11.5.05

 

Dúvidas sobre uma carta (RPS)




Sou admirador de D. António Ferreira Gomes.Lembro-me de quando comecei a gostar dele: foi logo após o 25 de Abril de 74.Até aí, sabia apenas que havia um Bispo que mandava nos padres e lá ouvia na missa "... e com o nosso Papa Paulo, o nosso Bispo António tornai-a perfeita na caridade....".

Tinha 10 anos no 25 de Abril. Um telefonema do meu Pai para casa, a meio da manhã, barrou-me a ida para as aulas, às 13.30. Apercebi-me, então, de que se passava algo. Lembro-me de perguntar "o que é um golpe de Estado?..." e de me terem respondido que era um bocado difícil explicarem-me.Sem deixar totalmente de fazer perguntas, comecei a procurar muitas respostas nos jornais. Era coisa que, aliás, nunca faltava lá em casa. Havia, diariamente, o "Janeiro" e diariamente também, à hora do jantar, o meu Pai trazia o "República". Por aqueles dias, entravam outros, variados, mas o JN com alguma regularidade.

Foi aí, por esses dias, nesses jornais, que comecei a ler declarações de D. António, artigos sobre D. António. Percebi que D. António tinha "uma história". Intuí que se tratava de um homem superior. O facto mais conhecido da biografia de D. António é, claro, o da carta a Oliveira Salazar e do consequente exílio. Essa história - então nova para mim - fez-me simpatizar de imediato com ele.Passada a fase conturbada de 74-75, D. António passou a ser uma referência menos frequente, mais rotineira. Nunca se pôs em "bicos de pés".Já trabalhava quando ele morreu e acabei por assistir a algumas celebrações na Sé do Porto, mas não ao funeral.

Volto a lembrar-me de D. António Ferreira Gomes porque começaram ontem as comemorações do centenário do seu nascimento. E ocorre-me, de novo, o pouco que, na verdade, sei e conheço sobre ele, sobre o seu pensamento e, muito em particular, sobre o "tal" episódio da carta.
Ocorrem-me várias perguntas, algumas delas "básicas". Afinal ele dirigiu mesmo a carta a Oliveira Salazar? Foi pelo Correio? Como chegou a São Bento? Salazar leu-a? Contaram-lhe?
D. António mostrou-a a outras pessoas? Salazar leu-a e agiu ou agiu apenas quando a carta se tornou pública? Quem a tornou pública? Com que intenção?Espero que ao longo do próximo ano, com as variadas iniciativas que se vão suceder até ao Congresso final sobre a vida e obra de D. António, em Maio de 2006, possa obter estas respostas. E muitas outras.
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Comments:
Diz Zekez Carvalho:Por incrivel que pareça Salazar lia a maior parte das cartas que lhe mandavam e (pasme-se) normalmente respondia-lhes. Assim Cunha Leal, um velho oposicionista do regime trocou dezenas (quiçá centenas ) de cartas com o ditador de que era adversário, ao longo da vida de ambos: algumas serviram até para forçar a resolução de problemas concretos. Outros tempos, em que as pessoas tinham Tempo... Não havia televisão, nem Internet, nem Blogues...
 
Precoce este rps, que aos 10 anos já se interessava pela vida pública e política e pela leitura de jornais. Em tenra idade tinha já capacidade intelectual para admirar figuras nacionais!
Quem dera a muitos!
 
Sim. É verdade.
Não se poderá dizer precoce. Atento. Interessado.
Quem dera a RPS ter o que muitos têm. Concerteza também será verdade.
 
A mim D. António Ferreira Gomes e a sua voz monocórdica irritavam-me. Sempre me pareceu um bocado vaidoso e algo limitado (pela própria fé que servia).
O mestre que mais me marcou na vida, João Baptista Machado, tinha-o em grande conta. Isso, confesso, chateava-me.
 
Caro Zekez Carvalho:
Sei que Oliveira Salazar lia muitas cartas que lhe escreviam e que respondia.
Ignorava, contudo, esse dado de ele trocar correspondência com Cunha Leal, embora tenha algumas referências sobre este oposicionista ao Estado Novo. Aliás, entre muitos velhos livros que andam lá por lá casa pertença das avoengas) está "A Obra Intangível do doutor Salazar", de Cunha Leal.
Agrada-me vê-lo, de novo, por aqui... Um abraço,
RPS
 
Salazar alimentava o oposicionismo de Cunha Leal, para que se pudesse dizer que o regime era democrático e que cada um podia ter nele as ideias que quisesse, desde que não pusesse em causa o bem da Nação. Obviamente, excluídos estavam necessariamente os comunistas, cujas ideias internacionalistas, por definição, punham em causa o bem da nação.
 
Não me lembro exactamente porque já conhecia esta história!
Mas lembro-me. Uma criança especial - precoce ou não - acredito que dá sempre num adulto especial. Gostei bastante de ler.
beringela
 
RPS está bem protegido. Deve ser especial este adulto que foi criança precoce.
 
Que gente tão culta...
Afinal quem é esse Cunha Leal? Serei eu o único ignorante...?
 
Que gente tão culta...
Afinal quem é esse Cunha Leal? Serei eu o único ignorante...?
 
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