28.2.05

 

O Porto-Benfica da verdade absoluta (por RPS)

Foi na baliza do topo Norte, nas Antas.
A bola sobrevoou a defesa do Benfica, vinda da meia-direita do ataque do Porto. (terá sido o Pavão?... Não me recordo, mas gostava que tivesse sido o Pavão).

Sentado no camarote número quinze, estava, recorrendo ao futebolês erudito, no enfiamento da jogada. Tinha os olhos na bola: ela a vir para cá, a vir para cá... Não sei como, mas, de súbito, o Lemos estava sozinho com a bola, frente ao guarda-redes. Sem eu dar conta, tinha-se desmarcado, ali por entre o defesa-direito e o central. Eles também não tinham dado conta...

Pois o Lemos esteve ali sozinho com a bola uma eternidade de umas fracções de segundo. Uma eternidade em que a minha função respiratória esteve suspensa e em que visualizei o pior: “vai falhar”, disse para mim, contagiado já pelos complexos e pelo pessimismo que então marcavam a atmosfera daquele estádio.

Mas não... Num ápice, desvaneceu-se aquela visão de terror e frustração: o Lemos não falhou. GOOOOOLOOO !!! - explodimos... Quarenta mil, cinquenta mil, sei lá bem... A caminho dos oito anos, esse era um detalhe que não me ocupava o espírito. Sei que a lotação do estádio era menor do que uns anos mais tarde porque ainda não tinha sido fechada a bancada. Havia uma espécie de praça da maratona, semelhante à do Jamor, mas menos sumptuosa. Contudo, as bancadas abarrotavam de gente. “Condições de segurança” era expressão que ninguém conhecia na época e não havia essa coisa chamada “stewards” nem seres similares de colete florescente. Estávamos em 1971, um adepto de futebol não era olhado como um criminoso em potência e, por isso, não era revistado à entrada do estádio.

O golo do Lemos deixou-me em êxtase, com pele de galinha, olhos molhados. Naquela tarde soalheira de domingo, uma qualquer bênção tinha acabado de cair do céu sobre aquele estádio, sobre aquela gente, sobre mim e, principalmente, sobre o Lemos. Na segunda parte, ele marcou mais três. A baliza do topo sul ficava mais distante do camarote número quinze, tenho uma vaga ideia de um golo após um canto... 4-0 àqueles bandidos, quatro golos do Lemos.

Daí para cá, vi dezenas de “Portos-Benfica” e, com o tempo, foi subindo exponencialmente o número de vitórias do Porto. Grandes tardes ou grandes noites de grandes jogos e grandes vitórias. Mas não houve nem haverá mais um Porto-Benfica como aquele dos quatro golos do Lemos. Nesse final de tarde de domingo, tive a certeza de que o meu clube era o melhor do Mundo.

E que o Benfica, afinal, não valia nada.

RPS

Comments:
naquela época 40000 nas antas???? Não estarias um pouco mais a Sul? Eu entendo; é a P.D.I., com a idade. tendemos a baralhar as memórias, a proósito: quem ganhou esse campeonato? CM
 
Caro CM: como escrevi no texto, não sei quantos eram. Muitos mil, seguramente. 40, provavelmente, pq
naquele tempo, aquilo era mesmo apertadinho. E ainda havia os gajos no terceiro anel (a sucata, a norte, remember?...) e putos pendurados nas torres de iluminação. E nunca ninguém veio por em causa a segurança!
 
tshh... como é que eras com 8 anos? tento imaginar e rio-me. :)

descreveste uma sensação que também me pareceu um bocado chuchadeira. um efeito potenciado pelo facto de se tratar, apenas e tão somente, de... bola! ;) mas quem nunca sentiu que atire a 1ª. bj R
 
"Sei que a lotação do estádio era menor do que uns anos mais tarde porque ainda não tinha sido fechada a bancada. Havia uma espécie de praça da maratona, semelhante à do Jamor, mas menos sumptuosa"

E havia também uma pista de ciclismo.
A primeira vez que entrei no Estádio das Antas foi para ver uma prova de ciclismo, uma etapa da Volta a Portugal, corrida precisamente no estádio, no chamado sistema de perseguição individual. Se calhar essas provas não faziam muito sentido, mas era mesmo delas que eu gostava.

A última vez que entrei no Estádio das Antas foi para assistir a um comício do PSD, com o seu então secretário geral, Emídio Guerreiro.
 
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