cristal o edifício da "Tranquilidade". Todos os dias se reuniam ali dezenas de basbaques, a ver trabalhar.

Julgo que o fenómeno encontra a sua explicação no facto de sermos um país pobre, que nunca conheceu uma revolução industrial e que, no fundo, no fundo, embora sem agricultura, é ainda um país psicologicamente rural e para quem, por conseguinte, a verdadeira riqueza é a riqueza fundiária, a riqueza material palpável, traduzida em terra ou em obras de betão ou piche.
O conhecimento,o know-how, a marca como valores económicos, para nós, pobres, são coisas que podem ser muito boas lá para a Finlândia ou para a Dinamarca, mas que não se tocam, não se apalpam, não se sentem. Tretas, portanto.
A casa, a estrada, a ponte, a barragem, isso sim, sente-se que valem, que são dinheiro.
 
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