17.3.05

 

Agora sim..este país está uma seca (dora pê)

Há um jardim nas traseiras da minha casa. Diz que é Primavera e bem podia já ser Verão. A relva fresca, os pássaros loucos, as árvores estreiam um verde novo e até um vizinho passou a tarde na varanda a trabalhar sem camisa - para o pré-bronze e para a pré-gripe. Não fossem as minhas costelas todas alentejanas e diria que isso da seca é uma curiosidade de noticiários à espera do Governo. Mas as costelas não se convencem e continuam a apertar-me os pulmões.

O Instituto da Água limita-se a catalogar a coisa: “severa”, “extrema”, tantos por cento disto e daquilo, se calhar era bom medidas de emergência e tal, talvez abrir mais furos ou assim.

Na peugada de cada relatório os agricultores relatam o massacre das laranjas, juram que já perderam os tomates e dizem que a chuva, mesmo que voltasse não seria perdoada. O que os desespera agora é a seca de subsídios que Bruxelas parece segurar com as nuvens no mesmo cofre sem chave.

Bem sabem os primeiros “bifes” no Algarve que neste país as laranjas e os tomates são iguais aos deles, há muito importados de terras que nem sabem onde ficam. Qual seca? Nem sinal de falta dos líquidos preferidos, os “portuguese wine & beer”. E os “green” do golfe que não podiam ter outro nome? E depois que país com um mar deste tamanho e que pessoa virada só para ele é que consegue pensar em securas?

Sábios pensamentos diria… não fosse o tal aperto das costelas. Para centenas de povoações no sul do país a falta de água é contemporânea antiga do Verão. Mas não conheço ninguém que se lembre de haver furos secos nesta altura do ano, e também noutros interiores do país.

O que me preocupa as costelas todas alentejanas é que nas cidades grandes os sistemas de rega automática não param em jardins públicos e privados, não param todas as noites os trabalhadores camarários que têm por tarefa despejar oceanos na lavagem das ruas, as descargas de suiniculturas não vão parar sem disfarce para os esgotos, as celuloses não poderão parar que também são postos de trabalho, o turismo algarvio é imparável mesmo que se fure clandestinamente a terra para manter viçosos os campos de golfe.

Por estas e muitas outras, para muita gente neste país, a seca nunca sairá da televisão, nunca lhes entrará pela vida dentro. A não ser que…

A não ser que..numa destas quintas-feiras seja possível conciliar duas banalidades. Fazer coincidir uma avaria na Epal de Lisboa que corte por algumas horas o fornecimento de água à cidade..e a disseminação de um vírus de desarranjo intestinal. Depois era só acompanhar esse mesmo conselho de ministros ou essa mesma sessão parlamentar..e esperar, pouco, pelos tais planos de emergência nacional, pelas tais campanhas para a poupança de água. Temo no entanto que a declaração nacional seja de “stress hídrico” e receita seja afinal a distribuição nacional e gratuita de calmantes em pó nas torneiras…dos hipermercados (para poupar).

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