22.5.05
De chinelos na porta da guerra
Para rematar um dos assuntos da semana , deixo-vos uma história que prova que o pior é mesmo não ter sandálias de jeito para escolher.
Uma semaninha depois do 11 de Setembro, embarquei em serviço para o Paquistão. É uma terra quente, pegajosa, suadinha. Boa para a Marisa Cruz fazer uma edição sobre spas...
Depois de muitas corridas para a fronteira noroeste - a de Peshawar - a certa altura achei ( como outros) que a única forma de entrar no Afeganistão era pelo Sul, no Baluchistão. Voei para a cidade de Quetta num avião quase vazio (quem é que voava nessa altura?), para entrar nesse feudo taliban no Paquistão.
A guerra estava a estoirar. A malta estava toda controlada no Serena Hotel pelos serviços secretos, que nestes casos, assumem geralmente a forma de tradutores ou motoristas. Mas a partir de uma certa altura, a coisa começou a fartar e eu comecei a olhar com preocupação sobretudo para os meus pés de repórter.
Não sei como nem porquê, mas nem dois banhos diários e um calçado relativamente arejado impediram a formação de uma ferida que ainda hoje me afecta a palma do pé esquerdo.
Bom, estão a ver a coisa... a guerra a estalar, o passo seguinte era avançar para o Afeganistão e eu começava a coxear cada vez mais. A partir de um certo ponto, percebi que aquilo já não ia com curativos básicos e comecei a tomar um antibiótico de largo espectro que trago sempre comigo quando vou para esses sítios.
Mas só fiquei realmente preocupado quando fui com a equipa da RTP a uma simulação de hospital local. Comecei a ter suores frios com 40 graus lá fora... onde raio me vou tratar desta ferida feia ?
A resposta encontrei-a num hospital desmantelado, assim uma espécie de Hospital de Santa Maria para uma procura típica da Amareleja. O tipo que me viu fez uma cara feia face ao espectáculo do meu pé esquerdo. Poupo-vos os pormenores. Só vos digo que doeu um bocado e foi sem anestesia. Não havia...
A certa altura, percebemos que as autoridades e alguns fundamentalistas não nos largavam e as entradas no Afeganistão eram igualmente impossíveis. Fazer a guerra dali era não sair do hotel. E isso ninguém queria. Voei de regresso para Islamabad, ao lado de um mullah, não sem antes ter agredido verbalmente o pessoal do aeroporto local, que não foi capaz de me ajudar a carregar o material ou arranjar-me umas muletas. Confiscaram-me cerca de 20 pilhas, que tive o prazer de fazer voar contra um bidon mesmo nos narizes paquistaneses.
Eu já não conseguia andar quando cheguei a Islamabad. Já não sei a quem tenho de agradecer mas lá me dirigi por fim a um cirurgião militar que me garantiu que não era preciso cortar o pé, nem andar de muletas. Um antibiótico e lavagens de bicabornato eram suficientes. Só não estava preparado para a pior notícia.
No dia seguinte, tive que ir ao mercado comprar...
.
uns chinelos !!! (e não estes da foto...)
Resumindo, com o bicarbonato a pintar-me as unhas e um chinelo no pé esquerdo, este vosso amigo provocou alguns risos nos jardins da embaixada taliban onde o sr. Saeff desafiava o Ocidente em grandes conferências de imprensa, onde acabava quase tudo a rir.
Lá dizia o Olex - Um homem de unhas pintadas de chinelos num cenário de guerra não é natural...
Uma semaninha depois do 11 de Setembro, embarquei em serviço para o Paquistão. É uma terra quente, pegajosa, suadinha. Boa para a Marisa Cruz fazer uma edição sobre spas...
Depois de muitas corridas para a fronteira noroeste - a de Peshawar - a certa altura achei ( como outros) que a única forma de entrar no Afeganistão era pelo Sul, no Baluchistão. Voei para a cidade de Quetta num avião quase vazio (quem é que voava nessa altura?), para entrar nesse feudo taliban no Paquistão.
A guerra estava a estoirar. A malta estava toda controlada no Serena Hotel pelos serviços secretos, que nestes casos, assumem geralmente a forma de tradutores ou motoristas. Mas a partir de uma certa altura, a coisa começou a fartar e eu comecei a olhar com preocupação sobretudo para os meus pés de repórter.
Não sei como nem porquê, mas nem dois banhos diários e um calçado relativamente arejado impediram a formação de uma ferida que ainda hoje me afecta a palma do pé esquerdo.
Bom, estão a ver a coisa... a guerra a estalar, o passo seguinte era avançar para o Afeganistão e eu começava a coxear cada vez mais. A partir de um certo ponto, percebi que aquilo já não ia com curativos básicos e comecei a tomar um antibiótico de largo espectro que trago sempre comigo quando vou para esses sítios.
Mas só fiquei realmente preocupado quando fui com a equipa da RTP a uma simulação de hospital local. Comecei a ter suores frios com 40 graus lá fora... onde raio me vou tratar desta ferida feia ?
A resposta encontrei-a num hospital desmantelado, assim uma espécie de Hospital de Santa Maria para uma procura típica da Amareleja. O tipo que me viu fez uma cara feia face ao espectáculo do meu pé esquerdo. Poupo-vos os pormenores. Só vos digo que doeu um bocado e foi sem anestesia. Não havia...
A certa altura, percebemos que as autoridades e alguns fundamentalistas não nos largavam e as entradas no Afeganistão eram igualmente impossíveis. Fazer a guerra dali era não sair do hotel. E isso ninguém queria. Voei de regresso para Islamabad, ao lado de um mullah, não sem antes ter agredido verbalmente o pessoal do aeroporto local, que não foi capaz de me ajudar a carregar o material ou arranjar-me umas muletas. Confiscaram-me cerca de 20 pilhas, que tive o prazer de fazer voar contra um bidon mesmo nos narizes paquistaneses.
Eu já não conseguia andar quando cheguei a Islamabad. Já não sei a quem tenho de agradecer mas lá me dirigi por fim a um cirurgião militar que me garantiu que não era preciso cortar o pé, nem andar de muletas. Um antibiótico e lavagens de bicabornato eram suficientes. Só não estava preparado para a pior notícia.
No dia seguinte, tive que ir ao mercado comprar...
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uns chinelos !!! (e não estes da foto...)
Resumindo, com o bicarbonato a pintar-me as unhas e um chinelo no pé esquerdo, este vosso amigo provocou alguns risos nos jardins da embaixada taliban onde o sr. Saeff desafiava o Ocidente em grandes conferências de imprensa, onde acabava quase tudo a rir.
Lá dizia o Olex - Um homem de unhas pintadas de chinelos num cenário de guerra não é natural...